dezembro 13, 2023

O LUGAR DO APRENDIZ - Rui Bandeira




O local onde uma Loja maçônica se reúne é pelos maçons designado de Templo.

Dentro do Templo, e no decorrer de uma reunião de Loja, tudo existe segundo uma

ordem determinada e todos têm assento em locais definidos.


O sentido de ordem, a segurança que psicologicamente é transmitida a quem se

encontra num local ordenado, onde tudo e todos estão no seu lugar, ajudam à

criação de uma atmosfera de confiança, descontração e concentração que é

preciosa, quer para o bom desenrolar da sessão, quer para o conforto de todos,

quer para a predisposição para atender aos assuntos do espírito, deixando-se

efetivamente os metais à porta do Templo.


Como todos os outros obreiros, o Aprendiz tem o seu lugar determinado. Ou,

melhor dizendo, uma zona da sala destinada a que ele ali se coloque e assista a

tudo o que se passa. Esse lugar, essa zona, situa-se nas cadeiras traseiras do

lado Norte da sala.

O lado Norte aqui em causa é, como quase tudo em Maçonaria, simbólico. Pode,

portanto, corresponder ou não ao Norte geográfico. Normalmente, as salas onde

decorrem as reuniões de Lojas têm a forma retangular, com a entrada colocada num

dos lados mais pequenos. E quando não tem essa forma, utilizam-se os adereços

necessários para que o local onde decorre a reunião tenha essa disposição.

O lado onde se situa a entrada é, por convenção, designado de Ocidente. Logo, o

lado oposto, onde se coloca a Cadeira de Salomão, é o Oriente. A generalidade

dos obreiros toma assento nos lados direito e esquerdo da entrada. Convencionado

que está que a entrada se situa no Ocidente, o lado direito de quem entra é,

portanto, o Sul e o lado esquerdo de quem entra é o Norte.

Portanto, o Aprendiz toma assento na segunda fila do lado esquerdo de quem

entra. Como sempre, esta disposição tem um significado simbólico. Para ser

entendido, há que ter presente que a Maçonaria nasceu no hemisfério Norte. Neste

hemisfério, o que está situado a Norte é menos ensolarado, menos iluminado. Em

termos de Maçonaria, o Aprendiz ainda está na fase de transição da vida profana

para a vivência maçónica.

Está em processo de aprendizagem dos símbolos, dos princípios, da vivência, da

Maçonaria. Está no início do percurso que todos os maçons procuram fazer, do seu

aperfeiçoamento, da busca do Conhecimento do significado da Vida e da Morte, da

Criação, do Universo, do Material e do Imaterial. Está, como os maçons dizem, no

início do caminho para a Luz. O Sol nasce a Oriente. Simbolicamente a Luz que o

Maçom busca encontra-se a Oriente.

Daí que seja no lado que simboliza o Oriente que se encontra a Cadeira de

Salomão, onde toma assento o Venerável Mestre, que conduz a Loja e os seus

Obreiros na busca, individual e coletiva, do aperfeiçoamento e do Conhecimento,

na busca da Luz. O Conhecimento, para quem não está preparado, pode ser nefasto,

pode ser incompreendido ou mal compreendido e, logo, recusado, afastado,

distorcido. Portanto, o acesso à Luz deve ser gradual, em função da capacidade,

da preparação, do Caminhante. Consequentemente, aquele que está ainda menos

preparado, aquele que está ainda na fase inicial da sua Jornada, deve ser

protegido do excesso de Luz, para que nele se não torne nefasto o que deve ser


benfazejo. Assim, deve tomar assento na zona mais protegida da Luz, ou seja, no

Norte.

Quanto ao facto de tomar assento nas cadeiras traseiras, e não na primeira fila,

tal deve-se, quer ao facto de, quanto mais ao Norte estiver, mais protegido

estar da Luz em excesso, quer, muito mais prosaicamente, ao facto de o Aprendiz

ainda ter uma reduzida intervenção nos trabalhos e ser conveniente deixar a

primeira fila ser ocupada por quem pode intervir ou necessita de circular pela

sala...

Esta regra só tem uma exceção: no dia da Iniciação, finda a respectiva

Cerimônia, o novo Aprendiz toma assento, até ao final da sessão (e só nessa

sessão), na primeira fila do Norte. Também por uma razão muito prática: não faz

sentido ser colocado mais atrás, porventura obrigando outros obreiros a

desviarem-se para lhe dar passagem, para o que resta da sessão.

Dá muito mais jeito manter reservado um lugar na primeira fila que, a seu tempo,

será então ocupado pelo recém-iniciado. Afinal, depois do turbilhão de emoções

que constitui a Iniciação, sabe bem sentar-se pertinho, pertinho, no primeiro

lugar disponível e facilmente acessível...

A partir da sessão seguinte, e durante todo o tempo em que for Aprendiz, tomará,

então assento na zona que lhe está destinada, os assentos traseiros do lado

Norte. Protegido na sua zona, subtraído a movimentações, o Aprendiz está

sossegado, em plenas condições de se concentrar, de tudo observar, de tudo

apreender. Em Maçonaria, o Aprendiz é um Homem

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