Há alguns anos, em
decorrência de ter participado de um treinamento em comércio exterior com
diplomatas brasileiros designados para o mundo todo e patrocinado pelo
Itamarati, fui coautor de um volume publicado pela USP intitulado “Promoção de
Comércio Exterior, Investimento e Tecnologia.” O convite para o treinamento
veio porque anteriormente havia escrito e publicado, patrocinado pelo Sebrae ,
o Mercoguia, o primeiro Guia do Mercosul. Alguém achou que em decorrência
destas publicações eu talvez entendesse alguma coisa do assunto e fui convidado
pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Coréia do Sul, através de seu
presidente, Sr. Léo Kim, a passar um mês naquele país, com todas as despesas
pagas, onde tive a oportunidade de fazer palestras sobre comércio internacional
e transferência de tecnologia em cinco cidades.
Fui recebido na
Coréia do Sul com alguns requintes que se destinam a autoridades, como veículo
para transporte, visitas oficiais, entrevistas com membros do governo etc.
Fiquei impressionado com o progresso e desenvolvimento do país, que passou de
uma renda per capita de US$ 158,00 em 1960 para mais de US$ 27.900,00 em 1997,
três vezes mais do a brasileira. E a explicação para isso foi o fortíssimo
investimento em educação, que eu tive a oportunidade de testemunhar. Visitei
algumas escolas e uma universidade. Na época em que a internet escolar no
Brasil era apenas uma remota expectativa todas as carteiras da escola que visitei,
equivalente ao curso ginasial brasileiro, tinham computadores ligados em redes
de alta velocidade.
A tristeza que me
causa a involução da educação formal no nosso país é equivalente ao estrago que
foi feito em nosso futuro. Pelo menos duas ou três gerações foram sacrificadas
pela péssima gestão da educação. Estudei na OSE, no Estadão e no Liceu Pedro
II. Fiz o curso científico e Química Industrial simultaneamente, estudando de
manhã e à noite. Quando fui prestar o vestibular da Faculdade de Direito da
Universidade Católica de Petrópolis passei direto, sem a necessidade de
cursinho, tão boa tinha sido a base de meus estudos.
Nunca mais me
esqueci de alguns professores, Benedito Cleto, João Tortello, Dulce Pupo, Edson
Campioni, Abramo Rubens Cuter, Valério Gozzano, e outros tantos que moldaram os
meus conhecimentos. Mas o melhor professor que eu tive, meu tipo inesquecível,
foi o Prof. Lauro Sanchez, em razão de quem, nesta segunda fase de minha vida,
decidi escrever sobre História. Os professores de minha juventude representavam
a elite intelectual da cidade. Alguns desfilavam com seus jalecos brancos
angariando o respeito e admiração de todos os que por eles passavam. Eram bem
remunerados e pertenciam ao topo da classe média.
O Prof. Lauro
Sanchez, portador de severa deficiência visual, transformava as suas aulas em
roteiro de filmes, e descrevia as situações com largos gestos representando os
fatos ocorridos. Eu me lembro até hoje de uma aula de história quando descrevia
a entrada de Alexandre Magno na Índia, atravessando o Rio Ganges em barcos
depois queimados, e avançando contra os elefantes hindus fazendo um barulho
infernal, de modo que os animais, assustados, dessem meia volta e investissem
contra o seu próprio exército.
Aprendi inglês,
aperfeiçoado no Cento Cultural, e que fez enorme diferença na minha vida quando
me tornei diretor geral para o Brasil da empresa multinacional Card Guard
Scientif Survival de Israel. Tive noções de francês e latim. As aulas de física
do Prof. Valério eram tão boas que delas nasceu um dos maiores cientistas do
país, Beto Fazzio (Adalberto Fazzio), que era nosso vizinho na Rua Afonso Pena
e que atualmente é reitor de uma universidade no ABC. As ótimas aulas de
português proporcionaram que eu me tornasse jornalista e muito mais tarde
escritor. Minhas redações no ginásio foram a razão do Padre Aldo Vanucchi ter
me convidado para trabalhar na Folha Popular, depois Folha de Sorocaba.
Só era difícil
prestar atenção na aula na presença da Regis Ventrella que era o ideal de beleza
de todos os rapazes da época. Embora minhas notas não espelhassem este fato
sempre fui bom aluno. Eu tinha preguiça de estudar para as provas e ia fazê-las
de memória. E tanto lá, quanto aqui, a memória muitas vezes falha. Eu lia muito
e meus conhecimentos gerais eram mais amplos que os dos meus colegas em
diversos assuntos, e eu gostava muito de conversar com os professores, que
tinham tempo e disposição para trocar ideias com seus alunos.
E hoje em dia? Há
algum tempo fui convidado a dar uma palestra aos professores de uma grande
escola do SENAI, em cidade satélite do Distrito Federal. Eram mais ou menos
sessenta mestres. Sem falsa modéstia, minhas palestras são preparadas com
cuidado e frequentemente aplaudidas em pé. Pois bem, neste dia, metade da plateia
presente usava acintosamente seus celulares em redes sociais, fingindo que
estava prestando atenção. Eles fingem que ensinam, os alunos fingem que
aprendem e o resultado é que nem o ministro da educação escreve com português
correto. Como será então o resto da população estudantil?
Em um dos meus
livros há um capítulo sobre educação, em seus dois sentidos: as atitudes
civilizadas de comportamento e a aquisição sistematizada de conhecimentos, a
primeira responsabilidade dos pais, e a segunda dos professores. Com pai e mãe
sendo obrigados hoje a trabalhar para sustentar a família rareou a primeira
opção e com os professores mal pagos, sobrecarregados e politizados que temos,
a segunda tornou-se crítica. Ou redescobrimos a opção de uma educação – lato sensu
– de qualidade, ou estaremos condenados a ser para sempre uma nação de segunda
classe.
Não era essa a
visão que tínhamos do futuro naqueles anos dourados de 60/70 quando cada um de
nós imaginava o brilhante, fulgurante, porvir do Brasil. “Todos juntos vamos,
prá frente Brasil, salve a seleção”.