dezembro 30, 2023

NÃO TENHO LÁGRIMAS - André Naves



Nat “King” Cole admirava demais a cultura brasileira. O sorriso o acompanhava sempre que ouvia a musicalidade de nossa poesia, a cordialidade de nossa gente, e a maneira gentil com que ele sempre fora tratado. 

Isso sim era uma democracia racial, um império do amor e da benquerença. O rei era um negro também, que com a bola, escrevia poesias populares de profunda beleza... Era impressionante! Toda criança, não importa a origem, vestia a camisa 10 canarinho como se fora um sagrado manto da majestade, o “Rei Pelé”!

E a palavra “saudades”, então? Ela é, por si só, uma flor rara e preciosa, uma beleza surpreendente e poética de poucas letras, um samba de uma nota só... Foi para tentar desbravar seus ocultos sentidos que o “rei” Cole escreveu um singelo samba...

E que samba!!!!

Puxa vida! Tantas vezes são os outros que nos apontam os nossos mais importantes valores! 

As saudades ganharam temperos novos aqui no Brasil. É uma palavra da língua portuguesa, mas seu significado é tão nosso que na nossa bandeira poderia estar escrito: “Terra do povo saudoso!”.

É que é isso, sabe? 

O banzo deu aquela ponta de angústia a ela. Essa é a cultura popular brasileira: juntamos o banzo e as saudades, e escrevemos, juntos, os mais bonitos significados... Da dor nasce a Flor!

Saudades... Memórias... Uma ponta de angústia, mas muita esperança e desejo de agir! Essa é a boniteza da saudade! 

Dia desses, 20 anos depois, eu e um grande amigo decidimos voltar a um restaurante que tinha dado um significado a mais a nossa vida estudantil...

Enquanto eu cruzava as redondezas uma ponta de angústia dominava meu coração... Quero chorar! Não tenho lágrimas! Saudades do caminho que nos trouxe até aqui e que nos levará ao desconhecido...

Saudades...

Memórias...

As pedras de ontem viraram o poema de hoje! 

Sabe o mais impressionante? O mesmo garçom nos serviu. Pedimos o mesmo prato, as mesmas sobremesas, licores exatamente iguais... 

As chamas torravam os grãos de café mergulhados naquela taça de sambuca romana e os aromas do passado nos visitavam... Ao mesmo tempo, ouvíamos a música do futuro, com toda a sua força, nos chamando...

Saudades... Futuro!

É isso que eu quero... Só isso e TUDO ISSO!

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