outubro 14, 2024

A PRESENÇA DE BAPHOMET NA MAÇONARIA --Erivelto Luís de Souza



Origem do Baphomet

A figura de Baphomet tem um histórico bastante complexo e interessante, com diversas interpretações ao longo dos séculos. A relação entre Baphomet e a maçonaria, que surge em alguns círculos, é mais um produto de mitos e teorias da conspiração do que de uma associação histórica comprovada. Vamos explorar o contexto histórico de Baphomet, sua origem, evolução e como ele foi erroneamente associado à maçonaria.

O termo "Baphomet" surgiu pela primeira vez durante os Processos contra os Templários no início do século XIV. Os Templários, uma ordem militar cristã poderosa na época das Cruzadas, foram acusados de heresia, incluindo a adoração de um ídolo chamado "Baphomet". O nome pode ter sido uma corrupção de "Maomé" (Muhammad), o profeta do Islã, dado que os Templários tinham interações frequentes com os muçulmanos durante as Cruzadas. Contudo, não há evidências de que eles adorassem essa figura.

A Ordem dos Templários foi fundada em 1119 por Hugo de Payens e outros cavaleiros franceses com o propósito de proteger os peregrinos cristãos na Terra Santa. Com o apoio da Igreja Católica, a ordem cresceu em poder e riqueza, tornando-se uma das organizações mais influentes da Europa medieval.

O Processo dos Templários (1307-1312)

A relação entre os Templários e o Baphomet surgiu em um contexto de perseguição política e religiosa. O rei Filipe IV da França (conhecido como Filipe, o Belo) estava profundamente endividado com os Templários e via na sua dissolução uma maneira de evitar o pagamento e se apropriar de suas riquezas.

13 de outubro de 1307: Sob as ordens de Filipe IV, todos os Templários na França foram presos. Filipe conseguiu que o Papa Clemente V iniciasse um processo inquisitorial contra a ordem, alegando acusações de heresia, sodomia, idolatria e outros crimes.

Personagens Centrais:

Filipe IV da França: O principal instigador da queda dos Templários, motivado por suas dívidas e ambição política.

Papa Clemente V: Inicialmente hesitante, mas pressionado por Filipe IV, ele concordou em investigar a ordem e, eventualmente, dissolvê-la.

Jacques de Molay: O último Grão-Mestre , preso e condenado à morte em 1314.

As Acusações Contra os Templários

Durante os julgamentos, muitas acusações bizarras foram feitas contra os Templários, incluindo:

Renegação de Cristo e da Cruz.

Práticas de sodomia.

Beijo obsceno de iniciação.

Adoração de ídolos, incluindo uma figura chamada "Baphomet."

Origem do Termo "Baphomet":

A palavra "Baphomet" apareceu pela primeira vez durante os interrogatórios dos Templários, mas o significado do termo é incerto. É possível que o nome seja: Uma corrupção de "Maomé" (Muhammad), refletindo a ideia de que os Templários haviam sido influenciados pelos muçulmanos, com quem mantinham contato durante as Cruzadas. Nessa hipótese, "Baphomet" seria uma deturpação cristã do nome do profeta do Islã.

Uma cifra ou código esotérico. Hugh J. Schonfield, em The Essene Odyssey (1984), sugeriu que "Baphomet" pode ser um código que, usando a cifra Atbash (um código de substituição comum na antiguidade), resulta na palavra grega "Sophia", que significa sabedoria.

Testemunhos Forçados:

Sob tortura, muitos cavaleiros Templários confessaram a adoração a essa figura, embora os relatos variem amplamente:

Alguns descreveram o Baphomet como uma cabeça humana ou uma estátua com traços humanos e animais.

Outros falaram de um ícone com barba ou uma cabeça de três faces.

Esses testemunhos foram extraídos sob tortura, e, na maioria dos casos, os Templários mais tarde se retrataram, alegando que haviam confessado falsamente para cessar o sofrimento. É importante notar que não há quaisquer evidências concretas de que os Templários realmente adorassem, ou até mesmo se relacionassem, com uma figura chamada Baphomet.

Resultados dos Julgamentos

O processo contra os Templários culminou na dissolução da ordem, e muitos dos cavaleiros foram executados.

18 de março de 1314: Jacques de Molay, o último Grão-Mestre dos Templários, foi queimado na fogueira. Segundo a tradição, antes de morrer, ele amaldiçoou Filipe IV e o Papa Clemente V, e, curiosamente, ambos morreram dentro de um ano de sua execução.

Consequências para os Templários:

A ordem foi oficialmente dissolvida pelo Papa Clemente V em 1312 no Concílio de Viena.

Muitos Templários que não foram executados ou presos acabaram integrando outras ordens militares, como os Hospitalários, ou se retiraram para a vida civil.

As fortunas da ordem foram em grande parte confiscadas pela Coroa Francesa.

A Evolução do Baphomet Pós-Templários

Após a queda dos Templários, o nome "Baphomet" caiu em desuso por séculos. No entanto, no século XIX, com o surgimento do ocultismo moderno e do interesse pelo esoterismo, Baphomet reapareceu.

Éliphas Lévi (1810-1875), em seu livro Dogma et Ritual de la Haute Magie (1854), reinventou a imagem do Baphomet, criando a representação icônica de uma figura com cabeça de bode, asas e uma mistura de características masculinas e femininas. Para Lévi, Baphomet simbolizava o equilíbrio entre os opostos (luz e trevas, bem e mal, homem e mulher). Ele não conectou essa figura aos Templários, mas sim a conceitos esotéricos de alquimia e magia.

Baphomet no Ocultismo Moderno

A imagem de Baphomet que conhecemos hoje, com a figura caprina, asas e simbolismo dual (macho/fêmea, bem/mal), foi desenvolvida no século XIX por Éliphas Lévi, um ocultista francês. No livro Dogma et Ritual de la Haute Magie (1854), Lévi apresentou a famosa ilustração do "Baphomet" como um símbolo de equilíbrio entre opostos e de sabedoria oculta. Para Lévi, Baphomet não era uma entidade maligna, mas sim uma representação do princípio hermético da unidade entre os opostos. Ele conectou sua criação com a ideia do ocultismo, magia e o esoterismo europeu, mas sem nenhuma conexão direta com a maçonaria.

Relação com Deidades Pagãs

Há especulações de que a figura de Baphomet tenha sido inspirada por divindades pagãs, especialmente aquelas associadas a cabras ou chifres, como o deus celta Cernunnos ou o deus grego Pã, que representam fertilidade, natureza e os instintos selvagens. No entanto, essas associações são mais especulativas do que históricas. A imagem moderna de Baphomet, conforme desenvolvida por Lévi, tem pouco a ver diretamente com essas divindades, exceto pela estética geral da figura caprina.

A Associação com a Maçonaria

A associação de Baphomet com a maçonaria foi uma invenção do século XIX, particularmente associada a Léo Taxil, um jornalista francês que criou uma série de falsos relatos sobre a maçonaria e o satanismo.

Léo Taxil (1854-1907) lançou uma campanha de desinformação nos anos 1880, alegando que os maçons adoravam Baphomet como uma figura satânica. Ele chegou a afirmar que figuras maçônicas de alto escalão estavam envolvidas em cultos diabólicos. Em 1897, Taxil admitiu que toda a sua campanha era uma fraude, mas o mito persistiu e continua sendo alimentado por teóricos da conspiração até hoje.

Durante os julgamentos dos Templários, muitos confessaram sob tortura que adoravam Baphomet, embora as descrições variem amplamente e, na maioria dos casos, fossem forçadas. Esse episódio é amplamente considerado uma tática política de Filipe IV da França, que queria desmantelar a ordem Templária e confiscar suas riquezas.

Associações Errôneas com a Maçonaria

A associação entre Baphomet e a maçonaria surgiu no final do século XIX, principalmente com os escritos de Léo Taxil, um autor francês que fez uma campanha de desinformação contra a maçonaria. Em uma série de panfletos e livros, Taxil alegou que os maçons adoravam Baphomet, e suas histórias eram amplamente sensacionalistas e fraudulentas. Mais tarde, ele admitiu que suas acusações eram falsas, em um caso conhecido como "o embuste de Léo Taxil". Mesmo assim, essas histórias deixaram uma marca duradoura nas teorias de conspiração em torno da maçonaria.

Baphomet e a Maçonaria Hoje

Historicamente, não há evidências de que Baphomet tenha qualquer ligação legítima com a maçonaria. A maçonaria, como fraternidade, baseia-se em princípios éticos, filosóficos e simbólicos, e as alegações de adoração a ídolos ou entidades, como Baphomet, vêm exclusivamente de teorias de conspiração e autores sensacionalistas como Léo Taxil. Mesmo nos círculos ocultistas que foram influenciados por Éliphas Lévi, Baphomet é mais uma representação simbólica de conceitos filosóficos (equilíbrio, dualidade) do que uma entidade religiosa ou de adoração.

Cernunnos na Mitologia Celta

Cernunnos é uma figura central nas mitologias das tribos celtas da Europa antiga, especialmente nas regiões da Gália (hoje França e partes da Bélgica) e das Ilhas Britânicas. Ele é frequentemente descrito como um deus da natureza, fertilidade, animais e vida selvagem. Suas representações mais comuns o mostram com chifres de cervo e muitas vezes cercado de animais selvagens, simbolizando sua conexão com o reino animal e a natureza em geral.

Iconografia: Uma das representações mais famosas de Cernunnos é o "Caldeirão de Gundestrup", um artefato celta que mostra uma figura com chifres sentada, cercada de animais.

Funções: Cernunnos é frequentemente visto como o "Senhor dos Animais" ou o "Deus das Florestas", simbolizando a renovação da vida e a fertilidade, além de ser associado à abundância.

Conclusão

O Baphomet, na história, começou como uma acusação contra os Templários no início do século XIV, possivelmente como uma deturpação do nome Maomé ou como uma invenção política para justificar a destruição da ordem. A associação com a adoração de ídolos foi forjada sob tortura e usada como propaganda para desmantelar a ordem. A figura de Baphomet evoluiu no século XIX, especialmente na obra de Éliphas Lévi, que a reimaginou como um símbolo ocultista de dualidade. Posteriormente, Léo Taxil conectou essa figura à maçonaria em uma fraude que foi exposta, mas cujos efeitos perduram até hoje em teorias de conspiração.

Em resumo, o Baphomet tem origens políticas e religiosas, mas não foi uma deidade ou entidade de adoração dos Templários. A figura que conhecemos hoje é uma invenção esotérica posterior, sem base histórica nos eventos medievais originais.

Baphomet, como entidade, não é uma deidade antiga, mas uma figura que evoluiu a partir de distorções históricas dos Templários e foi reinterpretada no esoterismo moderno. Sua ligação com a maçonaria é uma criação de teorias conspiratórias, sem base factual. Historicamente, o Baphomet surgiu como um mito durante os processos dos Templários e foi remodelado no século XIX como um símbolo esotérico, não sendo associado originalmente a qualquer deus pagão específico. Autores como Peter Partner e Hugh Schonfield fornecem uma visão mais equilibrada e histórica sobre o surgimento e as transformações da figura de Baphomet..

Referências

- Autores Históricos e Imparciais Sobre o Baphomet e os Templários

Estudos sérios e imparciais sobre a figura de Baphomet geralmente se concentram mais na história da heresia e na simbologia esotérica do que em uma ligação concreta com a maçonaria ou cultos pagãos. Alguns autores e obras que discutem o tema de maneira mais histórica incluem:

Malcolm Barber, um historiador especializado nos Templários, em The Trial of the Templars (1978), explora os aspectos políticos e religiosos do processo, destacando o papel da tortura e da manipulação política nas acusações de heresia.

Alain Demurger, outro historiador especialista na Ordem dos Templários, em The Last Templar (2002), fornece uma visão abrangente do contexto e das consequências da perseguição dos Templários, rejeitando a ideia de que eles adoravam Baphomet ou qualquer outro ídolo.

Hugh J. Schonfield: Em The Essene Odyssey (1984), Schonfield discute a possibilidade de que "Baphomet" seja um código ou cifra, uma hipótese que sugere que o nome poderia ter raízes esotéricas mais profundas.

Peter Partner: Em The Murdered Magicians: The Templars and their Myth (1982), Partner oferece uma visão sobre como o mito de Baphomet surgiu durante o processo dos Templários e foi distorcido ao longo dos séculos.

Michael Baigent e Richard Leigh: Em The Temple and the Lodge (1989), os autores exploram a história dos Templários e seus mitos, incluindo as alegações de adoração ao Baphomet, colocando-os dentro de um contexto histórico.


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