dezembro 26, 2024

PEREGRINAÇÃO DE NATAL - Carlos Baccelli c


Em nossa peregrinação de Natal, na companhia de Chico, visitávamos cerca de dez, quinze casas nos diferentes bairros de Uberaba. Seguindo à frente, com Eurípedes Higino, os demais carros iam acompanhando o carro que transportava Chico pelas ruas escuras e esburacadas, vencendo, não raro, fortes enxurradas e lamaçal.

Numa das casas que, anualmente, visitávamos, nos deparamos com um jovem, com os seus quase trinta de idade, em cima de uma cama. A situação dele era precária. Forte, pesado, não caminhava e vivia deitado, alheio ao que se passava à sua volta.

Enquanto alguém deixava uma cesta básica na cozinha da família, bolos de Natal, pães e doces, Chico se encaminhava para o quarto estreito e, compadecido, ficava observando o rapaz em rude provação. O doente exibia calos nos punhos de ambas as mãos e na cabeça, principalmente na região da fronte. É que ele vivia esmurrando a si mesmo, ou batendo com a cabeça na parede!

Em uma de nossas visitas, quando saímos, Chico elucidou o quadro:

Ele foi um estrategista militar durante a guerra... Era muito inteligente e articulava planos de execução em massa dos inimigos. Como caiu pela inteligência, vive se recriminando, através dos murros que desfere na própria cabeça.

Não seria, então, o caso, Chico, - alguém perguntou de promover-se uma reunião de desobsessão para  auxiliá-lo? Ele deve viver atormentado por muitos espíritos obsessores... Talvez uma equipe de médiuns, se revezando em visitas a ele?...

Chico escutou a argumentação e respondeu baixinho:

Não, meu filho. Por enquanto, eu acho que ele está mais necessitado mesmo é de alguns lençóis...

É que a família pobre não conseguia ter lençóis em número suficiente para que o leito do rapaz se mantivesse sempre limpo era ali que ele fazia todas as suas necessidades fisiológicas, porque ninguém tinha força para levá-lo ao banheiro, que ficava lá fora, no quintal! E Chico acrescentou:

Como ele se encontra, ele já está no caminho da cura... A doença é o remédio de que ele precisa. Os espíritos obsessores, depois de terem feito o que queriam, já o largaram. Agora a tarefa é de Jesus, através de algum de nós que se disponha a ajudar...

Embora bem intencionado, vejamos o olhar do moralista espírita sobre a questão, que, naquele momento, era muito mais de caridade a ser posta em prática que de doutrinação espiritual. Muitos de nós, infelizmente, somos assim: vemos obsessão onde o problema, às vezes, é de extrema carência material!

Do Livro: O Médium Pés Descalços – item 56 de Carlos A. Baccelli

 

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