dezembro 04, 2023

ESPÍRITO SOBRE A MATÉRIA EM MAÇONARIA - Paulo Valle


Vamos analisar primeiro a forma, ou melhor, amaneira  pela  qual  o  homem  vê  a  si  mesmo perante o universo, já que a percepção que o homem  tem  de  si  mesmo,  como  de  um indivíduo  distinto  dos  demais  e  com  uma individualidade  permanente,  é  apenas  uma ilusão,  pois  isso  demonstra,  tão  somente,  a forma  exacerbada  de  valorização  do  próprio eu, o egoísmo, a falibilidade, a maneira pela qual o homem apenas vê, enxerga, o universo através  de  um  prisma  e  de  uma  ótica deturpada. 

A bem da verdade, o que entendemos como nosso  “eu”  é  na  realidade  um  conjunto  de circunstâncias  e  de  agregados  temporários que,  na  nossa  ignorância,  tomamos  por  um todo  único  e  são  estes  componentes, conhecidos  tecnicamente  no  Budismo  como “skandas”,  e  estes  cinco  são,  o  corpo,  os sentimentos,  as  percepções,  os  impulsos  e emoções e finalmente os atos de consciência. 

A  combinação  destes  cinco  fatores  ou skandas, se dão através das leis de causa e efeito  e  eles  ocorrem  não  só  no  mundo material,  ou  seja,  no  indivíduo,  portanto,  em sua  essência,  não  correspondem  a  uma entidade isolada, eterna, mas pode-se falar de uma  consciência  individual  e  sem  uma  base física, como a entendemos, já que é o sujeito da lei de causa e efeito e, este sim, eterno. Quando  eu  consultei  o  livro  intitulado  O Monge Filosófico, escrito por Mathieu Ricard, nota-se que ele se refere a esta consciência individual  como  um  “fluxo  de  consciência independente  do  corpo,  portanto  fora  da matéria. 

Portanto a este fluxo de consciência, como resultado de suas ações se agregam os cinco “skandas”, resultando no ser, material ou espiritual  e  aí  Mathieu  fala  que  a  libertação espiritual é descrita como a purificação deste fluxo,  até  o  ponto  de  sua  pureza  máxima, sendo que a combinação dos fatores acima se dá através das leis de causa e efeito e eles ocorrem  não  só  no  mundo  material,  como também nos mundos espirituais. Achei incrível isto, porque eu entendi que não precisa do homem em si para haver o pensamento, pois ele  existe  até  no  mundo  espiritual.  

O  corpo sutil,  espiritual,  também  é  temporário  e,  do mesmo modo que o corpo físico, ele é também um elemento sujeito as vicissitudes da lei de causa  e  efeito,  porém,  o  ser  que  atinge  a iluminação  no  Budismo  por  exemplo,  pelo menos no Tibetano, não deixa de existir, mas sua existência não está mais sujeita ao ciclo de reencarnações ou presa as leis de causa e efeito,  pois  ela  está  completamente  livre  de todos os fatores que o prendem a um corpo perecível, seja nos mundos materiais, seja nos mundos sutis, portanto os preceitos filosóficos do Budismo reconhecem diferentes níveis de existência e ele goza de uma paz absoluta e da  compreensão  total  deste  mundo,  e  comisso, que fique claro, que o homem morre, mas a sua alma não, a sua “consciência” continua a existir,  consciente  de  si  mesma,  mas  sem  a ilusão de que é algo independente de todas as outras consciências ou do Universo. 

O espírito junta-se então ao próprio espírito do Buda quando ele atinge a iluminação total e essa  substância  chamada  espírito  sutil,  sem começo nem fim, independente do corpo e do cérebro, é sem dúvida a verdadeira causa da consciência, portanto esse espírito sutil que se manifesta,  finalmente  livre  de  todo  apego, eliminou  totalmente  os  obstáculos  que  se opunham à visão da última natureza de toda a existência. 

Nesta minha análise como falei antes, nós nos despimos de todos os preceitos e preconceitos judaico-cristão e com isso, não vamos analisara relação do corpo fluídico e corpo material à luz  do  que  entende  a  Bíblia  e  os  Livros Judaicos.  Afinal  de  contas  a  maçonaria, apenas no ocidente e nos países que segue mas  doutrinas  judaico-cristã  utilizam  a  Bíblia como parâmetro de verdade absoluta. Eu pelo menos vou limitar esta conversa dos nossos estudos sobre a prevalência do espírito sobre matéria apenas ao que diz e entende a sociedade  judaico-cristã,  sim,  mas  com  isso também estou limitando o conhecimento do ser absoluto.  

E  neste  caso  nós  estaríamos retrocedendo,  retornaríamos  ao  mais  negro período  do  conhecimento  humano,  quando tudo se via limitado pela instituição da Igreja Apostólica  Romana  como  detentora  do conhecimento  e  da  verdade  católica,  já  que naquela época o espírito estava submetido amais dura das ditaduras, aquela que impedia, inclusive,  o  próprio  espírito  de  pensar,  pois para  a  igreja,  tudo  já  estava  devidamente pensado,  os  seus  seguidores  tinham  apenas que seguir o que lhe ditavam como verdade, qual seja, eram repontados. 

Este  nome,  maçonaria  provém  do  francês “maçonnerie”,  que  na  sua  gênese,  significa construção  e  esta  construção  é  feita  pelos maçons  nas  suas  Lojas  (Lodges),  porém alguns  autores  dizem  que  a  palavra  é  mais antiga ainda e teria origem na expressão cota “Phree   Messen”   (Franco-maçom),   cujo significado  é  “filhos  da  luz”  e  daí,  o antagonismo entre o pensar maçônico e a dura tirania medieval onde na Idade Média haviam dois  tipos  de  pedreiros,  o  Rouch  Masson (pedreiro  bruto)  que  trabalhava  com  a  pedra sem  lhe  extrair  forma  ou  polimento  e  o “Freemason”  (pedreiro  livre)  que  detinha  o segredo  de  polir  a  pedra  bruta,  mas  isto  é  o que se pode encontrar da origem do nome da nossa instituição maçônica, entretanto a nós já nos basta o que somos, e não precisamos nos sujeita  a  interpretações  de  historiadores, muitas vezes contraditórias. 

Agora  eu  vou  falar  um  pouquinho  de meditação,  mas  alguns  autores  definem meditação  da  seguinte  maneira:  um  estado que  é  vivenciado  quando  a  mente  se  torna vazia e sem pensamentos; prática de focar amente  em  um  único  objeto  (por  exemplo:  em uma  estátua  religiosa,  na  própria  respiração, em  um  mantra);  uma  abertura  mental  para  o Divino,  invocando  a  orientação  de  um  poder mais alto. 

Somos contrários a qualquer tipo de definição, principalmente,  com  relação  a  “meditação”, porém uma coisa é mais do que certa, o que chamamos  de  mantra,  nada  mais  é  do  que ligar  a  mente  repetidamente  num  único pensamento  repetindo-o  por  infinitas  vezes, ainda  que  seja  apenas  assim:  1,  2,  3,  desde que dita centenas até milhares de vezes, a isto se  chama  mantra,  porque  tira  do  cérebro outros  pensamentos  indesejados,  já  que  a concentração  é  só  nesse  som,  123,123,123. Isso é meditar, e meditar é aliviar ou trocar os pensamentos indesejados pelos desejados. 

O  mestre  Régis  Jolivert  ensina  que,  definir significa delimitar e por se tratar a meditação um  ato  soberano  do  espírito,  tentar  defini-lo significaria,  buscar  limitá-lo,  o  que  seria impossível. Erro crasso é limitar a meditação a um estágio em que a mente se encontra vazia e  sem  pensamentos.  Vazia,  significa  sem qualquer  conteúdo.  

Como  poder-se-ia  dizer mente vazia quando a meditação consiste em abstrair os conceitos de espaço tempo. 

Assim, a meditação na maçonaria consiste na abstração de conceitos pré-estabelecidos a fim de atingirmos a plenitude da liberdade, da igualdade e da fraternidade, pois e só assim, é que  se  atinge  a  plenitude  do  eu  maçônico,  a plenitude do conhecimento, então aqui nos fica bem  claro  que  não  devemos  aceitar  como determinação o ato de ser liberto, ser igual e ser fraterno, precisamos entender o porquê de precisarmos  ser  assim. 

Meditar  sempre  até atingir  conhecimento  pleno  até  chegar  no  eu maçônico.

 

Adaptado por um “Filho da Viúva”

Nenhum comentário:

Postar um comentário