agosto 13, 2024

Templo, Loja e Oficina - Márcio Adão Pereira

 






Templo, definição da sua origem.

O Templo Maçónico é um arquétipo – literalmente significa modelo e etimologicamente vem do grego arkhe (princípio) e typos (tipo) – que, como habitação do Grande Arquitecto, simboliza o Universo e todas as maravilhas e perfeições da criação. O Universo é o Macrocosmo e o Homem representa o Microcosmo (RIGHETTO,1992).

O que está em cima é análogo ao que está em baixo, e o que está em baixo é análogo ao que está em cima; traduzindo por outras palavras, o que está no mundo menor (microcosmo) reflecte o que está no mundo maior (macrocosmo). Demonstra a harmonia e a correlação entre os diferentes planos de manifestação (CAMINO, s/d).

Ao simbolizar o Universo, também simboliza a Universalidade da nossa Ordem e é por esse motivo que cada golpe de Malhete ou cada anúncio feito pelo Venerável Mestre, no Oriente deve ser repetido pelo 1º Vigilante, no Ocidente, e pelo 2º Vigilante no Sul. Assim repetidos, o golpe de Malhete e o anúncio do Venerável Mestre propagam-se pelo Universo inteiro (RIGHETTO & ORTEGA, 1997).

Se o Templo fosse definido de acordo com uma Maçonaria Espiritualista, seguiria a interpretação do que Jesus expressava ser o Templo, isto é, o nosso corpo, que teria assim uma interpretação sagrada por este corpo ser considerado de acordo com São Paulo o Templo de Deus onde Seu espírito habita em nós, então, o Templo de Deus é Santo. Contudo, vamos referir-nos ao Templo como a forma de construção (CAMINO, s/d).

O Templo é o local, a construção ou o imóvel destinado a ter no seu interior o exercício ou a prática de uma religião ou doutrina esotérica ou filosófica. As Igrejas reúnem-se num templo, sendo a Igreja a parcela do povo que se reúne em torno de um sistema religioso e o Templo é o local onde se reúnem para o exercício da fé e a prática deste sistema. Da mesma forma, o Templo Maçónico é um local sagrado, (posto que passou pelo Ritual da Sagração) em que os maçons celebram as suas Sessões.

O Templo maçónico é o modelo sobre o qual está formulado o simbolismo maçónico. Ele reproduz simbolicamente o Templo de Salomão, em Jerusalém, servindo de paradigma para os Templos Maçónicos. A Maçonaria, ao adoptar o Templo de Salomão como modelo material e espiritual nos seus trabalhos, fê-lo por inteiro, isto é, reproduziu o estilo arquitectónico assim como os seus utensílios sagrados e o nome dos personagens que estavam envolvidos na construção naquela época. Como o Templo de Salomão, o nosso também se divide em três partes:

Vestíbulo (atrium), que liga o Templo à Sala dos Passos Perdidos,

Hekal ou Ocidente (lugar santo) e Debir ou Oriente (o Santo dos Santos).

Em 1772, os Maçons construíram para si o primeiro Templo, quando a Grande Loja da Inglaterra deu início à construção do Templo específico, retirando os Maçons das tabernas. O “Freemason’s Hall” foi iniciado em 1772 e concluído em 1776; tal feito foi seguido pela Maçonaria Francesa que em 1788, por sua vez, proibia que as Lojas Maçónicas se reunissem em tabernas, rompendo assim, uma antiga tradição.

Quando os Templos funcionavam ao ar livre, em salas cedidas por particulares ou taberneiras, em face da dificuldade de “ornamentação adequada”, a solução encontrada foi a de “colocar” os Símbolos indispensáveis, através de desenhos feitos com pedaços de carvão ou giz, no piso, os quais eram apagados ao encerrar a reunião, ou numa forma mais evoluída, desenrolar um tapete contendo os principais símbolos suprindo assim as necessidades litúrgicas. Estes “quadros”, ou “painéis”, subsistem até hoje, como tradição, uma vez que repetem os Símbolos contidos no recinto. Portanto, se no Templo físico é exigida a presença dos Símbolos genericamente contidos no Painel, no Templo espiritual esses Símbolos também devem estar presentes.

Quanto à forma

Há várias explicações, para a concepção do Templo. Na sua construção, sabedoria hermética passada aos construtores, corrente magnética, a sabedoria antiga vinha do Oriente para o Ocidente. A sua área possui a forma de um paralelogramo, representando a antiga concepção que os geómetras tinham do mundo, antes que Ptolomeu apresentasse o seu sistema cosmográfico. O quadrilátero como todos os Templos da antiguidade deve obedecer a uma orientação astronómica, estando o seu eixo maior na direcção leste/oeste como longitude e norte sul como latitude; as suas dimensões abrangem do centro da Terra ao infinito. A Orientação Astronómica tem ainda como fundamento a orientação do Tabernáculo e do Templo de Salomão.

O Templo é dividido em Oriente e Ocidente por um meridiano no qual fica a Grade do Oriente. As ideias de longitude, latitude, altura e profundidade, não podem e não devem ser limitadas a uma concepção humana e comum. A partir daí entramos no complexo simbólico, que compõe todo o templo (CAMINO, s/d; MONTEIRO, 1996; SANTIAGO s/d; PACHECO, 1990).

Por o Templo Maçónico ser simbólico, nele o Sol figura como símbolo no retábulo, atrás do trono do Venerável e na abóbada sobre o trono do Venerável. O Oriente, é o ponto do qual provém a Luz, simboliza o Mundo Invisível, o Mundo Espiritual e porque o Sol nasce no Oriente (a Maçonaria considera o Sol uma das Glórias do Criador), é tido como um símbolo muito importante, uma espécie de Símbolo de Divindade. Já o Ocidente, sendo o local para o qual a Luz se dirige e onde o Sol se põe, simboliza o Mundo Visível, o Mundo Material, o Concreto Sensível. Por ter uma forma rectangular o Templo caracteriza-se como uma estrada ou caminho que nos conduz do Ocidente para o Oriente, simbolicamente uma caminhada das trevas para a Luz, em direcção ao Sol, assim como o movimento da Terra ou Mundo ao encontro da luz do Sol. Embora a sua entrada se dê pelo Ocidente, na antiga Babilónia e nas Catedrais Góticas da Idade Média, na Europa, os Templos tinham a entrada no Oriente. É oportuno lembrar que para alguns autores, o Templo deveria ter a forma circular. O motivo é bastante lógico: Vindo do termo Loja, nas suas mais remotas origens, do sânscrito, com o significado de Mundo, deveria o Templo ter a forma da Terra, isto é, circular, oval ou elíptica. O que prevaleceu foi a forma rectangular, o que atendeu plenamente aos objectivos práticos e à simbologia (ALENCAR, 1968).

Quanto à decoração do templo e o simbolismo Maçónico, certamente vamos encontrar influência de outras civilizações, assim como as histórias e as tradições bíblicas que estão presentes em todas ou quase todas as cerimónias maçónicas, especialmente no que se refere à influência do Templo de Salomão em Jerusalém, nas suas tradições e também quanto à sua arquitectura e ornamentos. Actualmente, há correntes que defendem a tese de que a Maçonaria não entende que seja relevante preocupar-se com a uniformização do uso de elementos adoptados do Templo de Salomão e que são comuns às várias obediências e vários ritos adoptados e praticados em nível nacional e internacional.

O Templo Maçónico, da forma como se encontra constituído actualmente, só se completou através dos tempos, sofrendo a influência de vários países, onde a Maçonaria floresceu e se desenvolveu, particularmente na Inglaterra onde recebeu grande influência religiosa e política, pois a posição dos irmãos, colocados uns de frente para os outros, nas colunas norte e sul, lembra muito a disposição do Parlamento Inglês (NAME, 1988).

A diferença entre loja e oficina

Embora muitos escritores e críticos da Maçonaria julguem que se trata de sinónimos, não se pode negar que existe diferença no significado de Loja e Oficina, maçonicamente falando. Era nas Lojas que se realizavam as assembleias dos maçons operativos, transformadas em Oficinas, isto é, locais de trabalhos manuais (ALENCAR, 1968).

A Loja é o Templo com o seu conjunto de tudo o que nele se contém e serve de berço aos maçons; a Oficina é a Loja em funcionamento, em pleno trabalho dos Irmãos construindo o edifício espiritual da humanidade. Loja é toda a estrutura interna, ou seja, a composição de toda área com as suas salas e cada qual tem uma funcionalidade sendo o Templo, o local específico para as reuniões e trabalhos de natureza litúrgica, o que denominamos Oficina. Outra concepçáo de Loja é aquela que a define como o conjunto dos Maçons reunidos para realização de um determinado trabalho ritualístico. O Templo Maçónico é o local construído, ou previamente preparado para o Trabalho de uma ou mais Lojas Maçónicas. Trata-se, reafirmando, de um local sagrado, posto que passou pelo Ritual da Sagração. Templo é o corpo e a Loja é a alma.

Lojas e Oficinas apresentam estreitas ligações com o Templo. Por esta teoria, só existe Loja quando os irmãos estão em trabalho litúrgico; finda a sessão e dissolvida a reunião ou sessão, simultaneamente está dissolvida a Loja, somente vindo a renascer quando novamente se reunirem os Maçons.

Como argumento apresenta-se o seguinte exemplo: Se os Maçons se reunirem fora do Templo, na rua, no restaurante, num café, num clube profano, não estão constituindo uma Loja. Mas, se os Maçons se reunirem em lugar discreto ou secreto, fora das vistas de estranhos a Ordem, mesmo que seja em plena floresta, numa gruta, entre ruínas, e traçarem o quadro da Loja, terão construído o edifício ideal do Templo e poderão iniciar seus trabalhos na Oficina (ALENCAR, 1968).

Loja também tem sido popularmente utilizada para designar o endereço: Loja tal…, rua tal, número tal, em tal cidade, Estado tal. Ninguém se corresponde com o Templo ou com a Oficina, e sim com a Loja. Se passarmos por um edifício onde funciona uma sociedade maçónica, dizemos com absoluta propriedade: Este é o Templo onde funciona a Loja Maçónica “X”.

O Templo é, pois, o edifício material, o imóvel; a Loja é seu conteúdo orgânico, simbólico e funcional que inspira os irmãos à realização dos mais variados trabalhos na Oficina. A significação aproxima-se muito das semelhanças ou dessemelhanças entre lar e casa. A casa é o imóvel, o bem real material e fixo; o lar é o bem espiritual, a reunião da família em comunhão. A destruição do Lar é figurada; a destruição da casa é materialmente compreendida. Os Maçons têm uma casa – o Templo – onde conservam o seu lar, a Loja.

Com os períodos de intolerância surgidos em alguns países, havendo por segurança, necessidade de muita discrição, os prédios especificamente, destinados às Lojas Maçónicas, não continham qualquer sinal na sua fachada que pudesse identificar a Maçonaria. Há menos de dois séculos é que os edifícios maçónicos passaram a identificar, através dos símbolos de construção, a existência de prédio onde os Maçons se reuniam. Colunas, Triângulos, Esquadro e Compasso entrelaçados, comprovavam a existência de uma Loja Maçónica. No entanto, dada a liberdade existente no mundo livre, muitas Lojas situam-se em prédios comuns que não apresentam nenhum símbolo característico; a tendência, em toda a parte, é, novamente, “preservar” a tradicional discrição e assim, modernamente, as Lojas estão muitas vezes inseridas em prédios comuns.

Conclusões

O vocábulo Templo restringiu-se ao Templo material, distinguindo-se do Templo Espiritual que se situa “dentro do próprio Maçon“, encoberto esotericamente. De uma maneira mais iniciática, podemos dizer que o Templo em que devemos trabalhar para construir na Maçonaria é o próprio homem. Isto é, o trabalho leva ao nosso aperfeiçoamento ou à construção do Templo Interior.

Assim o Templo Maçónico é uma construção especial, uma vez que não depende única e tão somente do sentido material, mas depende de cada membro e da sua capacidade de o expandir na proporção e dimensão que a sua mente possa atingir. Loja é o conjunto dos Maçons reunidos para realização de um determinado trabalho ritualístico. O Templo Maçónico é o local construído, ou previamente preparado para o Trabalho de uma ou mais Lojas Maçónicas.

Referências bibliográficas:

RENATO ALENCAR, Enciclopédia Histórica do Mundo Maçónico. Maçónica, Rio de Janeiro, 1968.

RIZZARDO DA CAMINO, Introdução à Maçonaria, v.3, 2ª Ed., Aurora, Rio de Janeiro, RJ.

EDUARDO CARVALHO MONTEIRO, Templo Maçónico: Morada do Sagrado. A Trolha, Londrina, Paraná, 1996.

MARCOS H. DE A. SANTIAGO Cadernos de Estudos Maçónicos – A Formação do Maçon na Loja Simbólica.

WALTER PACHECO, Cadernos de Estudos Maçónicos – Entre o Esquadro e o Compasso. A Trolha, 1ª Ed., Londrina, PR, 1990.

ARMANDO RIGHETTO Maçonaria, Uma Esperança., Trolha, 1ª Ed., Londrina, 1992.

ARMANDO RIGHETTO & OSWALDO ORTEGA Maçonaria, O Caminho Das Pedras. História, Lendas, Ritualística, Simbolismo. A Trolha, 1ª Ed., Londrina, Pr, 1997.

MARIO NAME, O Templo de Salomão nos Mistérios da Maçonaria. 1ª Ed., São Paulo, SP, 1988

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