O poeta baiano Antonio Frederico de Castro Alves (1847-1871), apesar de sua morte precoce, é considerado um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos. De formação cultural sofisticada, construiu sua poesia sobre temáticas eminentemente brasileiras, alcançando uma admirável compreensão da alma popular.
Nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da cadeira n. 7, da Academia Brasileira de Letras por escolha do fundador Valentim Magalhães.
Era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o poeta tinha 12 anos, e, por esta, neto de um dos grandes heróis da Independência da Bahia. Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a capital, estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e precoce para a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os preparatórios e, depois de duas vezes reprovado, matriculou-se finalmente na Faculdade de Direito em 1864. Cursou o 1º ano em 1865, na mesma turma que Tobias Barreto. Logo integrado na vida literária acadêmica e admirado graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos amores que dos estudos. Em 1866, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou apaixonada ligação amorosa com atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que desempenhou importante papel em sua lírica e em sua vida.
Nessa época Castro Alves entrou numa fase de grande inspiração. Escreveu o drama Gonzaga e, em 1868, transferiu-se para o sul do país em companhia da amada, matriculando-se no 3º ano da Faculdade de Direito de São Paulo, na mesma turma de Rui Barbosa. No fim do ano o drama é representado com êxito enorme, mas o seu espírito se abate pela ruptura com Eugênia Câmara. Durante uma caçada, a descarga acidental de uma espingarda lhe feriu o pé esquerdo, que, sob ameaça de gangrena, foi, afinal, amputado no Rio, em meados de 1869. Sua saúde, que já se ressentira de hemoptises desde os dezessete anos, quando escreveu “Mocidade e Morte”, cujo primeiro título original era “O tísico”, ficou definitivamente comprometida. De volta à Bahia, passou grande parte do ano de 1870 em fazendas de parentes, à busca de melhoras para a tuberculose. Em novembro, saiu seu primeiro livro, Espumas flutuantes, único que chegou a publicar em vida, recebido muito favoravelmente pelos leitores.
Daí por diante, apesar do declínio físico, produziu alguns dos seus mais belos versos, animado por um derradeiro amor, este platônico, pela cantora italiana Agnese Trinci Murri. Faleceu em 1871, aos 24 anos, sem ter podido acabar a maior empresa a que se propusera, o poema Os escravos, uma série de poesias em torno do tema da escravidão. Ainda em 1870, numa das fazendas em que repousava, havia completado A Cachoeira de Paulo Afonso, que saiu em 1876, e que é parte do empreendimento, como se vê pelo esclarecimento do poeta: “Continuação do poema Os escravos, sob título de Manuscritos de Stênio.”
Duas vertentes se distinguem na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada de forte sensualidade, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de fulgurante eloquência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor, como desejo, frêmito, encantamento da alma e do corpo, superando o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica, reorganizando-lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas.
Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves, na linhagem de Victor Hugo, um dos seus mestres, viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de “Cantor dos escravos”. A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se encontram na eloquência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade.
Dele ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano, presa dos desajustamentos da História. Encarna as tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século. O negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, dificilmente se podia elevar a objeto estético, o que ele alcançou, no entanto, numerosas vezes. Surgiu primeiro à consciência literária como problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. Só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano.
Com seu lirismo exacerbado compôs poemas antológicos do romantismo brasileiro, mas não afastou-se jamais de sua veia libertária de onde emergiu o poeta social, o republicano, o abolicionista, o cantor dos escravos. Alguns poemas, como "O navio negreiro" e "Vozes d'África", obtiveram enorme sucesso popular quando declamados pelo poeta e se transformaram em verdadeiras bandeiras na luta contra a escravidão. O livro "Os escravos" foi publicado de forma independente pela primeira vez em 1883, doze anos após a morte do autor e reúne as composições antiescravagistas de Castro Alves, entre elas, os famosos poemas abolicionistas “O Navio Negreiro” e “Vozes d'África”.
Nos poemas de Os Escravos de Castro Alves, a poesia é suplantada pelo discurso político grandiloquente e até verborrágico. Para atingir o alvo e persuadir o leitor e, muito mais, o ouvinte, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma ideia. A poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado, para reforçar a ideia do poema.
Ao longo de Os Escravos de Castro Alves e A Cachoeira de Paulo Afonso, Castro Alves vai apresentando ao leitor a vida do cativo, negro ou mestiço, sujeito à crueldade dos senhores, que arrancam os filhos dos braços das mães para os vender, estupram as mulheres, torturam e matam impunemente os “Homens simples, fortes, bravos…/ Hoje míseros escravos/ Sem ar, sem luz, sem razão…”
Afrânio Peixoto registra que esta obra deu a Castro Alves, então o maior poeta lírico e épico do Brasil pelos livros Espumas Flutuantes e Hinos do Equador, o "renome de nosso único poeta social", e também como "poeta dos escravos" e "poeta republicano", no dizer de Joaquim Nabuco, e ainda o "poeta nacional, se não mais, nacionalista, poeta social, humano e humanitario", no dizer de José Veríssimo.
Peixoto ressalta que a obra propaga a causa abolicionista. Registra que seus primeiros versos pela libertação dos cativos datam de 1863, quando contava somente dezesseis anos de idade; a maioria deles, contudo, é de dois anos mais tarde, 1865, quando são publicados, declamados e divulgados em todo o país, antecedendo autores como Tavares Bastos e dando o prenúncio da geração que traria a luta pela causa anti-escravidão como um dos ideais a ser perseguido e somente alcançado duas décadas depois.
Única peça de teatro escrita por Castro Alves, "Gonzaga ou A Revolução de Minas : drama historico brazileiro" foi encenada pela primeira vez na Bahia, no dia 7 de setembro de 1867, com estrondoso sucesso, sendo o poeta coroado e carregado nos ombros pelos admiradores até sua casa. O drama, carregado de patriotismo, recebeu elogios de José de Alencar e Machado de Assis e obteve consagração também em São Paulo, quando foi levado a cena, em outubro de 1868.
O Único livro publicado em vida do poeta, "Espumas flutuantes" teve grande e contínuo sucesso de público. Trata-se de uma coletânea de textos produzidos entre 1864 e o ano da publicação, na qual se encontram os vários tons da sua poesia: o intimista, o coloquial e o grandiloquente. Organizada paralelamente ao volume 'Os escravos', que o poeta não teve tempo de publicar, a coletânea não traz, por isso mesmo, os poemas abolicionistas que o consagraram.
Em “Ode ao Dois de Julho” (ou “Dous” de Julho, como grafado na versão original), Castro Alves faz uma espécie de poema épica em homenagem à Independência da Bahia, ocorrida em 2 de julho de 1823. Nessa data em questão, houve um conflito intenso entre as forças de Portugal e as do Brasil, resultando na expulsão dos europeus e na consolidação da Independência do Brasil.
Na primeira estrofe vemos uma descrição do campo de batalha, nos cerros da Bahia, com um anjo da morte costurando uma mortalha (um pano funerário) em Pirajá, onde aconteceu um dos conflitos decisivos. Nesse primeiro momento ainda resta a dúvida: qual dos dois gigantes vencerá, Brasil ou Portugal?
Em seguida, Castro Alves compara a batalha a um circo, como ao Coliseu, famoso pelas lutas de gladiadores. Entretanto, não era uma batalha de dois povos, mas uma batalha entre dois ideais: o passado e o futuro, a escravidão ou a liberdade. A batalha se estende até que a “branca estrela matutina” surge nos céus, marcando o início de novos tempos. E uma voz surge logo em seguida: a voz da Liberdade, que se estenderia às gerações futuras, honrando os soldados que perderam a vida lutando por essa causa.
https://www.academia.org.br/academicos/castro-alves/biografia#:~:text=Biografia&text=Castro%20Alves%20(Ant%C3%B4nio%20Frederico)%2C,escolha%20do%20fundador%20Valentim%20Magalh%C3%A3es.
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