Nesta data de grande importância onde homenageamos nossos professores e catedráticos compartilho este pequeno texto cujo faz parte de um módulo apresentado na Universidade Pablo Olavide Sevilla Espanã, o objetivo é formar uma matriz fundante e criar uma leitura crítica necessária à compreensão de técnicas de oratória e retórica habitual em nossos dias . E homenageia a data especial.
Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Protágoras foi um dos mais importantes sofistas.
Na Grécia Antiga, haviam professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram seus principais adversários teóricos, Platão e Aristóteles.
Eles eram chamados de sofistas, termo que originalmente significaria “sábios”, mas que adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, principalmente por conta das definições de Aristóteles e Platão. Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente mas não real”. Para ele, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.
O contexto histórico e sociopolítico é importante para que se compreenda o papel e o pensamento dos sofistas para a sociedade grega. Embora Anaxágoras tenha sido o filósofo oficial de Atenas na época do regime de Péricles, não havia um sistema público de ensino superior, então jovens que podiam pagar por instrução recorriam aos sofistas a fim de se prepararem para as dificuldades que enfrentariam na vida adulta. Uma delas, imposta pelo exercício da democracia, era a dificuldade de resolver divergências pelo diálogo tendo em vista um interesse comum. O termo “sofista” não corresponde, portanto, a uma escola filosófica e sim a uma prática. Mesmo assim, podemos elencar algumas caracterizações comuns aos sofistas:
Antilógica. Uma estratégia de ensino comum aos sofistas era ensinar os jovens a defenderem uma posição para, em seguida, defenderem seu oposto. Essa técnica argumentativa foi chamada de antilógica e foi criticada por Platão e Aristóteles por corromper os jovens com a prática da mentira. Historiadores contemporâneos, no entanto, consideram essa técnica como uma atividade característica do espírito democrático por respeitar a existência de opiniões diferentes (cf. CHAUÍ, Marilena).
Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.), Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródicos e Trasímaco. Vamos agora conhecer um dos mais importantes, Protágoras.
Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”
Um dos responsáveis para que Protágoras se tornasse um dos mais conhecidos sofistas foi Platão, que dedicou a ele uma obra, o que mostra que o filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras ao ponto de se dedicar a elaborar objeções. Além de ensinar a arte do debate aos jovens em suas muitas visitas a Atenas (lembre-se de que os sofistas eram professores itinerantes, isto é, não residiam em um lugar específico), foi nomeado por Péricles para redigir a constituição de uma colônia ateniense (cf. KENNY, Anthony).
No diálogo Teeteto, Platão traz um importante pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva e relativa, não objetiva e absoluta. Por exemplo, se uma pessoa está com febre, ela pensa que a temperatura do ambiente está baixa, mesmo que ela esteja em Fortaleza e os termômetros apontem 38 graus.
Como não há uma verdade objetiva a ser considerada, a verdade sempre seria relacionada aos indivíduos. Em relação à crença nos deuses (como sabemos, a sociedade grega era politeísta), o relativismo tem a consequência de que não há uma crença mais correta do que a outra, todas devem ser respeitadas, pois o homem não pode saber nada a respeito dos deuses, se existem ou como são. Quando diz isso, Protágoras se aproxima do agnosticismo. Em suas palavras, que chegaram a nós por Diogenes Laertios:
“No que diz respeito aos deuses, não posso ter a certeza de que existem ou não, ou de como eles são; pois entre nós e o conhecimento deles há muitos obstáculos, quer a dificuldade do assunto, quer a pouca duração da vida humana”.
Diogenes Laertios, ao criticar Protágoras, nota que sua obra foi queimada em praça pública por atenienses que acreditavam que ele corrompia a juventude e ironiza, dizendo que ele foi o primeiro homem a dizer que em relação a qualquer assunto há duas afirmações contraditórias. Depois, Platão objetou que se todas as crenças são verdadeiras, a crença de que nem todas as crenças são verdadeiras também é verdadeira.
A técnica argumentativa dos sofistas foi registrada por Protágoras em sua obra Antilogia. Para ele, era preciso aprender a argumentar pró e contra determinada posição, pois todas são verdadeiras. A antilógica era um bom recurso para se preparar para debates, pois ao se conhecer profundamente os principais argumentos contra e a favor de determinado assunto, é possível defender bem qualquer posição tomada sobre ele e objetar com eficácia os argumentos dos adversários.
Referências bibliográficas
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Editora Ática, 2000.
KENNY, Anthony. História Concisa da Filosofia Ocidental. Lisboa, Temas e Debates, 1999.
LAÊRTIOS; D. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução, introdução e notas: Mário da Gama Kury. 2ed. Brasília, editora Universidade de Brasília, 2008.
PLATÃO. Diálogos I : Teeteto (ou do conhecimento), Sofista (ou do ser), Protágoras (ou sofistas). Tradução e textos complementares: Edson Bini. Editora: EDIPRO. Bauru, 2007.
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