janeiro 17, 2024

DISCRIÇÃO - Paulo Pessolato


DISCRIÇÃO,  S.F. Circunspeção;  discernimento;  reserva;  qualidade  de  quem  sabe  guardar segredo;  modéstia.

Na  iniciação  do  candidato  na  loja  simbólica,  temos  uma  passagem,  na  qual  o Venerável  Mestre,  diz  ao  profano:

... “Há  Maçons  necessitados,  viúvas  e  órfãos  a  socorrer,  sem ostentação  nem  publicidade,  pois  a  Beneficência  Maçônica  não  se  traduz  pôr  atos  de  vaidade, próprios  dos  que  dão  com  orgulho,  humilhando  a  quem  recebe”...

Essas  palavras deveriam  ser guardadas  pôr  todos  nós  e  nunca  nos  esquecermos delas,  pois  tudo  que  é  feito  sem  interesse  e  com  discrição  é  de bom  senso  e  com  certeza  agradará  o  íntimo  de  cada  um.

Há  uma  condenação  não  velada  contra  a  falta  de  discrição;  uma  condenação veemente  contra  o  exibicionismo  deslavado.

Penetrando  mais  intimamente  na  prática  da  vida,  o  Cristo  fazia  críticas  à  piedade  judaica,  ao  examiná-la  nos  três  exercícios  mais  importantes,  que  os  Mestres  daquele  tempo recomendavam  “a  esmola,  o  jejum  e  a  oração”.

Havia  uma  intenção  de  sobretudo  convencer os  que  o  ouviam,  da  necessidade  de  uma  justiça  interior.

Assentava  ele,  este  princípio: 

... “Tende  Cuidado,  não  façais  os  vossos  atos  de  virtude  diante  dos  homens  para  que  eles  vos  vejam.

De  outra  maneira,  não  tereis  galardão  do  vosso Pai  que  está  nos  céus.”... 

Assentava  aí  a  discrição  que  deve  nortear  a  vida  voltada  à  caridade,  complementando  com  um  golpe  definitivo,  ao  atacar  o  primeiro  daqueles  três  deveres  fundamentais, mostrando  quanto  de  condenatório  tem  a  caridade  ostentatória.

... “Quando  derem  esmola,  não  saiba  a  tua  esquerda o  que  faz  a  direita,  para  que  tua  esmola  permaneça  em  segredo.”... 

Ataque  direto  e  não  dissimulado  ao  exibicionismo,  à  falta  de  discrição,  com expressões  muito  mais  evocativas  para  os  tempos  atuais,  do  que  se  podia  julgar  da  vida  daquele  tempo.

É  a pureza  de  intenção,  a  sinceridade,  o  amor  que  dá  valor  aos  atos. 

A  realidade da  vida  dedicada  tem  uma  profundidade  que  não  se  pode  julgar somente  pelas  aparências.

As obras  não  são  mais  do  que  a  sua  manifestação.

Por  isso,  somente  o  G.’.A.’.D.’.U.’.  pode ajuizar  delas;  E  este  pensamento  deve  servir  para  nos  livrar  do  espírito  crítico  e  da  complacência  própria.

... “Não  julgueis,  para  que  não  sejais  julgados.  Pois, com  o  juízo  com  que julgardes,  sereis  julgados.”... 

Esta  é  a  Lei  para  todos. Antigamente,  o  preceito  do  amor  só  obrigava  para  com  o  parente,  amigo,  vizinho  concidadão  e  compatriota.

Arcaico  e  abominável, tal  preceito se mostra agora  desvendado  e  indicador  de  que  o  próximo  são  todos  os  homens,  aclarada  sobremaneira  na  máxima:

... “Tudo  o  que  quiserdes  que  os  outros  vos  façam fazei-o  vós  a  eles”... 

Há  sempre  a  lei  da  compensação,  do  retorno,  em  toda  a ação  praticada  para com  alguém,  ou  direcionada  a  alguém. 

Cumpre  a  cada  um,  em  particular,  ser  fraterno  nas ações,  nas  manifestações  para  com  o  próximo,  observando  que  fraternidade  é  desprendida  de desejos  de  retribuição,  ou,  trocando  em  miúdos,  desinteressada.

E  a  propósito,  não  se  esquecendo  que  fraternidade,  vindo  do  latim  “Fraternitas”,  é  igual  a  irmandade,  designando  a  condição  de  irmãos  que  une  dois  ou  mais  seres,  impondo  determinadas  obrigações  de  solidariedade.

A  fraternidade  só  tem  solidez  na  existência  de  vínculos  objetivos  de  solidariedade,  fundados  na  participação  em  uma  vida  real  de  objetivos  comuns  de  harmonia,  amizade  e irmandade,  voltados  para  uma  causa  comum  e  uma  mesma  comunhão  de  ideias.


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