Eu me permito postar no blog algumas lembranças que povoam minha memoria em noites insones e aqui recordo minhas experiências aéreas - a primeira parte delas.
Voei pela primeira vez em 1966, quando um colega de classe no curso ginasial, Cory Ronald Blume de Araújo, que era instrutor do Aero Clube de Sorocaba, muito ativo na época, me levou para um voo panorâmico sobre a cidade. Voei mais algumas vezes com ele em domingos. Fiquei muitos e muitos anos sem voar, até a minha mudança para Campo Grande, MS, em 1976, quando fui trabalhar como corretor de imóveis com Alípio Rodrigues, então dono da Imobiliária Radar e nas horas vagas piloto de acrobacias. Alípio chegou a comprar um avião para realizar o que na época eu considerava loucuras. Ele fazia as mesmas manobras realizadas pela Esquadrilha da Fumaça, mas jamais se acidentou com o avião. Veio a falecer em um banal acidente de automóvel.
Também cheguei a dar um voo com o piloto que tinha o brevê de aviador número 1 do país, Comte. Rocha, e que era então esposo de minha secretária Rosangela. Mas tive contato mais frequente com aviões no Mato Grosso do Sul quando encontrei o querido amigo Francisco Antônio van Spitzenbergen, que todos conheciam por Chico Piloto e que voava para o empresário José Adelino de Carvalho, o Zelão de Coxim, que era nosso patrão em comum. Zelão tinha supermercados, máquinas de arroz, concessionária de automóveis, mas seu negócio principal era o garimpo de diamantes em Poxoréu, Torixoréu e outras localidades. Era um dos maiores comerciantes da pedra preciosa no país e voava continuamente para seus garimpos. Eu era sócio minoritário da Brilhante Joias em Campo Grande, de sua propriedade, e voei muitas vezes de Campo Grande para Coxim em seu avião. Meu amado amigo Chico faleceu muitos anos depois em um acidente aéreo pilotando seu próprio avião em MT.
Através do Alípio conheci o Cel. Aral Cardoso, cuja mãe recebeu um honroso título da Aeronáutica, porque seus seis filhos se tornaram pilotos, alguns militares e outros civis. Tenho um livro que conta a história da família, e através do Aral fui apresentado ao Angelo Coló, de família sorocabana e que era o agente da Vasp na cidade. Nos tornamos bons amigos. Coló era conhecido do Comte. Rolim, da TAM, e este lhe ofereceu a representação da sua empresa aérea. O contrato com a Vasp não permitia, ele me apresentou ao Comte. Rolim e acabei me tornando o agente da TAM em Campo Grande, Três Lagoas e Ilha Solteira, e passei a voar com frequência nos apertados aviões Bandeirantes e depois nos Fokker.
Os voos para São Paulo através de Araçatuba e Bauru ou através de Londrina eram diários, exceto aos domingos. O Bandeirante chegava a Campo Grande no sábado e decolava na segunda. Tive a ideia de fazer uma conexão para Porto Murtinho, um dos paraísos de pesca no Brasil, em parceria com um belíssimo hotel na beira do Rio Paraguai que pertencia à família Baís. O voo levava o grupo de pescadores no sábado para uma semana de pescaria e trazia de volta o grupo da semana anterior. Na primeira temporada de pesca a linha foi um sucesso, mas fora da temporada não havia demanda e Rolim acabou por desativá-la. Foi o fim de minha efêmera experiência como empreendedor aéreo. Ainda permaneci como agente da TAM por alguns anos, mas eu tinha outros negócios em vista, montei uma loja e a agência tomava tempo demais. Pesei os prós e contras e devolvi a representação, mas permaneci amigo do Comte. Rolim até a sua morte em Pedro Juan Caballero.
A TAM tinha sua agência principal na Av. S. Luiz com a Major Quedinho, na galeria do prédio onde funcionava o Hotel Jaraguá e o jornal O Estado de S. Paulo, e Rolim que era louco pela Pantanal me pediu para organizar uma exposição de fotografias na agência com um coquetel, quando da inauguração da linha de Porto Murtinho. Ele convidaria a imprensa para documentar. Organizei um belo evento e recebi da TAM um voucher para hospedagem no Hotel Hilton, (foto) que era próximo e dava para ir a pé. Depois da festa, ao retornar ao hotel descobri que o frigobar estava trancado. Liguei para a portaria e alguém me disse, que por estar hospedado como cortesia, não tinha direito ao frigobar.
Comentei o fato com o Comandante no dia seguinte e ele ligou para o gerente do hotel dizendo que quando dava uma cortesia de voo para os funcionários do hotel ele não mandava cortar o lanche servido nos aviões e me orientou a descrever o fato numa carta que iria encaminhar. Fiz isso e a partir daí passei a ser assediado pela gerência do Hilton me convidando insistentemente para voltar ao hotel. Retornei a SP dois meses depois e fui atender o convite. Já havia uma ficha minha com um enorme carimbo VIP. Fui encaminhado para uma suíte maravilhosa cuja cama tinha uns 3x3 mts. Havia uma grande cesta de frutas no quarto, vinho, champanhe e uma necessaire com todo tipo de perfumarias e cosméticos personalizados, um bilhete dizendo que tudo era cortesia e ainda um convite para jantar com o gerente. Durante o jantar o gerente me contou que a carta havia pousado na matriz nos Estados Unidos e por se tratar de documento enviado pelo dono de uma das maiores empresas aéreas do país criou uma revolução. A ordem era que eu, a vítima, deveria me retratar por escrito ou as consequências seriam sérias. Por isso aquela mordomia toda. Passei uns três dias com vida de milionário, escrevi a tal carta dizendo que estava satisfeito e nunca mais voltei ao Hilton, mas devo destacar o cuidado com que eles tratam o hóspede desde a matriz e o enorme prestígio internacional do Comte. Rolim. Vi ainda outras coisas com o Comte., um notório paquerador, mas o respeito à sua memória e a sua família jamais permitirão que eu as conte.
SEGUE
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