novembro 04, 2024

UM SANTO COM O NOME DE LÚCIFER? - Almir Sant’Anna Cruz


Certamente em virtude do sentido que se passou a dar ao nome, a própria Igreja Católica não cita nem divulga que existe um Santo por nome Lúcifer. Pelo menos nos primeiros 300 anos da era cristã, Lúcifer era um nome próprio, como qualquer outro, e não um sinônimo de Diabo, Satanás, como modernamente se entende. 

Enquanto Diabo vem do grego “diabolos” e significa “enganador” e Satanás vem do hebraico “satan” e do grego “satanas”, que significa “adversário”, Lúcifer, em latim, significa “portador da luz” e é associado à “Estrela da Manhã”, o planeta Vênus.

São Lúcifer ou São Lúcifer Calaritano ou ainda São Lúcifer de Cagliari era um bispo católico (morreu em 370-371) de Cagliari, na Sardenha - Itália, que se opunha ao “arianismo”, dourina pregada pelo Bispo Arius, que dizia que Jesus Cristo era uma “criatura de Deus” e não “o Próprio Deus”, doutrina essa que contestava a Santíssima Trindade.

Conquanto seja pouco conhecido e pouco citado, sua festa, no calendário da Igreja Católica, é no dia 20 de maio. Uma única capela é dedicada a São Lúcifer: fica na Catedral de Cagliari, onde estão os restos mortais da esposa do rei francês Luís XVIII, Maria Josefina Luisa de Savóia.

Há fortes indícios que a associação do nome Lúcifer a Satanás, por má-fé ou outra razão que desconhecemos, partiu da Igreja Católica! Vejamos: o Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, ex Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro em seu Dicionário Prático de Cultura Católica, Bíblica e Geral, não menciona São Lúcifer e assim se expressa no verbete Lúcifer: “(lat: portador de luz) 1. Nome dado pelos romanos à estrela d’alva, Vênus; 2. Nome dado a Satanás, príncipe dos demônios, quer porque em Isaías 14,12, é aplicado ao rei de Babilônia, como hostil a Deus, quer principalmente por ter sido antes um anjo de extraordinária beleza e glória, perdidas por seu pecado (Lucas 10,18)”.

Como citado pelo dicionarista católico, Isaías, em sua escritura contida no Antigo Testamento, no capítulo mencionado refere-se ao rei de Babilônia e, no versículo 12, segundo a tradução da Bíblia para o Português de Almeida (usada pelas Igrejas Protestantes e pela Maçonaria), compara-o à estrela da manhã (“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!”). Portanto, não se usa o vocábulo “Lúcifer’ nessa tradução. Já na tradução de Figueiredo (usada pela Igreja Católica) é que o texto substitui a estrela da manhã por Lúcifer (“Como caíste do céu, ó Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante? Como caíste por terra, tu, que ferias as nações?”).

Cita também a escritura de Lucas, contida no Novo Testamento, onde igualmente, na tradução de Almeida, não se usa a palavra Lúcifer e sim Satanás (Lc 10,18 “E disse-lhes: eu via Satanás, como um raio, cair do céu”). Interessante é que, ao contrário do que comentou o dicionarista, também na tradução de Figueiredo não é usado o nome Lúcifer e sim Satanás (“E o Senhor lhes respondeu: Eu via cair do céu a Satanás, como um relâmpago”).


Além dos textos citados pelo dicionarista católico, temos ainda em 2 Pedro 1:19 a substituição da “estrela alva” por “luzeiro”: Almeida: “Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça no coração de vocês”. Figueiredo: “E ainda temos mais firme a palavra dos profetas: à qual fazeis bem de atender, como uma tocha, que alumia em um lugar tenebroso, até que o dia esclareça e o luzeiro nasça em vossos corações”.

Todavia, o texto mais interessante encontra-se em Apocalipse 22:16 em que em ambas as traduções o próprio Jesus é a resplandecente estrela da manhã: Almeida: "Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã.". Figueiredo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos dar testemunho destas coisas nas Igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a estrela resplandescente da manhã”.

Então, se por um lado a tradução de Almeida (usada pelas religiões Protestantes e pela Maçonaria) nunca substitui a estrela da manhã por Lúcifer, a tradução de Figueiredo (usada pela Igreja Católica) substitui a estrela da manhã ora por Lúcifer ora por Jesus Cristo. 

Que coisa, né?

Na Maçonaria, a Estrela da Manhã, Estrela Vésper ou Estrela d’Alva, que é o planeta Vênus, o segundo planeta do nosso sistema solar e o mais próximo da Terra, está presente na Abóboda Celeste (teto do Templo), próximo da Lua (Primeiro Vigilante) e representa o Segundo Diácono.

Nenhum comentário:

Postar um comentário