Quando Deus apareceu a Moisés na sarça ardente e encarregou-o com a missão de levar o Povo de Israel para fora do Egito, Moisés disse ao Todo-Poderoso:
“Veja, eu irei aos filhos de Israel e direi a eles: ‘O D'us de vossos pais enviou-me a vocês’, e eles dirão: ‘Qual é Seu nome?’. O quê direi a eles?”
D'us respondeu a Moisés: “Eu serei quem serei... diga aos filhos de Israel: ‘Eu Serei’ (Eh-he-yeh) enviou-me a vocês”.
Um Deus Anônimo?
Nomear algo é descrevê-lo e defini-lo.
Portanto, Deus, que é infinito e indefinível, não pode ser nomeado.
Assim, Deus não tem nome, somente nomes – descrições dos vários padrões de comportamento que podem ser relacionados à Sua influência em nossas vidas.
Nas palavras do Midrash:
“D'us disse a Moisés: Você quer saber meu nome? Eu sou chamado por Minhas ações. Eu posso ser chamado E-l Sha-daí ou Tzevakot ou Elohim ou Ha-Va-Ya-H. quando Eu julgo Minhas criaturas, Eu sou chamado Elohim. Quando travo guerra com os perversos, Eu sou chamado Tzevakot. Quando Eu tolero os pecados do homem, Eu sou chamado E-l Sha-daí. Quando Eu tenho compaixão por Meu mundo, Eu sou chamado Ha-Va-Ya-H..."
Nisto reside o profundo significado da pergunta que Moisés antecipou dos filhos de Israel. “Qual é Seu nome?”, que eles certamente perguntariam.
Que tipo de comportamento estamos vendo por parte de D'us nestes momentos?
“Você diz que D'us já viu o sofrimento de Seu povo no Egito, já ouviu seus lamentos e conhece sua dor e, portanto, enviou-te para nos redimir. Onde estava Ele até agora? Onde estava Ele durante os oitenta e seis anos em que temos padecido sob o chicote dos capatazes, em que bebês têm sido arrancados dos braços de suas mães e jogados no Nilo, em que o Faraó tem se banhado no sangue das crianças hebraicas?”
Que nome estará Ele agora assumindo, depois de oitenta e seis anos durante os quais Ele aparentemente estava sem nome e afastado de nossas vidas?
Divino, Mas Não Sagrado
Como dissemos, cada um dos nomes divinos descreve um dos atributos pelos quais D'us escolheu para se relacionar com Sua criação: Elohim descreve a concepção de D'us do atributo de Justiça: Ha-Va-Ya-H, Sua concepção de Compaixão; e assim por diante.
Eh-he-yeh ("Eu Serei"), o nome pelo qual D'us identifica a Si próprio a Moisés, conota a concepção de D'us sobre Ser e Existir.
É por isto que existe alguma questão entre as autoridades haláchicas sobre se o nome Eh-he-yeh deve ser contado entre os sete nomes sagrados de D'us.
A lei da Tora proíbe apagar ou desfigurar o nome de D'us, pois até mesmo a tinta e o papel (ou outro meio) assumem santidade em virtude de sua representação de algo relacionado ao Divino.
Apesar de existirem vários nomes e adjetivos que descrevem o envolvimento multifacetado de D'us com Sua criação, há sete nomes divinos primários aos quais se aplicam os aspectos mais estritos desta lei.
Apesar do fato de que muitos cabalistas consideram Ehheyeh como sendo o mais elevado dos nomes divinos, ele não está incluído em certas versões da lista dos sete nomes que aparecem no Talmud e nos trabalhos haláchicos; de fato, a conclusão haláchica é a de que ele não é um dos sete nomes sagrados.
O motivo para este paradoxo é mais bem entendido pela compreensão do significado do termo “santidade”.
O quê torna algo “sagrado”?
Sagrado (kadosh em Hebraico) significa transcendental e separado.
D'us é sagrado, pois Ele transcende nossa realidade terrena; Shabat é um dia sagrado, pois é um dia de separação da materialidade de nosso dia-a-dia; o Rolo da Torá ou um par de tefilin são sagrados pois são objetos que visivelmente transcendem seus estados materiais para servirem a um objetivo Divino.
O mesmo se aplica aos sete nomes divinos sagrados: cada um descreve uma atividade divina que vai além da norma mundana, uma intervenção divina na realidade – D'us como governante, D'us como juiz, D'us como provedor, D'us como salvador, etc.
Por outro lado, Eh-he-yeh (“Eu sou”) é D'us existindo – D'us como essência da realidade.
Assim, Eh-he-yeh está além da santidade.
Se santidade é uma característica da transcendência de D'us, o início de D'us transcende à própria santidade, descrevendo uma dimensão de realidade divina que preenche toda existência mesmo ao transcendê-la, e, assim, se relaciona igualmente a todos eles, sagrados ou mundanos.
Todavia, Eh-he-yeh é um nome – isto é, um padrão de comportamento assumido – de D'us.
O próprio fenômeno da “existência” é parte e parcela da criação de Deus, e Deus certamente não pode ser definido por algo que Ele criou.
Finalmente, Deus pode ser descrito como um “ser” ou “existência” somente no sentido com que falamos d’Ele como um provedor ou governante: estes são mero nomes que descrevem não Sua essência, mas uma certa percepção que Ele nos permite ter d’Ele afetando nossa realidade de uma certa forma.
A Resposta
Esta foi a resposta de D'us ao clamor do povo ao perguntar “Qual é Seu nome?”
“Diga aos filhos de Israel”, disse D'us a Moshé, “que Meu nome é Eh-he-yeh. Onde Eu estava todos estes anos? Com vocês. Eu sou o ’ser‘, Eu sou o ’existir‘, Eu sou a realidade. Eu estou no gemido do escravo espancado, no pranto da mãe enlutada, no sangue derramado de uma criança assassinada. Algumas coisas devem ser, não importa quão dolorosas e incompreensíveis aos seus ‘eus’ humanos, para que coisas maiores, coisas infinitamente grandes e felizes, possam ser. Mas, Eu não orquestro estas coisas de um longínquo céu, sagrado e removido de sua dor existencial. Eu estou aqui com vocês, sofrendo com vocês, pedindo pela redenção junto com vocês.”
Fonte: Baseado nos ensinamentos do Lubavitcher Rebbe
Que texto esplêndido! Só mesmo vindo de um sábio! Gratidão!
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