Na primeira metade do século XX, quando o rádio ainda não conquistara a importância que mais adiante viria a ter e a televisão sequer povoava o sonho dos visionários, o teatro de revista, com suas comédias abrilhantadas pela beleza das vedetes e o talento dos músicos funcionava com a porta através da qual compositores e letristas brasileiros buscavam alçavam seus primeiros voos para o sucesso.
Em 1927, Ary Barroso (1903/1964), mineiro de nascimento mas residente no Rio de Janeiro há dez anos, tornara-se um dos compositores mais solicitados do teatro carioca e iniciara uma vitoriosa parceria com o multifacetado J. Carlos (1884/1950), compôs, para a peça É do balacobaco, uma música que tinha por título Na grota funda, cuja letra assim principiava:
“Na grota funda
Na virada da montanha
Só se fala das façanhas
Do mulato da Raimunda
Matou a nega
Cum pedaço de canela
E adespois sem mais aquela
Se juntou com uma galega...”
O também compositor Lamartine Babo (1904/1963 assistiu à estreia do espetáculo. Encantou-se com a melodia, achou que merecia uma letra melhor a qual compôs durante a noite - e, sem pedir autorização a Ary ou a J. Carlos, apresentou a música reformatada – e com novo título - “No Rancho Fundo” -, num programa do conjunto Bando de Tangarás, na Rádio Educadora.
O sucesso foi imediato e tornou-se uma das mais belas páginas do cancioneiro do país. Ary aceitou a transformação sem reclamar, mas – como explica em seu livro “Recordações de Ary Barroso” (Funarte, 1979) jornalista Mário Moraes, o mesmo não aconteceu com J. Carlos. Sentindo-se passado para trás, nunca mais falou com o futuro compositor de “Aquarela do Brasil”.
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