março 15, 2025

A VIDA É "DUKKHA" - Jorge Gonçalves




Easter egg: M. C. Escher - "Mão com Esfera Refletora", 1935, litogravura, 25 x 43,5 cm, National Gallery of Canada, Ottawa.  

Na obra original, uma mão meticulosamente detalhada sustenta uma esfera cristalina, que reflete o autorretrato de Escher em seu interior. Na minha releitura, eu ocupo o lugar de Escher. A curvatura da esfera distorce o espaço ao redor, criando um cenário composto por estantes, móveis e a luz suave de uma janela ao fundo.  

Bom dia. Com a postagem, criou-se uma série de comentários. Vamos tentar explicar o contexto. Imagine um filho que acaba de perder o pai, alguém profundamente querido. Nos dias seguintes, ele se recusa a aceitar a realidade da perda. Aos poucos, o luto se transforma em melancolia, depois em depressão e, finalmente, em um desespero paralisante, como se o mundo tivesse perdido todo sentido.  

No Budismo, essa dor é compreendida pela Primeira Nobre Verdade: "A vida é dukkha". A palavra dukkha não se refere apenas ao sofrimento evidente, mas à insatisfação inerente à existência, causada pelo apego ao que é transitório. No caso do filho, o sofrimento se agrava porque ele se prende à ideia de que o pai "deveria" estar presente, à identidade de filho que ele sustentava e até à raiva da impermanência. O Buda ensina que essa resistência, fruto do desejo (tanha) de controlar o incontrolável, é o que alimenta a angústia.  

Para Huxley, a solução não está em negar a dor ou lutar contra ela, mas em aceitar a realidade como ela é. Isso não significa "nada importa", mas um ato corajoso de reconhecimento: "Meu pai se foi. Preciso transformar o sofrimento em boas lembranças, e isso é parte da vida". Essa aceitação, como um despertar gradual, permite que o filho transcenda e aprenda que "eu sou apenas um filho em luto", encontrando serenidade mesmo na adversidade.  

Lembre-se de que cada frase diária serve para reflexão. Aceitar ou não aceitar não importa, refletir é importante. A paz não vem da ausência de dor, mas da forma como nos relacionamos com ela. Aceitar não é esquecer, mas honrar a perda sem permitir que ela defina quem somos. Como escreveu Huxley em *A Filosofia Perene*:  

"A liberdade está em ver claramente o que somos, sem ilusões."  

Esta reflexão foi inspirada por um grande amigo, Júlio, que perdeu seu pai há poucos dias.  

Agora, a imagem passou despercebida para a maioria, e apenas uma pessoa conseguiu identificar o easter egg.



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