janeiro 02, 2024

A CONQUISTA DE GRANADA - Carlos Solera ASL


02 de janeiro de 1492: Os reis de Castela e Aragão conquistam Granada, último reino islâmico da Península Ibérica. Termina a reconquista de sete séculos

Último reduto muçulmano na Península Ibérica, até 1492, o reino de Granada resistiu mas floresceu, assumindo por um lado uma atitude guerreira e constantemente defensiva, e por outro incrementando o desenvolvimento das letras, das artes, das ciências e do urbanismo.

A cidade espanhola de Granada, pertencente à Região Autónoma da Andaluzia, formou-se em torno de uma fortaleza construída pelos Árabes. No centro da cidade encontra-se a Catedral de Santa Maria da Encarnação (1523-1703), onde estão sepultados os Reis Católicos.

Explorada por Fenícios, Cartagineses e Gregos, dominada por Romanos e Visigodos, assolada por Vândalos e Alanos, a região de Granada, como quase toda a Península Ibérica, foi ocupada em 711 pelos muçulmanos comandados por Tariq, acontecimento este de real importância para a sua definição histórica e territorial.Dominada por Córdova, emirado e depois califado, Garnatha Alyejud (designação árabe da cidade perto da atual Granada, a Iliberis dos Romanos ou a Elvira dos Visigodos) conheceu um grande desenvolvimento no século VIII, sendo uma das mais importantes cidades do Al Andalus. 

Com a desagregação do califado de Córdova em 1031 em vários reinos taifa (designação jurídica árabe), devido à fitna (guerra civil), num deles se transformou Granada, governada entre 1010 e 1090 pela dinastia berbere dos Ziríadas (povo do Norte de África, que obriga os habitantes de Garnatha a fugir para Elvira), suprimida no último ano pela dos Almorávidas, substituídos em 1156 pelos Almóadas. Em 1231, chegaram os nazerís, de Ibn Nasr, cujo título real era Muhammad I, que se mantiveram em Granada até ao século XV. A partir desta dinastia, o reino passou a designar-se por Granada.

Em 1247, aquele rei árabe apoiou os castelhanos na tomada de Sevilha, o que gerou descontentamentos generalizados no reino, principalmente depois de os cristãos transformarem a mesquita em catedral. Os ataques de Castela, apesar da ajuda granadina em Sevilha, sucederam-se contra o reino nazerí, que apoiava revoltas mouriscas em Castela. 

Entre múltiplas tréguas, alianças e cedências de praças de parte a parte, Granada, para sobreviver como reduto muçulmano peninsular, teve que procurar até ao século XV um equilíbrio de forças com Castela e mesmo com os muçulmanos do Norte de África, ambos com políticas expansionistas sobre este território. 

Para além desta diplomacia, ora política ora guerreira, o reino de Granada teve que enfrentar revoltas internas ocasionais, e serviu de acolhimento aos muçulmanos que fugiam de todas as regiões peninsulares face ao avanço da Reconquista, principalmente da Andaluzia ocidental e do Levante (Valência, Múrcia), onde se sucediam pressões militares de Aragão, com quem se firmaram pactos também.

Neste clima de instabilidade quase permanente e de esforço de guerra, a riqueza e a grandeza da civilização nazerí de Granada não perderam brilho, esmaltando o reino, nomeadamente a capital, de belas jóias arquitectónicas ainda existentes, com o apoio e interesse constantes da corte. É o caso do conjunto monumental da Alhambra (do árabe, Al Hamra, a vermelha), começado a edificar no século XIII, bem como do Generalife, do século XIV, casa de campo e descanso dos reis de Granada. 

Deste século são também os poetas e eruditos Ibn Alcatib e Ibn Zamrak, cujos versos estão gravados nas paredes dos palácios da Alhambra. Por aquela altura brilharam ainda outras figuras da filosofia, das artes e da medicina, entre outras ciências, e até uma célebre universidade medieval - La Madraza. O desenvolvimento de técnicas agrícolas, com introdução de novas culturas e com os regadios, cimenta a exponencia civilizacional a que chegou este reino, o que despertou cobiças e apressou a Reconquista.

Em 1309, Castela tomou Gibraltar, mantendo-se árabe, porém, Algeciras. Estes dois pontos eram estratégicos (passagem para África) para o reino de Granada, que daí se estendia até Almería, a leste, onde se continuavam a dar frequentes ataques aragoneses, ainda que sem resultados. No primeiro quartel do século XIV, os castelhanos chegaram às portas de Granada, sendo porém rechaçados para fora do reino, entretanto reorganizado em termos de defesa. 

Em 1333, Granada reconquistou Gibraltar, apoiada por genoveses e dinastias norte africanas, conhecendo porém em 1340 a derrota na Batalha do Salado perante forças combinadas luso castelhanas, o que deitou por terra o desejo de reconquista muçulmana da Península. Ao longo do século XIV, a Alhambra continuou a construir-se; a Reconquista deteve-se por vezes; mas o século XV, com a pressão demográfica e a expansão económica de Castela, seria a centúria da derrocada do reino de Granada. 

Para além de lutas internas (conspirações, rebeliões, guerra civil em 1427) e de falta de apoios do mundo árabe, Granada, apesar de conseguir suster alguns avanços de Castela e obter algumas tréguas, não conseguiu reestruturar-se internamente e começou a ceder aos ataques cristãos. Ainda desencadeou um contra-ataque entre 1433 e 1440, recuperando praças de Castela, mas a partir daqui, a história de Granada foi de defesa contra Castela, bloqueios económicos, tréguas e devolução de cativos, até ao golpe final dos Reis Católicos, em 2 de janeiro de 1492, quando a conquistaram ao rei Boabdil.

Este, diz a lenda, terá chorado e morrido de desgosto e nostalgia por abandonar a joia da civilização árabe da Península Ibérica. No século XVI, apesar do embelezamento e da valorização cultural da cidade e da região pelos espanhóis, ainda havia, na minoria mourisca, sentimentos saudosistas do antigo reino nazerí, como nos levantamentos nas Alpujarras, último foco de resistência árabe.

Fonte: Reino de Granada. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. 

Conquista de Granada. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.


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