dezembro 25, 2020

MEMORIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 6

 

Minha mãe Irena era filha de criação de uma família de fazendeiros da aristocracia húngara. Na terrível pobreza dos anos depois da Primeira Guerra Mundial, no destruído e desmembrado Império Austro Húngaro só havia dois tipos de cidadãos, aqueles que possuíam terras e os que trabalhavam na terra e lutavam arduamente para apenas sobreviver. Uma filha inesperada para quem já sustentava família era um ônus insuportável e a menina foi dada para o idoso casal fazendeiro criar. Era a alegria da casa e foi criada como uma princesinha, até a sombria época da Segunda Grande Guerra, quando os pais de criação faleceram, a fazenda foi tomada e a menina expulsa para se virar como pudesse. Ela tinha pouco mais de treze anos.

A saga dos anos passados dormindo aonde dava e comendo aquilo no que pudesse botar a mão são suficientes para outra história. Mas um dia, por uma destruída estação de estrada de ferro na Hungria passava uma tropa russa a caminho da Alemanha, e a garota, então com dezesseis para dezessete anos pediu comida a um garboso capitão. Ficaram juntos pelo resto da vida. Era 1944 e os soviéticos por um lado, a partir da Europa Oriental e os aliados por outro, a partir da França, avançavam fechando o inimigo como os braços de uma tesoura, rumo à Alemanha, que a esta altura já estava desarticulada, apenas recuando e se defendendo, mas ainda lhe restavam bons combatentes dando muito trabalho às tropas que avançavam. E já bem próximo da Alemanha, quase ao final do conflito, papai foi ferido por um estilhaço de granada na perna esquerda, que lhe deixou profundas cicatrizes. Ele foi tratado em um hospital em solo germânico, e minha mãe também foi internada no mesmo hospital para ser tratada por desnutrição.

Estando ambos recuperados tomaram consciência que a Alemanha não era um bom lugar para se viver, especialmente para um militar russo e judeu. Voltar para a URSS era uma opçáo ainda pior.

Paris era ainda a capital cultural do mundo. A ocupação da França produziu o roubo de milhares de obras de arte que desfalcaram os tesouros do país, mas a consciência dos comandantes da ocupação alemã preservou a cidade- ícone de destruição ou de bombardeios e a Cidade Luz rapidamente atraiu milhares de pessoas querendo refazer sua vida. Como já contei, papai foi trabalhar como auxiliar de cozinha em um restaurante russo e nunca mais esqueceu de como fazer deliciosos “borscht” a sopa de beterraba com creme de leite que é a marca registrada da culinária da Ucrânia e “pirozhki”, o bolinho assado de repolho, uma delícia, entre muitos outros pratos. Ele cozinhava muito bem,

Mamãe foi trabalhar em um “atelier” de costura e rapidamente retomou os modos e a elegância com que havia sido criada. E daí para a frente, pelo resto da vida, (e até hoje, aos 91 anos), ela não andava, mas desfilava, com luvas, chapéus e as roupas que ela mesmo fazia ou reformava. Na Sorocaba dos anos 60 e 70 era um espetáculo que os vizinhos e conhecidos gostavam de admirar, ver a Dona Irena, garbosa e linda como uma princesa, indo comprar pão na padaria.

A cidade de Sorocaba crescia de maneira acelerada. O censo de 1970 lista a cidade em 9º lugar no Estado de SP, com pouco mais de 175.000 habitantes. E os negócios de meu pai cresceram também. Ele alugou um sobrado do Eng. Wilson Kalil na Rua Dr. Braguinha, uma das principais artérias comerciais da cidade, onde montou a loja Modas Braguinha, e fomos morar no andar de cima do sobrado. Mas a despeito de possuir agora um comércio, do qual a minha mãe ficou encarregada, nunca deixou de trabalhar, agora com a Rural Willys lotada de mercadorias, vendendo de porta em porta. Dobrava o expediente quando voltava para a loja para lançar as vendas, fazer o caixa, preparar as comprar e separar as mercadorias que levaria no seguinte para a Rural. 

dezembro 24, 2020

MEM[ORIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 5

 Meu pai não gostava de falar sobre a sua família e muito menos ainda sobre os tempos da guerra. Ao longo de muitos anos fomos arrancando alguma informação, aqui e ali, sobre tais assuntos, especialmente a Alice, com quem ele gostava de conversar quando estava já nos seus últimos anos morando na casa de minha irmã.

Nós não podemos imaginar os horrores da guerra vendo os filmes de cinema e televisão. A dor, o sofrimento e a barbárie excedem a prodigiosa imaginação dos roteiristas. Papai esteve durante cerca de três anos na defesa de Leningrado ante a tentativa das tropas alemãs de destruição da cidade. Quase um milhão e meio de habitantes morreram durante o cerco, milhares deles de fome. Tornaram-se habituais casos de roubo de cartões de racionamento (a ração era 250 grs. de pão por dia) e até mesmo de canibalismo. Nenhum animal sobreviveu, cavalos, cães, gatos, pombos, todos viraram comida. O frio absurdo fazia com a cidade fosse sendo queimada casa por casa para aquecer os sobreviventes, fantasmas esfomeados que vagavam trôpegos, em andrajos, pelas ruas congeladas. E o exército alemão bombardeava continuamente sem alvo determinado, valia destruir qualquer coisa.

Um hospital que tinha dezenas de crianças feridas internadas, muitas em estado grave, foi bombardeado. As crianças sobreviventes encontravam-se em estado desesperador e não havia para aonde levá-las, não havia comida, não havia medicamentos, ninguém queria recebê-las em casa, a temperatura era de cerca de trinta graus negativos e não havia agasalhos. O General Georgy Zhukov, que comandava as tropas soviéticas, confrontado com o problema reuniu seus oficiais, expos o problema e pediu sugestões. A decisão foi matar as crianças para que tivessem uma morte menos dolorosa do que abandonadas ao relento, à fome, ao frio e à dor dos seus ferimentos. Oficiais cumpriram a ordem chorando. Papai se negou a isso, mas assistiu e nunca mais se esqueceu. Foi um fantasma que o acompanhou pelo resto da vida.

Ele não gostava de ver filmes de guerra na TV, dizia que era tudo fantasia. Mas lia os jornais diariamente, principalmente o Estadão e acompanhava os noticiários na TV. Sabia tudo o que acontecia no mundo. Era a época da guerra fria e ele dizia que os ocidentais não entendiam a dissimulada mentalidade soviética, de como eles inventavam mentiras nas quais eles próprios passavam a acreditar e na extrema agressividade e valentia de um povo que descendia dos vikings e se estabeleceu em uma das mais inóspitas regiões do mundo. O nome Rússia, vem do nome do chefe viking Rus, que saqueou Constantinopla no século IV e criou naquele remoto local o que viria a ser este país.

Ele adorava o Brasil e se revoltava quando um brasileiro falava mal do país. E com seu sotaque carregado dizia: - o senhorrrr sabe quando frrrango fica congelado no geladeirrra, como pedrrra. São quatrrrro graus menos. Lá no Russia é trrrrinta graus menos. Senhorrrr vai prá la verrrr se é melhorrr.

Da sua família eu soube apenas que teve irmãos e irmãs e uma pequena foto desbotada de uma gorda matrona que o acompanhou pela vida toda seria de sua mãe, minha avó, Ita ou Ida, eu nunca soube o certo. De quem teria sido meu avô eu nunca ouvi uma palavra sequer.

Como todos os militares era extremamente disciplinador e rigoroso com os filhos, mas sabia ser carinhoso e gentil do seu modo. Muitas vezes minha irmã e eu dormimos com ele coçando as nossas costas. 

dezembro 23, 2020

MEMÓRIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 4


        Em 1957, quando chegamos a Sorocaba, esta era uma das maiores cidades do Estado de S. Paulo, com cerca de 130.000 habitantes e uma florescente vocação industrial, especialmente na indústria têxtil. Era a capital dos tecidos de linho produzidos principalmente pelas indústrias têxteis Barbero e Metidieri, mas havia muitas outras, a fábrica N.S. da Ponte, que foi a primeira da cidade, também conhecida como Fonseca, a enorme CIANÊ, Cia Nacional de Estamparia, a Fábrica de Tecidos Santa Rosália, a Fábrica Santo Antônio, etc., e indústrias pesadas como a Fábrica de Cimento Santa Helena do grupo Votorantim, a Fábrica de papel Votocel e de maneira pioneira no Brasil havia centenas de faccionistas produzindo peças acabadas em linho e algodão que eram vendidas em lojas de fábrica e por outros revendedores em todo o país. Havia ainda as gigantescas oficinas da Estrada de Ferro Sorocabana, talvez o maior empregador da cidade.         Era uma cidade próspera, com pleno emprego e uma renda bastante razoável na medida que os salários da época compravam proporcionalmente mais do que os atuais.
        Com um pequeno capital emprestado pelo Sr. Teperman, pago integralmente pouco tempo depois, papai comprou a “clientela” e uma pequena quantidade de mercadorias, que na época eram chamadas de “roupas feitas”, uma novidade porque até então grandes redes de lojas de tecidos como as Pernambucanas, Buri e outras menores vendiam os panos que eram costurados em casa para fazer as roupas. A roupa feita libertava a dona de casa para outras atividades e foi muito bem aceita pelas famílias. Meu pai, baixinho, mas atarracado e muito forte, saía a pé carregando duas pequenas malas e visitando sua clientela. As vendas e pagamentos eram anotados em cartões e até onde eu sei, naquele tempo em que a palavra valia mais do que o temor do SPC, ele nunca levou um calote.
        Em pouco tempo o dinheiro ganho deu para comprar uma charrete e um cavalo, e o cavalo voltou às nossas vidas. Morávamos então numa pequena ladeira chamada Rua Afonso Pena, em uma casinha de vila geminada com outras tantas, onde fiz amigos que tenho até hoje. O cavalo era guardado nos altos da Av. Barão de Tatuí, hoje uma das principais artérias da cidade, no local onde se situa mais ou menos o atual shopping no Campolim, que naquele tempo não era mais do que uma vasta pastagem. Papai saia a pé por volta das quatro da manhã para atrelar o cavalo à charrete, chegava em casa por volta das seis para carregar as mercadorias na carroça, levava uma marmita ou um pedaço de pão com salame e queijo embrulhado em um pano de prato e se dirigia aos bairros mais distantes onde aumentou exponencialmente a sua clientela. As pessoas adoravam aquele “russo” simpático e bonachão, risonho e bem-humorado, com forte sotaque e sempre disposto a um café, um trago e uma piada. Muitas vezes, nas minhas férias, saí com ele. Ao escurecer levava o cavalo e a charrete de volta ao pasto, lavava o animal e voltava a pé para casa.
        As pessoas passaram a fazer encomendas de coisas mais dispendiosas, roupa de cama e mesa, ternos e vestidos, enxovais para casamentos e meu pai ia buscá-las em S. Paulo, onde angariou vasto crédito. Ele comprava as mercadorias, o vendedor anotava em um pedaço de papel de embrulho, geralmente rosado e enfiava em um espeto. Um mês depois, ao retornar meu pai pedia a conta, o lojista tirava o papelzinho do espeto e era pago em dinheiro, uma boa soma que meu pai carregava consigo sem preocupações. Vi isso acontecer muitas vezes. Não havia nota fiscal, duplicata, promissória, recibo, nada, a não ser a valiosa palavra empenhada por dois comerciantes honestos.
        Os negócios cresceram e o cavalo e a charrete foram finalmente substituídos por um jipe Land Rover, barulhento e duro, que recordava ao meu pai os veículos utilizados na guerra. Pouco depois, pela recém lançada perua Rural Willys, azul e branca, que ele tirou “O KM” da concessionária e que ficou com ele por muito tempo.

dezembro 22, 2020

MEMÓRIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 3

 

O navio Andrea C, um dos famosos transatlânticos da época, era relativamente novo, estava no mar havia apenas oito anos em 1956. Ridículamente pequeno para os padrões atuais, com 130 mts de comprimento transportava cerca de 450 passageiros (os navios atuais tem em média três vezes esse comprimento e carregam 6000 passageiros) .A empresa armadora Linea C era italiana e o navio fazia escala em Gênova, no seu trajeto rumo ao Brasil e Argentina. Embora estivéssemos na segunda classe, era uma classe confortável na epoca.

Em Gênova ficamos algumas horas e deu para passear nas imediações do Porto. Minha irmãzinha e eu fomos balançar na enferrujada corrente que cercava o monumento a Cristóvão Colombo, esta se partiu, e foi nossa primeira contribuição ao dano ao patrimônio internacional.

Houve também uma escala na Ilha da Madeira. Papai gastou um pouco do escasso dinheiro que trazia adquirindo algumas belas colchas bordadas a mão e lindas bonecas com carinha de porcelana, que pareciam bebês mesmo.

A escolha do Brasil não foi acidental. Além de haver uma estrutura de recepção aos imigrantes judeus, havia em São Paulo um bem sucedido industrial que era parente de um parente da família de meu pai em Odessa, e a vasta rede de apoio que se dava às vitimas da Grande Guerra o suportaria na sua chegada, como de fato ocorreu.

Ficamos algum tempo morando em uma pensão no Bom Retiro, na Rua dos Italianos, e demonstrando uma insuspeitada vocação comercial, meu pai vendeu com razoável lucro as colchas e as bonecas melhorando seus recursos. Uma das colchas ficou e sobreviveu na família por muitos anos. Era o tempo de São Paulo da garoa e ele foi vender guarda-chuvas para uma empresa do Bom Retiro, Guarda Chuvas Jardim. Há alguns anos fiz uma palestra no Rotary Clube do Bom Retiro e a loja da fábrica ainda existia, 50 anos depois. Até hoje não consigo entender como é que ele fazia para vender sua mercadoria porque ainda não falava portugues. Falava russo, idíshe, hebraico, alemão e um pouco de árabe, mas portugues, neca.

O Sr. Teperman, aquele distante parente do parente de papai sugeriu que mudassemos para o interior, quem sabe para a florescente cidade de Sorocaba, onde encontrariamos melhores condições de vida e de trabalho. Havia um mascate judeu, baixinho, franzino, idoso, Sr. Oyzer, que morava em um quarto de uma pensão próxima a estação da estrada de ferro, que se dispos a vender a sua "clientela" para meu pai. Assim, depois de visitar um por um dos clientes apresentando o novo mascate o Sr. Oyzer passou as cadernetas de clientes para o meu pai e não sei que fim ele levou.

E assim, em Sorocaba, começa uma nova etapa na existência do Sr. Alex Winetzki, este herói de dois mundos, que recomeçava em um país estranho, com uma língua desconhecida, com esposa e dois filhos pequenos, aos 41 anos de idade.

dezembro 21, 2020

MEMÓRIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 2

 Embora na então Palestina (de Philistia, dos Filisteus) ainda sob o Mandato Britânico, já existissem inúmeras colônias judaicas, desde o século 19, em terrenos adquiridos e pagos por mecenas europeus como os Rothschild e o Barão Hirsch, após a Declaração da Independência de Israel, em 1948, o país se tornou uma colcha de retalhos de imigrantes judeus de todas as partes do mundo.

Era uma multidão procurando um lar definitivo para se estabelecer, a Terra Ancestral dada pelo Senhor a Moisés. Pessoas de todas as idades, de todas as formações, com ou sem qualificações, com idiomas e dietas diversos, algo impossível de dar certo. O país não oferecia nada, nem terra fértil, nem indústrias, nem agricultura extensiva, nem sequer um governo que se entendia entre si. Mas todos unidos no ideal expresso por uma tradicional oração dos judeus, ‘’O ano que vem em Jerusalém”.

Papai foi um destes imigrantes. Apesar de sua formação militar e em matemática, estabeleceu-se em um pequeno aldeamento, ‘kiriat” em hebraico, nos arredores de Hadera, onde nasci, palavra que significa pântano em hebraico, o que descreve bem o local. Lá sustentava a família com uma charrete entregando barras de gelo de casa em casa no país que em seu início tinha pouca energia elétrica e quase nenhuma refrigeração, mas a escassa comida precisava ser conservada. Cuidava ainda de uma pequena roça e muitas noites, com seus vizinhos, fazia a ronda para proteger a aldeia dos constantes ataques dos terroristas árabes, os ‘fedayin”. Aliás, meu pai andou armado a vida inteira e a não ser na guerra, nunca feriu nem matou ninguém, o que mais uma vez prova que o perigo não está no instrumento, mas em quem puxa o gatilho.

Curiosidade. Nasci no Hospital Militar Inglês. Na minha última viagem a Israel fui rever a minha cidade natal, atualmente uma grande cidade que tem inclusive uma usina nuclear, e o local onde vim ao mundo era agora um Hospital de Doenças Mentais. Foi o meu alfa. Que não seja o meu ômega.

Seu maior tesouro era o cavalo, o mais cobiçado troféu de furto dos ‘fedayin’ e na casinha de madeira ele dormia com a janela aberta, com a corda que amarrava o cavalo presa no braço e o revolver na mão, mas nunca houve problemas. Sua reputação de bom atirador não justificava o risco para os larápios. E o país ia sendo construído passo a passo pela força e pela fé de quem retornava à sua Pátria ancestral, apesar da absurda escassez de recursos.

Em 1956, o ditador Nasser fechou o Estreito de Tiran, única saída de Israel para o Mar Vermelho e foram criadas condições para mais uma guerra, que de fato ocorreu pouco depois. Em junho do mesmo ano, farto de guerras, papai decidiu buscar viver em país lindo e pacífico. O Canadá, a Argentina, os EUA e o Brasil estavam proporcionando vistos para que tivesse alguma profissão, e meu pai, devido a sua experiência de artilheiro conhecia engrenagens, ferramentas e parafusos, e tendo declarado a profissão de mecânico conseguimos embarcar para o Brasil do navio Andrea C, da empresa italiana Linea C. As passagens foram pagas com a venda da casinha, dos poucos bens e do cavalo, ah, o bendito cavalo. Na foto abaixo eu com 4 meses no colo dos meus pais. 

dezembro 20, 2020

MEMÓRIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 1


    
   Feliz aniversário meu pai.

     No dia 20 de dezembro de 2020 papai estaria fazendo 103 anos. Nasceu em Odessa na Ucrânia, quando estava se formando a URSS. Jovem judeu, o país não oferecia oportunidades a não ser no serviço militar e ele foi para a escola de oficiais onde se destacou em ciências exatas. Aos 23 anos é convocado para a II Grande Guerra onde chegou a capitão de artilharia, responsável pela cálculo das trajetórias balísticas.         

        Encontra uma menina órfã de 16 anos em seu caminho e a leva consigo. Seria sua esposa por décadas, minha mãe. Ao final do conflito, ferido na perna esquerda, é tratado em um hospital na Alemanha e me conta que a Alemanha derrotada era muito mais afluente do que a sua Pátria. Curado vai para Paris e arruma um emprego de auxiliar de cozinheiro de comida russa e judaica e mamãe vai ser costureira. Começa nesta época a aVentura que seria eternizada em livro e filme, as viagens da sucata flutuante chamada Exodus.

        Numa destas viagens embarca com a esposa para a recém criada Israel, patria de todos os judeus do mundo, onde com imensos, inenarráveis sacrifícios, ajuda a criar uma Nação, a maior aventura na vida de um homem.

        Eu nasci em 1950, primeira geração de "sabras", como a fruta que tem o mesmo nome, doce por dentro e espinhenta por fora. Minha irmã Genia nasceu depois, mas ela ensina que nenhuma mulher tem mais de 40 anos, em nenhuma circunstância. Em 1956, na iminência de nova guerra decide vir criar os filhos em um país lindo e pacífico, o Brasil.

        Desembarca como camelô e alguns anos depois torna-se comerciante e industrial em Sorocaba e São Paulo, além de uma experiência como dono de lanchonete e restaurante em Petrópolis, cidade que ele mais amou.

        Era bi polar, extremamente gentil, bem humorado e simpático, mas as vezes ficava irascível e agressivo, como quando quebrou a portaria do hospital em Campo Grande quando demoraram para atender seu neto Max Winitzki Walsh Goldvag que havia quebrado um dedo. Tantas aventuras que algum dia, se eu tiver coragem, vou escrever o romance das tantas histórias que ele me contou e para a Alice que ele adorava.

         Lá no céu, feliz aniversário, meu pai Alex Winetzki.

dezembro 18, 2020

ALLAN KARDEC FOI MAÇOM?


Não existe registro escrito de que Allan Kardec teria sido Maçom, embora muitos sites publiquem que o Codificador do Espiritismo for iniciado na Maçonaria na Escócia. E não é apenas achismo: dezenas de pesquisadores, historiadores da Maçonaria já andaram em busca de pistas, inclusive nos possíveis locais onde poderia ter sido encontrado registros, mas nada foi localizado. Também não existe nenhuma informação, ainda que subliminar, através dos amigos maçons de sua época.

É bem verdade que Kardec viveu rodeado de amigos Maçons, como Leon Dénis, filósofo e continuador da Obra Espírita. Depois da morte de Kardec, foram encontrados entre seus objetos pessoais, muitos símbolos maçônicos (como avental, esquadro e compasso), possivelmente presenteados pelos amigos maçons (uma prática comum na época), mas, historicamente falando, não existe comprovação e nem registro de sua iniciação ou participação em Lojas, portanto, não é possível fazer tal afirmação.

dezembro 02, 2020

HONROSA VISITA DO IRMÂO PAULO B. TUPAN, SGM DA GLOMARON



            Em 02 de dezembro tive o grato prazer de receber em nossa casa de praia, em Mongaguá, a honrosa visita do irmão Paulo Benevenute Tupan, Soberano Grão Mestre da Grande Loja Maçonica de Rondônia, o pioneiro no Brasil no lançamento da Lojas Virtuais, que estão suprindo os estudos maçonicos nestes tempos de pandemia.

        O irmão Tupan apresentou o projeto da Casa de Acaolhimento que a Glomaron vai construir em Porto Velho para dar assistência aos pacientes de fora que vem para ser tratados no Hospital de Cancer daquela capital.

        Levamos sua família para conhecer a cidade, almoçamos juntos e o irmão Tupan foi conhecer a Loja Tríplice Aliança da qual sou membro. Foi uma visita inesquecível.




setembro 28, 2020

FIZ 70 ANOS NESTE 28 DE SETEMBRO

 



Fiz 70 anos neste dia 28 de setembro. Estas datas redondas são sempre um motivo de comemoração especial, que neste caso, devido à quarentena, não tem como acontecer. Então, da janela da sala, olhando para o mar revolto neste tempestuoso dia, me pus a rememorar alguns episódios do que foram os meus anos. Já tive a oportunidade de escrever longamente e publicar aqui mesmo, sobre a minha infância e juventude em Sorocaba com os meus pais. Da incipiente aventura de jornalismo na Folha de Sorocaba e no jornal Cruzeiro do Sul, de onde ainda guardo alguns poucos colegas e amigos que reencontrei graças ao milagre do Facebook.

 Prossigo agora com tempos de Faculdade de Direito na Universidade Católica de Petrópolis e da Livraria Debret. Lá me viciei em leituras e fiz a minha primeira palestra. O Dr. Mário Fonseca, médico e intelectual, presidente da Associação Petropolitana de Cultura vaticinou que algum dia eu me tornaria um palestrante e é claro que não acreditei, mas ele, experiente e sábio anteviu o futuro, Deste tempo ainda mantenho contato com o Fred Lage, meu colega na Livraria e filho da querida amiga e colega da Faculdade Dorothy (Doty) Lage. Eu, muito jovem, vivendo sem conhecer ninguém na Cidade Imperial, frequentava os saraus na sua mansão na Avenida Ipiranga, onde encontrava as vezes com Leila Diniz, o Príncipe D. Pedro ou um dos Rockfeller, entre outras celebridades. Alguém perguntou uma vez “de qual família ele é?” e ela, generosidade em pessoa, me abraçou pelos ombros e respondeu: - ele é meu amigo. – Jamais vou esquecer.

Guardo doces lembranças de meus patrões na Livraria Debret, Aristides e Carolina Cerqueira Leite. Ele, um dos primeiros homens de TV no Brasil, na extinta TV Excelsior, patrão do Boni, que cita este fato em sua biografia e o criador do programa A Voz do Brasil. Aristides era um homem calmo e metódico que me ensinou a ser organizado. Nos demorados almoços no restaurante da Mirtes Paranhos na Rua Irmãos D’Angelo, vizinho da Livraria, ele contava histórias, citava exemplos e ia moldando o meu agitado temperamento. Sua inteligentíssima esposa Carolina, concertista de piano, “chef”, escritora, foi uma das primeiras mulheres a dirigir sozinha na Via Dutra do Rio a São Paulo, na época uma aventura. Na sua maravilhosa casa de campo em Itaipava, onde morei por algum tempo, ela fazia delícias para os frequentes convidados. Uma ocasião foi comida japonesa. Eu disse que não gostava. Ela perguntou se eu já havia experimentado e respondi que não. Aí veio a preciosa lição: - Michael, nunca se negue a experimentar o que você não conhece, pode ter uma surpresa. – Experimentei e até hoje sou fã de comida japonesa. Acompanhei linha por linha e ajudei a revisar a construção de seu romance “Appassionata”, um dos livros mais gostosos que já li. Guardo como relíquia o exemplar que me foi dedicado.

Não pude terminar a Faculdade. Recém casado com a minha primeira esposa e passando grandes dificuldades financeiras perdemos nossa primeira filha por incompatibilidade RH. Resolvi buscar um melhor padrão de vida e procurei um emprego mais bem remunerado. Na época o Jornal do Brasil e o Globo tinham cadernos de empregos que pesavam mais de um quilo com milhares de oportunidades de trabalho. VI um anúncio da IBM e me inscrevi. Passei entre mais de trezentos candidatos. Fui um dos melhores vendedores de equipamentos para escritório, comprei um belo apartamento em Icaraí, Niterói, um Opala novo e ganhei uma viagem para o Hawaií. O grupo de ex-ibemistas ainda está muito ativo e mantenho contato frequente com o Eduardo Luiz Portela, um dos três colegas que passou naquela seleção.  Foi o melhor emprego que alguém pode ter na vida, mas ambicioso, eu sonhava em voar mais alto.

setembro 10, 2020

DOAÇÃO DE LIVROS

Postagem do companheiro do Rotary E-club Marcos Buim:

No dia 10 de setembro estivemos em Mongaguá na residência do companheiro Michael, ocasião em que retiramos mais um lote de livros que foram entregues em São Paulo aos companheiros Cabral e Márcia (aos quais somamos mais alguns livros) e estes providenciaram a seleção e o encaminhamento para as bibliotecas escolares da região.

setembro 01, 2020

FILOSOFIA DA FELICIDADE


O problema da felicidade é todo de ordem espiritual. Ser feliz importa em determinado estado de alma, que independe de circunstâncias externas. A felicidade, como a imortalidade, está na trama íntima da vida mesma, dessa vida que não começa no berço, nem termina no túmulo.

Sem fé, não há felicidade.  A alegria de viver vem do otimismo; o otimismo é filho da fé.  Sentir alegria de viver, ser otimista, ter fé: eis a felicidade. A felicidade não conhece passado, nem futuro: está sempre no presente.

O sofrimento não destrói a felicidade; esta é que age sobre aquele, suavizando-o hoje, dissipando-o amanhã Assim como da noite desponta o dia, assim a felicidade, muitas vezes, nasce da própria dor.

Buscar a felicidade fora do ser interior, diz Vigil, é fazer como o caracol que andasse à cata de sua casa.  É, ainda, como a jovem solteira que, ao cair destardes, esperasse pelo marido.

Pela felicidade, como pelo céu, ninguém tem que esperar.  Os que esperam jamais alcançam.  Os que querem deveras a felicidade, já estão com ela.  Os que realmente querem o céu, já nele estão, tem nele a sua morada:  "A hora vem, e agora é."

(Vinicius - Pedro de Camargo. Livro: Em Torno do Mestre)

*Com o tempo, você vai percebendo que, para ser feliz, você precisa aprender a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas... O tempo passa... e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos e as pessoas pequenas demais para torná-los reais.

Como iniciar o caminho para a felicidade? É possível chegar a algum destino sem dar o primeiro passo? Não duvidemos de que, o primeiríssimo passo para a felicidade é ver Deus em todas as coisas ao nosso alcance. Vê-Lo e sentí-Lo na utilidade da água, no poder da luz do sol, no descanso à noite, na maravilha de cada amanhecer, nos movimentos dos dias e das noites, no crescimento das plantas, flores e frutos, enfim, em todo Universo infinito e eterno.

Também, vendo, sentindo, e nos convencendo das nossas qualidades e da nossa força. Assim agindo, os passos seguintes rumo à felicidade virão naturalmente, quando então, o caminho difícil se torna mais fácil. 

É também caminho para a felicidade a arrumação da nossa casa interna, colocando-a em ordem no dia-a-dia. Luz no lugar da  escuridão; fortaleza se houver fraqueza; esperança se houver desalento; trabalho no lugar da preguiça e combate à intranquilidade e à tristeza com muita alegria e otimismo.

Desafoguemos o nosso íntimo dos pensamentos que nada nos acrescentam, usando a vassoura das boas intenções e da prática do bem por onde passarmos. A nossa mente estará sempre serena, limpa e pura.