Seguidamente têm ocorrido questionamentos sobre quando e como apareceu pela vez primeira, no Brasil, a cor azul, com primazia, no avental do Mestre Maçom no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Sabe-se que, em âmbito nacional, são encontrados aventais, dependendo da Obediência, com a preferência da cor vermelha, caso dos Grandes Orientes Estaduais, e, de outra forma, na cor azul, embora diferenciados entre si, caso das Grandes Lojas e do Grande Oriente do Brasil.
A quase totalidade dos autores maçônicos pátrios afirmam, de forma peremptória, que, no Brasil, o avental de Mestre Maçom do R.E.A.A. tomou a cor azul em l927, quando por ocasião da cisão no Grande Oriente do Brasil e consequente criação das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras. Para alguns desses autores, entre eles o Ir. José Castellani, “tudo” teria AZULADO por obra e graça do Ir. Mário Behring, o qual assim teria feito visando obter o beneplácito da Grande Loja Unida da Inglaterra para as novéis obediências (Grandes Lojas) em detrimento do Grande Oriente do Brasil. Teria assim o Ir. Mário Behring “Yorquizado” o Rito Escocês. Segundo esses autores, o Ir. Behring teria AZULADO tudo ao “fazer” o “novo” Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito para as Grandes Lojas, cujas primeiras impressões aconteceram em l928.
Causa espécie que estes ilustres e estudiosos autores, aparentemente, não tenham lido até agora (seria concebível tal fato?) os Rituais de Mestre Maçom das Grandes Lojas, os editados em 1928, e que teriam sido de autoria do Ir. Mário Behring, posto que nesses rituais consta expressamente que “qualquer que seja a cor da orla, entre esta e as franjas, correrá um estreito cordão vermelho”, afirmando, em continuidade, que o vermelho é a cor do rito. Ora, então é bem constatável que o Ir. Behring ainda havia deixado muita coisa de vermelho, sem ter, portanto, “azulado” totalmente. Diga-se de passagem, que o ilustre pesquisador, Venerável Irmão Kurt Prober, além de responsabilizar pessoalmente o Ir. Behring pela Cisão de 1927, não o perdoa por ter introduzido o “tal ESTREITO CORDÃO VERMELHO” (A Bigorna nº 136, setembro/1992) no já referido avental. Registre-se que nos dias atuais somente a Grande Loja Maçônica do Estado do Rui Grande do Sul mantém o Avental de Mestre Maçom azul com o “estreito Cordão Vermelho.
Como se verifica, o saudoso Ir. Mário Behring sofre, de um lado, a acusação de, em 1927/28, ter azulado o Rito Escocês e, de outro, haver avermelhado o mesmo.
Todavia, voltemos ao cerne da questão, ou seja, de quando e como a cor azul apareceu, predominantemente, no avental do Mestre Maçom no Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil.
A resposta, à primeira vista, em se valendo das afirmativas acusatórias ao Ir. Behring, teria ocorrido em 1927, excluindo-se dessa colocação o Ir. Prober. Este venerável e venerando Irmão expende entendimento de que, como no Ritual utilizado pelo GOB em 1834 não havia a descrição da cor da orla, é PRESUMÍVEL que a cor era azul (A Bigorna Nº 137, novembro/1992), afirmando, ainda, este ilustre pesquisador que em 1834 no Ritual do GOB era “TUDO AZUL” e a partir do fim de 1834 no Gr. Or. do PASSEIO passou a ser “TUDO VERMELHO” (sic). Reforça o Ir. Prober que o primeiro Ritual Escocês do GOB somente foi impresso em 1857, sendo cópia fiel daquele de 1834, não especificando, por isso (pág. 80), a cor do orlado do avental, continuando, segundo ele, tudo azul. Em razão disso, pensamos, a crítica acerba ao Ir. Behring, eis que este, em 1927/28, teria feito a inclusão do “estreito cordão vermelho”, além de, como já visto, haver ensejado a Cisão no GOB.
Entretanto, retornando um pouco no tempo, fixemo-nos no ano de 1889. Nesse ano – 5.889 (V.L.) – foi editado o Guia dos Trabalhos Symbolicos do Rito Escossez Antigo e Acceito para Uso das OOff. D’Este Rito da Jurisdição do Gr. Or. E Supr. Cons. Do Brasil ao Valle do Lavradio (redação da época), constando neste a azulação impingida ao Ir. Behring, senão vejamos.
Tal Ritual, ao tratar do Terceiro Grau, previa na página 129, em se referindo às insígnias, que o avental do Mestre Maçom é branco, forrado e ORLADO DE AZUL, tendo uma roseta da mesma cor no centro e abeta descida. Constata-se, ainda, através do próprio ritual, que era Soberano Grão-Mestre e Grande Comendador da Ordem Maçônica no Império do “Brazil” o Senador Visconde Vieira da Silva e não o Ir. Mário Behring, cuja ascensão ao posto maçônico referido somente aconteceria algumas décadas após.
Cumpre observar, outrossim, que a impressão do Guia Escocês pelo GOB em 1889, se deu tão somente após 14 anos após o já muito falado Congresso de Lausanne, Suíça, ocorrido em 1875, dos Supremos Conselhos do Rito Escocês Antigo e Aceito, o qual teria apregoado a uniformização, na cor vermelha, do avental do Mestre Maçom. Desde já algumas questões se apresentam decorrentes de tal observação: se houve uma tentativa de uniformização, quer isto dizer que havia disparidades nas cores do referido avental (e não no Brasil, pois ao que se sabe, em 1875, aqui o avental era vermelho); e mais, por que o GOB/Supremo Conselho do Brasil, em tão pequeno lapso de tempo (14 anos após), efetuou a troca do vermelho para o azul; teria ou não esta Obediência participado do referido Congresso? Segundo José Castellani, in “O Rito Escocês Antigo e Aceito”, pág. 80, 1ª Ed., 1988, Ed. A Trolha, não houve participação no referido Congresso pelo Supremo Conselho do Brasil. De outra banda, conforme se verifica na leitura da revista ASTREA Nº 21, Ano VII, 1996, pág.10, teria ocorrido tal participação. Vê-se, pois, que, sem dúvida, alguma dessas duas fontes está equivocada.
Muito embora tais indagações, as quais devem, no futuro, oportunizar as respectivas respostas (atualmente se tem informação pelos registros daquele Congresso que Castellani tinha razão eis que o Supremo Conselho do REAA do Brasil não se fez presente), cremos que podemos afirmar que, pelo menos de forma e fonte segura, a cor azul apareceu pela vez primeira no avental de Mestre Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, no Brasil, em 1889, não sendo, portanto, de autoria do sempre lembrado Ir. Mário Behring.
Cabe, por final, observar, ainda, que praticamente em todas as leituras que fizemos sobre rituais brasileiros, os autores (e abalizados autores) praticamente olvidam esse Ritual do GOB de 1889, fazendo, quando o fazem, rápidas considerações sobre o mesmo, deixando, por vezes a impressão, e queremos que seja falsa a nossa impressão, de que o assim o fazem porque o mesmo é a prova cabal da AZULAÇÃO já anteriormente
Nota: Este artigo foi escrito em 1998, revisado para publicação em maio de 2000 na revista “ACÁCIA” n° 59, jul/ago/2000, de Porto Alegre - RS.
Nova revisão em julho de 2015, para alguns ajustes redacionais.
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