MARIA DERAISMES
Sempre que se fala da participação da mulher na maçonaria, em maçonaria mista e em maçonaria feminina, vem a baila a figura histórica de Maria Deraismes, uma mulher à frente de seu tempo, sempre festejada e mencionada em livros que trata sobre a Ordem Maçônica. No Livro Maçônico do Centenário, editado pelo Grande Oriente do Brasil, em 1922, em comemoração ao seu primeiro centenário, tem um capítulo especial dedicado a esta grande mulher e a participação feminina na Maçonaria.
Tinha Maria 33 anos quando sua mãe faleceu, tendo ela ficado isolada durante meses. Quatro anos depois, em 1865, sua irmã ficou viúva e voltou para casa. As duas irmãs se entendiam muito bem e tinham uma renda mensal capaz de lhes assegurar uma vida confortável e sem preocupações financeiras, permitindo que Maria se dedicasse às suas atividades intelectuais, abrindo seus salões à elite pensante parisiense. Nesta época, a igreja católica combatia ferozmente a Maçonaria, a ponto de, numa pregação na catedral de Notre-Dame, o padre Loison dizer que os membros da Maçonaria deveriam ser dizimados. A Franco-Maçonaria resolveu então se defender.
Com dificuldade conseguiu autorização dos poderes constituídos para fazer palestras públicas. Estas palestras eram dadas na sede da Maçonaria e eram chamadas palestras filosóficas, sendo que qualquer pessoa poderia assistir, inclusive mulheres. Em 20 de março de 1866, no Grande Oriente da França, portanto dezesseis anos antes de sua iniciação, Marie Deraismes depois de aceitar convite formal feito à ela falou sobre "A Moral", que definiu como sendo "A aplicação dos axiomas da Justiça, do Belo e do Bom na vida cotidiana".
Foi um sucesso total reconhecido até por aqueles que foram ouvi-la para poder criticá-la, como um grande jornalista que disse: "Eu confesso que cheguei à conferência de Maria Deraismes pensando encontrar uma velha solteirona metida a intelectual e nula. Minha surpresa foi ver uma jovem mulher, com o rosto pálido, muito distinta, de uma elegância simples, sem timidez ridícula nem arrogância.
Desde o começo ela conquistou a plateia. Uma voz com belo timbre e elocução fácil, uma grande pureza de linguagem, alfinetadas bem colocadas sem serem maldosas, além de um grande bom senso e de incrível erudição."
Continuou Maria a fazer uma série de palestras sempre com salas lotadas e muito polêmicas. Participou do jornal "O Direito da Mulher" e continuou escrevendo artigos. Nesta época, 1866, os salões das irmãs Deraismes mais pareciam uma filial da Loja Maçônica Mars et les Arts, e da redação do Jornal "A Liberdade", do Irmão Emile Grandin.
Mas, Maria sofria de enfisema e após uma violenta crise foi passar um tempo na casa de seu tio perto de St. Malo. Regressou a Paris em 1871, voltou a escrever artigos, participou ativamente da "Associação pela Melhoria do Destino das Mulheres", fez palestras e fez campanha pela obtenção dos direitos civis e políticos das mulheres.
Em janeiro de 1875, fez uma palestra tão explosiva que foi chamada pela polícia para que tivesse mais moderação, tendo sido também insultada pela igreja por defender o direito das crianças terem escolas públicas. Em 1879, ela organizou conferências por toda a França.
Existiam, nesta época, 1880, o Grande Oriente e as Grandes Lojas. Doze Lojas, das Grandes Lojas, desligaram-se e formaram a Grande Loja Simbólica Escocesa. Estas Lojas dissidentes eram das mais avançadas socialmente e a elas juntaram-se outras formando um grupo de 36 lojas.
INICIAÇÃO AO 1° GRAU MAÇÔNICO de Mademoiselle MARIA DERAISMES".
Esse convite foi assinado pelo Venerável Mestre Houbron e mais seis mestres. Nessa época ele falou: "Com a aprovação da Loja, já é hora de se reconhecer o princípio de igualdade entre homens e mulheres pela ação Maçônica. Sendo assim, nós vamos iniciar a Srta. Maria Deraismes, a famosa mulher oradora, escritora e filósofa."
Neste dia 14 de janeiro de 1882, dia da Iniciação de Maria Deraismes, ela falou: "Eu agradeço à Loja "Les Libres Penseurs", em Pecq, que hoje me honra aceitando-me entre seus membros. A porta que vocês abriram não se fechará atrás de mim e muitas outras mulheres me seguirão. Hoje vocês são considerados heréticos, porque vocês são reformadores. Uma vez que em todos os lugares estão urgentemente sendo necessárias, vocês não terão que esperar muito para alcançarem o sucesso. A Obediência Masculina, a ortodoxia Franco-Maçom, deve proibir, por algum tempo ainda, a admissão de mulheres nos Templos, além de considerá-las profanas; não deixemos que isto nos preocupe. Trabalharemos ativamente para fazê-los sair de seus caminhos errôneos e, apesar do que eles dizem, trabalharemos e diremos:
A cerimônia de Iniciação foi emocionante, pois era a vitória de anos de luta. Falaram na oportunidade o Venerável, a Aprendiz Maria Deraismes e o Irmão Georges Martin, da Grande Loja Simbólica Escocesa. Simultaneamente à Iniciação, a Loja enviou uma carta à Grande Loja Simbólica Escocesa, obediência a qual pertencia, retirando-se da Confederação, tornando-se independente.
A luta continuava, e nos salões das irmãs Deraismes o estudo para uma loja mista continuava. Finalmente, a Loja Jerusalém Escocesa, no dia 8 de maio de 1891, resolveu estudar a possibilidade de construir as Lojas Mistas a partir de um projeto apresentado pelo Irmão Georges Martin.
Em junho de 1892, Maria convocou um grupo de mulheres, altamente qualificadas, para se prepararem para uma possível iniciação dia 4 de março de 1893. Numa segunda reunião, todas as disposições foram tomadas para criar, na mais perfeita regularidade, a primeira Loja com todas as mulheres presentes.
No dia 14 de março de 1893 é fundada a Loja, tendo como Venerável Fundadora MARIA DERAISMES e como secretária a Irmã MARIA MARTIN, com mais quatorze Irmãs presentes e duas ausentes que foram iniciadas depois.
Após as sessões que permitiram que as Irmãs passassem pelos graus de Companheiro e de Mestre, a FRANCO-MAÇONARIA MISTA "LE DROIT HUMAIN" foi oficialmente fundada no dia 4 de abril de 1893. A Ordem era constituída por quatorze Irmãs, um Irmão no grau de Mestre, Georges Martin e duas Irmãs no grau de Aprendiz.
Maria, já muito doente e com 64 anos, dirigiu nove sessões ritualísticas nesse ano de 1893, depois teve que permanecer de cama, mas lúcida e ativa até o último dia.
Na véspera de sua morte, recebeu uma carta de gratidão da Federação dos Movimentos Feministas, informando da reforma do código Civil a favor das mulheres e reconhecendo nela, Maria, uma das artífices desta vitória por sua luta de 20 anos pelos direitos destas mulheres.
Maria Deraismes faleceu no dia seguinte, 6 de fevereiro de 1894, às 2 horas da manhã, com 65 anos, repetindo: "A gente não se cansa de amar, a gente não se cansa de lembrar..."
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