ALÉM DA MATÉRIA - Roberto Ribeiro Reis


Despido de minha matéria,

Flutuo, em viagem séria,

Rumo à espiritual instância;

Procuro novos ares,

Irmãos ou familiares,

Que me tirem da ganância.


Não sei se vivo ou morto,

Um decaído anjo torto,

Sem brilho ou rutilância;

Tamanha falta de esmero, 

Põe-me logo em desespero, 

Sou temor e extrema ânsia.


Procuro algo agradável, 

Ante o estado deplorável

Que me invade, com relutância;

Assusto-me com o que vejo

Estou em hostil lugarejo,

E o meu “eu” em litigância.


Quero algo que me conforte,

Que me traga outra sorte

E me mude a circunstância;

Eis que um ser venerável,

Aproxima-se, agradável,

Convidando-me à observância:


"-Não se assuste, ó meu irmão,

É ilusória a escuridão

E toda esta implicância;

Pra se valorizar o amor, 

É mister sentir a dor, 

E praticar a tolerância".


Senti meu peito aliviado,

Um ser sem fé, alienado,

De espiritual mendicância;

A par de todo esse engano, 

Vi que meu eu profano

Padece de ignorância.


Já sem sofrer com o medonho,

Pude acordar de um sonho

Que me remeteu à reflexão;

Percebi que continuo na luta,

Esse ser de alma bem bruta,

Carente de brilho e lapidação.



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