William Schaw (1549 1602) foi mestre de obras da coroa Escocesa e Supervisor Geral dos Maçons naquele país a partir de 1583 até a data da sua MORTE.
Foi o responsável pelas construções e reparações de castelos no reinado do Rei James Stuart VI, sendo assim elaborou os estatutos para regular a prática da cantaria.
O primeiro estatuto em Dezembro de 1598 e o segundo, do qual trataremos parte aqui datado de 28 de Dezembro de 1599.
A “cláusula” importante para o estudo a ser desenvolvido hoje é a 13ª, que será reproduzida agora com tradução livre do Irmão Luciano Rodrigues e Rodrigues (2016), disponível no seu blog “O Prumo de Hiram”.
... “É estabelecido pelo vigilante geral, que o vigilante da loja de Kilwinning, sendo a segunda loja na Escócia, irá testar todos os companheiros do ofício e cada aprendiz, sobre a arte da memória e ciência, de acordo com as suas vocações, e no caso de terem perdido qualquer ponto exigido deles, eles devem pagar a penalidade da seguinte maneira pela sua preguiça, isto é, cada companheiro do ofício, vinte xelins, cada aprendiz, dez xelins, a ser pago ao caixa para o bem comum, anualmente, e em conformidade com o uso comum e prática das lojas neste reino.”...
Vimos aqui que os exercícios de memorização de fórmulas já eram cobrados desde que o ofício era operativo.
Importante salientar que essa memorização poderia ser tanto de fórmulas para o exercício da construção quanto ensinamentos morais praticados nas corporações de ofício.
Carlos Alberto Mourão Júnior e Nicole costa Faria (2014) sobre Memória, definem nas suas palavras “a grosso modo” no artigo PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS Memória “
_(…) chamamos de memória a capacidade que os seres vivos têm de adquirir, armazenar e evocar informações.”.
Ainda no mesmo artigo:
_“(…) O que se sabe, actualmente, é que as informações que chegam ao nosso cérebro formam um circuito neural, ou seja, a informação recebida activa uma rede de neurónios, que, caso seja reforçada, resultará na retenção dessa informação (por informação, entendemos qualquer evento passível de ser processado pelo sistema nervoso: um facto, um objeto, uma experiência pessoal, um sentimento ou uma emoção).
Por isso considera-se que a repetição seja uma estratégia necessária para a memória.
Não nos esquecemos, por exemplo, o número do telefone da nossa casa porque, ao longo da nossa vida, repetimos essa informação inúmeras vezes.
Esse processo interfere na memorização do número exactamente porque toda vez que repetimos os estímulos, ativamos o mesmo circuito neural.
A ativação contínua reforça esse circuito e torna mais fácil a posterior evocação da informação armazenada.
Na Maçonaria, em todos os sistemas, existem catecismos, ou seja, perguntas e respostas, e uma vez iniciado, devido as constantes repetições, o Maçom acaba memorizando uma grande gama de informações, como por exemplo o telhamento (trolhamento) no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA).
_(…)O armazenamento é possível graças à neuroplasticidade, que pode ser definida como a capacidade que o cérebro tem de se transformar diante de pressões (estímulos) do ambiente.(…)
Ainda utilizando o REAA como exemplo, em inúmeras vezes vemos a loja fechada e os irmãos por pressão do ambiente circulando de forma ritualística.
Um fenómeno muito interessante relacionado às memórias e que merece ser mencionado é o priming (também conhecido como pré-ativação).
O priming é, na realidade, um tipo de memória induzido por pistas ou dicas.
Às vezes estamos tentando lembrar de uma música ou de um poema, e não conseguimos.
Porém, se alguém cantarolar para nós as primeiras oitavas da música ou recitar para nós o início dos primeiros versos do poema, quase instantaneamente nos lembramos de todo o restante, como se fora uma reação em cascata.
De fato, parece que, muitas vezes, só nos lembramos de onde está um prédio quando dobramos a esquina anterior à sua localização.
Da mesma maneira, um animal só consegue lembrar da saída do labirinto na medida em que vai percorrendo o mesmo cada etapa serve de pista para a etapa seguinte (Lashley, 1963).”
Conforme o exemplo dado por Júnior e Farias, muitas das vezes acontece o fatídico “branco”, mas basta qualquer irmão soprar a primeira palavra para que o agente que executa a fala, lembre de todo o restante da oração gramatical.
Os autores concluem o artigo falando da dificuldade de se estudar a arte da memória que são duas, ou seja, que as memórias estão ligadas a outros processos cognitivos (precisam de um gatilho), e segundo que o sujeito é quem decide se vai lembrar de algo ou não. (nesse texto, provavelmente você irá guardar apenas o que deseja ou lhe seja interessante).
Existem diversas técnicas para se memorizar, mas uma constante em quase toda matéria sobre memorização é atribuir algo a imagens, mesmo que de forma bizarras.
E o que isso tem haver com a Maçonaria?
Tudo!
Toda memorização em Loja Maçónica é extremamente visual.
Um grande exemplo disso é a coluna B, ao vê-la automaticamente o Maçom lê “força, moral e apoio”.
Isso significa que muito antes dos workshops de memorização e livros volumosos de técnicas diversas, os maçons operativos já praticavam o “pulo do gato” faz tempo.
Conclusão
Um “chavão” popular diz que “Os grandes prazeres da vida, estão nas pequenas coisas”.
Vimos que os Maçons Operativos bolaram um “esquema” incrível para memorizarmos as nossas fórmulas, mas não somos levianos de dizer que são apenas simples combinações para nos identificarmos como irmãos ou perguntas e respostas vazias como uma tabuada.
Nos pequenos símbolos que utilizamos existem poderosos ensinamentos filosóficos que não se resumem a apenas ao significado imediato, então quando falamos, por exemplo, sobre o Maço, ele não significa simplesmente força, ele tem um significado sublime de uma força utilizada com inteligência, mesmo porque, quando o Maço se aplica apenas com violência a pedra da construção se parte e não se lapida.
Posso citar inúmeros exemplos de grandeza filosófica para cada símbolo, mas além de Pike já ter feito isso em páginas e páginas no seu livro Moral e Dogma, apenas para explicar o conceito de duas ferramentas, a ideia aqui não é enveredar para o significado do nosso simbolismo.
A grande e real questão é: conseguiram ensinar filosofia e moralidade a homens simples que na sua maioria eram analfabetos através das suas ferramentas e das suas actividades laborativas.
Mas porque?
O ofício de pedreiro era uma mão de obra qualificada e escassa, tanto é que pedreiros viajavam de uma obra para outra, e pertencer a uma guilda de construtores significava que o indivíduo carregava o nome da corporação.
Necessitando que esse sujeito tivesse uma moral elevada de forma a ser sempre um cartão de visitas ambulante, por isso a preocupação dos dirigentes na escolha, formação e caráter do pedreiro.
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