Despido de minha matéria,
Flutuo, em viagem séria,
Rumo à espiritual instância;
Procuro novos ares,
Irmãos ou familiares,
Que me tirem da ganância.
Não sei se vivo ou morto,
Um decaído anjo torto,
Sem brilho ou rutilância;
Tamanha falta de esmero,
Põe-me logo em desespero,
Sou temor e extrema ânsia.
Procuro algo agradável,
Ante o estado deplorável
Que me invade, com relutância;
Assusto-me com o que vejo
Estou em hostil lugarejo,
E o meu “eu” em litigância.
Quero algo que me conforte,
Que me traga outra sorte
E me mude a circunstância;
Eis que um ser venerável,
Aproxima-se, agradável,
Convidando-me à observância:
"-Não se assuste, ó meu irmão,
É ilusória a escuridão
E toda esta implicância;
Pra se valorizar o amor,
É mister sentir a dor,
E praticar a tolerância".
Senti meu peito aliviado,
Um ser sem fé, alienado,
De espiritual mendicância;
A par de todo esse engano,
Vi que meu eu profano
Padece de ignorância.
Já sem sofrer com o medonho,
Pude acordar de um sonho
Que me remeteu à reflexão;
Percebi que continuo na luta,
Esse ser de alma bem bruta,
Carente de brilho e lapidação.
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