dezembro 14, 2023

MENSAGEM DA COMUNIDADE JUDAICA A LULA:

 

" Nós, judias e judeus brasileiros, junto a muitos não judeus que compartilham nossa dor, vimos por esta  carta aberta expressar ao presidente da República e à sociedade nossa preocupação pelas consequências  por aqui da guerra do Hamas contra Israel.

O massacre de 7 de outubro, há pouco mais de dois meses, foi a maior matança de judeus por serem judeus desde o  Holocausto. Mais de 1.200 pessoas foram assassinadas a sangue frio num atentado terrorista macabro que incluiu  estupros, corpos queimados ou mutilados, famílias inteiras mortas no próprio lar e mais de 200 crianças, idosos,

mulheres e homens sequestrados. Quase todos e todas nós –– uma comunidade formada por pouco mais de cem mil  brasileiros que amam o país –– conhecemos alguém por lá que foi morto, ferido, perdeu um familiar ou aguarda a  liberação de um refém.

Israel tem o direito de se defender dessa barbárie, como o Brasil teria se o massacre tivesse sido aqui. Mas foi lá numa  terra distante que sempre foi alvo de preconceito e desinformação. Desde o início desta guerra, assistimos a um  aumento alarmante do antissemitismo, nas ruas e nas redes. Falas até pouco impensáveis encontram agora livre vazão.  Já vimos, inclusive, passeatas com bandeiras do Hamas no Brasil, que assiste a uma horrenda normalização do terrorismo e à banalização dos chamados a ferir e matar judeus. Entenda que tudo isso ameaça a segurança das nossas  famílias –– e de toda a sociedade.

Não é um caso especial: está acontecendo no mundo, e nós não queremos chegar à situação de outros países onde os  judeus e judias precisam tirar as mezuzás das portas, andar na rua sem kipá e esconder a estrela de Davi pendurada  no pescoço. Não queremos ter que pedir aos nossos filhos, aqui no Brasil, que troquem de roupa para não ser vistos  na rua com o uniforme de uma escola judaica –– e tem famílias que já estão passando por isso. É urgente que autoridades e políticos comecem a agir com determinação e fazer pedagogia social. Não aceitaremos viver sob o temor  permanente de ser vítimas do ódio e da violência.

Presidente Lula, na última campanha, Vossa Excelência pregou o fim dos discursos de ódio, fake news e ataques às  minorias, e prometeu trabalhar pela união dos brasileiros e brasileiras. É mais do que necessário. Acreditamos nestas  suas falas e esperamos que honre o compromisso. Por isso mesmo, tem palavras que doem e silêncios ensurdecedores.

Doem as falsas equivalências: um povo que se defende não pode ser equiparado àqueles que querem massacrá-lo, e  um Estado democrático que protege seu povo (a única democracia do Oriente Médio) não pode ser equiparado a um  grupo terrorista que usa civis inocentes como escudos — um grupo fundamentalista religioso que instaurou uma  ditadura militar em Gaza há mais de 15 anos e mantém sua população de refém, violando os direitos humanos, oprimindo as mulheres e perseguindo a população LGBT. Doem as declarações que, por desconhecimento, reproduzem fake  news e teorias conspiratórias sobre Israel, que alimentam o preconceito sobre os judeus e o sionismo –– nome próprio  do movimento nacional de autodeterminação do povo judeu. Ensurdece a ausência de vozes que repudiem o antissemitismo naqueles setores políticos e sociais onde ele se espalha perigosamente.

Recentemente, o senhor recebeu a irmã e a filha do brasileiro Michel Nisenbaum, ainda refém do Hamas. Foi um passo  importante, mas a gravidade da situação exige muito mais. As falas, decisões e posturas públicas da máxima autoridade do país podem nos trazer segurança ou insegurança –– e, se acertadas, podem educar, ajudando a construir uma  sociedade pacífica e consciente dos males do antissemitismo.

A nossa dor, contudo, não nos leva ao distanciamento: queremos dialogar, conversar, ser ouvidos. Sabemos que Vossa  Excelência é uma pessoa aberta, que sabe ouvir, e esperamos que compreenda o quanto seria importante, pela sua  influência, que fale em alto e bom som que Hamas é um grupo terrorista –– pelos fatos que todo o mundo viu, apesar  da cegueira da ONU –– e exija nos fóruns internacionais a liberação incondicional todos os reféns. Que ouça o testemunho dos compatriotas que voltaram de Israel depois do massacre e ainda não foram recebidos. Que preste homenagem  aos brasileiros assassinados, Karla Stelzer, Bruna Valeanu e Ranani Glazer, e também Celeste Fishbein, filha e neta de  brasileiras.

E, sobretudo, que se empenhe pessoalmente, como representante do povo brasileiro, na luta contra o preconceito que  nos atinge também aqui, em casa, adotando oficialmente –– como já fizeram, entre outros, Fernández, na Argentina;  Biden, nos EUA; Macron, na França; Sánchez, na Espanha, e Merkel, na Alemanha –– a definição de antissemitismo da  Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) e liderando, aqui no Brasil, uma mudança social na  compreensão de um problema tão antigo e infelizmente tão atual.

INFORME PUBLICITÁRIO AO EXMO. SR. PRESIDENTE  DA REPÚBLICA FEDERATIVA  DO BRASIL, LUIZ INÁCIO  LULA DA SILVA"

Um comentário:

  1. Não poderia ser melhor mensagem.
    Ela diz tudo.
    O ôco da cabeça do Estadista, sua ignóbil ignorância, sua letargia de raciocínio e seu indisfarçável despudor para tratar questões que atendam priortariamente seus interesses pessoais dão o toque de sua insipiência de caráter.
    A profunda e silenciosa mensagem da comunidade judaica é uma manifestação inequívoca e legítima de desprezo a este sujeito.

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