DOS CONFLITOS HUMANOS
O conflito é uma presença constante em nossas vidas. Desde o princípio. O homem primitivo se viu na necessidade de caçar e pescar para suprir as necessidades de sua família. Daí, talvez, a origem do seu caráter bélico. O homem é a realidade mais profunda e mais complexa que se conhece no mundo natural. Por isso, oferece diversas leituras sobre a sua totalidade.
Vivemos num mundo de conflitos que afligem todos nós, seja qual for nossa posição econômica, cultural, raça, gênero ou idade. Uma elevadíssima quantidade de homens e mulheres se veem atormentados por grandes lutas emocionais, que lhes roubam a paz, fazendo-os viver num clima de apreensão e ansiedade.
Na verdade, os elementos perturbadores da felicidade – a dor, a angústia, a ansiedade, o sentimento de culpa, o stress, o medo, a ira, a inveja e a vaidade – são apenas efeitos de uma causa comum, primária e básica. A grande maioria dos conflitos emerge do egoísmo e da ânsia de possuir cada vez mais. Enquanto não for vencida essa ânsia, não cessarão os conflitos. Quando finalmente essa luta chegar ao fim, emergirá a natureza verdadeira e divina que consagrará com sua coroa cintilante a fronte do ser triunfante e eterno. E assim, como acontece nas enfermidades físicas, também neste complicado terreno é preciso investigarmos a origem do mal, para que possamos tratá-lo.
Uma outra fonte de conflito entre as pessoas está na resposta que damos ao que nos acontece. Se alguém é agredido verbalmente e responde da mesma forma, pronto. Está estabelecido o conflito. A partir daí, ele só vai crescer e gerar desentendimento, que pode vir a se tornar eterno. No entanto, se o agredido permanece em silêncio, ou se responde de forma equilibrada, o conflito não se instala porque não cria atrito nem encontra ambiente propício para sua disseminação.
Heráclito (535-475 a.C.), filósofo pré-socrático considerado o pai da dialética, notabilizou-se por enxergar no conflito entre os opostos o nascedouro da concórdia, da harmonia, afirmando que os contrários ocupam perfeitamente o mesmo espaço simultaneamente, como o início e o final de uma esfera. “Polemos pater panton”, “o conflito é o pai de todas as coisas”, é uma frase dele que traduz bem esse pensamento. Mas, no caso descrito por ele, a discussão tem sempre um enfoque de respeito entre os oponentes, porque a dialética é a busca do consenso.
Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, da oposição entre os contrários. Para Heráclito, a dialética pode ser exterior – um raciocínio de dentro para fora – ou imanente do objeto, quando se foca na observação atenta do ser.
Heráclito entende o processo dialético como um princípio. Essa ideia permite que o ser seja uno, ao mesmo tempo em que se encontra mergulhado nas constantes mutações do contexto em que vive. Ele ainda afirmava que “a única coisa imutável no universo é a mudança” e que “quem não sabe escutar não sabe falar”, significando que a oposição dos contrários seja efetuada com equilíbrio e harmonia.
Também acredito que esse é o melhor caminho a ser seguido.
Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.
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