A crescente popularidade da ideia da Maçonaria “observante” encontrou Irmãos em todos os cantos da Ordem perguntando o que é exatamente uma Loja observante e como poderiam fazer para aumentar a observância Maçônica nas suas próprias Lojas. Este documento oferece oito medidas básicas que, se respeitadas, devem resultar no desenvolvimento de uma Loja observante. Cada uma destas etapas é inteiramente consistente com as Constituições de Anderson (o documento fundamental da Primeira Grande Loja, publicado em 1723 e doravante referido simplesmente como o Livro das Constituições), ou com a prática Maçônica histórica na América do Norte, ou ambas. Nada proposto nelas é estranho às nossas Grandes Lojas ou às suas respectivas histórias. O sucesso ou fracasso destas etapas depende inteiramente dos Irmãos de cada Loja.
Em primeiro lugar, no entanto, pode ser útil oferecer uma resposta à questão principal: o que se entende exatamente por “observante”?
De forma simplificada, a Maçonaria observante significa observar a intenção dos fundadores da Maçonaria especulativa. Essa intenção não era construir um mero clube social ou uma organização de serviços. Embora a Ordem – como qualquer outra organização humana – tenha sido sempre sobrecarregada por homens nas suas fileiras que subverteram os propósitos da fraternidade para um empreendimento mais mundano ou profano, esta nunca foi a intenção da instituição.
A intenção era construir uma instituição que convocasse o homem ao seu mais alto nível de ser social, em estado de dignidade e decoro, que pudesse servir de espaço para um discurso sério e atento sobre as lições e o sentido da vida, e a busca do melhor desenvolvimento de si mesmo. Esta intenção significa construir um espaço onde tal experiência possa ser criada e conduzir-nos de uma maneira que seja consistente com os nossos mais elevados ideais e mais nobres comportamentos.
Os Maçons observadores acreditam que, observando o que a história da nossa Ordem nos diz em relação a essa intenção, encontraremos a experiência Maçônica ideal. Dizemos observador, e falamos de observância, porque procuramos observar os projetos dessa intenção com o melhor do nosso conhecimento e capacidade. Ainda mais simplesmente, queremos fazer as coisas certas e não queremos contentar-nos com menos. Queremos encontrar a excelência em todos os aspectos do nosso trabalho Maçônico.
Os oito passos oferecidos aqui provaram ser bem-sucedidos em aumentar em muito a experiência da Maçonaria para os Irmãos, novos e antigos. Eles servem como um sistema de controle de qualidade para a operação de qualquer Loja e, quando seguidos, resultam num grupo de homens que, independentemente do número de membros da sua Loja ou da natureza externa do seu templo, podem encontrar um sentimento de realização e orgulho no que fizeram e em quem se tornaram. Isto também é consistente com a intenção dos nossos fundadores.
1. GUARDAR A PORTA DO OCIDENTE
Este ponto é o primeiro de todos, porque nós somos nada mais, nada menos, do que aqueles que deixamos entrar na nossa Fraternidade. Nem todo o homem deve ser Maçom, e nem todo homem que deve ser Maçom pertence a uma Loja. Os Irmãos têm o direito e a responsabilidade de determinar os padrões da sua própria Loja e de fazer perguntas incisivas aos homens que batem à sua porta. As Lojas deveriam dedicar algum tempo para primeiro conhecer os homens que batem à sua porta, e não simplesmente assinar qualquer petição apenas porque um homem tem um interesse. Os Irmãos que assinam uma petição por um homem precisam de saber por quem estão assinando e, mais importante, precisam de estar dispostos a servir como seu mentor. Este é um ponto fundamental da responsabilidade para com todos os Irmãos. Não peça a um Irmão da sua Loja para fazer o trabalho de mentor por si. Se não está disposto a dar o seu tempo ao peticionário, como pode pedir à sua Loja que o dê?
2. SER PROFICIENTE EM DIREITO E RITUAL MAÇÔNICO
Proficiência é uma função essencial de qualquer Loja observante, porque devemos saber o que estamos a fazer e porquê, se queremos manter os mais altos padrões das nossas respectivas Grandes Lojas. Não adianta reivindicar o manto de excelência se a sua Loja não for conhecedora do ritual e da lei maçônica da sua Obediência. A Maçonaria significa ordem, não anarquia. Se deseja manter essa ordem, bem como a harmonia entre a sua Loja e a Grande Loja, deve aprender e seguir as regras que cada Irmão se obrigou a respeitar. Uma Loja observante não é uma Loja renegada. Pretende ser exemplar.
3. UM COMPROMISSO DE FAZER PROGREDIR OS IRMÃOS ATRAVÉS DOS GRAUS POR ESFORÇO MÚTUO E GENUÍNO
O progresso nos graus requer um compromisso mútuo de tempo e esforço do candidato e do mentor. Alguma forma de proficiência, seja pelo catecismo, ou pelos documentos entregues perante a Loja, deve ser exigida antes de permitir que qualquer Irmão avance. Caso contrário, o Irmão fica a saber que o seu progresso não tem valor mensurável, a não ser pela sua mera presença. Certamente, nem todo homem pode fazer o trabalho de memória, e nem todo homem é um escritor. Mas se não está disposto a sequer tentar fazer qualquer um deles, então talvez simplesmente não deva ser um Maçom para começar. O mesmo vale para o mentor, que, embora possa ser experiente, não deve escolher o caminho mais fácil quando se trata do conhecimento que se comprometeu a transmitir ao seu aprendiz.
4. A SELEÇÃO E PROGRESSÃO DOS OFICIAIS DEVEM SER FEITA APENAS COM BASE NO MÉRITO
Este passo, embora reconhecidamente difícil para alguns, está firmemente alicerçado no Livro das Constituições, sem dúvida. A Maçonaria nunca pretendeu a adoção de uma linha progressiva. Uma linha de progressão só deve funcionar quando o próximo homem na linha, tiver a plena fé e confiança dos seus companheiros de que ele dirigirá e governará a sua Loja adequadamente, porque aprendeu cabalmente os requisitos da sua função. Claro, a natureza humana é o que é, e erros sempre podem acontecer, mas eles podem ser mitigados se tal padrão for estabelecido, porque ninguém avança até e a menos que esteja pronto para o fazer. A única forma de justificar uma linha de progressão é se cada oficial carrega o peso até ao limite do seu cargo, enquanto ao mesmo tempo se prepara diligentemente para avançar para o próximo. As Lojas ignoram esta etapa por sua própria conta e risco.
5. VESTINDO O SEU MELHOR PARA A SUA LOJA
O modo como cada um se apresenta diante da Loja é um sinal de quanto valoriza tanto os Irmãos como a Ordem. Na maioria das Lojas do mundo, fato escuro e gravata é o mínimo necessário para se conseguir admissão. É o que os Irmãos esperam uns dos outros numa Loja observante, e certamente acrescenta à noção de que uma reunião Maçônica não é apenas mais uma noite fora, mas um evento especial, digno de ser considerado tão especial quanto cada um de nós deveria acreditar que a Maçonaria deve ser. Para além disto, a dignidade expressa externamente através do vestuário, serve como uma superestrutura, ajudando a realçar aquela dignidade que só pode ser criada a partir de dentro.
6. UMA LOJA DEVE OFERECER CERIMÔNIAS DE QUALIDADE E ESTAR DISPOSTA A INVESTIR NELAS
As quotas de uma Loja devem ser fixadas num nível que permita à Loja não apenas se sustentar e apoiar, mas poder disponibilizar uma qualidade de experiência que diga aos Irmãos que as suas Sessões são oportunidades para se elevar acima do comum. Boas refeições, servidas em mesas festivas adequadas, são essenciais. A mesa festiva transmite a sensação de convivência que ajuda a construir uma verdadeira fraternidade, e é historicamente estabelecida na Fraternidade não apenas como um simples jantar, mas, honestamente, como a segunda metade de uma Sessão da Loja. Uma Loja observante não pode renunciar a isto.
Uma Loja deve decidir que a Maçonaria é uma coisa de valor e determinar adequadamente esse valor de tal forma que permita à Loja trabalhar de uma maneira que reflita claramente esse valor. Os nossos jantares e eventos sociais devem refletir o valor que colocamos em nós mesmos. O excesso não é o objetivo; a qualidade é. O problema é que muitos de nós esquecemos o que é qualidade, a ponto de considerarmos pretensiosos quaisquer gastos conosco. Mas se os maçons devem ser homens de distinção interior, então estamos totalmente justificados em nos tratarmos com o melhor que podemos pagar na vida. Não devemos esperar menos da Ordem ou de nós mesmos.
7. O RETORNO DE UM SENTIMENTO DE ADMIRAÇÃO ÀS NOSSAS CERIMÔNIAS
Devemos trazer de volta aquelas coisas que em tempos estavam nas nossas lojas, e que ajudavam a criar uma atmosfera contemplativa única tanto para o candidato quanto para a Loja. Entre elas estão o uso da música, a manipulação da luz e das trevas, a Câmara de Reflexão e o momento de encerramento que forma o que é conhecido como Cadeia de União. Considere que a sala de preparação do candidato não é e nunca foi concebida para ser um mero vestiário. Considere que a noção de um “grupo sagrado de Irmãos” pode aludir a uma manifestação física dessa sacralidade. Considere que a música sempre fez parte das nossas cerimônias e que o Livro das Constituições termina com uma coleção de cantos. Todas estas coisas fazem parte de quem somos; não são inovações de jurisdições posteriores ou empréstimos da Maçonaria Europeia.
Até mesmo o uso de incenso é ritualmente mencionado nas primeiras Sessões da Ordem. A ideia é estimular e gerir a experiência sensorial dos Irmãos, no esforço de criar o sentido de singularidade que se espera de uma experiência Maçônica. Aqui, novamente, nada há de estranho em usar os sentidos numa reunião Maçônica. Os nossos rituais ensinam a importância de cada um desses sentidos, de forma extensiva; não os usar nas nossas Sessões é da maior negligência e erro. Recusar a aura de mistério aos nossos rituais é recusar-se a reconhecer a nossa própria herança e história, e negar o lugar apropriado e a aplicação do pilar da Beleza à Loja.
8. EDUCAÇÃO MAÇÔNICA EM TODAS AS SESSÕES
A própria origem da Maçonaria está na educação. Quer seja a educação prática em lapidação encontrada na parte operativa da Maçonaria, ou a busca do conhecimento interior e da ciência que nos é apresentada pela parte especulativa; a fundação da Ordem é inexoravelmente baseada no ensino e na aprendizagem. Sem ela, simplesmente não há Maçonaria a ocorrer numa Loja. Portanto, cada reunião da Loja deve oferecer alguma quantidade de educação Maçônica, seja através dos graus, ou através de apresentações sobre as várias lições da Arte. Mesmo uma palestra de dez minutos focada no significado simbólico de uma única ferramenta de trabalho é muito melhor do que uma reunião em que nada além de doações, regulamentos e quotas estão na agenda. Uma Loja atenta valoriza a função educacional da Maçonaria no seu florescimento; o Maçom observante responsabiliza a fraternidade pela sua promessa de conceder luz, e pretende recebê-la da Ordem em todos os sentidos: espiritual, literal e intelectual. Numerosos documentos e manuais das nossas Grandes Lojas, abrangendo pelo menos os últimos dois séculos, tornam clara a injunção para que todos os maçons busquem conhecimento. Esta mesma injunção estende-se por progressão natural a cada Loja e, como resultado, uma Loja sem educação Maçônica não pode ser uma Loja observante e, sem dúvida, não é uma Loja, na verdadeira acepção da palavra. A busca por mais luz está no cerne da Maçonaria. A observância é impossível sem ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário