Não vejo uma correlação direta, histórica ou doutrinária clássica entre a Páscoa e a Maçonaria, como há com temas como o Templo de Salomão, a lenda do 3º grau, ou os ofícios de pedreiros medievais.
No entanto, algumas associações simbólicas ou analogias podem ser feitas, desde que se tratam de interpretações subjetivas, contextuais ou simbólicas, e não de vínculos históricos efetivos ou doutrinários autênticos.
Contudo, dito isso, a celebração da Páscoa, em suas origens, marca a passagem de um estado de servidão para um estado de liberdade. Seja na tradição hebraica, como a libertação do povo do Egito, ou na tradição cristã, como a superação da morte pela ressurreição, o sentido fundamental é o de transição: uma travessia que transforma.
É justamente nessa ideia de passagem que temos, com o devido cuidado simbólico, uma reflexão relevante também dentro do campo maçônico.
Na jornada iniciática, o indivíduo é constantemente convidado a atravessar seus próprios desertos interiores, abandonando os grilhões da ignorância e das paixões desordenadas, para conquistar um estado de maior compreensão, moralidade e domínio de si mesmo. Essa trajetória não é diferente, em essência, daquela que celebram os povos ao relembrar a Páscoa - "a libertação que vem por meio do esforço, da consciência e da coragem diante das adversidades".
A ressurreição, por sua vez, enquanto símbolo, representa o triunfo da luz sobre as trevas. Não se trata, entendo eu, nesse contexto, de uma ressurreição literal, mas de uma renovação do ser, uma elevação espiritual pela superação das limitações que nos aprisionam.
Na vida de qualquer homem comprometido com a construção de seu templo interior, há momentos em que é preciso morrer simbolicamente para renascer com mais clareza, mais propósito e mais retidão, daí o próprio V:.I:.T:.R:.I:.O:.L:.
A Páscoa também coincide com os ciclos da natureza, particularmente no hemisfério norte, onde marca o início da primavera. Após o rigor do inverno, a terra floresce, os frutos retornam, e a vida renova-se (principal motivo do zodíaco nas colunas - as estações).
Essa imagem natural dialoga com o espírito da construção iniciática. Mesmo o mais frio período de estagnação pode ser sucedido por uma fase de crescimento e luz, desde que o trabalhador da pedra esteja disposto a continuar sua jornada com firmeza e vigilância.
É nesse sentido, acredito, que podemos (e devemos) refletir sobre a Páscoa como uma metáfora da caminhada maçônica. Cada etapa vencida é uma travessia; cada renovação de propósitos, uma ressurreição; cada superação, um novo florescimento.
Não há, então, uma relação direta entre a instituição maçônica e as festividades religiosas da Páscoa. Contudo, na linguagem dos símbolos - que transcende credos e épocas - é possível enxergar pontes filosóficas que enriquecem a compreensão da própria vida.
Assim, mais do que tentar forçar conexões históricas inexistentes, cabe ao maçom saber buscar o que é comum no que é essencial: o desejo legítimo de evolução, a coragem para mudar, e a esperança que se renova toda vez que, mesmo em meio à escuridão, escolhemos caminhar em direção à luz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário