Em muitos movimentos e correntes espirituais, uma das tensões mais frequentes é a que ocorre entre aqueles que definem o saber positivo como fundamental, cultivando-o, fundamentalmente no campo da História e da História do Pensamento;
E aqueles que definem uma pertença e uma prática como um caminho que apenas no interior pode ter lugar, sem que o conhecimento livresco e acadêmico tenha algum lugar significativo no processo de crescimento e aperfeiçoamento.
Hoje, tal como em muitos outros momentos, tem lugar essa tensão, afirmando-se recorrentemente uma conceção de Maçonaria como quase exclusivamente prática.
A frase “fez-se maçonaria”, demonstração de satisfação e regozijo, dita tantas vezes no final de uma sessão, leva ao limite o campo semântico da ideia de oficina, do labor oficinal.
Isto é, faz-se Maçonaria no trabalho em Loja, e só isso realiza o maçom.
E este ponto, a centralidade do trabalho em sessões ritualísticas, mais que central, é o centro do que é a Maçonaria.
A dimensão iniciática, renovada em cada abertura de trabalhos através do reconhecimento entre Irmãos e da delimitação de um espaço e um tempo fora dos espaços e tempos comuns, é a essência da alquimia interior que é transformadora e que atualiza, ritual após ritual, o trabalhar a pedra que cada maçom procura realizar em si mesmo.
Contudo, entendemos a semântica que a tradição cimentou e que se expressa nos Ritos?
Isto é, temos as capacidades que nos permitam fruir plenamente de um momento ritualístico, tendo as ferramentas para especular com base no que se passa à nossa volta e onde participamos?
Num mundo profano imensamente afastado das ritualidades e ainda mais do vivenciado símbolo, o trabalho em Loja é empobrecido pela iliteracia que pode grassar entre aqueles que, vivendo o ritual, dele não podem retirar verdadeiro proveito porque não possuem o léxico, a cultura e o domínio da tradição que os habilitaria a uma plena vivência ritual.
Viver o ritual é fundamental numa dimensão antropológica, mas isso não basta se o sujeito não estiver equipado com os apetrechos que lhe permitam abrir as portas que o símbolo franqueia.
A Maçonaria precisa do conhecimento como ferramenta para dotar os seus membros das capacidades que lhes permitam gozar da plena liberdade hermenêutica no rito.
Sem essa liberdade, que funciona em cima da cultura maçônica, não se cumpre nenhum Rito.
Vivem-se gestos e repetem-se palavras, mas nada de alquímico e verdadeiramente transformador pode ter lugar.
A especulação maçônica é inevitavelmente do campo filosófico, com o que isso implica de genealogia de ideias.
A sensibilidade, por si só, não conduz a um aperfeiçoamento total.
O ato de trabalhar a pedra necessita de um escopro e um martelo que, na dimensão especulativa, são a bibliografia, as leituras, o debate.
Urge, num momento em que tantas equações se colocam em relação ao futuro da Maçonaria, apostar na formação dos novos membros, na “reciclagem” constante, na “formação ao longo da vida” daqueles que teimaram em continuar a vir às sessões.
A resposta a algumas das questões que mais preementemente se colocam hoje, seja em torno da redução de membros nas Obediências em alguns países, seja na elevada taxa de abandono entre nós, encontra-se numa fraca formação que conduz a que, nem os de fora, nem os de dentro, saibam o que é Maçonaria, o que fazem em Loja, para além de repetir frases bonitas e ouvir discursos interessantes, esvaziando de sentido a frase que repetem: “fez-se Maçonaria”.
PORTANTO IRMÃOS, VAMOS AOS ESTUDOS URGENTEMENTE!
Paulo Pinto M.'.M.'.
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