abril 25, 2025

MAÇONARIA OPERATIVA–A ORIGEM DA ARTE REAL - Lucas Galdeano



A Maçonaria Operativa, ou dos Construtores foi um período em que a Ordem Maçónica estava diretamente ligada à arte da construção e que teve o seu apogeu no século XIII. 

Também conhecida por Maçonaria de Ofício, resplandeceu na Idade Média, sob a influência espiritual da Igreja.

A Europa vivenciou, no período, efervescente procura por construções de catedrais, igrejas, abadias, mosteiros, conventos, palácios, basílicas, torres, casas nobres, mercados e paços municipais. 

Pode-se afirmar que o continente possuía grande abundância de monumentos e construções arquitetadas e executadas por Maçons Operativos. 

As principais obras da época incluem, de entre outras, a famosa Notre Dame de Paris, as Catedrais de Reims, de Estrasburgo, de São Pedro em Roma, de Sevilha, de Toledo, a Abadia de Westminster, o convento de Monte Cassino e o Mosteiro da Batalha.

Os primeiros documentos de grande importância para a Maçonaria – não por coincidência – surgiram nessa época. 

A Constituição de York, o Manuscrito Régius, o Manuscrito de Cooke, os Estatutos e Regulamentos da Confraria dos Talhadores de Pedra de Estrasburgo, o Regulamento de 1663 ou Leis de Santo Albano, o Manuscrito Hallywell, o Manuscrito de Schaw, o Manuscrito de Kilwinning, constituindo-se documentos que viriam compor a Maçonaria Moderna e que ficaram conhecidos como as “Old Charges”, denominação inglesa das Constituições Antigas. 

As Old Charges ou Antigas Obrigações ou Antigos Deveres são escritos que se referem às Lojas e aos Regulamentos Gerais. 

Tais manuscritos ilustram os deveres, os segredos, os usos e os costumes dos Maçons Operativos e constituem-se como base da jurisprudência para a Maçonaria Moderna.

Credita-se o surgimento das Old Charges ao século XIV, à Inglaterra, porém é da Escócia que provêm as publicações dos primeiros documentos, a partir de 1600. 

O número dos manuscritos, conhecidos e reconhecidos como autênticos, ultrapassa os 130.

A importância histórica das Old Charges reside no facto de terem sido fundamentais para o florescimento de uma Maçonaria organizada, principalmente em Inglaterra. 

Tal evento histórico ocorreu antes da fundação de um Sistema Obediencial e concorreu de modo marcante para a estruturação da Maçonaria Especulativa.

Alguns estudiosos apontam a Carta de Bolonha como o documento mais antigo de entre as Old Charges, entretanto, a esmagadora maioria dos pesquisadores afirma ser o Manuscrito Régius, também conhecido como Manuscrito Halliwell, grafado em inglês arcaico, com letras góticas sobre pele de carneiro, verdadeiramente o mais antigo. 

O Halliwell compõe-se de 64 páginas, com 794 versos. 

A sua produção data da década de 1390, e teria sido cópia de um documento anterior. 

O autor é desconhecido, mas o seu local de origem é Worcester/Inglaterra, fundada em 407 DC, segundo o historiador maçónico Wilhem Begemann. 

Durante muito tempo o Manuscrito Régius foi considerado um poema sobre obrigações morais. 

Em 1840, todavia, estudos realizados por James Orchard Halliwell Phillips – antiquário inglês não maçom – comprovaram tratar-se verdadeiramente de um documento relativo à Maçonaria Operativa.

O trajeto percorrido pelo manuscrito, até ser descoberto como documento maçónico, é um tanto incerto. 

Especula-se que ele teria sido propriedade de vários antiquários e colecionadores. 

Adquirido pelo Rei Carlos II, integrou o acervo da Biblioteca Real. 

Em 1757, foi doado pelo Rei George II ao Museu Britânico e hoje encontra-se na Biblioteca Britânica, fazendo parte da Colecção Real de Manuscritos – Royal Manuscript Collection.

O estudo das Antigas Obrigações propicia ao Maçon o conhecimento das suas origens e uma melhor visão de conjunto da instituição, revelando o que até então parecia obscuro sobre questões relacionadas com a Ordem Maçónica. 

Os Antigos Deveres compreendem a regulamentação da conduta moral dos maçons; os juramentos e compromissos; o amparo para casos de doença ou desemprego; os recursos à instância superior; a dedicação exigida para a obra a ser edificada; as bases do Conselho de Família; a transformação das Lojas em grupos familiares maçónicos como instrumento racional de solução de problemas. 

As Old Charges também tratam da implantação de uma saudável organização familiar como elemento básico para a aquisição de um bom e futuro obreiro; da prática do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade; do socorro aos maçons nos seus problemas, inclusive com a Justiça; da polémica questão sobre o “Livro da Lei”, não aceite naquela época como um “Livro Sagrado”, mas tão somente como o “Livro da Corporação”, ou seja, o Regimento da Oficina. 

Tais documentos antigos expressam grande religiosidade. 

Temia-se naquele tempo o inferno e é por essa razão que a Maçonaria teve vários padroeiros, como Severo, Severiano, Carpóforo, Vitorino (os Quatro Coroados), São Thomaz, São Luís, São Braz, Santa Bárbara e São João, que permanece em alguns Ritos Maçónicos até os dias de hoje. 

É importante salientar que ainda não havia citações sobre as Antigas Civilizações, como a egípcia e a grega. 

Essa influência mística só viria a incorporar-se na Maçonaria, no Renascimento.

No decorrer do tempo, a arquite
tura sofreu transformações e as corporações de ofício perderam o monopólio do poder sobre artistas e construtores. 

No século XVII, quando os segredos da arte de construir grandes obras chegaram ao domínio público, ocorreu a desestruturação da Maçonaria Operativa. 

O seu declínio, contudo, teve início no final do século XIII, quando a procura por construção de catedrais e outras obras de porte teve um arrefecimento considerável.


Nenhum comentário:

Postar um comentário