O HORROR DA SOLIDÃO E A TOTAL ESCURIDÃO. ANTECESSORAS DA LUZ - Aldo Vecchini



Para a introdução do que pretendemos analisar, e, simultaneamente, desatar as amarras que queiram se instalar, ressaltamos a importância de cada um de nós, como seres vivos, Iniciados e Aceitos; a necessidade da luz e/ou conhecimento; os momentos de penumbra e da eficaz meditação; e da publicação dos nossos trabalhos, imbuídos neles, os nossos sentimentos. 

Quem haveria esquecido da manifestação tão enfática e penetrante emitida pelo V.M. após aquela experiência no Trono, durante a cerimônia de Iniciação?

Frase enigmática e carregada de bons eflúvios. Parece anunciadora de que o melhor está por vir. Não carrega em si, nenhuma tristeza, apenas prepara o viajante para uma profunda reflexão e a percepção do novo e vivo que se apresenta. Convém manter acesa essa chama/memória. E também fazer da solidão um impulso/motivo até que seja decisiva/definitiva.

Um parêntese: esse agrupamento de letrinhas, formando palavras, períodos, ideias, tem o fito de desabafar? Também! Mas no mesmo bojo está a proposta para viver melhor, com comedimento, quebrando e assentando uma pedra por vez.

Viva a sabedoria possibilitada por Nossa Sublime Instituição. Pratique o que consta em nosso catecismo. Seja Mestre nos sonhos possíveis, nas exatas realizações e nos exemplos perenes!

E é justamente a filosofia e seus adeptos que abrirão os horizontes, ampliando-os, com seus pertinentes questionamentos que instigam a compreensão de quem somos, como devemos viver, quais elementos escolhidos fortalecerão o nosso ser, no percurso terrestre.

Em sua obra: Aprender a viver, editora Objetiva, Luc Ferry; nos ensina que: "toda a filosofia resume em pensamentos uma experiência fundamental de humanidade, como toda grande obra artística ou literária traduz os possíveis das atitudes humanas nas formas mais sensíveis. O respeito pelo outro não exclui a escolha pessoal. Ao contrário, a meu ver, ele é sua condição primeira".

Sem o respeito, o conhecimento, a resignação e o comedimento, a vida se esvai...

Mas aquele contexto favorecia e ativava as funções cerebrais, de modo que percebíamos mentalmente a importância do Mestre Condutor, que enxergava por nós. Porém a busca pelo pertencimento, a vontade de ser reconhecido e a necessidade de vencer os desafios, tudo isso, habitava e alimentava a nossa alma.

Recortando do Livro dos Mortos do Antigo Egito, tradução comentada Dr. Ramses Seleem, editora Madras, o trecho que suscita: "O livro é composto de textos para serem lidos pelos vivos a fim de ajudar os vivos e os mortos em suas jornadas pelos mundos inferiores. Destinam-se a assegurar que poderiam encontrar o caminho para os reinos espirituais e ainda atingir o Jardim dos Juncos, onde a verdadeira paz envolve a alma!"

            Pois bem! Tanto a analogia feita quanto o apoio das obras supracitadas, servem para substanciar nosso enredo, uma sublime inspiração com o propósito de ajustarmos o traçado na prancheta dos Mestres, dos planos bi e tridimensionais, de modo a garantir a qualidade de vida dos Maçons, que poderão no canteiro de obras e nos quatro pontos cardeais, materializar o que os ensaístas prepararam, anteriormente.

Lembremos constantemente do poder que a luz detém. Recordemos, atentamente, o conforto que ela proporciona. Mas a percepção ocular, naquele momento, consistiu em preparar o espírito para a modificação que o conhecimento provocaria no iniciado, inteiramente!

Já não poderá haver crepúsculo mental após a incidência da luz e o despertar para consciência maçônica. Apagão geral, só com o ocaso terrestre. O MAÇOM é luz no mundo. Tal como o cristão é o sal na terra, segundo a Bíblia, e por analogia.  

E fiel aos seus compromissos, dedicado à eterna construção, leal no aperfeiçoamento dos costumes, faz da recomendação anunciada no Banquete Ritualístico: um desfrutar com todo o comedimento. Tanto das alegrias e adversidades, quanto nas incertezas e dificuldades. Afinal a arte de viver passa, indubitavelmente, pela arte de morrer.

Vivamos sabedores de que um dia, morreremos. É excessivo viver como seres imortais. Maçonicamente, isso é uma aberração. A mesma que os maus Companheiros fizeram, apressadamente. Subtraíram a vida do Mestre Construtor para semear o sofrimento e a dor da perda. Consternação total! Restou o sepultamento e a tentativa de ocultação do horroroso crime.

Mas debaixo da luz da inteligência nada ficará desconhecido. As buscas continuarão até resolver o enigma. E nova ordem dará sequência ao fluxo laboral que implicará na percepção de nova senha para a continuidade dos trabalhos dos reconhecidos e aceitos.

A vida segue. E a morte não é um fim. Apenas outra etapa para os que acreditam nisso. Os maçons anunciam o Oriente Eterno. Um não-lugar referencial para os que desencarnaram e desabitaram o lugar dos vivos. Passaram por aqui. Já não estão entre nós.

Com nossos familiares, admitamos, também é assim. Deixam de estar conosco passando a habitar nossas memórias - saudades dos meus pais -. Carregamos não só os seus genes, mas muito do que transmitiram, pelo exemplo.

Voltemos nossas atenções para a estrutura dos nossos Rituais. Todo o contexto, já o compreendemos, foi elaborado com profunda sabedoria e sensibilidade, parecendo facilitar aos obreiros os ajustes nas suas escolhas e atitudes.

E para ilustrar, segue aquilo que já é cediço: "Cuide de seus pensamentos; eles apontarão as suas escolhas. Cuide de bem conhecer as suas escolhas; elas definirão as suas ações. Cuide de controlar as suas ações; elas tornar-se-ão seu destino"...

E o destino dos maçons, salvo melhor juízo, é fazer progressos. É construir e restaurar o edifício de modo a facilitar a perpetuação da Ordem, que é disseminada nos Templos e precisa ser praticada em sua plenitude. Dentro e fora deles.

Enquanto for aprendendo o obreiro vai esculpindo a si mesmo, quiçá retirando o excesso de escórias que esconde a PIETÁ individual, revelando sua beleza e formosura, ou seja, o seu interior espelhado no exterior.

Permitamos que aquela luz ofertada, após o obscurantismo dos olhos, seja a mesma que dissipamos a partir do que fizemos de nós mesmos. Assim, sejamos potencialmente, iluminados e iluminadores.

Saibamos cooperar com todos e receber/agradecer a mesma cooperação. Sejamos de fato e de direito, construtores sociais, servindo-nos sempre das melhores ferramentas de edificação: Amor, Sabedoria, Inteligência e (boa) Vontade.

Para quando abrir-se a vaga no Oriente Eterno, perpetuarmos as marcas de Iniciados, polidos e esquadrejados, nas obras que deixaremos e nas decisões que tomamos. Que Salomão seja a nossa melhor inspiração!

Senão, de que valeria os anos unidos e reunidos, estudando e marchando, desbastando e aferindo a precisão do corte, sem perder o veio e danificar toda a escultura ou o bloco de pedra a nós confiado para o trabalho terrestre?

Sejamos antigos no projeto de edificação, para sermos eternos e aceitos pelas cinzeladas aprendidas e no polimento que conquistamos para, na derradeira bateria incessante, silenciar o tempo dos trabalhos e descansarmos, definitivamente. É possível!!!

Comentários