fevereiro 09, 2024

GOTEIRA – SIGNIFICADO E ORIGEM


GOTEIRA é um jargão maçônico utilizado como uma espécie de sinônimo de profano, de um não iniciado na Maçonaria, que se faz presente entre um grupo de Maçons. Além deste termo existe a expressão “CHOVE” ou “ESTÁ CHOVENDO”, que serve como um alerta para que se evite, em sua presença, assuntos que só dizem respeito aos Maçons. Caiu em desuso a expressão “NEVA” ou “ESTÁ NEVANDO”, que se utilizava quando se tratava de uma mulher. E como essas palavras surgiram na Maçonaria?

Essa tradição vem desde os tempos da Maçonaria Operativa, em que se utilizava a palavra “COWAN” (que segundo alguns autores é um termo escocês arcaico, sem significado na língua inglesa), primitivamente para designar o pedreiro grosseiro, sem habilidades, sem conhecimento dos segredos da arte de construir e dos sinais, toques e palavras, e que por isso trabalhavam a qualquer preço. Esses “COWANS” tentavam se infiltrar nas Lojas Operativas para obterem os segredos e, descobertos, eram surrados e colocados debaixo de uma “GOTEIRA” para serem encharcados pela “CHUVA” ou então lhes davam um banho com roupa e tudo. A surra se justificava em razão da preocupação dos Maçons Operativos de que seus segredos não fossem revelados a quem não participava da corporação, garantindo-lhes uma reserva de mercado e a justa paga por seus serviços profissionais, que proporcionavam o sustento de suas famílias. 

Tal tradição permaneceu na Maçonaria Especulativa e o termo ‘COWAN”  passou a ser algo como um sinônimo de curioso, bisbilhoteiro, referindo-se aos não iniciados que por todos os meios, tentavam ouvir o que se passava nas sessões maçônicas, havendo os mais ousados que tentavam até introduzir-se nas Lojas. Esses curiosos quando descobertos eram colocados debaixo de uma ‘GOTEIRA”, de uma calha de ‘CHUVA”, para serem inteiramente molhados. As surras foram abolidas, pois não mais tinham razão de ser.

No século XVIII esses “COWANS”, bisbilhoteiros, curiosos, eram muito comuns e resultaram na criação do Cobridor Externo, exatamente para coibi-los. Eram 7 os cargos das primeiras Lojas Especulativas: um Mestre, dois Vigilantes, dois Diáconos, dois Expertos e um Cobridor Externo.

Muito pouca literatura maçônica da época relata essas situações e os livros antimaçônicos acabaram se tornando de fundamental importância histórica, pois neles tais práticas e muitas outras ao serem expostas, foram preservadas para a posteridade.

Em 1730 foi publicado o livro antimaçônico “Dissected Masonry” (Maçonaria Dissecada) de Samuel Prichard, onde consta o seguinte diálogo feito em Loja: 

 “P: Se um ‘COWAN’ ou bisbilhoteiro for apanhado, como deve ser castigado?

“R: Deve ser colocado debaixo do beiral da casa em dias de ‘CHUVA’ até que as ‘GOTEIRAS’ a escorrer pelos seus ombros, saiam pelos seus sapatos”.

Em um outro livro antimaçônico publicado em 1746, “Les Francs-Maçons Écrasés” (Os Franco-Maçons Esmagados), do Padre Abeé Larudam, é contado como ele e o Padre Perau (também autor de um livro antimaçônico), conseguiram se introduzir numa Loja Maçônica por conhecerem os sinais, toques e palavras, e seu colega, tendo sido descoberto (mas não ele, Larudam), recebeu a pena reservada aos intrusos: “O castigo consiste em colocá-los por baixo de um cano, de onde, por meio de uma bomba posta em funcionamento, lhes é dado um banho até que estejam molhados da cabeça aos pés. Tive a oportunidade de ver alguns exemplos em Berlim, Frankfurt e Paris, no Hotel Soissons (primitiva sede da Maçonaria francesa). O Padre Perau quis, apesar de profano, frequentar esta Loja de Maçons, como já tinha feito em vários lugares em Paris, mas um dos irmãos presentes certificara-se de que ele não passava de um falso Maçom, descobrindo-o por uma palavra destinada pela Loja em casos desta natureza; isto foi feito dizendo “CHOVE” e logo que tal palavra foi pronunciada o Venerável Mestre disse aos Vigilantes para verificarem quem poderia ser o culpado. Logo Perau foi descoberto, porque embora conhecesse os sinais, toques e palavras, não pôde informar onde tinha sido iniciado; foi, portanto, molhado sob o cano da bomba e regado completamente. Todos que lá estavam divertiram-se e riram muito às suas custas, tendo sido uma das cenas mais agradáveis para os Maçons ...”

Finalizando este post que se propunha unicamente mostrar a origem do termo GOTEIRA, acessoriamente demonstra que os meios usuais de reconhecimento podem não funcionar para um COWAN, um curioso, um GOTEIRA, que tenha lido alguma obra maçônica comprada na livraria da esquina ou mesmo feito uma simples consulta pela Internet, onde alguns desses meios de reconhecimento foram mostrados, além da possibilidade de um Maçom, inadvertidamente, tê-los expostos. Particularmente, nunca trolhei ninguém pelos meios usuais, pois até mesmo o trolhamento previsto nos Rituais muitos Maçons esqueceram algumas, se não todas, as respostas. Prefiro introduzir na conversa perguntas sobre o nome e nº da Loja, a Potência a que pertence, onde e em que dias a Loja se reúne, qual a idade maçônica, etc, que um profano, um COWAN, um GOTEIRA, pode ser facilmente identificado, sem expor nenhum meio de reconhecimento maçônico.

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