janeiro 19, 2024

O MAÇOM E O CONFLITO - Rui Bandeira


O conflito faz parte das nossas vidas.

Quer queiramos, quer não.

Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis.

Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: a força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a cooperação, a hierarquização, etc.

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos, tanto como qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a Tolerância. 

Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. 

Pelo contrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. 

*E melhor gerir um conflito e não procurar ganhar a todo o custo.*

Melhor gerir um conflito consiste em detectar e obter a melhor solução possível para o mesmo. 

Por vezes, "vencer" o conflito pode parecer a melhor solução no curto prazo, mas revela-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: *ouvir!*

Ouvir o outro, as suas razões, pretensões.

Ouvir o outro não é apenas deixá-lo falar.

É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz.

Para procurar determinar porque o diz e para que o diz.

E assim poder elucubrar em que medida existe realmente conflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma aparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, de uma ou das duas partes, de propósitos, intenções e objetivos. 

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da verdadeira Tolerância. 

Porque esta não é o ato de, condescendentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha.

A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida.

A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto filosófico de que ninguém está imune ao erro. 

Nem nós - por maioria de razão que julguemos ter. 

Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura conflituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescendente superioridade. 

É a consequência da nossa consciência da Igualdade fundamental entre nós e o outro.

Que implica o inevitável corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós.

A Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida.

Não é demais repeti-lo. 

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro, para determinar:

_ (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos; 

_(2) existindo, qual é ela, precisamente; 

_(3) em que medida é essa divergência, superável, total ou parcialmente; 

_(4) ocorrendo superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; 

_(5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos? 

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidar melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar, determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar predispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmente adquire a consciência de que existem várias, e por vezes insuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver, conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dos interesses inicialmente em confronto. 

"E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o que implica entender) a posição do outro."

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática do silêncio. 

Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do que realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver os problemas que ouça expostos. 

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao Outro. 

Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua.

Através da busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. 

Através da gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente, mais bem sucedido.





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