dezembro 20, 2023

AS CRUZADAS - parte 4




A Segunda Cruzada – 1147

Edessa foi tomada em 1144 pelo atabegue Mossul. Promovida por São Bernardo (Vézalay, 1146) e apoiada pelo Papa Eugênio III, a segunda cruzada foi integrada pelo rei da França, Luis VII e o imperador da Alemanha Conrado III. Os dois exércitos dessa expedição desceram o Danúbio em1147 e alcançaram a Antioquia e Acre por mar em 1148. Após ter sitiado Damasco em 1148, a desorganização das expedições e os desentendimentos entre os chefes cruzados resultaram numa fragorosa derrota. Assim, eles retornaram ao Ocidente em 1149, sem haver tentado libertar Edessa. Os muçulmanos resolviam suas diferenças a seus modos e, do ponto deles, sob o signo do combate aos infiéis. Saladino retoma Jerusalém em 1187.

SALADINO

Saladino, nascido Salah-ed-Din Yusuf, o grande sultão do Egito e da Mesopotâmia, um dos maiores líderes muçulmanos na história dos Cruzados, cujo caráter cavalheiresco causava a admiração dos amigos e dos inimigos, Reunificou todos os povos árabes contra os Cruzados.

Saladino era filho de um chefe curdo. Os curdos, que deram o nome da região montanhosa conhecida como Curdistão, eram um povo de origem iraniana, muito corajoso e apaixonado pela liberdade. Saladino não era um semita, mas indo-europeu. Em 1187 proclamou a guerra santa e invadiu a Palestina. O sangrento encontro com o rei de Jerusalém deu-se junto ao lago de Tiberíade. O exército cristão foi completamente derrotado e o rei feito prisioneiro. Depois da vitória de Tiberíade, Saladino apoderou-se de todas as praças forte que rodeavam Jerusalém e pôs, por fim, cerco à cidade. As grandes destruições causadas pelas máquinas de assédio tiraram a coragem dos defensores, que pediram um armistício. De início, Saladino recusou. “Eu quero conquistar Jerusalém como os cristãos o fizeram há noventa anos. Massacrarei todos os homens e escravizarei todas as mulheres. Amanhã conquistaremos a cidade”. Os cristãos responderam: “Se temos de renunciar toda a esperança de negociações, bater-nos-emos desesperadamente até o último homem, poremos fogo às casas e destruiremos os santuários. Os cinco mil prisioneiros muçulmanos que temos em nosso poder serão massacrados. Preferimos destruir todos os nossos bens a deixá-los para vós e mataremos os nossos filhos. Ninguém ficará vivo e perdereis todos os frutos da vossa vitória”. Esta resposta orgulhosa obrigou Saladino a refletir e a reunir um conselho de guerra. Estes aconselharam-no a aceitar a capitulação de Jerusalém mediante um determinado resgate por habitante. Com estas condições, a cidade rendeu-se. Eis, pois, a cidade santa em poder dos infiéis. Entre os gritos de alegria dos muçulmanos e as lamentações dos cristãos, as igrejas foram transformadas em mesquitas. As cruzes foram arrastadas pela lama dos caminhos e os sinos despedaçados. Mas depois do pagamento do resgate, os cristãos foram autorizados a abandonar a cidade. Vários milhares de cristãos pobres que não tinham como pagar o resgate foram, apesar disso, postos em liberdade. Saladino mandou-lhe mesmo distribuir esmolas. Mal esses desgraçados tinham saído das fronteiras da Terra Santa, foram perto de Trípoli, na Síria, atacados e despojados pelos próprios correligionários. Depois da queda de Jerusalém, toda a Palestina se encontrava em poder de Saladino. O Grande Saladino morreu com 55 anos deixando 17 filhos.

A Terceira Cruzada – 1189

Com a notícia da tomada de Jerusalém, o Papa Gregório VIII pregou a terceira cruzada. Participaram dela Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra de, 1189 a 1199, que nasceu em Oxford em 1157, filho de Henrique II a quem sucedeu no trono. Foi “mau filho, mau irmão e mau rei”. Originando-se seu cognome, coração de leão, de “suas numerosas aventuras e louca bravura”, revelada em inúmeros torneios, adquirindo grande reputação. Ardente e ambicioso, revoltou-se contra o pai, que ao morrer amaldiçoou Ricardo. Ricardo se juntou com os reis Frederico Barba Roxa, Imperador do Sacrossanto Império Romano-Germânico e Felipe Augusto da França, e partiram para a cruzada. Barba Roxa seguiu por terra, abateu os turcos na Ásia menor, e morreu afogado acidentalmente por haver-se banhado ao sair de copiosa refeição, na Cilícia, atravessando o Sélef (Anatólia) – hoje Goksu. Ricardo e Felipe Augusto chegaram ao Oriente por mar e ajudaram os Cristãos da Síria a tomar a cidade de São João d´Acre (1191). Entre os gritos de alegria que saudavam a tomada da cidade, Ricardo Coração de Leão, arrancou o estandarte do Duque Leopoldo da Áustria, que foi o primeiro a ocupar a praça, jogou-o a lama, e colocou no lugar o estandarte da Inglaterra. Este ato iria causar graves conseqüências para Ricardo no futuro, apesar disso, Ricardo não mostrou melhor relacionamento com os aliados franceses. Felipe Augusto voltou à França, com a maior parte de seu exército, deixando poucos homens sob o comando de Ricardo. Agora sozinho no comando, Ricardo Coração de Leão tinha tempo para maravilhar cristãos e muçulmanos com sua louca bravura. Sua primeira ação foi mandar matar 3000 prisioneiros muçulmanos dos quais Saladino não se apressava a pagar o resgate com urgência exigida. Em vez de marchar para Jerusalém, Ricardo deixou-se levar pelo astucioso sultão, assaltando uma série de praças fortes ou a fazendo emboscadas as caravanas. O tempo era aproveitado pelo sultão para preparar a defesa de Jerusalém. Ricardo fazia tudo para inspirar o temor aos muçulmanos, ao mesmo tempo em que tentava conquistar a amizade de seu adversário. Ricardo e Saladino enviavam presentes um ao outro. Quando Ricardo se lançou contra Jafa, a fim de libertar os cristãos que ali se encontravam sitiados, o seu cavalo foi abatido numa luta corpo a corpo, de modo que se viu forçado a combater a pé. Então, seu cavalheiresco adversário lhe enviou um cavalo descansado com um recado que dizia, que era mais conveniente que os reis se batam a cavalo. Ricardo pensou até mesmo em casar a irmã com o irmão de Saladino, Aladil, que prometera tornar-se cristão. Mas da Inglaterra chegavam notícias que o irmão de Ricardo, João Sem-Medo ou João Sem-Terra, havia usurpado o trono com a ajuda de Felipe Augusto. Antes de partir, Ricardo obteve um acordo que garantia aos cristãos por três anos, a posse da maior parte da costa palestina e lhes permitia irem em pequenos grupos não armados em peregrinação ao Santo Sepulcro.

 Ricardo Coração de Leão sobreviveu por muito tempo na memória dos muçulmanos. As mães turcas tinham o costume de ameaçar os filhos que não queriam dormir dizendo: “Ricardo vem aí.” Isso foi o resultado que se conseguiu, junto com a libertação de S. João d´Acre. Não foi sem aventuras que Ricardo chegou à Inglaterra. Primeiro as tempestades puseram o seu navio à deriva, pelo que foi parar na costa setentrional do mar Adriático. Como, além de Felipe Augusto, outros inimigos o espreitavam, disfarçou-se de mercador e prosseguiu viagem por terra. Nos arredores de Viena foi reconhecido e caiu em poder do seu mortal inimigo, o duque Leopoldo, a quem tão gravemente ofendera na Palestina. Este o manteve prisioneiro durante dois anos, enquanto seus fiéis vassalos não pagavam o enorme resgate exigido pelo duque. Quando Ricardo foi posto em liberdade, Felipe Augusto escreveu para João Sem-Terra, “Acautelai-vos: soltaram o Diabo!” Assim que chegou ao seu reino, acusou o irmão de alta traição, mas impulsivo como sempre, em breve lhe perdoou “Não é ele acima de tudo, meu irmão?”. Ricardo era novamente rei, e como tal, explorou o povo inglês, desta vez com razão, declarou guerra a Felipe Augusto. Desembarcou na Normandia, onde foi recebido pela multidão com aclamações. Seus inimigos fugiram, mas sem dinheiro tentou sitiar um castelo em Chalus, na França, ferido por uma flecha, morreu então com 42 anos. Apesar da sua crueldade e tirania, foi um dos reis mais conhecidos da Inglaterra.

A Quarta Cruzada – 1202

Preparada pelo papa Inocêncio III, conduzida por Bonifácio de Monferrat, a cruzada deveria ser para atacar o Egito e depois a Palestina. Mas Veneza exigiu 85.000 marcos de prata para transportar os cruzados. Foi proposto um acordo pelos venezianos, no qual os cruzados ajudariam a tomar a cidade de Zara (hoje, Zadar). Contra a ordem do Papa, Zara foi invadida e saqueada. Em seguida, os venezianos sugeriram um ataque a Constantinopla, pois não lhes interessava uma guerra contra os muçulmanos, com os quais comercializavam freqüentemente. Então, os cruzados decidiram atacar Constantinopla com uma frota de 480 navios. Constantinopla foi saqueada e parcialmente destruída. Preciosos manuscritos foram inutilizados ou perdidos, obras primas foram roubadas, mutiladas ou destruídas. Após a rapina, foi escolhido Balduíno de Flandres para chefiar o novo Império Latino de Constantinopla. Tornando o francês à língua oficial. Mas em 1261, com a ajuda de Gênova, conseguiram a restauração da monarquia bizantina. Veneza foi a grande beneficiada da quarta cruzada, reforçando suas posições comerciais no mediterrâneo. Assim, dominou o império Bizantino até 1261. Foi uma cruzada de cristãos contra cristãos.

A Quinta Cruzada – 1217

O fanatismo religioso levou a formação desta cruzada, na crença que só a pureza das crianças poderia libertar a Terra Santa. O movimento, considerado por alguns espontâneo, foi organizado e estimulado de forma sorrateira. Induzidas pelas autoridades e demais interessados, 31.000 crianças alemãs atravessaram os Alpes em direção a Gênova e 20.000 crianças francesas dirigiram-se a Marselha. Marcaram seu caminho com cadáveres dos mortos de fome e cansaço. Chegando ao mediterrâneo, as crianças alemãs dispersaram-se e muitas morreram, Nenhum navio quis levá-las a Palestina. Ficaram esperando o mar se abrir, como aconteceu na passagem de Moisés, segundo a escritura. O Papa mandou buscá-las. As crianças francesas em Marselha não tiveram a mesma sorte. Conseguiram dois proprietários de navios que se ofereceram para levá-las ao seu destino, sem despesa alguma. Dos sete navios que partiram, 2 naufragaram, tendo morrido todos destes navios. Os cinco outros navios foram para o Egito e a Tunísia, onde as crianças foram vendidas como escravas.

A Sexta Cruzada – 1228

Organizada por André II, Rei da Hungria e comandada por Frederico II, do Sacro Império Romano, alcançou a Palestina. Frederico II por ter sido excomungado, não recebeu nenhuma cooperação dos cristãos, mas os Sarracenos ficaram impressionados com o conhecimento que tinha o jovem imperador da língua, literatura, ciência e filosofia árabes. Frederico II e o sultão Al-Malik Al-Kamil, de Damasco, entenderam-se amistosamente e assinaram o Tratado de Jafa em 1229, mediante o qual o Islã restituía aos cristãos, S. João d´Acre, Jafa, Sidon, Nazaré, Belém e toda a Jerusalém, por dez anos. Alguns anos mais tarde, os muçulmanos dominaram a região e o acordo foi rompido.

A Sétima Cruzada – 1248

O santo rei da França, Luis IX, dirigiu seus esforços de cruzado ao Egito, partindo de Aigues Mortes em 1248. Tomaram Damieta em 1249, porém apesar de uma primeira investida, com sucesso, os turcos atacavam por muitas vezes, até que a fome e as doenças atacaram mais o exército de São Luis do que o inimigo. Por fim, conseguiram aprisioná-lo (Mansurá – 1250). Lá, o rei cativo foi tão bem tratado que recebeu os cuidados do médico particular do sultão. Dizem que a fé do rei era tamanha que alguns muçulmanos foram convertidos ao cristianismo. Libertado mediante a entrega de Damieta, o rei teve que deixar o Egito com os cruzados. Mesmo não conseguindo vitórias nesta cruzada, seu prestígio pessoal aumentou na França.

A Oitava Cruzada – 1270  

Tendo o Sultão Baybars I (Rukn ad-Din Baybars Bundukdari ibn Abdullah, líder do exército Mameluco de 1265 a 1277) se apoderado de Antioquia em 1268, Luis IX, atual São Luis, novamente organizou uma cruzada que, sob a influência de Carlos I de Anjou, se dirigiu para Túnis, a antiga Cartago, onde o cristianismo tinha, graças a Santo Agostinho, lançado profundas raízes e onde muitos mártires tinham dado a vida pela fé. São Luis esperava reconquistar esta região para o cristianismo e converter o sultão. Mas São Luis morreu no acampamento em Túnis. O sultão concordou em deixar os cruzados irem embora. A peste dizimou o que lhe restava de homens válidos. Os muçulmanos conquistaram a terra santa em 1271, anos depois da primeira cruzada. Os cavaleiros de São João d´Acre perderam a cidade para as forças de Salomão II, dali partiram para ilha de Malta, onde permaneceram até o fim do Século XVIII, tomando o nome de Cavaleiros de Malta. Graças às cruzadas, as artes, as línguas e as ciências dos Árabes e dos Bizantinos passaram a ser estudadas no Ocidente. Na agricultura, trouxeram o açafrão, o arroz, a cana e o damasco. Na indústria, a seda, o algodão, a fabricação de álcool e açúcar. Veludos, damasquinos, musselines, tapetes, couros, laminas foram adotados com processos do Oriente. As tinturas e tecidos finos foram igualmente imitados. No comércio, cresceu o intercâmbio do Oriente com os portos franceses e italianos do mediterrâneo. Barcelona, Marselha e Aigues-Mortes, de um lado, Gênova, Amalfi, Pisa e Veneza do outro. Todos tiraram grande proveito do tráfego marítimo no mediterrâneo com a supremacia dos italianos, o que deu início à decadência da navegação árabe e bizantina. No plano econômico, as Cruzadas foram diretamente responsáveis pela reabertura do Mediterrâneo à navegação e ao comércio da Europa. Essa reabertura possibilitou o reatamento das relações entre o Ocidente e o Oriente, interrompidas pela expansão muçulmana. Contribuiu, assim, para acelerar o renascimento comercial da Europa no Ocidente. O fracasso das Cruzadas contribuiu indiretamente para a decadência do sistema feudal. O reaparecimento do comércio, intensificado pela reabertura do Mediterrâneo, propiciou o renascimento das cidades na Europa. O renascimento comercial e urbano do ocidente europeu, a decadência do feudalismo, o declínio do poder da nobreza e o surgimento da burguesia foram, direta ou indiretamente, conseqüências das Cruzadas. Nada disto impediu que a Terra Santa permanecesse sobre o domínio dos muçulmanos até 1918.

Memo, excelsocon.org/old/literaturas/sintese_historica/historia_geral/as_cruzadas. Extraído da “Gesta Francorum” adaptado e traduzido por Cato.

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