A vida, que é uma escola sem sala de aula e nos proporciona um aprendizado constante desde que estejamos atentos e interessados, vai nos surpreendendo a cada momento com ensinamentos diferentes.
Assim, cheguei a conhecer e aprender o que realmente significa escutar. O fundamental para isso, e também para tudo, é estar presente, consciente e atento.
A escutatória, termo criado pelo professor Rubem Alves, é a prática que engloba os componentes dessa arte verdadeira de aprendizado e é mais importante do que a oratória. Chega a ser uma ciência, que exige dedicação verdadeira para ouvir, compreender e melhorar a nossa comunicação.
Escutar o outro é uma chance imperdível de se conhecer melhor, crescer e amadurecer. Escute mais. Ouvir é a mais eficiente maneira de construir um novo mundo. Exercite a escutatória, como ensinava o professor Rubem Alves: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado um curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil”.
Eu sei bem o que é isso. Durante grande parte da minha vida eu não tinha paciência para ouvir, o que naturalmente, me causou muitos dissabores. Até que a ficha caiu e aprendi como é essencial ouvir. “Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…” Rubem Alves.
Então, comecei a desenvolver a escuta ativa, que é a habilidade de ouvir com atenção plena, buscando compreender tanto o significado do que está sendo dito quanto a intenção de quem fala. A escuta ativa é uma habilidade essencial não só no campo profissional, mas também no pessoal, pois contribui para que se desenvolva uma comunicação assertiva e melhore nossos relacionamentos.
Além disso, ao escutar ativamente, demonstramos que estamos valorizando a outra pessoa e evitamos conflitos, na medida em que nos concentramos nos fatos apresentados, não em divagações da mente durante a conversa.
O mundo, hoje, mais do que nunca, carece de uma comunicação eficaz, apesar da abundância de comunicação disponível. A falta de diálogo é um sintoma claro dos problemas enfrentados por todos.
Outro ponto importante é a comunicação não-verbal, mais um aprendizado que deve merecer atenção de quem deseja se comunicar de forma eficiente. Segundo dados na internet, 65% da nossa comunicação é não-verbal. Em outras palavras, gestos, expressões e posicionamento do corpo falam muito mais do que as palavras.
Falas muito rápidas podem indicar ansiedade ou nervosismo, por exemplo. Já falas entrecortadas podem sugerir dificuldade em escolher as palavras.
Todos esses sinais podem dar dicas importantes de como dialogar com outras pessoas, e mais: como desenvolver empatia, uma das habilidades mais buscadas em gestores.
Outras dicas:
Faça perguntas abertas. Mantenha o contato visual, essencial para estabelecer uma relação de confiança com a outra pessoa. Além disso, demonstre que você valoriza o que está sendo dito. Caso perceba que a pessoa fica desconfortável com esse contato direto, use a regra do 70/30. Isto é, 70% do tempo mantendo o contato visual e 30% desviando o olhar.
Não julgue. Um dos atributos mais difíceis da escuta ativa é ouvir sem fazer julgamento. Isso significa ater-se aos fatos e buscar compreender o que a pessoa entende por certo e errado.
Evite distrações no momento do diálogo. Esse é o primeiro passo para praticar a escuta ativa. Para isso, é preciso deixar de lado itens como celular, redes sociais, e-mails, conversas paralelas e telefonemas, para que se consiga realmente ter foco no interlocutor, fazendo com que ele se sinta seguro e confie durante o processo de comunicação.
Não seja seletivo ao ouvir o que o outro tem a dizer. É necessário que consiga prestar atenção e se dedicar a todo o discurso, garantindo que as informações sejam completamente absorvidas.
Dê ao seu interlocutor o tempo necessário para a comunicação. É irritante e desrespeitoso concluir os pensamentos da pessoa antes que ela finalize seu discurso. Dê a ela todo o tempo necessário para que apresente as informações e finalize o raciocínio. Eu era mestre em não ouvir até o fim.
Ouça e observe com atenção. A comunicação oral é a base da escuta ativa. No entanto, é preciso analisar também a linguagem não verbal, tendo o cuidado de avaliar como o corpo do outro se comporta durante o diálogo e como ele reage ao que está sendo dito. A postura, o tom de voz, expressões e gestos podem ser considerados.
Deixe seu interlocutor à vontade. Um detalhe fundamental para garantir uma comunicação efetiva é garantir que a pessoa esteja à vontade durante toda a conversa. Para ajudar, é preciso demonstrar interesse pelo que está sendo dito para mostrar que se está, de fato, prestando atenção.
Faça perguntas. Caso você seja o ouvinte, é interessante realizar perguntas durante o diálogo para coletar ainda mais informações, estimulando uma conversa mais intensa e profunda.
Coloque-se no lugar do outro. A empatia é fundamental no processo de escuta ativa. Lembre-se de que cada pessoa tem uma vivência e um background diferente, então, temos que tentar ver as coisas por essa outra perspectiva.
Por fim, o professor Rubem Alves tem razão: a escutatória chega a ser uma ciência, cuja aplicação faz a diferença em benefício de todos.
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