"Vivir todos viven, pero la cuestión és convivir". - Dorila Rodriguez de Freire
“O ser humano é complicado”, esta é uma frase que ouvimos frequentemente. Além de complicado é complexo.
Desde que o mundo é mundo, ele vive em conflito. Passaram-se milênios desde que o homem se pôs de pé e passou a olhar tudo e todos de forma arrogante. Essa arrogância, com o tempo, longe de ser combatida e eliminada, criou raízes profundas no ego e aí permanece “per omnia seculus seculorum”, e pelo jeito, apesar dos esforços de todos os líderes religiosos que por aqui passaram, ainda continua.
Por que o mundo está assim tão caótico? A meu ver, e pode ser uma visão simplista, mas que entendo consciente, é porque as pessoas não cumprem seus compromissos, suas palavras, vivem se iludindo e distraindo-se com coisas menores, mas que para elas representam algo sério; não realizam seus trabalhos com dedicação e perfeição, vivem se enganando e enganando os outros, cobrando comportamentos que não cumprem e exigindo que os outros cumpram. Não fazem o óbvio e vivem iludidos, buscando o extraordinário. Também não basta fazer bem-feito, é preciso agir com ética e caráter.
O caos decorre de um dado elementar: o fato de os cristãos não seguirem os ensinamentos de Cristo, os judeus não seguirem o exemplo de Moisés, os muçulmanos não seguirem os ensinamentos de Maomé, os budistas não seguirem os ensinamentos de Buda. Essas religiões constituem a quase totalidade de fiéis da Terra.
Segundo o dicionário, viver é existir, ter vida, estar com vida, enquanto conviver é ter convivência, ter intimidade, viver com outrem. Portanto, a convivência é a ação ou o efeito de conviver; é familiaridade, uma reunião de pessoas que convivem em harmonia.
Não basta a ciência. É preciso consciência.
É preciso percorrer a jornada, sabendo que haverá obstáculos e que, de vez em quando, você vai cair. O segredo é que, ao se deparar com o obstáculo, você terá alternativas para se desviar dele, e se vier a cair, terá motivação e força de vontade para se levantar, recomeçar e seguir em frente.
É preciso saber também que seremos objeto de crítica e de censura de toda ordem. Algumas procedentes e até necessárias, e outras totalmente injustas e fruto do desconhecimento da essência de cada um.
Na teoria, conviver parece fácil; o difícil é na prática. É aquela velha história: “na prática a teoria é outra”.
André Luiz, considerado pelo kardecismo um espírito esclarecido que zela pelo Brasil, nos proporciona um texto em que demonstra que tudo provém do amor e tudo se resume ao amor:
Vida – é o Amor existencial / Razão – é o Amor que pondera / Estudo – é o Amor que analisa / Ciência – é o Amor que investiga / Filosofia – é o Amor que pensa / Religião – é o Amor que busca Deus / Verdade – é o Amor que se eterniza / Ideal – é o Amor que se eleva / Fé – é o Amor que transcende / Esperança – é o Amor que sonha / Caridade – é o Amor que auxilia/...
E finaliza:
Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente / Tudo é Amor / Não deixes de amar nobremente / Respeita, no entanto, a pergunta que te faz, a cada instante, a Lei Divina: “COMO?”.
Essa é a questão: Como? Acredito que com atitudes conscientes.
Krishnamurti, filósofo e líder espiritual indiano, nos ensina em seu texto “A arte de morrer”:
“A arte de viver e a arte de morrer são um movimento único. Na união entre a vida e a morte não há começo nem fim, portanto, não há vestígio ou presença do tempo. Nessa união, vive-se constantemente com a morte e descobre-se o sentido da vida e da morte enquanto se vive. Se compreendermos esta unidade entre a vida e a morte, ambas podem coexistir.”
"Vivir todos viven, pero la cuestión és convivir".
Essa frase eu ouvi muitas vezes da boca da minha mãe, Dorila, uma mulher que nasceu numa família rica que perdeu tudo, teve seis filhos, adotou mais um, vivia de bom humor e de bem com a vida, era adorada pelos netos, e sempre trazia muita luz por onde passasse. Na simplicidade da sua visão de mundo, resumiu numa frase essa lição que até hoje carrego comigo.
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