1. Introdução:
Há uma concepção errada em afirmar que um Templo Maçônico (ou sala maçônica, massonic room, massonic hall) seja uma cópia do Templo de Salomão. Nada mais diferente. No Templo de Salomão não havia cadeiras, nem decorações. Se o Oriente de um Templo Maçônico fosse cópia do Santos dos Santos (Sancta Sanctorum), no Templo Maçônico não haveria altar (ou pedestal), nem cadeiras ou tronos; haveria sim a Arca da Aliança e era um local onde ninguém poderia entrar, exceto um sacerdote uma vez por ano. A descrição do Templo de Salomão está no livro de I Reis, capítulos 5, 6 e 7 e no livro II Crônicas, capítulos 3 e 4. Portanto um Templo Maçônico tem pouco a ver com o Templo de Salomão. Diz-se que o Venerável Mestre (ou Mestre da Loja) ocupa o trono do Rei Salomão porque o Rei Salomão simboliza a sabedoria e o VM, também, simboliza a sabedoria.
Na realidade um Templo Maçônico tem mais semelhança ou mesmo talvez tenha origem, provém do Parlamento Britânico. Como? Por que? Este é o objetivo deste ensaio.
2. O Templo Maçônico:
Um Templo Maçônico ou sala maçônica é, na Maçonaria, o local onde se encontra, trabalha e funciona as sessões de uma Loja Maçônica, ou seja, é o espaço ritualístico de uma sessão maçônica.
Um
parêntesis sobre a palavra “templo”. Todos os termos de origem religiosa, na
Maçonaria, tiveram origem entre os escoceses e irlandeses que praticaram a
Maçonaria em França. São termos de origem católica: templo, rito, liturgia,
catecismo, balaústre, altar, etc. Estes termos não são usados, de maneira
geral, na Maçonaria anglo saxônica. Os termos usados são: templo – masonic room, masonic hall; rito – craft, work; liturgia – work, service; catecismo - preleções, lectures; balaústre – não existe porque
o Oriente está no mesmo plano que o Ocidente; altar – pedestal, etc. No Reino Unido, o termo templo é usado apenas para
grandes salas de sessão maçônica. O Grande Templo da Grande Loja Unida da
Inglaterra, em Londres, tem a capacidade de acomodar 1.600 pessoas sentadas.
Hoje, usa-se a palavra templo de maneira mais universal, embora muitos propõem
o uso de “salas maçônicas” (masonic room)
para não confundir com templos destinados ao ofício religioso, uma vez que
Maçonaria não é religião. Há, também, os que confundem “Templo Maçônico” com
“Loja Maçônica” e isto é um erro. Porém, para efeito deste ensaio, vamos utilizar
a palavra “templo” como sinônimo de sala maçônica, masonic hall (inglês), der
Tempel (alemão), temple (francês),
templo (espanhol) e tempio (italiano).
A concepção, disposição e decoração de um Templo Maçônico obedecem regras simbólicas precisas, variando conforme o rito maçônico e graus maçônicos. Porém, a concepção estética é da escolha da Loja, podendo ser clássica ou moderna. Há uma relação filosófica entre o Templo Maçônico e o Templo de Salomão, porém esta relação não é física ou estética. A relação filosófica está descrita nos textos bíblicos que descrevem o Templo de Salomão. A relação filosófica do Templo de Salomão foi explorada em ensaio anterior (Conceição & Lima, 2014). Mas a relação física é mais próxima ao Parlamento Britânico.
2.
Fig. 1 – Templo maçônico
da Loja Coeurs-Unis (Corações
Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.
Nos
primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas
se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou
tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão
maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e
desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e
numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura
de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico.
O
primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França.
Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de
templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas
no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões
maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.
Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717. public domain
Com o
crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros
foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam
(e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e
benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em
cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para
grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que
foram alugados para várias Lojas.
A
década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em
1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era
membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes
Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio
(Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple
(Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares
sentados.
A
grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial
viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70
muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos
EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos
comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são)
alugados para concertos e atividades artísticas.
Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue,
Dayton, Ohio, USA.
Foto de 2009. public domain
Fig. 4 – Detroit Masonic
Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.
Maquete de 1919, arquivo Detroit
Publishing Company Collection.
Fig. 5 - Detroit Masonic
Temple, foto de 2015.
Fotos,
fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple
podem ser vistas em https://www.themasonic.com/
(acessado em 1.set.2019)
Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem
em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala
dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos
banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários
templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm
também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.
Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul. public domain.
Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/
(acessado em 1.set.2019)
3. Parlamento
Britânico:
O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é
o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios
ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre
todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O
Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano,
atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no
Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House
of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House
of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no
Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de
Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os
demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os
ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O
governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso
emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.
Fig. 7 – Foto da Câmara dos Comuns, antes de sua destruição
durante a Segunda Grande Guerra. Public domain
A Câmara dos Lords é composta por dois
tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords
Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os
Lords Temporais (Lords Temporal),
consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados)
nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza
herdados). Conta atualmente com 760 membros.
A Câmara dos Comuns tem 650 membros
eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe
o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver
maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a
oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível,
convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo,
incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos
comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no
Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig.
7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.
Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte
de Westminster. Foto de 2005. Public domain
O Parlamento do Reino Unido foi formado
em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a
independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do
Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá,
Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos
Parlamentos” (Mother of Parliaments).
O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro
Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado
Britânico e da Igreja Anglicana.
Interessante observar que no Reino
Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo
tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John
Locke[2], a ideia da separação da Igreja e do Estado,
adotado por muitos países, incluindo Brasil.
A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma
câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma
Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos
Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em
2009.
O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação
de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca,
por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que
não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar
honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos
são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de
ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit”
(British Exit),
a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro
Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro
Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na
Câmara dos Comuns.
Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de
maio de 2010.
(Contains
public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).
A Câmara dos Lordes é formalmente
denominada “The Right Honourable The
Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes
Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os
Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes
têm diminuído desde 1911. A Câmara ainda
atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de
lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto
mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política.
A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de
perguntas aos ministros do governo.
Sobre os Lordes Espirituais há fatos
interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no
Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os
Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de
Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de
Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais
graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de
vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é
que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de
Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na
Câmara dos Comuns é bem menor.
Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain
A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um
evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos
Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou
Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de
comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do
Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino
Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no
jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do
Parlamento.
Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara
dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936. public domain
Quando
Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro)
para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos
Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a
cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher
of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os
Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa
o black rod ou bastão negro
(semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica,
mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem
dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher:
Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the
Black Rod. Com a aproximação da Lady
Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos
Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua
independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos
Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os
membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando
na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então,
admitidos.
O monarca lê um discurso, conhecido como o
Discurso do Trono (Speech from the Throne),
que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a
agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o
apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca
sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso
Discurso de Sua Magestade” (Address in
Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera
um projeto de lei pro-forma para
simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca. Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é
chamado “Select Vestries Bill” (algo
como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara
dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora
da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para
fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a
solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos
os legislativos da Commonwealth of
Nations.
Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel
reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do
Parlamento. Foto de 1885 Cornell University
Library. Dominio público
As duas Câmaras do Parlamento Britânico são
presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa
(Speaker of the House) e o Presidente
da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord
Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser
ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman
of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente
(First Deputy Chairman) e o Segundo
Vice-Presidente (Second Deputy Chairman),
os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero”
refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee
of Ways and Means) um órgão que não existe mais.
O Presidente da Câmara dos Comuns deve
ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota,
exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota
junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício
hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords
será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.
Ambas as Casas conduzem seus debates em
público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às
sessões.
Desde 1999, formou-se o Parlamento
Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres,
valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem
entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no
Parlamento Escocês.
Uma lei para ser aprovada, passa por
vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas
Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela
real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a
aprova, com a chancela dita em francês: La
Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca
executada, da Rainha dizer: “La Reyne
s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha
chegará a um acordo).
Cornell University Library
Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de
2011.
(This file is licensed under the United
Kingdom Open Government Licence v.3)
Os membros do Parlamento britânico têm
privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de
expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares
dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer
tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os
parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo
parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina
ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os
parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar
assistentes ou assessores, passagens, etc.
Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes.
Foto de 2013. Pub dom
4. Considerações Finais:
O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o
Templo de
Salomão. Porém, a relação estética e física é com
o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações
com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo
de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A
Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara
só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração.
Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma
sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam
textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda
de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar.
Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é
levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele,
os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares
trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o
parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são
proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a
coxa direita, comandado pelo Speaker,
como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são
permitidas manifestações orais. O Speaker
controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.
Fig.
15 – Câmara dos Comuns.
A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento
é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas
atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da
Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma
curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino
nacional inglês “God Save The Queen“
(Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha,
pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um
parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$
33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de
100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais
nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo
de ajuda.
(1) –
linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.
(2) – cor
verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é
usado vermelho.
(3) –
bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.
(4) –
caixas onde se guardam textos religiosos.
Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit.
Fonte: Folha de São Paulo.
Fig. 16 – Uma sessão da
Câmara dos Comuns.
Fig. 17 – Câmara dos Lordes.
Finalmente, observe que
um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito
Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o
Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e
autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na
Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft),
nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as
autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º
Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes
corresponde ao Trabalho de Emulação.
Fig. 18 – Templo Maçônico.
The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do
conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660,
em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a
Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas
britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito
influiu na The Royal Society durante
todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o
lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês,
militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei
Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também
maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord
Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve
uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois
reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A
Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II
reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.
Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a
Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em
15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do
título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era
dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio
de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The
Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do
Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.
Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e
norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados.
Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas.
Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente
os membros de The Royal Society passaram
a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter
para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os
relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao
balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como
escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e
outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal
Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle
(1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12
fundadores que não era maçom),
conhecido como o inventor da Lei
de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a
chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a
influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência
durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e
permaneceu por mais de 50 anos.
O
termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa,
reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas
Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era
constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico.
Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar
a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.
A
Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3
autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes),
não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria
britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver
plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em
Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas
e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de
“companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de
“companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que
levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The
Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um
membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow
of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da
Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções.
O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns
(Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do
Templo Maçônico (Fig. 18).
Sobre
a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico,
astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703
a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College,
uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da
Maçonaria
Em
1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo
Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a
Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente
(até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki,
nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um
biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da
Universidade de Cambridge.
Finalizando,
um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com
o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.
Agradeço a colaboração do Ir.
Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285,
Florianópolis,
BIBLIOGRAFIA:
- Arnold, G. “A
“Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.
http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Beyer, T.R. “A Filosofia
de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São
Paulo: Lua de Papel, 2010.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.
Celso de. “Arte Real.
Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.
- Churchill, W.S. “Uma
História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira: Univercidade, 2009.
- Churton, T. “O Mago da
Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,
Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras,
2008.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões
Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da
Ilha, 2014.
- DaCosta Andrade, E.N. “A
Brief History of the Royal Society”. London: The Royal
Society, 1960
- Dawkins, P. “New Atlantis”.
The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,
2018.
https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Directgov. “State
Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services
all in One Place. Londres, 2010.
https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439
Acesso em 30.mai.2019.
- Hagger, N. “A História
Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas
na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo:
Cultrix, 2010.
- Houais, A. “Dicionário
Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.
Objetiva, 2009.
- Lomas, R. “A Maçonaria e o
Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São
Paulo: Madras, 2007.
- Parliament. “Black Rod”.
The Parliament, UK. Londres, s/d
https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/
Acessado em 14.mai.2019.
- Russell, B. “História do
Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
- Spoladore, A. “Arqueologia
e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição
132, pag. 4-10, maio, 2019.
- Viega Alves, J.R. “O
Templo de Salomão”. E estudos afins.
Londrina: A Trolha, 2016.
BIBLIOGRAFIA
COMENTADA:
- O livro de Churchill (Churchill,
2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente,
da Inglaterra.
- O site (Directgov, 2010) é muito
interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento
Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do
Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de
Abertura do Parlamento foi filmada.
- O livro (Hagger, 2010) é fundamental
para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na
História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor,
historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde
pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente
Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de
Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio
(até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli,
de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A
História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.
- Robert Lomas é um autor
controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas
referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor
britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período
neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na
Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de
Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas
cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de
Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da
Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até
indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento
de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram:
Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de
pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações
bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The
Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern
Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.
- Finalmente o livro (Russell, 2001) é
outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand
Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático,
historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês),
laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço
britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é
incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow
of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu
em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de
Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado
histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista.
Formou-se em matemática no Trinity
College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se
em economia na London School of Economics.
Foi escolhido Fellow of The Royal Society
(FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi
publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller,
e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume
consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova
Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com
maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo
(Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da
filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais
tendências do pensamento na primeira metade do século XX.
[1] Fernando Antonio
Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em
Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos
heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi
maçom.
[2] John Locke, médico e
filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em
High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância
política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.
Fig. 1 – Templo maçônico
da Loja Coeurs-Unis (Corações
Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.
Nos
primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas
se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou
tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão
maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e
desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e
numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura
de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico.
O
primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França.
Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de
templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas
no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões
maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.
Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço
a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em
1717. public domain
Com o
crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros
foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam
(e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e
benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em
cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para
grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que
foram alugados para várias Lojas.
A
década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em
1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era
membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes
Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio
(Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple
(Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares
sentados.
A
grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial
viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70
muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos
EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos
comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são)
alugados para concertos e atividades artísticas.
Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue,
Dayton, Ohio, USA.
Foto de 2009. public domain
Fig. 4 – Detroit Masonic
Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.
Maquete de 1919, arquivo Detroit
Publishing Company Collection.
Fig. 5 - Detroit Masonic
Temple, foto de 2015.
Fotos,
fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple
podem ser vistas em https://www.themasonic.com/
(acessado em 1.set.2019)
Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem
em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala
dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos
banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários
templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm
também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.
Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul. public domain.
Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/
(acessado em 1.set.2019)
3. Parlamento
Britânico:
O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é
o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios
ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre
todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O
Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano,
atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no
Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House
of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House
of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no
Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de
Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os
demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os
ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O
governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso
emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.
Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição
durante a Segunda Grande Guerra. Public domain
A Câmara dos Lords é composta por dois
tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords
Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os
Lords Temporais (Lords Temporal),
consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados)
nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza
herdados). Conta atualmente com 760 membros.
A Câmara dos Comuns tem 650 membros
eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe
o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver
maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a
oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível,
convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo,
incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos
comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no
Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig.
7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.
Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte
de Westminster. Foto de 2005. Public domain
O Parlamento do Reino Unido foi formado
em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a
independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do
Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá,
Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos
Parlamentos” (Mother of Parliaments).
O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro
Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado
Britânico e da Igreja Anglicana.
Interessante observar que no Reino
Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo
tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John
Locke[2], a ideia da separação da Igreja e do Estado,
adotado por muitos países, incluindo Brasil.
A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma
câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma
Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos
Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em
2009.
O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação
de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca,
por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que
não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar
honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos
são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de
ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit”
(British Exit),
a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro
Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro
Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na
Câmara dos Comuns.
Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de
maio de 2010.
(Contains
public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).
A Câmara dos Lordes é formalmente
denominada “The Right Honourable The
Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes
Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os
Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes
têm diminuído desde 1911. A Câmara ainda
atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de
lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto
mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política.
A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de
perguntas aos ministros do governo.
Sobre os Lordes Espirituais há fatos
interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no
Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os
Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de
Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de
Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais
graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de
vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é
que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de
Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na
Câmara dos Comuns é bem menor.
Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain
A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um
evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos
Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou
Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de
comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do
Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino
Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no
jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do
Parlamento.
Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara
dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936. public domain
Quando
Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro)
para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos
Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a
cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher
of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os
Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa
o black rod ou bastão negro
(semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica,
mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem
dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher:
Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the
Black Rod. Com a aproximação da Lady
Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos
Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua
independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos
Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os
membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando
na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então,
admitidos.
O monarca lê um discurso, conhecido como o
Discurso do Trono (Speech from the Throne),
que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a
agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o
apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca
sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso
Discurso de Sua Magestade” (Address in
Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera
um projeto de lei pro-forma para
simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca. Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é
chamado “Select Vestries Bill” (algo
como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara
dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora
da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para
fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a
solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos
os legislativos da Commonwealth of
Nations.
Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel
reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do
Parlamento. Foto de 1885 Cornell University
Library. Dominio público
As duas Câmaras do Parlamento Britânico são
presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa
(Speaker of the House) e o Presidente
da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord
Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser
ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman
of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente
(First Deputy Chairman) e o Segundo
Vice-Presidente (Second Deputy Chairman),
os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero”
refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee
of Ways and Means) um órgão que não existe mais.
O Presidente da Câmara dos Comuns deve
ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota,
exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota
junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício
hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords
será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.
Ambas as Casas conduzem seus debates em
público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às
sessões.
Desde 1999, formou-se o Parlamento
Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres,
valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem
entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no
Parlamento Escocês.
Uma lei para ser aprovada, passa por
vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas
Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela
real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a
aprova, com a chancela dita em francês: La
Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca
executada, da Rainha dizer: “La Reyne
s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha
chegará a um acordo).
Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de
2011.
(This file is licensed under the United
Kingdom Open Government Licence v.3)
Os membros do Parlamento britânico têm
privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de
expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares
dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer
tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os
parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo
parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina
ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os
parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar
assistentes ou assessores, passagens, etc.
Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes.
Foto de 2013. Pub dom
4. Considerações Finais:
O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o
Templo de
Salomão. Porém, a relação estética e física é com
o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações
com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo
de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A
Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara
só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração.
Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma
sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam
textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda
de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar.
Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é
levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele,
os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares
trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o
parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são
proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a
coxa direita, comandado pelo Speaker,
como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são
permitidas manifestações orais. O Speaker
controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.
Fig.
15 – Câmara dos Comuns.
A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento
é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas
atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da
Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma
curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino
nacional inglês “God Save The Queen“
(Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha,
pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um
parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$
33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de
100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais
nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo
de ajuda.
(1) –
linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.
(2) – cor
verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é
usado vermelho.
(3) –
bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.
(4) –
caixas onde se guardam textos religiosos.
Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit.
Fonte: Folha de São Paulo.
Fig. 16 – Uma sessão da
Câmara dos Comuns.
Fig. 17 – Câmara dos Lordes.
Finalmente, observe que
um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito
Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o
Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e
autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na
Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft),
nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as
autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º
Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes
corresponde ao Trabalho de Emulação.
Fig. 18 – Templo Maçônico.
The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do
conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660,
em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a
Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas
britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito
influiu na The Royal Society durante
todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o
lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês,
militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei
Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também
maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord
Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve
uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois
reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A
Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II
reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.
Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a
Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em
15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do
título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era
dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio
de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The
Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do
Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.
Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e
norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados.
Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas.
Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente
os membros de The Royal Society passaram
a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter
para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os
relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao
balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como
escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e
outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal
Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle
(1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12
fundadores que não era maçom),
conhecido como o inventor da Lei
de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a
chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a
influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência
durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e
permaneceu por mais de 50 anos.
O
termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa,
reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas
Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era
constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico.
Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar
a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.
A
Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3
autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes),
não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria
britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver
plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em
Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas
e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de
“companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de
“companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que
levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The
Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um
membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow
of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da
Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções.
O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns
(Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do
Templo Maçônico (Fig. 18).
Sobre
a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico,
astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703
a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College,
uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da
Maçonaria
Em
1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo
Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a
Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente
(até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki,
nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um
biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da
Universidade de Cambridge.
Finalizando,
um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com
o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.
Agradeço a colaboração do Ir.
Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285,
Florianópolis,
BIBLIOGRAFIA:
- Arnold, G. “A
“Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.
http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Beyer, T.R. “A Filosofia
de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São
Paulo: Lua de Papel, 2010.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.
Celso de. “Arte Real.
Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.
- Churchill, W.S. “Uma
História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira: Univercidade, 2009.
- Churton, T. “O Mago da
Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,
Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras,
2008.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões
Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da
Ilha, 2014.
- DaCosta Andrade, E.N. “A
Brief History of the Royal Society”. London: The Royal
Society, 1960
- Dawkins, P. “New Atlantis”.
The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,
2018.
https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Directgov. “State
Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services
all in One Place. Londres, 2010.
https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439
Acesso em 30.mai.2019.
- Hagger, N. “A História
Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas
na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo:
Cultrix, 2010.
- Houais, A. “Dicionário
Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.
Objetiva, 2009.
- Lomas, R. “A Maçonaria e o
Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São
Paulo: Madras, 2007.
- Parliament. “Black Rod”.
The Parliament, UK. Londres, s/d
https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/
Acessado em 14.mai.2019.
- Russell, B. “História do
Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
- Spoladore, A. “Arqueologia
e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição
132, pag. 4-10, maio, 2019.
- Viega Alves, J.R. “O
Templo de Salomão”. E estudos afins.
Londrina: A Trolha, 2016.
BIBLIOGRAFIA
COMENTADA:
- O livro de Churchill (Churchill,
2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente,
da Inglaterra.
- O site (Directgov, 2010) é muito
interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento
Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do
Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de
Abertura do Parlamento foi filmada.
- O livro (Hagger, 2010) é fundamental
para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na
História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor,
historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde
pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente
Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de
Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio
(até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli,
de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A
História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.
- Robert Lomas é um autor
controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas
referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor
britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período
neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na
Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de
Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas
cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de
Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da
Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até
indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento
de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram:
Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de
pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações
bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The
Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern
Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.
- Finalmente o livro (Russell, 2001) é
outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand
Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático,
historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês),
laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço
britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é
incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow
of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu
em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de
Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado
histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista.
Formou-se em matemática no Trinity
College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se
em economia na London School of Economics.
Foi escolhido Fellow of The Royal Society
(FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi
publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller,
e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume
consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova
Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com
maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo
(Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da
filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais
tendências do pensamento na primeira metade do século XX.
[1] Fernando Antonio
Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em
Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos
heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi
maçom.
[2] John Locke, médico e
filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em
High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância
política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.
Fig. 1 – Templo maçônico
da Loja Coeurs-Unis (Corações
Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.
Nos
primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas
se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou
tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão
maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e
desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e
numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura
de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico.
O
primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França.
Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de
templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas
no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões
maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.
Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço
a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em
1717. public domain
Com o
crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros
foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam
(e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e
benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em
cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para
grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que
foram alugados para várias Lojas.
A
década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em
1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era
membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes
Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio
(Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple
(Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares
sentados.
A
grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial
viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70
muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos
EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos
comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são)
alugados para concertos e atividades artísticas.
Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue,
Dayton, Ohio, USA.
Foto de 2009. public domain
Fig. 4 – Detroit Masonic
Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.
Maquete de 1919, arquivo Detroit
Publishing Company Collection.
Fig. 5 - Detroit Masonic
Temple, foto de 2015.
Fotos,
fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple
podem ser vistas em https://www.themasonic.com/
(acessado em 1.set.2019)
Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem
em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala
dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos
banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários
templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm
também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.
Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul. public domain.
Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/
(acessado em 1.set.2019)
3. Parlamento
Britânico:
O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é
o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios
ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre
todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O
Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano,
atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no
Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House
of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House
of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no
Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de
Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os
demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os
ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O
governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso
emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.
Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição
durante a Segunda Grande Guerra. Public domain
A Câmara dos Lords é composta por dois
tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords
Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os
Lords Temporais (Lords Temporal),
consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados)
nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza
herdados). Conta atualmente com 760 membros.
A Câmara dos Comuns tem 650 membros
eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe
o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver
maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a
oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível,
convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo,
incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos
comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no
Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig.
7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.
Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte
de Westminster. Foto de 2005. Public domain
O Parlamento do Reino Unido foi formado
em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a
independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do
Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá,
Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos
Parlamentos” (Mother of Parliaments).
O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro
Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado
Britânico e da Igreja Anglicana.
Interessante observar que no Reino
Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo
tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John
Locke[2], a ideia da separação da Igreja e do Estado,
adotado por muitos países, incluindo Brasil.
A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma
câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma
Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos
Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em
2009.
O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação
de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca,
por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que
não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar
honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos
são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de
ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit”
(British Exit),
a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro
Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro
Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na
Câmara dos Comuns.
Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de
maio de 2010.
(Contains
public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).
A Câmara dos Lordes é formalmente
denominada “The Right Honourable The
Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes
Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os
Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes
têm diminuído desde 1911. A Câmara ainda
atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de
lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto
mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política.
A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de
perguntas aos ministros do governo.
Sobre os Lordes Espirituais há fatos
interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no
Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os
Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de
Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de
Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais
graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de
vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é
que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de
Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na
Câmara dos Comuns é bem menor.
Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain
A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um
evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos
Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou
Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de
comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do
Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino
Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no
jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do
Parlamento.
Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara
dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936. public domain
Quando
Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro)
para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos
Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a
cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher
of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os
Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa
o black rod ou bastão negro
(semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica,
mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem
dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher:
Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the
Black Rod. Com a aproximação da Lady
Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos
Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua
independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos
Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os
membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando
na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então,
admitidos.
O monarca lê um discurso, conhecido como o
Discurso do Trono (Speech from the Throne),
que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a
agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o
apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca
sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso
Discurso de Sua Magestade” (Address in
Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera
um projeto de lei pro-forma para
simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca. Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é
chamado “Select Vestries Bill” (algo
como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara
dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora
da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para
fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a
solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos
os legislativos da Commonwealth of
Nations.
Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel
reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do
Parlamento. Foto de 1885 Cornell University
Library. Dominio público
As duas Câmaras do Parlamento Britânico são
presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa
(Speaker of the House) e o Presidente
da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord
Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser
ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman
of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente
(First Deputy Chairman) e o Segundo
Vice-Presidente (Second Deputy Chairman),
os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero”
refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee
of Ways and Means) um órgão que não existe mais.
O Presidente da Câmara dos Comuns deve
ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota,
exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota
junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício
hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords
será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.
Ambas as Casas conduzem seus debates em
público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às
sessões.
Desde 1999, formou-se o Parlamento
Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres,
valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem
entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no
Parlamento Escocês.
Uma lei para ser aprovada, passa por
vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas
Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela
real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a
aprova, com a chancela dita em francês: La
Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca
executada, da Rainha dizer: “La Reyne
s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha
chegará a um acordo).
Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de
2011.
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Kingdom Open Government Licence v.3)
Os membros do Parlamento britânico têm
privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de
expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares
dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer
tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os
parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo
parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina
ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os
parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar
assistentes ou assessores, passagens, etc.
Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes.
Foto de 2013. Pub dom
4. Considerações Finais:
O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o
Templo de
Salomão. Porém, a relação estética e física é com
o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações
com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo
de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A
Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara
só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração.
Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma
sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam
textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda
de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar.
Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é
levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele,
os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares
trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o
parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são
proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a
coxa direita, comandado pelo Speaker,
como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são
permitidas manifestações orais. O Speaker
controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.
Fig.
15 – Câmara dos Comuns.
A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento
é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas
atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da
Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma
curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino
nacional inglês “God Save The Queen“
(Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha,
pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um
parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$
33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de
100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais
nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo
de ajuda.
(1) –
linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.
(2) – cor
verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é
usado vermelho.
(3) –
bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.
(4) –
caixas onde se guardam textos religiosos.
Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit.
Fonte: Folha de São Paulo.
Fig. 16 – Uma sessão da
Câmara dos Comuns.
Fig. 17 – Câmara dos Lordes.
Finalmente, observe que
um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito
Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o
Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e
autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na
Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft),
nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as
autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º
Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes
corresponde ao Trabalho de Emulação.
Fig. 18 – Templo Maçônico.
The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do
conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660,
em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a
Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas
britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito
influiu na The Royal Society durante
todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o
lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês,
militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei
Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também
maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord
Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve
uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois
reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A
Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II
reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.
Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a
Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em
15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do
título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era
dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio
de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The
Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do
Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.
Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e
norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados.
Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas.
Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente
os membros de The Royal Society passaram
a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter
para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os
relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao
balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como
escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e
outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal
Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle
(1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12
fundadores que não era maçom),
conhecido como o inventor da Lei
de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a
chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a
influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência
durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e
permaneceu por mais de 50 anos.
O
termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa,
reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas
Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era
constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico.
Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar
a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.
A
Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3
autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes),
não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria
britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver
plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em
Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas
e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de
“companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de
“companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que
levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The
Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um
membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow
of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da
Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções.
O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns
(Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do
Templo Maçônico (Fig. 18).
Sobre
a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico,
astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703
a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College,
uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da
Maçonaria
Em
1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo
Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a
Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente
(até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki,
nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um
biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da
Universidade de Cambridge.
Finalizando,
um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com
o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.
Agradeço a colaboração do Ir.
Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285,
Florianópolis,
BIBLIOGRAFIA:
- Arnold, G. “A
“Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.
http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Beyer, T.R. “A Filosofia
de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São
Paulo: Lua de Papel, 2010.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.
Celso de. “Arte Real.
Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.
- Churchill, W.S. “Uma
História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira: Univercidade, 2009.
- Churton, T. “O Mago da
Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,
Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras,
2008.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões
Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da
Ilha, 2014.
- DaCosta Andrade, E.N. “A
Brief History of the Royal Society”. London: The Royal
Society, 1960
- Dawkins, P. “New Atlantis”.
The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,
2018.
https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Directgov. “State
Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services
all in One Place. Londres, 2010.
https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439
Acesso em 30.mai.2019.
- Hagger, N. “A História
Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas
na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo:
Cultrix, 2010.
- Houais, A. “Dicionário
Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.
Objetiva, 2009.
- Lomas, R. “A Maçonaria e o
Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São
Paulo: Madras, 2007.
- Parliament. “Black Rod”.
The Parliament, UK. Londres, s/d
https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/
Acessado em 14.mai.2019.
- Russell, B. “História do
Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
- Spoladore, A. “Arqueologia
e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição
132, pag. 4-10, maio, 2019.
- Viega Alves, J.R. “O
Templo de Salomão”. E estudos afins.
Londrina: A Trolha, 2016.
BIBLIOGRAFIA
COMENTADA:
- O livro de Churchill (Churchill,
2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente,
da Inglaterra.
- O site (Directgov, 2010) é muito
interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento
Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do
Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de
Abertura do Parlamento foi filmada.
- O livro (Hagger, 2010) é fundamental
para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na
História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor,
historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde
pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente
Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de
Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio
(até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli,
de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A
História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.
- Robert Lomas é um autor
controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas
referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor
britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período
neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na
Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de
Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas
cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de
Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da
Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até
indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento
de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram:
Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de
pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações
bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The
Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern
Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.
- Finalmente o livro (Russell, 2001) é
outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand
Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático,
historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês),
laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço
britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é
incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow
of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu
em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de
Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado
histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista.
Formou-se em matemática no Trinity
College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se
em economia na London School of Economics.
Foi escolhido Fellow of The Royal Society
(FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi
publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller,
e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume
consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova
Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com
maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo
(Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da
filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais
tendências do pensamento na primeira metade do século XX.
[1] Fernando Antonio
Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em
Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos
heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi
maçom.
[2] John Locke, médico e
filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em
High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância
política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.
Fig. 1 – Templo maçônico
da Loja Coeurs-Unis (Corações
Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.
Nos
primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas
se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou
tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão
maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e
desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e
numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura
de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico.
O
primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França.
Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de
templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas
no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões
maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.
Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço
a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em
1717. public domain
Com o
crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros
foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam
(e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e
benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em
cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para
grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que
foram alugados para várias Lojas.
A
década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em
1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era
membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes
Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio
(Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple
(Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares
sentados.
A
grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial
viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70
muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos
EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos
comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são)
alugados para concertos e atividades artísticas.
Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue,
Dayton, Ohio, USA.
Foto de 2009. public domain
Fig. 4 – Detroit Masonic
Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.
Maquete de 1919, arquivo Detroit
Publishing Company Collection.
Fig. 5 - Detroit Masonic
Temple, foto de 2015.
Fotos,
fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple
podem ser vistas em https://www.themasonic.com/
(acessado em 1.set.2019)
Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem
em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala
dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos
banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários
templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm
também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.
Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul. public domain.
Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/
(acessado em 1.set.2019)
3. Parlamento
Britânico:
O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é
o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios
ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre
todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O
Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano,
atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no
Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House
of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House
of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no
Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de
Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os
demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os
ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O
governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso
emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.
Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição
durante a Segunda Grande Guerra. Public domain
A Câmara dos Lords é composta por dois
tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords
Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os
Lords Temporais (Lords Temporal),
consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados)
nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza
herdados). Conta atualmente com 760 membros.
A Câmara dos Comuns tem 650 membros
eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe
o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver
maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a
oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível,
convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo,
incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos
comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no
Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig.
7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.
Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte
de Westminster. Foto de 2005. Public domain
O Parlamento do Reino Unido foi formado
em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a
independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do
Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá,
Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos
Parlamentos” (Mother of Parliaments).
O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro
Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado
Britânico e da Igreja Anglicana.
Interessante observar que no Reino
Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo
tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John
Locke[2], a ideia da separação da Igreja e do Estado,
adotado por muitos países, incluindo Brasil.
A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma
câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma
Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos
Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em
2009.
O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação
de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca,
por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que
não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar
honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos
são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de
ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit”
(British Exit),
a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro
Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro
Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na
Câmara dos Comuns.
Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de
maio de 2010.
(Contains
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A Câmara dos Lordes é formalmente
denominada “The Right Honourable The
Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes
Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os
Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes
têm diminuído desde 1911. A Câmara ainda
atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de
lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto
mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política.
A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de
perguntas aos ministros do governo.
Sobre os Lordes Espirituais há fatos
interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no
Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os
Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de
Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de
Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais
graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de
vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é
que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de
Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na
Câmara dos Comuns é bem menor.
Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain
A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um
evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos
Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou
Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de
comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do
Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino
Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no
jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do
Parlamento.
Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara
dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936. public domain
Quando
Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro)
para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos
Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a
cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher
of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os
Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa
o black rod ou bastão negro
(semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica,
mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem
dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher:
Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the
Black Rod. Com a aproximação da Lady
Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos
Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua
independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos
Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os
membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando
na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então,
admitidos.
O monarca lê um discurso, conhecido como o
Discurso do Trono (Speech from the Throne),
que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a
agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o
apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca
sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso
Discurso de Sua Magestade” (Address in
Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera
um projeto de lei pro-forma para
simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca. Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é
chamado “Select Vestries Bill” (algo
como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara
dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora
da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para
fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a
solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos
os legislativos da Commonwealth of
Nations.
Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel
reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do
Parlamento. Foto de 1885 Cornell University
Library. Dominio público
As duas Câmaras do Parlamento Britânico são
presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa
(Speaker of the House) e o Presidente
da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord
Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser
ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman
of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente
(First Deputy Chairman) e o Segundo
Vice-Presidente (Second Deputy Chairman),
os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero”
refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee
of Ways and Means) um órgão que não existe mais.
O Presidente da Câmara dos Comuns deve
ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota,
exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota
junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício
hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords
será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.
Ambas as Casas conduzem seus debates em
público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às
sessões.
Desde 1999, formou-se o Parlamento
Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres,
valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem
entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no
Parlamento Escocês.
Uma lei para ser aprovada, passa por
vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas
Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela
real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a
aprova, com a chancela dita em francês: La
Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca
executada, da Rainha dizer: “La Reyne
s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha
chegará a um acordo).
Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de
2011.
(This file is licensed under the United
Kingdom Open Government Licence v.3)
Os membros do Parlamento britânico têm
privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de
expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares
dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer
tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os
parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo
parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina
ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os
parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar
assistentes ou assessores, passagens, etc.
Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes.
Foto de 2013. Pub dom
4. Considerações Finais:
O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o
Templo de
Salomão. Porém, a relação estética e física é com
o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações
com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo
de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A
Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara
só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração.
Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma
sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam
textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda
de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar.
Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é
levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele,
os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares
trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o
parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são
proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a
coxa direita, comandado pelo Speaker,
como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são
permitidas manifestações orais. O Speaker
controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.
Fig.
15 – Câmara dos Comuns.
A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento
é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas
atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da
Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma
curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino
nacional inglês “God Save The Queen“
(Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha,
pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um
parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$
33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de
100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais
nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo
de ajuda.
(1) –
linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.
(2) – cor
verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é
usado vermelho.
(3) –
bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.
(4) –
caixas onde se guardam textos religiosos.
Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit.
Fonte: Folha de São Paulo.
Fig. 16 – Uma sessão da
Câmara dos Comuns.
Fig. 17 – Câmara dos Lordes.
Finalmente, observe que
um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito
Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o
Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e
autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na
Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft),
nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as
autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º
Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes
corresponde ao Trabalho de Emulação.
Fig. 18 – Templo Maçônico.
The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do
conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660,
em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a
Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas
britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito
influiu na The Royal Society durante
todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o
lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês,
militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei
Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também
maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord
Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve
uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois
reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A
Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II
reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.
Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a
Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em
15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do
título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era
dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio
de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The
Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do
Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.
Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e
norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados.
Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas.
Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente
os membros de The Royal Society passaram
a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter
para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os
relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao
balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como
escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e
outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal
Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle
(1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12
fundadores que não era maçom),
conhecido como o inventor da Lei
de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a
chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a
influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência
durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e
permaneceu por mais de 50 anos.
O
termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa,
reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas
Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era
constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico.
Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar
a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.
A
Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3
autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes),
não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria
britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver
plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em
Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas
e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de
“companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de
“companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que
levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The
Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um
membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow
of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da
Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções.
O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns
(Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do
Templo Maçônico (Fig. 18).
Sobre
a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico,
astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703
a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College,
uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da
Maçonaria
Em
1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo
Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a
Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente
(até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki,
nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um
biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da
Universidade de Cambridge.
Finalizando,
um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com
o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.
Agradeço a colaboração do Ir.
Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285,
Florianópolis,
BIBLIOGRAFIA:
- Arnold, G. “A
“Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.
http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Beyer, T.R. “A Filosofia
de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São
Paulo: Lua de Papel, 2010.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.
Celso de. “Arte Real.
Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.
- Churchill, W.S. “Uma
História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira: Univercidade, 2009.
- Churton, T. “O Mago da
Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,
Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras,
2008.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões
Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da
Ilha, 2014.
- DaCosta Andrade, E.N. “A
Brief History of the Royal Society”. London: The Royal
Society, 1960
- Dawkins, P. “New Atlantis”.
The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,
2018.
https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Directgov. “State
Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services
all in One Place. Londres, 2010.
https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439
Acesso em 30.mai.2019.
- Hagger, N. “A História
Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas
na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo:
Cultrix, 2010.
- Houais, A. “Dicionário
Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.
Objetiva, 2009.
- Lomas, R. “A Maçonaria e o
Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São
Paulo: Madras, 2007.
- Parliament. “Black Rod”.
The Parliament, UK. Londres, s/d
https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/
Acessado em 14.mai.2019.
- Russell, B. “História do
Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
- Spoladore, A. “Arqueologia
e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição
132, pag. 4-10, maio, 2019.
- Viega Alves, J.R. “O
Templo de Salomão”. E estudos afins.
Londrina: A Trolha, 2016.
BIBLIOGRAFIA
COMENTADA:
- O livro de Churchill (Churchill,
2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglesa e, obviamente,
da Inglaterra.
- O site (Directgov, 2010) é muito
interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento
Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do
Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de
Abertura do Parlamento foi filmada.
- O livro (Hagger, 2010) é fundamental
para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na
História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor,
historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde
pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente
Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de
Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio
(até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli,
de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A
História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.
- Robert Lomas é um autor
controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas
referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor
britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período
neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na
Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de
Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas
cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de
Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da
Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até
indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento
de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram:
Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de
pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações
bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The
Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern
Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.
- Finalmente o livro (Russell, 2001) é
outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand
Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático,
historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês),
laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço
britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é
incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow
of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu
em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de
Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado
histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista.
Formou-se em matemática no Trinity
College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se
em economia na London School of Economics.
Foi escolhido Fellow of The Royal Society
(FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi
publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller,
e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume
consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova
Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com
maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo
(Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da
filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais
tendências do pensamento na primeira metade do século XX.
[1] Fernando Antonio Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi maçom.
[2] John Locke, médico e
filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em
High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância
política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.
Fig. 1 – Templo maçônico
da Loja Coeurs-Unis (Corações
Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.
Nos
primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas
se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou
tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão
maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e
desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e
numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura
de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico.
O
primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França.
Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de
templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas
no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões
maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.
Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço
a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em
1717. public domain
Com o
crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros
foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam
(e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e
benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em
cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para
grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que
foram alugados para várias Lojas.
A
década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em
1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era
membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes
Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio
(Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple
(Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares
sentados.
A
grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial
viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70
muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos
EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos
comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são)
alugados para concertos e atividades artísticas.
Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue,
Dayton, Ohio, USA.
Foto de 2009. public domain
Fig. 4 – Detroit Masonic
Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.
Maquete de 1919, arquivo Detroit
Publishing Company Collection.
Fig. 5 - Detroit Masonic
Temple, foto de 2015.
Fotos,
fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple
podem ser vistas em https://www.themasonic.com/
(acessado em 1.set.2019)
Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem
em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala
dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos
banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários
templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm
também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.
Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul. public domain.
Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/
(acessado em 1.set.2019)
3. Parlamento
Britânico:
O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é
o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios
ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre
todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O
Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano,
atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no
Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House
of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House
of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no
Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de
Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os
demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os
ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O
governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso
emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.
Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição
durante a Segunda Grande Guerra. Public domain
A Câmara dos Lords é composta por dois
tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords
Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os
Lords Temporais (Lords Temporal),
consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados)
nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza
herdados). Conta atualmente com 760 membros.
A Câmara dos Comuns tem 650 membros
eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe
o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver
maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a
oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível,
convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo,
incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos
comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no
Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig.
7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.
Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte
de Westminster. Foto de 2005. Public domain
O Parlamento do Reino Unido foi formado
em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a
independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do
Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá,
Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos
Parlamentos” (Mother of Parliaments).
O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro
Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado
Britânico e da Igreja Anglicana.
Interessante observar que no Reino
Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo
tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John
Locke[2], a ideia da separação da Igreja e do Estado,
adotado por muitos países, incluindo Brasil.
A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma
câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma
Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos
Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em
2009.
O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação
de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca,
por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que
não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar
honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos
são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de
ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit”
(British Exit),
a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro
Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro
Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na
Câmara dos Comuns.
Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de
maio de 2010.
(Contains
public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).
A Câmara dos Lordes é formalmente
denominada “The Right Honourable The
Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes
Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os
Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes
têm diminuído desde 1911. A Câmara ainda
atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de
lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto
mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política.
A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de
perguntas aos ministros do governo.
Sobre os Lordes Espirituais há fatos
interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no
Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os
Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de
Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de
Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais
graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de
vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é
que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de
Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na
Câmara dos Comuns é bem menor.
Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain
A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um
evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos
Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou
Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de
comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do
Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino
Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no
jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do
Parlamento.
Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara
dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936. public domain
Quando
Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro)
para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos
Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a
cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher
of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os
Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa
o black rod ou bastão negro
(semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica,
mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem
dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher:
Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the
Black Rod. Com a aproximação da Lady
Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos
Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua
independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos
Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os
membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando
na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então,
admitidos.
O monarca lê um discurso, conhecido como o
Discurso do Trono (Speech from the Throne),
que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a
agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o
apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca
sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso
Discurso de Sua Magestade” (Address in
Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera
um projeto de lei pro-forma para
simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca. Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é
chamado “Select Vestries Bill” (algo
como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara
dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora
da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para
fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a
solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos
os legislativos da Commonwealth of
Nations.
Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel
reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do
Parlamento. Foto de 1885 Cornell University
Library. Dominio público
As duas Câmaras do Parlamento Britânico são
presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa
(Speaker of the House) e o Presidente
da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord
Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser
ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman
of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente
(First Deputy Chairman) e o Segundo
Vice-Presidente (Second Deputy Chairman),
os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero”
refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee
of Ways and Means) um órgão que não existe mais.
O Presidente da Câmara dos Comuns deve
ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota,
exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota
junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício
hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords
será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.
Ambas as Casas conduzem seus debates em
público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às
sessões.
Desde 1999, formou-se o Parlamento
Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres,
valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem
entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no
Parlamento Escocês.
Uma lei para ser aprovada, passa por
vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas
Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela
real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a
aprova, com a chancela dita em francês: La
Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca
executada, da Rainha dizer: “La Reyne
s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha
chegará a um acordo).
Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de
2011.
(This file is licensed under the United
Kingdom Open Government Licence v.3)
Os membros do Parlamento britânico têm
privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de
expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares
dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer
tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os
parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo
parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina
ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os
parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar
assistentes ou assessores, passagens, etc.
Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes.
Foto de 2013. Pub dom
4. Considerações Finais:
O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o
Templo de
Salomão. Porém, a relação estética e física é com
o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações
com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo
de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A
Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara
só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração.
Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma
sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam
textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda
de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar.
Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é
levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele,
os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares
trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o
parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são
proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a
coxa direita, comandado pelo Speaker,
como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são
permitidas manifestações orais. O Speaker
controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.
Fig.
15 – Câmara dos Comuns.
A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento
é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas
atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da
Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma
curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino
nacional inglês “God Save The Queen“
(Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha,
pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um
parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$
33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de
100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais
nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo
de ajuda.
(1) –
linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.
(2) – cor
verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é
usado vermelho.
(3) –
bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.
(4) –
caixas onde se guardam textos religiosos.
Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit.
Fonte: Folha de São Paulo.
Fig. 16 – Uma sessão da
Câmara dos Comuns.
Fig. 17 – Câmara dos Lordes.
Finalmente, observe que
um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito
Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o
Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e
autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na
Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft),
nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as
autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º
Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes
corresponde ao Trabalho de Emulação.
Fig. 18 – Templo Maçônico.
The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do
conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660,
em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a
Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas
britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito
influiu na The Royal Society durante
todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o
lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês,
militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei
Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também
maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord
Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve
uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois
reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A
Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II
reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.
Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a
Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em
15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do
título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era
dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio
de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The
Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do
Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.
Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e
norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados.
Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas.
Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente
os membros de The Royal Society passaram
a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter
para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os
relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao
balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como
escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e
outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal
Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle
(1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12
fundadores que não era maçom),
conhecido como o inventor da Lei
de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a
chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a
influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência
durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e
permaneceu por mais de 50 anos.
O
termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa,
reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas
Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era
constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico.
Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar
a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.
A
Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3
autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes),
não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria
britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver
plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em
Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas
e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de
“companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de
“companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que
levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The
Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um
membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow
of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da
Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções.
O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns
(Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do
Templo Maçônico (Fig. 18).
Sobre
a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico,
astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703
a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College,
uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da
Maçonaria
Em
1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo
Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a
Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente
(até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki,
nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um
biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da
Universidade de Cambridge.
Finalizando,
um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com
o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.
Agradeço a colaboração do Ir.
Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285,
Florianópolis,
BIBLIOGRAFIA:
- Arnold, G. “A
“Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.
http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Beyer, T.R. “A Filosofia
de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São
Paulo: Lua de Papel, 2010.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.
Celso de. “Arte Real.
Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.
- Churchill, W.S. “Uma
História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira: Univercidade, 2009.
- Churton, T. “O Mago da
Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,
Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras,
2008.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões
Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da
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- DaCosta Andrade, E.N. “A
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Society, 1960
- Dawkins, P. “New Atlantis”.
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2018.
https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Directgov. “State
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https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439
Acesso em 30.mai.2019.
- Hagger, N. “A História
Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas
na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo:
Cultrix, 2010.
- Houais, A. “Dicionário
Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.
Objetiva, 2009.
- Lomas, R. “A Maçonaria e o
Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São
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- Parliament. “Black Rod”.
The Parliament, UK. Londres, s/d
https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/
Acessado em 14.mai.2019.
- Russell, B. “História do
Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
- Spoladore, A. “Arqueologia
e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição
132, pag. 4-10, maio, 2019.
- Viega Alves, J.R. “O
Templo de Salomão”. E estudos afins.
Londrina: A Trolha, 2016.
BIBLIOGRAFIA
COMENTADA:
- O livro de Churchill (Churchill,
2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente,
da Inglaterra.
- O site (Directgov, 2010) é muito
interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento
Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do
Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de
Abertura do Parlamento foi filmada.
- O livro (Hagger, 2010) é fundamental
para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na
História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor,
historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde
pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente
Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de
Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio
(até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli,
de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A
História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.
- Robert Lomas é um autor
controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas
referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor
britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período
neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na
Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de
Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas
cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de
Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da
Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até
indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento
de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram:
Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de
pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações
bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The
Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern
Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.
- Finalmente o livro (Russell, 2001) é
outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand
Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático,
historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês),
laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço
britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é
incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow
of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu
em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de
Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado
histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista.
Formou-se em matemática no Trinity
College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se
em economia na London School of Economics.
Foi escolhido Fellow of The Royal Society
(FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi
publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller,
e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume
consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova
Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com
maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo
(Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da
filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais
tendências do pensamento na primeira metade do século XX.
[1] Fernando Antonio
Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em
Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos
heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi
maçom.
[2] John Locke, médico e
filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em
High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância
política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.
Fig. 1 – Templo maçônico
da Loja Coeurs-Unis (Corações
Unidos), Montreal, Canadá. Foto de 2015. public domain.
Nos
primórdios da Maçonaria especulativa, séculos XVII e XVIII, as Lojas maçônicas
se reuniam em casas particulares ou no porão (basement) de tavernas. Havia um guarda externo (nas casas ou
tavernas) que ficava fora (casas) ou acima (tavernas) cobrindo a sessão
maçônica. Mas trabalhar em casas ou tavernas exigia o transporte, a montagem e
desmontagem de símbolos e joias, uma parafernália cada vez mais elaborada e
numerosa. Isto começou a preocupar os Irmãos daquele tempo, iniciando a procura
de instações permanentes, dedicadas exclusivamente ao uso maçônico.
O
primeiro templo (ou salão maçônico) foi construído em 1765 em Marselha, França.
Uma década depois, em 1775, foi iniciado a construção do Freemasons Hall, em Londres. Isto estimulou o aparecimento de
templos no Reino Unido, que perdura até os dias atuais. Mas, a maioria as Lojas
no século XVIII, ainda alugava estabelecimentos comerciais para as sessões
maçônicas. Os mais comuns eram mezaninos de hotéis, bancos e teatros.
Fig. 2 – Taverna Groose and Gidiron (Ganço e Grelha), onde funcionava a Loja O Ganço
a a Grelha, uma das Lojas fundadoras Grande Loja de Londres e Westminster, em
1717. public domain
Com o
crescimento da Maçonaria, na segunda metade do século XIX, recursos financeiros
foram destinados a construções de Templos Maçônicos. Em muitos países existiam
(e existem) leis tributárias favorecendo instituições de beneficência e
benevolência e, em consequência, estimulando a construção de templos. Em
cidades grandes, tornou-se econômico construir prédios com alguns templos para
grupos de Lojas. Em cidades menores foram construídos templos mais simples que
foram alugados para várias Lojas.
A
década de 1920 assinalou um apogeu da Maçonaria, especialmente nos EUA. Em
1930, estima-se que mais de 12% da população masculina adulta, nos EUA, era
membro da fraternidade maçônica. As anuidades geradas permitiram que as Grandes
Lojas do Estado construíssem templos monumentais. Exemplo: o Dayton Masonic Center, Dayton, Ohio
(Fig. 3) e o Detroit Masonic Temple
(Figs. 3 e 4, 5), este o maior Templo Maçônico do mundo, com 4.404 lugares
sentados.
A
grande depressão nos EUA atingiu, também, a Maçonaria. A Segunda Guerra Mundial
viu os recursos concentrados em apoio ao esforço de guerra. Na década de 60 e 70
muitas Lojas fecharam ou se fundiram, afetando muito o número de membros nos
EUA. Muitos Templos Maçônicos foram convertidos para usos não-maçônicos: usos
comerciais, hotéis e condomínios. Os grandes templos mencionados foram (e são)
alugados para concertos e atividades artísticas.
Fig. 3 – Dayton Masonic Center, 525 Riverview Avenue,
Dayton, Ohio, USA.
Foto de 2009. public domain
Fig. 4 – Detroit Masonic
Temple, 500 Temple St, Detroit, Michigan.
Maquete de 1919, arquivo Detroit
Publishing Company Collection.
Fig. 5 - Detroit Masonic
Temple, foto de 2015.
Fotos,
fotos a 360° de diversos templos, e o auditório do Detroit Masonic Temple
podem ser vistas em https://www.themasonic.com/
(acessado em 1.set.2019)
Os menores Templos Maçônicos, geralmente, consistem
em uma sala de reuniões (o templo propriamente dito), um pequeno átrio (a sala
dos passos perdidos), uma área de cozinha e uma sala de jantar além dos
banheiros. Os grandes Templos Maçônicos cotêm várias salas de reunião (vários
templos), salas de concerto, auditórios, bibliotecas e museus. Não raramente têm
também espaços comerciais e escritórios que tratam da beneficência maçônica.
Fig. 6 – The House of the Temple, sede mundial do REAA, 1733, 16th Street, Washington, USA, Jurisdição Sul. public domain.
Aprecie um tour virtual da Casa do Templo em: https://scottishrite.org/our-museum/virtual-tour/
(acessado em 1.set.2019)
3. Parlamento
Britânico:
O Parlamento do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte
(nome atual), conhecido como Parlamento Britânico é
o órgão legislativo supremo do Reino Unido, dependências da Coroa e territórios
ultramarinos. Somente este Parlamento possui poder supremo legislativo sobre
todos os órgãos políticos do Reino Unido e territórios ultramarinos. O
Parlamento britânico é bicameral, mas tem três partes: 1. O Soberano,
atualmente a Rainha Elizabeth II no Parlamento, isto é, sua presença no
Parlamento; 2. A Camara dos Lords (House
of Lords); 3. A Camara dos Comuns (House
of Commons or The Primary Chamber) – Fig. 7. As duas casas se encontram no
Palácio de Westminster, Londres (Fig. 8). A Camara dos Comuns é chamada de
Camara Primária porque compõe o governo britânico: primeiro ministro e todos os
demais ministros devem ser parlamentares. Isto cria um problema: todos os
ministros sendo parlamentares, na maioria das vezes, não são técnicos. O
governo técnico está no segundo escalão do ministério. Houve no passado um caso
emblemático: o Ministro da Educação tinha somente a educação elementar.
Fig. 7 – Foto da Camara dos Comuns, antes de sua destruição
durante a Segunda Grande Guerra. Public domain
A Câmara dos Lords é composta por dois
tipos de membros: os Lords Espirituais (Lords
Spiritual), consistindo de bispos mais antigos da Igreja Anglicana e os
Lords Temporais (Lords Temporal),
consistindo de pares vitalícios (títulos de nobreza que não podem ser herdados)
nomeados pelo Rei e 92 pares vitalícios hereditários (títulos de nobreza
herdados). Conta atualmente com 760 membros.
A Câmara dos Comuns tem 650 membros
eleitos, a cada cinco anos. O partido que tiver 50% mais um de membros, compõe
o governo. Caso nenhum partido obtenha este índice, o partido que obtiver
maioria simples deve se compor com outro partido (em geral que não seja a
oposição) para compor um governo. Na hipótese de isto ser impossível,
convoca-se nova eleição. Por convenção constitucional, todos os ministros do governo,
incluindo o Primeiro Ministro, são membros da Câmara dos Comuns ou, menos
comumente, da Câmara dos Lordes. As duas câmaras estão fisicamente separadas no
Palácio de Westminster, e têm, fisicamente, a mesma diposição mostrada na fig.
7. O líder da Câmara dos Lordes deve ser um par vitalício hereditário.
Fig. 8 – As Casas do Parlamento, vistas do outro lado da Ponte
de Westminster. Foto de 2005. Public domain
O Parlamento do Reino Unido foi formado
em 1707. Teve algumas mudanças, como a união com Escócia e, no século XX, com a
independência da Irlanda. Com a expansão do Império Britânico, o Parlamento do
Reino Unido modelou os sistemas políticos de muitos países, como Canadá,
Austrália, Nova Zelandia, etc. e por isso tem sido chamado de “Mãe dos
Parlamentos” (Mother of Parliaments).
O poder governamental de fato, é investido na Câmara do Comuns. O Primeiro
Ministro é o chefe do Governo Britânico e o Rei (ou Rainha) é chefe do Estado
Britânico e da Igreja Anglicana.
Interessante observar que no Reino
Unido o Estado não é laico, mas religioso, pois o chefe de Estado é ao mesmo
tempo chefe da Igreja Anglicana. E exatamente na Inglaterra, nasceu com John
Locke[2], a ideia da separação da Igreja e do Estado,
adotado por muitos países, incluindo Brasil.
A Câmara dos Lordes é, atualmente, uma
câmara subordinada à Câmara dos Comuns. Além disso, a Lei de Reforma
Constitucional de 2005 levou à abolição das funções judiciais da Câmara dos
Lordes, com a criação da nova Suprema Corte do Reino Unido (Supreme Court of the United Kingdom), em
2009.
O Rei (ou Rainha) deve consentir na aprovação
de leis sobre finanças. Há, também, certas legislações delegadas ao monarca,
por ordem do Conselho de Ministros. A Coroa tem, também, poderes executivos que
não dependem do Parlamento, incluindo fazer tratados, declarar guerra, premiar
honras e nomear oficiais e funcionários públicos. Mas na prática, estes atos
são exercidos pelo monarca a conselho do Primeiro Ministro e do conselho de
ministros, ouvido o Parlamento. Exemplo: o “Brexit”
(British Exit),
a saida do Reino Unido da Unão Europeia. O monarca, também, nomeia o Primeiro
Ministro, que então forma um governo com membros do Parlamento. O Primeiro
Ministro deve ser alguém que possa comandar a maioria num voto de confiança na
Câmara dos Comuns.
Fig. 9 – Câmara dos Comuns, Reino Unido. Sessão do dia 25 de
maio de 2010.
(Contains
public sector information licensed under the Open Government Licence v3.0.).
A Câmara dos Lordes é formalmente
denominada “The Right Honourable The
Lords Spiritual and Temporal in Parliament Assembled” (Os Honoráveis Lordes
Espirituais e Temporais do Parlamento Agregado). Os Lordes Espirituais e os
Temporais sentam-se, debatem e votam juntos. Os poderes da Câmara dos Lordes
têm diminuído desde 1911. A Câmara ainda
atua como um Tribunal de Contas. Pode, em teoria, votar contra um projeto de
lei, mas sem objetivo prático, pois a Câmara dos Comuns pode aprovar um projeto
mesmo que desaprovado pela Câmara dos Lordes. Vale apenas como pressão política.
A Câmara dos Lordes pode, também, responsabilizar o governo por meio de
perguntas aos ministros do governo.
Sobre os Lordes Espirituais há fatos
interessantes. Até 1847, todos os bispos da Igreja Anglicana tinham assento no
Parlamento. Posteriormente estabeceu-se que apenas 26 mais antigos sejam os
Lordes Espirituais., incluindo as “cinco grandes sedes”: Arcebispo de
Canterbury, Arcebispo de York, Bispo de Londres, Bispo de Durham e Bispo de
Winchester. Os restantes 21 Lordes Espirituais são os bispos diocesanos mais
graduados. A partir de 2015, com a Lei Espiritual de Mulheres, há previsão de
vagas a serem preenchidas, por tempo limitado, por bispas. Outra curiosidade é
que há, entre os Lordes Espirituais e os Temporais, um número significativo de
Mestres Maçons, incluindo Lordes Espirituais. O número de Mestres Maçons na
Câmara dos Comuns é bem menor.
Fig. 10 – Câmara dos Comuns. Gravura de 1808. public domain
A Abertura do Anual do Parlamento (The State Opening of Parliament) é um
evento majestoso no Reino Unido (Directgov, 2010). Realiza-se na Câmara dos
Lordes e, a partir de 2012, sempre em maio ou junho. Após um sinal do Rei (ou
Rainha) o Grande Lorde Chamberlain levanta seu bastão (semelhante a um bastão de
comando de um general; um cetro real) para assinalar o inicio da abertura do
Parlamento. O Lorde Chamberlain é o oficial mais graduado da Casa Real do Reino
Unido. Este oficial organiza todas as atividades cerimoniais, como festas no
jardim, visitas de chefes de estado, casamentos reais e a abertura do
Parlamento.
Fig. 11 – O Rei Eduardo VIII, abrindo o Parlamento, na Câmara
dos Lordes, cercado de arautos, em 3 de novembro de 1936. public domain
Quando
Lorde Charberlain levanta seu bastão sinaliza para o Black Rod (bastão negro)
para convocar a Câmara dos Comuns para, com o Guarda Externo da Câmara dos
Lordes (Parliament, s/d), trazer os membros da Câmara dos Comuns para a
cerimônia. Black Rod (The Gentleman Usher
of Black Rod - Cavaleiro Ostiário do Bastão Negro), existente em todos os
Parlamentos da Commonwealth of Nations é uma espécie de Diretor de Cerimônias na Maçonaria: usa
o black rod ou bastão negro
(semelhante aos bastões usados pelos Diretores de Cerimônia numa Loja Maçônica,
mas um pouco menor) e com este bastão controla o acesso e a manutenção da ordem
dentro da Câmara dos Lordes. Desde 2018, o cargo é ocupado por uma mulher:
Sarah Clarke, portanto, Lady Usher of the
Black Rod. Com a aproximação da Lady
Usher of the Black Rod na Câmara dos Comuns, as portas desta Câmara dos
Comuns são fechadas contra ela, simbolizando os direitos do Parlamento e sua
independência do monarca. Ela, então, bate com seu bastão a porta da Câmara dos
Comuns por três vezes (como na Maçonaria). Ela é então admitida e leva os
membros da Câmara dos Comuns para a assistência da abertura do Parlamento. Chegando
na Câmara dos Lordes ela e os membros da Câmara dos Comuns são, então,
admitidos.
O monarca lê um discurso, conhecido como o
Discurso do Trono (Speech from the Throne),
que foi preparado pelo(a) Primeiro(a) Ministro(a) e pelo gabinete, delineando a
agenda do Governo para o próximo ano. Com isso o Governo pretende buscar o
apoio e acordo de ambas as Casas do Parlamento e da Coroa. Depois que o monarca
sai, cada Câmara procede à consideração de um “Discurso em resposta ao Gracioso
Discurso de Sua Magestade” (Address in
Reply to Her Majesty’s Gracious Speech). Mas antes, cada Câmara considera
um projeto de lei pro-forma para
simbolizar seu direito de deliberar independentemente do monarca. Na Câmara dos Lordes, este projeto de lei é
chamado “Select Vestries Bill” (algo
como “Selecione a Lista de Compras”, o que nada significa). Enquanto a Câmara
dos Comuns faz outro projeto de lei chamado “Outlawries Bill” (não há tradução, mas algo como A Conta dos Fora
da Lei, o que nada significa). Estas duas contas são consideradas apenas para
fins formais e tem significado apenas simbólico. E com isto, termina a
solenidade de abertura do legislativo britânico. Este ritual é copiado em todos
os legislativos da Commonwealth of
Nations.
Fig. 12 – Câmara dos Lordes, mostrando o trono e o dossel
reais, de onde o monarca pronuncia o discurso real na Abertura Anual do
Parlamento. Foto de 1885 Cornell University
Library. Dominio público
As duas Câmaras do Parlamento Britânico são
presididas por um orador; o Presidente da Câmara dos Comuns é o Orador da Casa
(Speaker of the House) e o Presidente
da Câmara dos Lordes é o Orador Lorde (Lord
Speaker or Speaker of the House of Lords). O lugar do Orador pode ser
ocupado pelo Presidente dos Modos e Meios (Chairman
of Ways and Means) que é o Vice-Presidente “zero”. O Primeiro Vice-Presidente
(First Deputy Chairman) e o Segundo
Vice-Presidente (Second Deputy Chairman),
os três, compõem a linha sucessória. O título do Vice-Presidente “zero”
refere-se ao Comitê de Modos e Meios (Committee
of Ways and Means) um órgão que não existe mais.
O Presidente da Câmara dos Comuns deve
ser não-partidário dentro da Câmara (embora pertença a um partido) e não vota,
exceto no caso de empate. O Presidente da Câmara dos Lords, entretanto, vota
junto com os demais Lords. Deve, necessariamente, ser um par vitalício
hereditário (par = vassalo nobre). A partir de maio de 2019, a Câmara dos Lords
será eleita. Não se sabe ainda como isso será feito.
Ambas as Casas conduzem seus debates em
público, pois há galerias onde os visitantes podem se sentar e assistir às
sessões.
Desde 1999, formou-se o Parlamento
Escocês. Entretanto quase todos os atos aprovados pelo Parlamento de Londres,
valem na Escócia. O Parlamento escocês trata apenas de legislar na Escócia, sem
entrar em atrito com os atos aprovados em Londres. Há muitos maçons no
Parlamento Escocês.
Uma lei para ser aprovada, passa por
vários comitês antes de chegar ao plenário. Uma vez aprovada pelas duas
Câmaras, ela deve ter o Royal Assent (chancela
real). Teoricamente o monarca pode vetar uma lei. Mas desde 1708 o monarca a
aprova, com a chancela dita em francês: La
Reyne le veult (em francês arcaico: A Rainha aprova). No caso de Rei, é Le Roy. Há a possibilidade, mas nunca
executada, da Rainha dizer: “La Reyne
s’avisera” (em francês arcaico: A Rainha vai pensar nisso, ou A Rainha
chegará a um acordo).
Fig. 13 – Câmara dos Lordes em sessão de 9 de setembro de
2011.
(This file is licensed under the United
Kingdom Open Government Licence v.3)
Os membros do Parlamento britânico têm
privilégios. O privilégio reivindicado por ambas as Casas é o da liberdade de
expressão em debate e dentro do Parlamento. O que é dito pelos parlamentares
dentro do Parlamento (e somente dentro) não pode ser questionado em qualquer
tribunal, universidade ou instituição fora do Parlamento. Até 2015, os
parlamentares tinham outro privilégio: o uso exclusivo (mas pago pelo
parlamentar) de uma cantina em Westminster. Em 2015, uma lei fez esta cantina
ser aberta ao público, deixando de ser exclusiva aos parlamentares. Os
parlamentares não têm qualquer outro previlégio: foro especial, poder contratar
assistentes ou assessores, passagens, etc.
Fig. 14 – Trono da Rainha na Câmara dos Lordes.
Foto de 2013. Pub dom
4. Considerações Finais:
O Templo Maçônico tem uma relação filosófica com o
Templo de
Salomão. Porém, a relação estética e física é com
o Parlamento Britânico. Algumas partes do ritual maçônico têm, também, relações
com o Parlamento Britânico. Na Fig. 15, mostra um layout (no dicionário (Houais, 2009) encontramos “leiaute” – modo
de distribuição de elementos num determinado espaço) da Câmara dos Comuns. A
Fig. 16 é uma fotografia de uma sessão recente da Câmara dos Comuns. A Câmara
só inicia seus trabalhos após um clérigo da Igreja Anglicana fazer uma oração.
Esta tradição dura 4 séculos. Observe que uma oração antes de iniciar uma
sessão, também ocorre em alguns ritos maçônicos. As caixas onde se guardam
textos religiosos (Fig. 16) marcam o local onde o Primeiro-Ministro (à esquerda
de quem entra) e o líder da oposição (à direita de quem entra) devem discursar.
Na mesa central, encontra-se também o bastão cerimonial (cetro real) que é
levado para a Câmara dos Comuns, todos os dias em que haja sessão e, sem ele,
os parlamentares não estão autorizados a legislar. Todos os parlamentares
trabalham de segunda-feira à sexta-feira; qualquer falta por qualquer motivo, o
parlamentar é descontado em seu salário. Os aplausos (bater palmas) são
proibidos. Depois de um parlamentar falar, bate-se com a mão direita sobre a
coxa direita, comandado pelo Speaker,
como na Maçonaria (nos levantamentos do Trabalho de Emulação). Também, são
permitidas manifestações orais. O Speaker
controla o tempo de exposição oral de cada parlamentar.
Fig.
15 – Câmara dos Comuns.
A Fig. 17 apresenta o layout da Câmara dos Lordes. Seu funcionamento
é muito semelhante a Câmara dos Comuns e, de tempos em tempos, são retiradas
atribuições da Câmara dos Lordes. A grande diferença é a existência do Trono da
Rainha (Fig. 14) onde a rainha discursa na abertura do ano parlamentar. Uma
curiosidade: a rainha é a única pessoa no mundo que não pode cantar o hino
nacional inglês “God Save The Queen“
(Deus salve a Rainha), ou seja, Deus defenda, resguarde ou proteja a Rainha,
pois não tem sentido a Rainha pedir a Deus que a salve ou defenda. Um
parlamentar da Câmara dos Comuns ganha £ 77.379 anualmente, ou serja, R$
33.079,00 mensais (£ 1 = R$ 5,13). Se representar um distrito a mais de
100 Km de Londres, ganha auxilio moradia. Mais
nada. Não ganha passagens, assessores, “auxílio paletó” e qualquer outro tipo
de ajuda.
(1) –
linhas vermelhas o chão – delimitam área onde os parlamentares podem discursar.
(2) – cor
verde do carpet e dos bancos – tradição de 350 anos – na Câmara dos Lordes é
usado vermelho.
(3) –
bastão cerimonial – século XVII – representa a autoridade da Coroa.
(4) –
caixas onde se guardam textos religiosos.
Sessão do dia 11 de abril, 2019. Discussão sobre Brexit.
Fonte: Folha de São Paulo.
Fig. 16 – Uma sessão da
Câmara dos Comuns.
Fig. 17 – Câmara dos Lordes.
Finalmente, observe que
um Templo Maçônico (Fig. 18) tem, exatamente, o layout do Parlamento Britânico. Nos ritos de origem francesa (Rito
Francês, Rito Moderno, REAA. Rito Adonhiramita e Rito Escocês Retificado), o
Oriente fica num plano acima do Ocidente e, portanto o Venerável Mestre e
autoridades maçônicas ficam um pouco mais em direção ao Oriente, do indicado na
Fig. 18. Nos ritos britânicos (Craft),
nos ritos alemães (especialmente Rito de Schröder) e no rito norte-americano (Blue Lodges) o Venerável Mestre e as
autoridades maçônicas se encontram no mesmo nível. A posição do 1º e 2º
Vigilantes varia conforme o rito. Na Fig. 18, a posição dos Vigilantes
corresponde ao Trabalho de Emulação.
Fig. 18 – Templo Maçônico.
The Royal Society (A Sociedade Real) é uma instituição destinada a promoção do
conhecimento científico, teve sua primeira reunião em 28 de novembro de 1660,
em Londres. Observe que este é um período entre a Guerra Civil britânica e a
Restauração da monarquia. A Sociedade Real foi fundada por 12 cientistas
britânicos, sendo 11 mestres maçons e todos rosacruzes. A Maçonaria muito
influiu na The Royal Society durante
todo século seguinte. Embora seu presidente, eleito por um ano, tenha mudado, o
lider que conduziu a Sociedade foi Sir Robert Moray (1608-1673), um escocês,
militar, estadista, diplomata, cientista e maçom. Ele era amigo de do Rei
Charles II (1630-1685), maçom. Seu pai, Rei Charles I (1600-1649), também
maçom, foi julgado e executado em 1649, quando Oliver Cromwell (1599-1658), o Lord
Protetor, implanta uma república. (Os ingleses até hoje dizem que nunca houve
uma república na Inglaterra (Churchill, 2009). Mas sim um interregno (do latim interrægnum) ou intervalo entre dois
reinados). O Rei Charles II efetivamente reinou a partir de 1660 – A
Restauração – mas na época e até hoje os britânicos dizem que o Rei Charles II
reinou (inicialmente no exílio) de 1649 a 1685.
Robert Moray, amigo do Rei Charles II pleiteou que a
Sociedade tivesse a chancela do Rei, o apoio do Estado. Isso foi conseguido em
15 de julho de 1662, e a Sociedade tornou-se Real – Royal Society. Entretanto, os maçons que eram membros de The Royal Society não gostaram do
título, pois parecia significar que a Sociedade pertencia ao Rei, ou era
dominada pelo Rei. Robert Moray solicitou outra chancela obtida em 13 de maio
de 1663, e a Sociedade passou a chamar-se The
Royal Society of London for Improving Natural Knowledge (Sociedade Real de Londres para a Promoção do
Conhecimento Natural). E o Rei declarou-se seu fundador e seu patrono.
Robert Moray queria mais. Queria que a Sociedade orientasse e
norteasse a política do Estado em relação a fatos científicos e assemelhados.
Na época a Marinha Britânica estava obsoleta, antiquada e com falta de verbas.
Havia (e houve) a perpectiva de uma guerra naval contra Holanda. Imediatamente
os membros de The Royal Society passaram
a trabalhar em projetos que interessavam à Marinha: o uso das luas de Jupiter
para determinar a longitude no mar; uso da Lua como um relógio universal (os
relógios de pêndulo não podiam ser usados com precisão no mar, devido ao
balanço dos navios); a construção de um sino de mergulho (depois conhecido como
escafandro), com provisão continua de ar para trabalhos submarinos demorados e
outros projetos de interessa da Marinha. Isso aproximou mais The Royal
Society do Estado Britânico, com a complacência de Charles II. Robert Boyle
(1627-1691), um químico, físico, inventor e cientista irlandês (o único dos 12
fundadores que não era maçom),
conhecido como o inventor da Lei
de Boyle que os franceses chamam Lei de Boyle-Mariotte, foi o primeiro a
chamar, em suas cartas, The Royal Society, de “Colégio Invisível” face a
influência que a Sociedade obteve sobre o Estado Britânico. Esta influência
durou mais de um século. Este epíteto se espalhou por todo Império Britânico e
permaneceu por mais de 50 anos.
O
termo “Colégio Invisível” vem de muito antes, na época da Revolução Inglesa,
reinado de Carlos I, também maçom. Mas o termo se deve a Robert Boyle. Nicholas
Hagger (Hagger, 2010) descreve, com provas, este primeiro Coégio Invisível. Era
constituído de rosacruzes que pretendiam (e obtiveram) influência no Estado Britânico.
Propunham matar o rei Carlos I (católico e chefe da Igreja Anglicana) e liberar
a entrada de judeus que foram expulsos da Inglaterra em 1320. Conseguiram.
A
Sociedade Real era muito semelhante à Maçonaria da época. Era governada por 3
autoridades – Presidente e 2 Diretores (como na Maçonaria, VM e 2 Vigilantes),
não era permitido discussões sobre política ou religião (como na Maçonaria
britânica), havia segredos do que era discutido em cada sessão – para não haver
plágios (como na Maçonaria britânica onde cada sessão não pode ser discutida em
Loja), a Sociedade Real adota o mesmo método de votação da Maçonaria: bolas brancas
e negras; todos os membros da Sociedade eram chamados entre si, de
“companheiros” (observe que na Maçonaria da época só existiam 2 graus, o 2º de
“companheiros maçons” – Fellow Craft). E há outras particularidades que
levam símbolos maçônicos às salas da Sociedade Real. Chamar os membros de The
Royal Society de Companheiros (“Fellow”) persiste até hoje. Um
membro de The Royal Society incorpora a seu nome civil as siglas FRS (Fellow
of The Royal Society). Para que se tenha uma ideia da influência da
Sociedade Real (o “Colégio Invisível”) no Estado Britânico observe estas duas intervenções.
O "Colégio Invisível” propôs ao Rei o layout das Câmaras dos Comuns
(Fig. 15) e Câmara dos Lordes (Fig. 17) e, posteriormente, propôs o layout do
Templo Maçônico (Fig. 18).
Sobre
a The Royal Society: Isaac Newton (1642-1727), matemático, físico,
astrônomo, filósofo e maçom, foi presidente de The Royal Society de 1703
a 1727. A Sociedade fazia suas reuniões, inicialmente, no Gresham College,
uma faculdade de maçons. Realmente, The Royal Society é filha da
Maçonaria
Em
1780 a Sociedade Real mudou-se para Somerset House, uma propriedade oferecida pelo
Governo de Sua Magestade Rei Jorge III (1738-1820), maçom. Desde 1967, a
Sociedade está em 6-9 Carlton House Terrace, Central London. O atual Presidente
(até 2020) é o cientista Venkatraman Ramakrishman, conhecido como Dr. Venki,
nascido em 1952 na India, mas de nacionalidade britânica e maçom. É um
biologista estrutural, Prêmio Nobel de química em 2009, professor da
Universidade de Cambridge.
Finalizando,
um Templo Maçônico tem muito mais afinidade física e estética (e histórica) com
o Parlamento Britânico do que com o Templo de Salomão.
Agradeço a colaboração do Ir.
Paulo Velloso, Venerável Mestre (2019-2020) da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285,
Florianópolis,
BIBLIOGRAFIA:
- Arnold, G. “A
“Nova Atlantida” de Francis Bacon”. Blog A Crítica. 2019.
http://blogacritica.blogspot.com/2018/01/a-nova-atlantida-de-francis-bacon.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Beyer, T.R. “A Filosofia
de O Símbolo Perdido”. 31. Pag. 195. O Colégio Invisível. São
Paulo: Lua de Papel, 2010.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo e a Loja”. In: Conceição, E.N. & Lima, W.
Celso de. “Arte Real.
Reflexões Históricas e Filosóficas”. Florianópolis: Ed. Tribo da Ilha, 2014.
- Churchill, W.S. “Uma
História dos Povos de Língua Inglesa”. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira: Univercidade, 2009.
- Churton, T. “O Mago da
Franco-Maçonaria”. A Vida Misteriosa de Elias Ashmole,
Cientista, Alquimista e Fundador da Royal Society. São Paulo: Madras,
2008.
- Conceição, E.N. & Lima, W. Celso de. “O Templo Maçônico”. In: Arte Real, Reflexões
Históricas e Filosoficas, pp:183-190. Florianópolis: ed Tribo da
Ilha, 2014.
- DaCosta Andrade, E.N. “A
Brief History of the Royal Society”. London: The Royal
Society, 1960
- Dawkins, P. “New Atlantis”.
The Francis Bacon Research Trust. Gateways do Wisdom,
2018.
https://www.fbrt.org.uk/pages/hermes_atlantis.html
Acessado em 15.mai.2019.
- Directgov. “State
Opening of Parliament: ter Tradictions”. Directgov. Public Services
all in One Place. Londres, 2010.
https://web.archive.org/web/20120929221228/http://www.direct.gov.uk/en/Nl1/Newsroom/DG_182439
Acesso em 30.mai.2019.
- Hagger, N. “A História
Secreta do Ocidente”. A Influência das Organizações Secretas
na História Ocidental da Renascença ao Século XX. São Paulo:
Cultrix, 2010.
- Houais, A. “Dicionário
Eletrônico Houais”. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Ed.
Objetiva, 2009.
- Lomas, R. “A Maçonaria e o
Nascimento da Ciência Moderna”. O Colégio Invisível. São
Paulo: Madras, 2007.
- Parliament. “Black Rod”.
The Parliament, UK. Londres, s/d
https://www.parliament.uk/about/mps-and-lords/principal/black-rod/
Acessado em 14.mai.2019.
- Russell, B. “História do
Pensamento Ocidental” A Aventura dos Pré-Socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
- Spoladore, A. “Arqueologia
e o Templo do Rei Salomão”. Chico da Botica, ano 15, edição
132, pag. 4-10, maio, 2019.
- Viega Alves, J.R. “O
Templo de Salomão”. E estudos afins.
Londrina: A Trolha, 2016.
BIBLIOGRAFIA
COMENTADA:
- O livro de Churchill (Churchill,
2009) é clássico e referência sobre a história dos povos de língua inglessa e, obviamente,
da Inglaterra.
- O site (Directgov, 2010) é muito
interessante para se conhecer os pormenores da Abertura Anual do Parlamento
Britânico. Neste site é imperdível um vídeo feito pela BBC, da Abertura do
Parlamento Britânico de 1958, a primeira vez na história que a solenidade de
Abertura do Parlamento foi filmada.
- O livro (Hagger, 2010) é fundamental
para se conhecer a influência da Maçonaria (e de outras sociedades secretas) na
História do Ocidente. Nicholas Hagger nasceu em Londres, em 1939, escritor,
historiador e educador. Foi professor na Universidade de Bagdá (1961-1962) onde
pesquisou sobre a influência de sociedades secretas na partilha do Oriente
Médio. Fala fluentemente árabe. Posteriormente foi professor na Universidade de
Tokyo, de 1964 a 1965, depois Universidade de Tsukuba e Universidade de Keio
(até 1967). Fala japonês. Foi professor na Universidade da Libia, em Tripoli,
de 1968 a 1970. Atualmente vive em Essex produzindo mais livros. É maçom. A
História Secreta do Ocidente, em sua versão original, é de 2005.
- Robert Lomas é um autor
controvertido. Seu livro (Lomas, 2007) é muito bem escrito, com muitas
referências, contando a história real verdadeira de The Royal Society em detalhes. Robert Lomas é um escritor
britânico, físico e maçom ativo. Escreve sobre Maçonaria e sobre o período
neolítico e sobre arqueoastronomia. Formou-se engenheiro eletricista na
Universidade de Salford, em Manchester. Fez seu PhD na Universidade de
Bradford, em Bradford, West Yorkshire, em física do estado sólido e estruturas
cristalinas. Atualmente leciona Sistemas de Informação na Universidade de
Bradford. Produz trabalhos altamente especulativos sobre as origens da
Maçonaria. Suas obras atraíram uma grande quantidade de críticas e até
indignação. É acusado de grande imaginação especialmente depois do aparecimento
de seu livro, escrito com Christopher Knight, em 1996: “A Chave de Hiram:
Faraós, Maçons e a Descoberta dos Pergaminhos Secretos de Jesus”. Um livro de
pura ficção. Mas o livro (Lomas, 2007) não é ficção e tem vastas citações
bibliograficas. O livro (Lomas, 2007) – The
Invisible College: The Royal Society, Freemasonry and the Birth of Modern
Science foi publicado na Inglaterra em janeiro de 2002.
- Finalmente o livro (Russell, 2001) é
outro livro clássico e emblemático “A História do Pensamento Ocidental”. Bertrand
Arthur William Russell, 3º Conde Russell, OM, FRS, foi um filósofo, matemático,
historiador, escritor e político ativista britânico (na verdade galês),
laureado com Nobel de Literatura em 1950. (OM -,Order of Merit é o reconhecimento real de qualidade de serviço
britânico: forças armadas, ciência, literatura e promoção de cultura – OM é
incorporado ao nome civil). (FRS – Fellow
of The Royal Society é, também, incorporado ao nome civil). Russell nasceu
em 1872, em Trellech, Monmouthshire, um dos condados históricos do País de
Gales e faleceu em 1970, em Penrthyndeudraeth, Caernarfonshire, outro condaado
histórico do País de Gales. Russell considerava-se um liberal e um pacifista.
Formou-se em matemática no Trinity
College, Universidade de Cambridge, e em filosofia na mesma universidade. Formou-se
em economia na London School of Economics.
Foi escolhido Fellow of The Royal Society
(FRS) em 1908. Lecionou em Cambridge. “A História do Pensamento Ocidental” (A History of Western Philosophy) foi
publicada em Londres em 1945, tornou-se um best-seller,
e forneceu a Russell uma renda estável pelo resto de sua vida. O volume
consultado (Russell, 2001) é a 2ª edição em português; em 2017, a Editora Nova
Fronteira publicou a 21ª edição em português. Na obra, Russell aborda com
maestria os principais embates que o homem travou para compreender o mundo
(Ocidental) e a si mesmo. O autor fala do desenvolvimento histórico da
filosofia traçando o percurso que vai dos pré-socráticos até as principais
tendências do pensamento na primeira metade do século XX.
[1] Fernando Antonio
Nogueira Pessoa, poeta, filósofo, dramaturgo e ensaísta português. Nasceu em
Lisboa, em 1888 e faleceu em Lisboa, em 1935. Alberto Caeiro é um dos
heterônimos usados por Fernando Pessoa. Há controvérsias se Fernando Pessoa foi
maçom.
[2] John Locke, médico e
filósofo inglês. Nasceu em 1632, em Wrington, Somerset e faleceu em 1704, em
High Laver, Essex. Empirista, pai dos iluministas, propagava a tolerância
política e religiosa e a separação da Igreja e do Estado.
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