março 04, 2024

A ARCA DA ALIANÇA NA MAÇONARIA - Pedro Juk


Em 17/12/2019 o Respeitável Irmão Rubem Carvalho Maia, Loja União Planaltinense, 3.854, REAA, GOB-DF, Oriente de Planaltina, Distrito Federal, solicita esclarecimentos. 

Por favor o senhor poderia me auxiliar no entendimento do que é a Arca da Aliança? 

Estou desenvolvendo um trabalho nos graus superiores, mas ainda sem um entendimento para a pouca pesquisa que fiz. 

Que livros o Senhor indicaria? 

CONSIDERAÇÕES: 

Vale a pena antes fazer um pequeno comentário que envolve a influência hebraica na Maçonaria. 

Nesse sentido, os espaços destinados aos trabalhos maçônicos, também conhecidos como Templos Maçônicos, são relativamente recentes, já que o primeiro Templo propriamente dito foi inaugurado em maio de 1776 na cidade de Londres. 

É sabido pelos maçons que as Lojas no passado se reuniam em tabernas, cervejarias e nos adros das igrejas. 

Compreenda-se, entretanto, que as tabernas europeias do século XVII e XVIII eram elementos que serviam também às funções sociais e reuniam nos seus seios grupos associativos e principalmente de artesãos do mesmo ofício. 

Na verdade, as tabernas serviam também como um local de concentração onde os seus frequentadores tocavam ideias e até mesmo aperfeiçoavam seu conhecimento profissional, sobretudo pela convivência com os seus pares de ofício. 

Em síntese, nas tabernas e cervejarias as reuniões se davam com um caráter mais descontraído, enquanto que as reuniões formais geralmente ocorriam nos recintos contíguos às igrejas, ou nos seus adros. 

É bom que se diga que a Maçonaria de Ofício (Operativa), antecessora da Moderna Maçonaria (Especulativa, ou dos Aceitos), cresceu e floresceu à sombra da Igreja. 

Assim quando os maçons ingleses tiveram edificado o seu primeiro Templo, em 1776, sem nenhum embargo, eles foram buscar referências construtivas em dois modelos que lhes eram bem conheciam, ou seja, nas igrejas e o Parlamento britânico. 

Desse modo, das igrejas foram então copiadas a orientação, a disposição e a divisão do espaço, lembrando, entretanto, que as igrejas indisfarçadamente tiveram a sua origem no primeiro Templo de Jerusalém (o de Salomão). 

É por esse viés que as igrejas igualmente se situam orientadas do Oriente para o Ocidente e também se dividem em três partes: o altar-mor, o presbitério e a nave. 

Em relação ao Templo hebraico, o altar-mor da igreja, no qual se coloca o oficiante da missa, corresponde ao Santo dos Santos; o presbitério, que é o lugar onde se colocam os auxiliares no ofício da missa, corresponde ao Santo, por fim a nave, onde ficam os fiéis, representa a parte descoberta do Templo hebraico que era destinado ao povo. 

Assim também ocorre com o Templo Maçônico, onde a sua orientação, no sentido longitudinal do espaço, vai do Oriente (Leste) para o Ocidente (Oeste) e a sua divisão se dá em três partes a saber: o Altar no Oriente - onde fica o dirigente da Loja - se relaciona com o Santo dos Santos e este, por sua vez, se relaciona com o altar-mor das igrejas; o restante do espaço oriental - onde ficam as autoridades maçônicas e alguns oficiais - corresponde ao Santo que, consecutivamente se relaciona com o Presbitério; por último as Colunas - onde se distribuem os Vigilantes, obreiros e demais oficiais - correspondem à nave, sendo que esta, por sua vez, corresponde à parte descoberta (pátios) do Templo de Jerusalém. 

É desse modo então que o Templo Maçônico indiretamente está associado ao Templo de Jerusalém, contudo cabe salientar que ele não é, como muitos equivocadamente pensam, uma cópia fiel do Templo hebraico. 

De certo modo, positivamente essa semelhança tem as igrejas como intermediárias, o que não é de se achar estranho, sobretudo porque a Igreja herdou, além da figura do Templo, muitos outros aspectos do judaísmo que indiretamente viriam também aportar na Maçonaria, principalmente aqueles relacionados à sua liturgia e aos seus símbolos. 

Do Parlamento britânico a Moderna Maçonaria trouxe, dentre outros, a disposição dos assentos que ficam de frente para o eixo longitudinal, assim como a "great chair". 

No que concerne à Maçonaria e a sua herança hebraica, são utilizados vários objetos e utensílios que se distribuem nos Templos Maçônicos, levando-se em conta cada Rito praticado, bem como as suas Câmaras pertinentes aos respectivos graus. Em se tratando do REAA, é o caso, por exemplo, das Colunas do Pórtico, do Delta com o nome hebraico de Deus; do Mar de Bronze, do Ouro, da Pedra e do Cedro do Líbano; do Altar dos Perfumes, da Arca da Aliança, da Urna do Maná e da Vara de Aarão; da Mesa dos Pães Propiciais, do Candelabro de Sete Braços, etc. 

Em relação a sua questão propriamente dita, seguem alguns apontamentos relacionados à Arca da Aliança na Maçonaria, cujo conteúdo o Irmão deverá associar aos seus estudos nos respectivos graus do REAA, além, obviamente, dos graus do Franco-maçônico básico – Aprendiz, Companheiro e Mestre. 

A Arca da Aliança, ou do Testemunho (Êxodo, 25 – 10 a 22) é uma alegoria bíblica que simboliza a terceira aliança de Deus com o homem. 

Comentando cada uma das alianças e de modo básico, a primeira Aliança, a mais abrangente das três, é aquela que Deus fez com Noé e incluí toda a humanidade – o arco-íris, como se apresenta em Gênese (primeiro livro do Pentateuco – a criação e os tempos primitivos do mundo) é o seu sinal ou a sua prova. 

A segunda Aliança, já de caráter mais restrito, é abraâmica, sendo o seu sinal a circuncisão (brit-milá em hebraico) e envolve todos aqueles que evocam o Deus de Abraão. 

Por fim, a terceira Aliança que seria concluída quando Moisés, no monte Horeb, estabeleceria o pacto, através do sacrifício, unindo Israel a seu Deus. 

Seu sinal é o shabat (sábado), o dia da plenitude da criação, e a sua lei é aquela que Deus revelou no Sinai. 

A Arca da Aliança, contendo apenas as Tábuas da Lei, fora colocada no Santo dos Santos, em cujo espaço não existiam quaisquer outros objetos. 

Segundo a tradição hebraica, nesse recinto somente ingressava o Cohen Gadol (em hebraico: Supremo sacerdote) apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação ou do Perdão (em hebraico: Iom Kipur) que ocorre no primeiro dia do ano novo hebraico (Rosh Ashaná – cabeça do ano). 

O novo ano hebraico acontece no mês Tishrei e começa na primeira lua nova que se segue ao equinócio de outono no hemisfério Norte. 

Conta a tradição que nesse dia, no Santo dos Santos, Deus se apresentava ao supremo sacerdote. 

A Arca da Aliança, depois que os hebreus ingressaram na terra prometida, seria guardada em Galgata, sendo depois, juntamente com o Tabernáculo, levada a Silo. 

Durante a guerra travada contra os filisteus, a Arca seria roubada, porém mais tarde recuperada pelos hebreus. 

Na sequência, por volta de oitenta anos, ela ficaria em Cariatiarim, de onde foi levada até a casa de Obededom de Get. 

Assim, a Arca assumiria seu lugar definitivo no Santo dos Santos quando da construção do primeiro Templo de Jerusalém, também conhecido como o de Salomão. 

Quando da tomada de Jerusalém por Nabucodonosor II, em 586 a. C., o Templo foi destruído tendo a Arca desaparecido, pelo que não se sabe se ela foi escondida, ou mesmo destruída junto com o Templo. 

Ainda sobre a Arca da Aliança e a Maçonaria, especula-se, em detrimento ao filosofo e pensador Gottfried Wilhelm Von Leibniz, sobre a teoria da "mônada" (elemento simples) onde a Arca aparece como o elemento constitutivo de todas as coisas – as leis das causas finais do bem e do mal. 

É, segundo Leibniz, a ação de princípio interno que exprime a mobilidade das almas, que não estão jamais em repouso, mas tendem continuamente a uma melhor harmonia interior. 

Essa é então uma síntese do que eu poderia lhe colocar no momento em relação a Arca da Aliança na Maçonaria em geral, e em particular no REAA. 

Por fim, recomendo-lhe a leitura de bibliografia de Nicola Aslan, cuja qual aborda os graus superiores do REAA, assim como o Mestre Secreto de autoria de Francisco de Assis Carvalho e José Castellani. 

Dentre outros, também A Maçonaria e a sua Herança Hebraica, As Origens Históricas da Mística Maçônica e Shemá Israel, todos esses de autoria de José Castellani.


,

Nenhum comentário:

Postar um comentário