Em tempos ancestrais, repleto de mistério e os símbolos governavam a mente humana, surge a figura de Mitra, um herói divino venerado tanto na antiga Pérsia quanto em culturas como a Índia, no bramanismo. Mitra é muito mais que um deus comum. Ele é o "Sol Invicto", aquele que ilumina onde as sombras prevalecem. Sua jornada, marcada por coragem e sacrifícios, simboliza a eterna batalha entre o instinto primordial e a consciência humana.
Na antiga Pérsia, sua origem, é associada a Ahura Mazda, a divindade suprema do Zoroastrismo, e eventualmente se transforma em um deus soberano em várias culturas, culminando no Mitraísmo. Este culto, uma escola iniciática, formada guerreiros devotos de Mitra, reverenciavam-no como símbolo de força e luz.
Mitra e Jesus: Simbolismo e Sacrifício
Um dos aspectos mais fascinantes do Mitraísmo é a semelhança simbólica com o cristianismo. Mitra nasce de uma rocha à beira de um rio sagrado, sob a sombra de uma árvore sagrada, e é testemunhada por dois pastores, o que evoca uma narrativa cristã. Armado com uma faca e uma tocha ao nascer, Mitra já está simbolicamente associada à luta e à luz. Como Jesus, ele é visto como um salvador, alguém destinado a livrar o mundo do mal. Seu nascimento cercado de símbolos solares reflete sua condição de "Sol Invicto", o herói solar que ilumina o mundo.
Os pastores que testemunharam o nascimento de Mitra oferecem os frutos de suas colheitas, registrando-o como o salvador. Mitra, ainda nu, veste-se com folhas de figueira, uma ação que remete à narrativa do Éden, mas sem o conceito de pecado. Ao contrário, o ato de comer o fruto sagrado confere a ele forças para enfrentar as potências do mal.
É possível dizer ainda que após se alimentar e comer o fruto da árvore sagrada, Mitra absorve a luz do Sol e fica investido dos seus poderes. Isso simboliza a ação do elemento fogo sobre a alma humana.
A Luta de Mitra e o Touro Primordial
O elemento mais marcante no culto a Mitra é o sacrifício do touro primordial. Mitra, conhecido como o "Deus touróctone", aquele que enfrenta e sacrifica o touro selvagem. Esta alegoria representa a luta do homem contra a natureza, o domínio sobre as forças primordiais, e, ao mesmo tempo, a batalha interna contra os próprios instintos.
Após subjugar o touro, Mitra o carrega nas costas até uma caverna, onde o sacrifício deve ser consumado. Alguns estudiosos associaram essa cena à imagem de Jesus carregando a cruz, pois ambos representam o sacrifício redentor.
Na caverna, um corvo, mensageiro do Sol, traz o aviso de que chegou a hora de sacrifício. Em outra versão do mito, o touro escapa. Mitra, auxiliado por um cão, o persegue e faz o sacrifico.
Certo é que, com um golpe preciso no pescoço, Mitra derrama o sangue da fera, do qual emergem todas as plantas e ervas úteis à humanidade.
O sacrifício do touro tem um significado profundo: do seu sangue, nascem todas as plantas e ervas que cobrem a terra. Da espinha dorsal do touro brota o trigo, enquanto da uva, originada de seu sangue, vem o vinho. Ambos são elementos centrais nos rituais mitraicos, simbolizando a renovação e a fertilidade da terra. Do sêmen do touro, purificado pela Lua, surgem todos os animais que servem à humanidade.
Mitra, ao vencer essa batalha, torna-se o criador de todas as bênçãos da terra. Embora os espíritos malignos tentem corromper as dádivas produzidas pelo corpo do touro, Mitra prevalece, mantendo uma terra fértil e protegida contra o mal.
A Luta Contra o Mal e a Fertilidade da Terra
Apesar do sacrifício do touro gerar vida e abundância, forças malignas tentam envenenar as primícias que o corpo do touro se prodigalizar. Animais como serpentes, escorpiões e sapos simbolizam essas forças do mal. No entanto, Mitra, como criador e protetor, impede que o mal prevaleça, garantindo que a terra continue fértil e produtiva.
Dois outros personagens, Cautes e Cautópates, acompanham Mitra em seu mito. Eles seguram tochas acesas: Cautes aponta sua tocha para cima, simbolizando o sol nascente, enquanto Cautópates a segura para baixo, representando o sol poente. Juntos, eles expressam o ciclo solar e as estações do ano, uma metáfora para os ciclos da vida e da natureza.
O Significado Espiritual do Sacrifício
O sacrifício do touro simboliza a transformação da matéria primordial em algo útil e produtivo, uma metáfora para a jornada espiritual e emocional do ser humano. A luta de Mitra contra o touro é uma luta da humanidade para superar seus impulsos primitivos e alcançar um propósito superior. Essa batalha representa a transição do instinto bruto para a humanização, um passo crucial na evolução da consciência.
A tradição indiana cita a existência das Gunas, formas de movimento na manifestação. São elas: Tamas, a inércia; Rajas, o impulso; e Satwa, o equilíbrio, elevado a um ponto superior como um triângulo. Isto é, a busca pelo equilíbrio. A dualidade só pode ser superada com terceiro elemento.
Vale aqui lembrar o simbolismo do presépio que se monta no Natal. De um lado, o burrinho, que representa a inércia; do outro, o boi ou o touro, que representa o impulso descontrolado; e, lá em cima, na manjedoura (ponta do triângulo), o Cristo, que representa o equilíbrio, a serenidade. Paralelamente, seria a luta contra o touro é a busca por esse equilíbrio.
Elementos Culturais e Símbolos Universais
A figura do touro primordial não se limita ao Mitraísmo. Ela aparece em várias culturas antigas: na mitologia egípcia, o touro branco, representava o deus Ápis, que simboliza a fertilidade; na mitologia nórdica, a vaca primordial Audhumbla alimenta o primeiro ser divino; e, na mitologia hindu, a vaca sagrada representa a vida e o sustento.
A associação entre Mitra e elementos como pão e vinho remete a tradições que influenciaram a espiritualidade cristã. Essas conexões mostram similaridades entre diferentes sistemas de crenças.
A Relevância do Sol e a Superação Humana
Na mitologia mitraica, o Sol desempenha um papel central. Não é apenas uma fonte de luz e vida, mas também o símbolo máximo da energia suprema. Os antigos deuses solares, como Hórus, Apolo e Merodac, também lutaram contra monstros e estabeleceram civilizações, tal como Mitra. Hoje, os Cavaleiros do Sol (REAA) são chamados a enfrentar novos desafios, preservando e expandindo nossa civilização.
Para fazer comunhão com o todo poderoso Sol, Mitra se banqueteia da carne do touro, por meio de ajudantes que usam máscaras. E, por fim, Mitra realiza uma última ceia com os iniciados e depois embarca em sua carruagem e desaparece nos céus, de onde continuará a proteger a criação humana dos seus ferozes e terríveis adversários, os demônios “devas”.
A Caverna e a Jornada Interior
A caverna, onde a Mitra sacrifica o touro, simboliza o útero sagrado, o espaço de introspecção e renascimento, associado à mulher e ao espaço sagrado. Na caverna, o homem se reconecta com sua essência mais profunda, enfrentando seus medos e superando suas limitações. O sacrifício do touro é uma metáfora para a transformação necessária que permite a fertilidade e o sustento da humanidade, uma metáfora para a jornada de autodescobrimento e transcendência espiritual.
É dentro da caverna dela que Mitra transforma o touro em fonte de vida para toda a humanidade, refletindo o ciclo contínuo de morte e renascimento.
Mitra: Um Símbolo de Superação
A história de Mitra nos ensina que a batalha mais importante que enfrentamos é contra nossos próprios instintos e limitações. É uma luta para superarmos as sombras interiores e alcançarmos a luz da consciência. Mitra exorta seus iniciados que defendam a luz contra as trevas. Que pratiquem o bem − pois que o bem é a luz − e lutem conta o mal, que está nas trevas. A vida é uma eterna luta entre esses princípios
O Touro representa a matéria primordial, fecundada pelos raios do Sol, uma característica que se repete diariamente diante de nós. O Sol, além de dissipar as trevas da ignorância, é fonte de toda atividade na Terra. Embora não o adoramos, o reverenciamos como o símbolo mais elevado da Energia Suprema. As mitologias antigas apresentavam deuses solares como Hórus, Merodac, Indra, Apolo e Mitras, retratados como heróis que venciam monstros e fundavam civilizações. Hoje, os Cavaleiros do Sol têm o dever de combater novos monstros e preservar e desenvolver nossa civilização.
Portanto, Mitra nos ensina que a batalha mais importante que travamos é contra nossos próprios instintos e limitações. É uma jornada do ser humano para superar suas próprias sombras e alcançar a luz. Como disse o filósofo Carl Jung, “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”. E assim, seguimos a lição de Mitra, buscando despertar a consciência plena através da superação dos obstáculos internos e externos.
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