março 09, 2025

A DOUTRINA MACONICA - Izautonio Machado Jr.


A Maçonaria possui duas dimensões: operativa e especulativa.

A Maçonaria Operativa se refere à construção de edifícios físicos, fazendo uso de materiais como a pedra e o mármore.

A Maçonaria Especulativa se refere à construção de um templo espiritual no interior de cada um de seus adeptos, usando para esta finalidade as instruções. A maçonaria especulativa adota para o seu propósito os utensílios e materiais que são utilizados na maçonaria operativa, conferindo-lhes significados simbólicos.

Enquanto a Maçonaria Operativa é uma Arte, a Maçonaria Especulativa é um Sistema de Pensamento fundado em uma Filosofia Moral.

A Maçonaria Operativa tem por fim uma construção física (algo concreto), utilizando como meio, conhecimentos científicos, como a geometria e a arquitetura.

Por sua vez, a Maçonaria Especulativa tem por fim uma construção espiritual (algo abstrato), utilizando como meio, conhecimentos filosóficos e simbólicos que fazem alusão a construções físicas.

Embora não haja unanimidade entre os historiadores maçônicos, que criaram várias teorias acerca da origem da maçonaria especulativa, é geralmente aceito que esta é decorrente da fraternidade medieval de maçons operativos, o que se evidencia pela preservação de muitas de suas regras e lendas derivadas das chamadas Old Charges (Antigas Obrigações).

Definição

É relativamente fácil definir a Ordem. A Maçonaria é uma organização fraterna secular, tradicionalmente franqueada somente aos homens. Propaga os princípios morais e busca promover a prática do amor fraterno e da atividade caritativa entre todas as pessoas – não somente entre os maçons. Não é uma religião; mas é uma sociedade de homens religiosos, na medida em que exige de seus membros que acreditem na existência de um “Ser Supremo”. (...) Embora não seja uma religião, a Ordem pode ser considerada uma “companheira filosófica da religião”. Essa ideia está implícita na definição da Maçonaria – tirada da Leitura do Primeiro Grau (Trabalho de Emulação) – como “um peculiar sistema moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos”. (MACNULTY, 2012, p. 09)

Podemos ainda afirmar que a maçonaria é também uma organização iniciática e esotérica:

 Iniciática

“Iniciação” significa introdução de alguém em um novo conhecimento, sendo exatamente isso que ocorre na Iniciação Maçônica, onde o Iniciado passa a ter acesso aos conhecimentos da Ordem.

Esotérica

Ensinos exotéricos:

Ensinos passíveis de serem ministrados ao grande público e não somente a um grupo seleto de alunos.

Ensinos e doutrinas que, nas escolas da Antiguidade grega, eram transmitidos em público.

Ensinos esotéricos:

Ensinos ministrados a um círculo restrito e fechado de ouvintes.

Ensinos que, em certas escolas da Grécia antiga, destinado a discípulos particularmente qualificados, completava e aprofundava a doutrina.

O esoterismo se caracteriza pela transmissão de conhecimentos mais avançados de forma progressiva a pessoas eleitas consideradas aptas a recebê-los, sendo, portanto, de acesso restrito. 

É exatamente isso o que ocorre na maçonaria, através da seleção de membros e do sistema de graus maçônicos, que são etapas de estudos acessíveis progressivamente.

Tais características não devem ser confundidas com o misticismo ou com o ocultismo.

Reflexão

Infelizmente, por desconhecimento da natureza da instituição a que pertencem, muitos maçons desejam fazer dela uma organização com objetivos completamente diferentes daqueles para os quais ela existe, desvirtuando as suas finalidades, o que é perigoso e coloca em risco a própria existência da maçonaria.

Não há sentido em ser maçom se a Filosofia Iniciática, que é a própria razão pela qual alguém ingressa na caminhada maçônica, é desprezada. Se um novo pensamento de busca pelos valores realmente iniciáticos da Maçonaria não começar a brotar dentro de suas fileiras e de suas instituições, é pouco provável que a essência filosófica se mantenha e possa sustentar sua manutenção e seu avanço pelos séculos vindouros. Deixará de ser uma “instituição iniciática” e se tornará apenas uma instituição beneficente e altamente burocrática, de onde terá se retirado todo o teor iniciático. É preciso que cada maçom repense seu próprio papel, seu próprio proceder e que, pouco a pouco, isso se torne uma onda de renovação no interior do povo maçônico.” (MUNIZ, Curso Elementar de Maçonologia). 

Os Princípios da Maçonaria

Os Princípios da Maçonaria revelam três dos principais aspectos da Ordem:

Amor Fraternal: a maçonaria é uma Fraternidade de Irmãos;

Amparo: a maçonaria prega a prática da Caridade e do bem ao próximo;

Verdade: a maçonaria é um Sistema de Filosofia Moral e Ética Social, que contém em seu bojo um conjunto de instruções e lições de virtudes com o objetivo promover o aperfeiçoamento de seus membros.

A maçonaria é uma filosofia de vida, e por intermédio da sua liturgia, simbologia, alegorias e palestras inculca em seus membros a prática das virtudes.

O Lema da Maçonaria latina

A Igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinguir a religião, a raça ou nacionalidade;

A Liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos, sejam eles instituições, etnias, nações;

A Fraternidade de todos os homens, já que somos todos filhos do mesmo CRIADOR e, portanto, humanos e como consequência, a fraternidade entre todas as nações.

A doutrina maçônica

Terceira Instrução de Aprendiz Maçom

(Ritual de 1928)

Ven. — Que é a Maçonaria?

1° Vig. — Uma associação íntima de homens escolhidos, cuja doutrina tem por base o G.A.D.U., que é Deus; como regra, a Lei Natural; por causa, a verdade, a liberdade e a Lei moral; por princípio, a igualdade, a fraternidade e a caridade; por frutos, a virtude, a sociabilidade e o progresso; por fim, a felicidade dos povos que ela procura incessantemente reunir sob sua bandeira de paz. A Maçonaria existe e existirá sempre onde houver o gênero humano.

Ritual do Grau de Aprendiz Maçom 

(1928)

A Maçonaria proclama as seguintes doutrinas sobre que se apoia:

«Para elevar o homem aos próprios olhos, para torná-lo digno de sua missão sobre a Terra, a Maçonaria erige em dogma que o Grande Arquiteto do Universo deu ao mesmo, como o mais precioso dos bens, a liberdade, patrimônio da Humanidade toda, cintilação celeste que nenhum poder tem o direito de obscurecer ou de apagar e que é a fonte de todos os sentimentos de honra e de dignidade».

«Desde a preparação do primeiro grau até a obtenção do mais elevado da Maçonaria Escocesa, a condição primordial, sem a qual nada se concede ao aspirante, é uma reputação de honra ilibada e de probidade incontestada».

«Àquele para quem a religião é o consolo supremo, a Maçonaria diz: Cultiva a tua religião ininterruptamente, segue as inspirações de tua consciência; a Maçonaria não é uma religião, não professa um culto; quer a instrução leiga; sua doutrina se condensa toda nesta máxima — AMA A TEU PRÓXIMO».

«Àquele que, com razão, teme as discussões políticas, a Maçonaria diz: «Eu condeno qualquer debate, qualquer discussão em minhas reuniões; serve fiel e devotadamente à tua Pátria e não te pedirei contas de tuas crenças políticas. O amor da Pátria é perfeitamente compatível com a prática de todas as virtudes; a minha Moral é a mais pura, pois funda-se sobre a primeira das virtudes — A SOLIDARIEDADE HUMANA».

«O verdadeiro maçom pratica o Bem e leva a sua solicitude aos infelizes, quaisquer que eles sejam, na medida de suas forças. O maçom deve, pois, repelir com sinceridade e desprezo, o egoísmo, a imoralidade».

Os ensinamentos maçônicos induzem seus adeptos a dedicarem-se à felicidade de seus semelhantes, não porque a razão e a justiça lhes imponham esse dever, mas porque esse sentimento de solidariedade é a qualidade inata que os fez filhos do Universo e amigos de todos os homens, fiéis observadores da Lei de Amor e Simpatia que Deus estabeleceu no Planeta.

Considerações 

A maçonaria é depositária de doutrinas morais, religiosas e filosóficas que têm sua gênese nos Antigos Manuscritos e que foram com o tempo sendo desenvolvidas, ao ponto em que estamos em sua atual fase especulativa.

Muito mais simples no princípio, a simbologia e filosofia maçônica foi gradativamente se tornando mais complexa à medida que absorvia elementos oriundos de outras escolas de pensamento.

Durante o século XVIII, foram criados cerca de mil graus maçônicos, dos quais boa parte foram aproveitados na organização de dezenas de ritos diferentes. Foi necessário buscar conteúdo para a produção destes graus em várias fontes, tais como a Cabala, a Alquimia, o Rosacrucianismo, o Hermetismo, a Teosofia e a Numerologia Pitagórica.

Alguns graus traziam conexões com temas da Antiguidade, surgindo daí a mítica da origem egípcia, na esteira na “egiptomania” que estava em voga na época. Outros graus traziam temas Templários, etc.

Em meio a esta avalanche de novas informações, o conteúdo original da maçonaria, que teve origem a partir do método pedagógico de alegorias e símbolos, com raiz genética na Maçonaria Operativa, sobreviveu.

A bem da verdade, a Maçonaria não estuda de forma aprofundada esses temas adicionados, senão apenas utiliza alguns elementos destes, fazendo somente menções superficiais, ficando a critério do maçom buscar mais informações em fontes externas.

O espírito do Rito Francês

É comum ouvir que cada ritual tem sua própria especificidade e sua própria espiritualidade. Como os outros ritos, o Rito Francês baseia seus ensinamentos nos emblemas bíblicos e nos pretextos históricos a ele associados, mas não acrescenta nenhuma abordagem hermética e se concentra mais no valor moral das alegorias que são usadas do que nos seus detalhes.

Poderíamos dizer que a especificidade do rito francês é que ele não possui um: os outros ritos foram influenciados por fatores extra maçônicos e é essa influência que dá a todos sua especificidade, enquanto o rito francês não sofreu tal influência. Isso é verdade quando comparamos o Rito Francês com os outros Ritos da Maçonaria Francesa do século XVIII, isto é, com o Rito Escocês Retificado e com o Rito Escocês Antigo e Aceito, deixando os Ritos Britânicos e Americanos. Em particular, o rito francês não tem doutrina explícita. O fato de ele não ter doutrina não significa que ela não contenha ensino, mas seu ensino não é desenvolvido em lugar algum na forma doutrinária explícita e discursiva nos textos do rito.

A espiritualidade maçônica está enraizada na tradição judaico-cristã e tem dois fundamentos muito simples: a irmandade dos homens, a paternidade de Deus, sendo este último o fundamento do primeiro. Os pedreiros do rito francês das classes azuis recebem assim uma educação simbólica baseada nesses dois princípios e nas alegorias que lhe são anexadas sem desenvolver o simbolismo alquímico ou cavalheiresco que está presente em outros ritos. É claro que isso não constitui de forma alguma um juízo de valor em relação a esses ritos, também praticados nas lojas da Grande Loja Nacional Francesa.

Texto extraído do website da Grande Loja Nacional Francesa.

Referências

ASLAN, Nicola. Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia. Londrina: Editora Maçônica “A Trolha”, 2012.

GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DE RONDÔNIA. A Maçonaria para não maçons, 2020.

ISMAIL, Kennyo. Curso de Introdução à Maçonaria. No Esquadro, 2016.

ISMAIL, Kennyo. O que é Cabala e qual sua verdadeira relação com a Maçonaria? Disponível em O que é Cabala e qual sua verdadeira relação com a Maçonaria? – O Ponto Dentro do Círculo (wordpress.com). Acesso em 26 de setembro de 2022.

GRANDE LOJA SYMBÓLICA DO RIO DE JANEIRO. Ritual do Gráo de Aprendiz – Maçon. Rio de Janeiro: Typographia Delta, 1928.

MACNULTY, W. Kirk. A maçonaria. Símbolos, segredos, significado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

MACHADO JUNIOR, Izautonio da Silva. Como o Rito Moderno pode contribuir para o futuro da maçonaria e das grandes lojas brasileiras. Apostila do Congresso Nacional do Rito Moderno - Novembro de 2021.

MACHADO JUNIOR, Izautonio da Silva. Curso de Introdução ao Rito de York. Disponível em https://cmsb.org.br/curso/introducao-ao-rito-de-york/. Acesso em 06 de janeiro de 2021.

MACHADO JUNIOR, Izautonio da Silva. Definição d

e Maçonaria. Revista Triponto, ANO II - Nº 03 - Fevereiro de 2021.

MUNIZ, André Otávio de Assis. Curso Elementar de Maçonologia. Editora Richard Veiga Editorial, São Paulo, 2016.

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