maio 01, 2024

TERRA DAS PALMEIRAS - Silvana Sarti

 

Terra das palmeiras, Pindorama, (ou mais precisamente "lugar das palmeiras") nome de origem tupi, pelo qual se denominava o que hoje chamamos de Brasil. Designação já citada por Osvald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico de 1928, texto modernista, nada mais contemporâneo que beber na fonte da ancestralidade.

Em 1500 estima-se que existiam mais de 1200 línguas e dialetos indígenas por aqui (ver Aryon Rodrigues). Por outro lado, de acordo com o Censo 2010, contamos hoje com 274 línguas e dialetos nativos. Que perda incomensurável, pois com a língua se perde a cosmovisão de um povo, seu imaginário, toda sua cultura, seu raro e importante conhecimento de ervas, que poderiam nos dar tintura para tecidos, tintas para nossas pinturas, remédios para curar doenças, fibras para roupas e construção civil. A chegada de Ayrton Krenak na Academia de Letras confere uma nova era para os estudos de nossa brasilidade.

Os povos da floresta são responsáveis pela manutenção dela e esta para a manutenção da vida. Um pequeno exemplo é a origem do cupuaçu, fruto icônico da Floresta Amazônica, foi desvendada por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP. Contrariando a crença popular de que o cupuaçu era uma espécie nativa, os cientistas revelaram que, na verdade, o fruto é uma variante domesticada do cupuí, uma planta da família do cacau. Essa descoberta, publicada na revista Communications Earth & Environment, indica que os indígenas da região do médio-alto Rio Negro desempenharam um papel crucial na domesticação do cupuaçu há mais de 5 mil anos.

Gostaria também de ressaltar sobre os grafismos indígenas e a cestaria, que não são meros enfeites ou decoração, eles representam narrativas, informações preciosas sobre o modo de vida e de relacionar-se com a Terra. Seus ritos, cantos e danças servem para manter a conexão e o equilíbrio entre mundos, tecer a saúde física e mental do grupo, conectando-se com o sagrado. 

O manto tupinambá, que até pouco tempo se encontrava num museu na Dinamarca e que devido ao quase extermínio desse povo (dessa etnia) não era mais produzido entre seus poucos representantes, esse conhecimento quase se perdeu. Gliceria Tupinambá, foi convidada a visitar o belíssimo manto feito de plumas de guará femea, ao vê-lo teve um chamado da ancestralidade e ajudada por ela, pouco a pouco foi recuperando os modos de tecer com as plumas, recuperando esse antigo conhecimento e hoje está expondo, junto a outros artistas indígenas, na histórica 60a edição da Bienal de Veneza, um dos mais importantes eventos de arte do mundo, que este ano tem um curador brasileiro, Adriano Pedrosa. 

Aos poucos vamos construindo uma identidade genuinamente brasileira, resultado do encontro dos nativos com tantos outros povos que aqui aportaram e viveram suas vidas e vamos nos afastando do complexo de vira-lata que quiseram nos impor, fazendo-nos acreditar que não tínhamos cultura e precisávamos aceitar um cultura dita "superior" violentamente  imposta.

Com o rigor da ciência e com a ética da floresta, vamos delineando um mundo mais justo, inclusivo e amoroso.

Fontes:

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Aryon_Rodrigues

https://revistaamazonia.com.br/domesticacao-do-cupuacu-pelos-indigenas-ha-5-mil-anos-originou-o-fruto-amazonico/#:~:text=A%20origem%20do%20cupua%C3%A7u%2C%20fruto,planta%20da%20fam%C3%ADlia%20do%20cacau.

https://piaui.folha.uol.com.br/volta-do-manto-tupinamba/

https://vogue.globo.com/cultura/noticia/2024/04/gliceria-tupinamba-representa-o-brasil-nesta-edicao-da-bienal-de-veneza.ghtml

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/04/20/bienal-de-veneza-pela-1a-vez-evento-tem-brasileiro-como-curador-e-destaque-para-arte-indigena.ghtml

https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/what-do-abya-yala-and-pindorama-mean/

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