As Cruzadas se constituíram num dos mais dramáticos movimentos da História. Sua finalidade principal foi a conquista de bens e dos direitos daqueles que detinham a propriedade dos meios de produção. Seus agentes executores eram, senão todos, quase todos tutelados da Igreja Católica Apostólica Romana. A programação, comando chefia e controle inicial dessa gigantesca operação bélica coube ao sanguinário Papa Urbano II que, conforme veremos depois da cronologia que se segue, em 26 de novembro do ano de 1095, no Concílio de Clermont, incitou a massa de fiéis e determinou a gigantesca operação bélica. Esta custou ao mundo milhões de vidas humanas. Só na primeira cruzada os exércitos comandados pela Igreja ceifou a vida de nada menos do que 500 mil homens. Nem isto foi capaz de deter a sandice dos papas católicos.
Cavalgando o dorso do poder temporal e determinados a conquistar, bem como ansiosos para dominar o mundo, eles programaram a monstruosa operação e conspiraram contra a humanidade, matando indiscriminadamente todos que atravessassem à frente dos seus exércitos.
Os famigerados reis, príncipes, duques, condes e outros tantos nobres de sangue, totalmente enlouquecidos e iludidos com as promessas de conquista de terras e poder, marcharam contra o Oriente Médio. Por onde passavam, destruíam tudo que encontravam pelo caminho. Nesta primeira parte deste breve histórico encontra-se uma descrição cronológica das diversas etapas dessa vergonhosa operação, assim como das personalidades que direta ou indiretamente, antes ou durante, estiveram envolvidas neste lamentável episódio que ficou conhecido como as cruzadas. (Por Reivax)
Cronologia dos Antecedentes Daquele Fatídico Movimento
622. Maomé (570-632) é obrigado a sair de Meca, retirando-se para Medina, atual cidade do profeta, dando início a Hégira ou exílio deste notável profeta. Nessa mesma data, tem início a contagem do calendário muçulmano, cuja data inicial é 16 de Julho de 622.
630. Em 01 de janeiro desse mesmo ano, Maomé regressa a Meca, após ter derrotado as forças que se organizaram contra ele em Meca, bem como silenciado os seus aliados. Começa aí o triunfo da doutrina mulçumana na Arábia Saudita .
632. Maomé morre em Medina e Abu Bakr é escolhido por aclamação como seu sucessor e primeiro califa. Os chamados falsos profetas e as tribos rebeldes são derrotados.
634 a 644. Surge o califa Omar. Ele foi o primeiro a usar o título de Amir al-Muminin ou príncipe dos Fiéis. Fortalecido pela nova religião, o califa transforma o Estado nacional árabe num império teocrático internacional, estabelecendo uma administração militar. O chefe das tropas de ocupação foi transformado em em governador civil, chefe religioso e juiz temporal.
634. Teodoro, irmão do imperador bizantino Heráclio foi derrotado em Ajnadayn, pelo exército árabe, entre Gaza e Jerusalém.
636. Mais uma derrota é capitalizada em favor dos mulçumanos. Desta vez, a vítima foi o exército bizantino, em Yarmuk, ao sul do Lago Tiberíades.
638. O califa Omar apodera-se de Jerusalém. Ainda nesse ano, a Palestina e a Síria são conquistadas.
639 a 641. A Mesopotâmia, atual Iraque, foi conquistada pelos exércitos religiosos árabes.
642. Até o indomável Egito entrou na dança e foi conquistado, sendo sua negociação conduzida pelo patriarca de Alexandria. As condições estabelecidas nessa negociação garantiram a segurança das pessoas e seus bens, bem como a liberdade de culto para os cristãos. Data dessa mesma época a Fundação do Cairo, al-Fustât.
649. As conquistas muçulmanas não pararam por aí e a próxima vítima foi o Chipre.
655. As atividades bélicas mulçumanas prosseguiram e a Conquista de Cabul foi inevitável.
687. Fortalecidos e com muito dinheiro, usurpado em função das atividades militares, os mulçumanos dão início à construção da mesquita de Omar, em Jerusalém.
711. A sede de conquista dos mulçumanos não pára. Assim, nesse ano, a Península Ibérica foi invadida. Rodrigo, último rei visigodo foi derrotado e os espanhóis subjugados. De quebra, a região do Indo, atual Paquistão e Afeganistão, também foram vítimas dos mulçumanos, cuja sede de poder parecia não ter limites.
716 – 717. Nessa oportunidade, a ousadia dos mulçumanos já era tamanha que uma das maiores e mais potentes cidades daquela época, Constantinopla, foi sediada pelos exércitos islâmicos.
732. Com a Batalha de Poitiers, ocorreu o fim da expansão árabe na Europa.
747. Sublevação abássida no Kkorassan. Nota: Abássida é atributo relativo à dinastia dos abássidas ou indivíduo dessa dinastia, composta dos califas muçulmanos que se consideravam descendentes de Abbas, tio de Maomé, e que reinou em Bagdá de 750 a 1258,
750. Nesse ano, ocorreu a derrota do último califa Omíada de Damasco, na batalha do Grande Zab, na Pérsia revoltada pelos Chiitas.
750 – 1258. Abu al-Abba funda e dá suporte à Dinastia Abássida, sediada em Bagdadá, a nova cidade implantada às margens do rio Tigre.
755 – 1031. Foi criado o Emirado, estado ou região chefiada por um emir e, mais tarde Califado (929) ou conjunto de princípios seguidos por chefes políticos e religiosos, após a morte de Maomé. Nesse mesmo período foi criada a Omíada de Córdova, na Península Ibérica, cuja fundação é atribuída a Abd al-Rahman, fugido do massacre dos omíadas em Damasco.
800. Mercadores muçulmanos se estabeleceram em Cantão e fundaram uma fábrica de papel em Bagdá.
809. Ocorreu a morte do califa Haroun al-Rachid, conhecido pelas Mil e Uma Noites. Nesse período registrou-se o apogeu do império árabe.
825. A Ilha de Creta foi ocupada pelos muçulmanos, cujas atividades voltaram a entrar em ação.
827. O Mutazilismo, escola do Islã clássico, foi fortemente influenciada pelo racionalismo e proclamando doutrina oficial.
830 Por essa ocasião os árabes realizaram as primeiras peregrinações a Santiago de Compostela.
831. Os árabes insistem na conquista dos demais povos e Palermo, na Sicília, não escapa à sandice dos mesmos.
842. A conquista de Messina, na Sicília, deu-se por essa ocasião e a de Tarento, na Península Itálica, foi mais um feito dos Árabes.
842 – 902. De 842 a 902 as conquistas se intensificaram e a queda da Sicília foi mais uma das façanhas dos Árabes.
846. Nem um dos maiores e mais respeitados impérios da época, a histórica e poderosa Roma, escapou das incursões muculmanas.
857. Nesse ano morre Muhâsibi, um dos primeiros e mais influentes membros do islamismo.
864. Nesse período surgiu a doutrina do «encerramento das portas do raciocínio individual» em matéria de interpretação da Lei.
868-883. Entre 868 e 883, teve lugar a revolta dos escravos negros ou Zandj, no Baixo-Iraque.
869. Neste ano, os árabes conquistaram a ilha de Malta.
874. Aqui registrou-se o nascimento do teólogo al-Ash’ari e deu-se a conciliação do racionalismo mu’tazilita com o tradicionalismo sunnita.
875. Comerciantes muçulmanos foram massacrados na China.
940 – 1258. O califado dos Abássidas fracassa e perde toda e qualquer importância política. Assim, surgem ás revoltas chiitas. Devido à incompetência do califa, surgem várias dinastias locais, cujos príncipes tomam o título de califa.
960. Registrou-se a conversão dos Turcos Qarakhânidasao ao Islã
961. Nesse período, Creta é reconquistada pelos bizantinos.
962. Nessa oportunidade, registrou-se a fundação da dinastia Ghaznévida, no Afeganistão, constituindo-se na primeira dinastia turca no mundo muçulmano, cujo predomínio estendeu-se até 1186, quando os Bizantinos retomaram Alepo.
969. Os Fatimidas, espécie de dinastia que surgiu ao Norte de África por volta de 910, apoderam-se do Egito e fundaram o novo Cairo (al-Aâhira). Nesse mesmo ano, os Bizantinos voltam a ocupar Antioquia.
993. Nasceu Ibn Al Hazm, poeta e teólogo andaluz que defendia a interpretação literal do Al Kuram, bem como da tradição islâmica.
996. Nesse período deu-se o massacre de mercadores de Amalfi, porto no sul de Itália, no Cairo.
997. Registrou-se a incursão muçulmana contra S. Tiago de Compostela.
1009. O califa fatimida do Cairo, al-Hakim, mandou destruir as igrejas de Jerusalém.
1017. Marco inicial do começo da pregação druza.
1019. O califado de Bagdá proclamou um credo de inspiração hanbalita, uma das quatro escolas do Islã sunnita, a qual se caracterizou pela atenção dispensada ao respeito da tradição corânica e profética. Uma 2.ª proclamação deu-se em 1042 e uma 3.ª, em 1053.
1031. Nesse ano ocorreu o fim do Califado de Córdova. As possesões muçulmanas da Península Ibérica foram repartidas em principados ou tawa’if, conhecidos por Taifas.
1035. Peregrinação a Jerusalém de de Roberto, o Diabo ou o Magnífico, duque da Normandia.
1036. Os Muçulmanos e os Bizantinos concordaram em reconstruir as igrejas cristãs de Jerusalém.
1040. Vitória dos Turcos Seljúcidas sobre os Ghaznévidas em Dandanaqan.
1043. Miguel Cerulário torna-se patriarca de Jerusalém.
1054. A 25 de Julho, ocorreu o Cisma entre Roma e Constantinopla. Miguel Cerulário, que fora excomungado pelo papa Leão IX, excomungou todos os latinos.
1055. Os Turcos seljúcidas conquistaram Bagdá.
1062. Os mulçumanos, já bastante odiados pelas suas agressividades bélicas, atraiam a rejeição de todos. Diante do fato, o papa Alexandre II aproveitou o momento para conceder perdão dos pecados a quem os combatesse.
1063. Início da cruzada de cavaleiros borgonheses à Península Ibérica. Em 1064, o exército cruzado conquista a cidade de Barbastro, após 4 meses de impiedoso cerco. Ainda no ano de 1064, O arcebispo Gunther de Maiença e os bispos Guilherme de Utrecht e Otto de Ratisbona organizaram uma peregrinação de 7.000 pessoas a Jerusalém.
1071. Em 19 de Agosto, os Bizantinos foram derrotados pelos Turcos Seljucidas, em Manzikert.
1080. Mercadores de Amalfi fundaram, perto do Santo Sepulcro, o hospital de São João de Jerusalém, para recolher e prestar socorro aos peregrinos pobres que eram agredidos e espoliados de todas as formas possíveis pelos árabes. Data dessa mesma ocasião a fundação da seita muçulmana dos Assassinos.
1081. Aleixo Comneno foi declarado o imperador do Oriente.
1082. Devido à ajuda prestada contra os Normandos, Veneza obtve o direito de comerciar em todo o Império Bizantino, sem pagar direitos alfandegários.
1084. Antioquia caiu nas mãos dos Turcos.
1085. Os Normandos dominaram a Sicília e Toledo foi conquistada por Afonso VI de Castela.
1086. Afonso VI de Castela foi vencido na batalha de Sagrajar, pelos berberes almorávidas, chamados à Península Ibérica pelos reis muçulmanos das Taifas, devido à conquista de Toledo.
1086 – 1090. Nesse período, intensificou-se a peregrinação à Terra Santa, sendo que entre os peregrinos consta o registro da presença do conde de Flandres, Roberto de Frison.
1087. Ocorreu uma cruzada francesa à Espanha, organizada por Urbano II, e dirigida por Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse e Eudes I, duque da Borgonha.
1090. Os Normandos Conquistaram Malta e os «Assassinos» apoderaram-se do castelo de Alamute, na Pérsia.
1092. Os “Assassinos” mataram o vizir Nizam al-Mulk.
Memo, excelsocon.org/old/literaturas/sintese_historica/historia_geral/as_cruzadas. Extraído da “Gesta Francorum” adaptado e traduzido por Cato.
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