fevereiro 04, 2021

SEXO E MISTICISMO - UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CULTURAL - PARTE 3




 SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural


Parte 3


O sexo como fator de estabilidade social

Verificamos que, se a sexualidade foi sempre uma das maiores motivações do ser humano, foi também uma das grandes preocupações dos legisladores.
Por sua necessidade com fator de estabilidade social, é que as grandes correntes filosóficas de todas as épocas deram tanta atenção à sexualidade; por esta razão Iaweh, que inspirou todo o Livro Santo, consagra um Cântico ao amor.
E entre as mais importantes regras que procuraram normatizar a sexualidade encontramos o Decálogo, os Dez Mandamentos.
Com efeito, o sétimo mandamento ? não cometerás adultério ? reconhece o matrimônio como base da família, santificando-o dando-lhe o respaldo da religião.
Curiosamente a maior parte dos grandes heróis citados na Bíblia, a começar de Abraão, passando por Salomão, Davi e tantos outros praticavam o adultério. Assim como "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
É, no entanto, no Levítico que o Senhor elenca um rigoroso código de comportamento sexual, moral e religioso, com severíssimas restrições, que se estendem por três capítulos inteiros do Livro, e que, entre outras coisas, determina:
"Não descobrirás a nudez de sua parente próxima, não descobrirás a nudez de teu pai e nem a nudez de tua mãe...e vai aí por diante estabelecendo a expressa proibição de casamentos consangüíneos, do incesto, do adultério ? "não darás teu leito conjugal à mulher de teu próximo, para que não te tornes impuro com ela" ? e condena à morte ambos os adúlteros ou "o homem que se deitar com um animal".
Mas o Senhor não proibiu expressamente a relações com prostitutas estrangeiras e por esta razão, moabitas, sírias e outras tantas viviam ao longo das estradas da Terra Santa, combinando mascateação com prostituição.
Salomão revogou as leis que as mantinham fora dos muros de Jerusalém, e com isso elas se multiplicaram tanto, e tão velozmente, que nos dias do Templo, era acusado pelos macabeus de tê-lo transformado em um "antro de fornicação".
Mas a história registra que a família judaica, ao invés de degenerar, prosperou.
O substrato ético do povo hebreu, aliado à força coercitiva das prescrições divinas, consolidou a família como elemento fundamental do ordenamento social e casos de amor e ternura foram eternizados como os de Isaac por Rebecca ou o de Jacó por Raquel, matéria prima de um dos mais belos sonetos da língua portuguesa, de Luiz Vaz de Camões:

Sete anos de pastor Jacó servia,
a Labão, pai de Raquel, serrana bela,
mas não servia a ele e sim a ela,
que a ela só por premio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel, lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor, que com enganos,
lhe era assim negada a sua pastora,
como se não a tivera merecido,

Começa de servir outros sete anos,
dizendo: - mais servira, se não fora
para tão longo amor, tão curta a vida.

A atividade sexual era escrupulosamente regulamentada pela lei religiosa, que determinada dias, ritos e procedimentos, sem no entanto coibir o prazer. O sexo devia dar satisfação. O legislador hebreu, experiente e realista, admitia ser forçoso administrar aquilo que não se podia combater, porque o ato sexual, com a ampla variedade de sensações agradáveis que proporciona, oblitera o juízo, embota a razão e traz a tona os incontroláveis e primitivos instintos do animal.
A propósito, em 1668, o Dr. Mauriceau, médico e pensador gaulês, escrevia: - "As partes do homem e da mulher que servem à geração, foram dotadas de uma sensibilidade, de uma cócega agradável, um doce formigamento que os incita à ação. Assim não sendo, seria impossível ao homem, esse animal divino, nascido para a contemplação das coisas celestiais, juntar-se à mulher. Se assim não fosse ele fugiria da sujeira e do mau cheiro dessa parte, receptáculo de todas as imundícies do corpo da mulher, e não se resolveria a colocar este membro que lhe é tão querido, a uma dedo da distância do ânus...".
Prossegue o pensador: - "Se a mulher pensasse nos mil incômodos que lhe causa a gravidez, nas dores que sentirá, no perigo de vida a que se pode acrescentar a perda da beleza, o dom mais precioso que ela tem, fugiria do ato. Mas essas reflexões, dele e dela, vêm depois da ação e não contam quando o prazer domina".
Assim podemos entender melhor o Gênese, a tentação de Adão, ao tomar ciência do fato de que a palavra NAHASH, vulgarmente traduzida como serpente, quer na verdade dizer: concupiscência. Essa era a principal paixão no meio de toda a animalidade da natureza elementar que o Senhor criara.
- "Yaweh disse à mulher: - Que fizeste? E a mulher respondeu: a serpente (concupiscência) me seduziu e eu comi (do fruto da árvore).
E foi por esta razão, por força do apelo sexual, que Adão e Eva teriam precipitado a queda da raça humana.

O sagrado sêmen e a masturbação


O legislador de Israel também sacralizou o sêmen, a semente, baseado num texto da Lei, que reza: "Toda a raça humana descende de um único homem. Logo, não apenas um homem tem potencial para reproduzir um mundo inteiro, como, verdadeiramente, cada homem é um mundo inteiro".
Isso significava, no aspecto místico, que a semente, fluido misterioso contido no homem, contém em si uma força emanada diretamente por Deus, e que é a potência de construção da humanidade. É como se o esperma contivesse em si, a geração.
Como tudo o que se referisse à fecundidade e a reprodução tinha caráter misterioso e sagrado, alguns preceitos versavam sobre a menstruação, o parto, a ejaculação, que é considerada uma perda de vitalidade pelo homem, e que, através de certos ritos e práticas deve restabelecer a sua integridade e a sua união com Deus, fonte da vida.
A masturbação, por se tratar de desperdício, ou uma destinação menos nobre do fluido seminal, era interdita. Essa proibição através os séculos tendo sido reforçada pelos pregadores, quer católicos, quer da Reforma, até adquirir verdadeiro caráter de anátema.
O livro "O inimigo rastejante" editado em Estocolmo, em 1887, ensinava que a masturbação transformaria o rapaz em "uma ruína esquálida e devastada, um condenado à morte ou ao asilo, mergulhado na noite escura e sem fim da demência". Provocaria ainda "a interrupção do crescimento, do desenvolvimento do sistema muscular, da puberdade e da barba". Finalmente "destruiria o cérebro, o sistema nervoso, a medula espinhal, a inteligência, a lucidez, a vida sob todos os aspectos".
Infelizmente tais sandices perduram ainda em nosso tempo. É comum se ouvir no interior do Brasil que a masturbação faz crescer pelos nas mãos.

fevereiro 03, 2021

SEXO E MISTICISMO - UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CULTURAL - PARTE 2


 SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural


Parte 2


O Kama Sutra hindu, os pés chineses,
os pregadores católicos e a poesia árabe.


Na filosofia hindu, outro Livro é consagrado ao mesmo tema e começa assim:
"No início, o Senhor dos Seres criou a humanidade e estabeleceu, em cem mil capítulos, sob a forma de mandamentos, as normas da existência humana, sob as formas de DHARMA ? "aquisição de mérito religioso"; ARTHA ? "aquisição de bens, patrimônio" e KAMA ? "sobre o amor, prazer e satisfação sexual".
DHARMA é a obediência aos mandamentos religiosos, no que concerne às suas práticas, como rituais e sacrifícios.
ARTHA é a aquisição de artes, terras, ouro, gado, amigos, bem como a proteção para o que se adquire e o aumento do que se protege.
KAMA, finalmente, é o que desfrutamos com os cinco sentidos, auxiliados pela mente e pela alma. O ingrediente é o contato íntimo entre os órgãos dos sentidos e o objetivo em mira. A consciência do prazer decorrente desse contato se chama KAMA. Segundo a tradição híndi, os KAMA-SUTRA (aforismos sobre o amor) foram expostos originalmente em mil capítulos por NANDI: este é a imagem do touro sagrado hindu.
O homem deve viver de maneira a harmonizar os fatores, evitando que entrem em conflito.
Na antiga China, devido ao curioso costume chamado de Pés em Lótus, de envolver os pés femininos em fortes ataduras para mantê-los pequeninos, surgiu o fetiche de erotizar os pés. O Pé em Lótus, muito mais do que os genitais, é que era o símbolo do amor erótico, do desejo e servia como acessório à relação sexual e ao orgasmo. E até hoje, milhões de pessoas, especialmente homens, ainda têm o fetiche dos pés.
No entanto, embora todas as grandes correntes filosóficas tenham apresentado o amor carnal como limpo, puro e saudável, tanto naquela época, quanto atualmente, o homem tende a ocultar a sua própria ignorância com preceitos religiosos ou legais, quer forjando rígidas prescrições, quer atribuindo uma origem divina aos seus propósitos.
Dessa forma, graves abusos ou vícios, contrários a vida sexual normal, adquiriram pouco a pouco, ao longo da história, a qualidade de preceitos religiosos ou legais.
Assim, a ignorância e o temor dos povos antigos sobre um evento tão fantástico e misterioso como a concepção e a reprodução, acabaram por transformar o sexo num poço de imundície, preconceito e medo.
São Jerônimo, por volta do ano 400, dizia: "No que tange à esposa de outrem, todo amor é vergonhoso; no que tange a sua própria, vergonhoso é o amor excessivo. O homem sábio deve amar sua mulher com discernimento, não com paixão. Que ele domine o impulso da volúpia e não se deixe levar com precipitação à copula. Nada é mais infame do que amar a esposa como a uma amante"...
E S. Francisco de Assis reforçava o preconceito contra o amor carnal instando os casais a observarem o comportamento dos elefantes: "porque o macho nunca troca de fêmea e ama ternamente aquela que escolheu e com a qual só se acasala a cada três anos e somente por cinco dias e tão secretamente que jamais alguém o viu neste ato. Ele é visto no entanto no sexto dia, quando antes de qualquer coisa, vai diretamente ao rio, lavar todo o corpo, não querendo de modo algum retornar ao seu bando antes de se purificar. Não temos aí belas e honestas disposições?"
Em compensação o ponto de vista dos povos árabes a respeito da sexualidade era muito mais próximo ao dos hebreus e hindus, como prova o Alcorão, que promete aos fiéis mais piedosos, uma cópula para cada dia de jejum observado no Ramadã (9º mês do ano islâmico), ou para cada boa ação, com as "huris", voluptuosas virgens de olhos negros que residem no Paraíso.
O belo poema "O jardim perfumado", atribuído ao Xeique Nefzawi, por volta do ano de 1500 EV, resume a opinião do Povo do Crescente sobre a sexualidade:

A mulher é como a fruta, que só entrega a sua doçura, quando comprimida pelas mãos.
Olha o manjericão: se não espremerdes entre os dedos, não desprenderá nenhum perfume.
Sabes o âmbar, se não for tratado e aquecido, oculta em seus poros o aroma que contém.
Assim é com a mulher...
Se não a animas com entretenimentos, com beijos, carícias e toque, não obterás dela o que desejas.
Não sentirás nenhum prazer em compartilhar o seu leito.
Não despertarás em seu coração nem inclinação, nem afeição e nem amor por ti.
E todas essas qualidades permanecerão ocultas.



A cultura greco-romana e costumes
e símbolos sexuais da antiguidade


A mitologia grega, com seus deuses de paixões e características humanas, apresenta um dos mais ricos repositórios de práticas, costumes e símbolos sexuais que nos foram legados, inclusive o vocabulário.
Por exemplo: "erótico" vem de Eros, o deus do amor, "afrodisíaco" de Afrodite, deusa da beleza, e centenas de outras expressões adotadas pela Medicina e pela Psicologia para denominar os fatores relacionados com o sexo, a emoção e o amor.
Mesmo na mais remota antiguidade, a prostituição de caráter religioso, dita "sagrada", era um instrumento de poder político ou religioso, para manter controlado o "fogo" sexual, e especialmente uma de manifestações mais "perigosas", ou o que imaginava ser um mal maior , a pederastia.
Com efeito, o homossexualismo era parte essencial da vida emocional e cultural da Grécia antiga, especialmente em Atenas e Corinto, durante a época áurea da cultura grega, o século de Péricles, em 5 AEV.
Os helenos acreditavam na natureza bissexual do ser humano, crença aliás antiga e arraigada. Apolo era macho-fêmea, os egípcios acreditavam que alguns de seus deuses eram masculinos pela frente e femininos por detrás, ou as vezes humanos pela frente e animais por detrás. Na Babilônia acredita-se que os primeiros homens criados tinham um corpo e duas cabeças, uma masculina e outra feminina, o que significa que teriam também órgãos de ambos os sexos; Shiva, a semideusa hindu, semi-mulher, era uma divindade duplamente sexuada e uma exegese do Talmud dá a entender que Adão, antes de Eva, seria hermafrodita, ou seja, conteria em si os atributos de ambos os sexos. Foi só quando Deus dividiu simbolicamente o seu corpo, que foram criados o homem e a mulher.
Em função desta crença e de uma característica da cultura grega, na qual a mulher era considerada "res", ou seja, "objeto" e não como parceira ideal de uma relação sexual, proliferou, especialmente entre a elite, a homossexualidade. Hesíodo, em sua "Obras e Dias", adverte: "Não te deixes seduzir por mulher alguma de traseiro atraente que por acaso venha com palavras lisonjeiras, procurar-te um tua cabana" , condenando aquele mesmo atributo com o Príncipe Paris se deleitou ao eleger a deusa da beleza, Afrodite Calipígia, ou "Afrodite das belas nádegas", entre as três candidatas somente após estas terem-lhe exibido o mesmo.
Embora os gregos adorassem deusas e lhes erigissem magníficos tempos, na vida cotidiana as mulheres eram completamente afastadas de atividades comuns a ambos os sexos; eram as casadas, por exemplo, proibidas de assistir aos jogos. Não se tem notícia de uma heroína nacional grega, comum aos costumes judeus e romanos.
Isso não significava que as helênicas fossem indiferentes ao sexo, muito pelo contrário. Hipócrates, o pai da medicina, pontifica que se a "hystera" ou útero de uma mulher não fosse regularmente excitada pelo sêmen de um homem, o sangue afluiria a cabeça da infeliz, enevoando-lhe a mente, causando inquietação e nervosismo, a "histeria", enfim. Durante mais 20 séculos, para os médicos da escola hipocrática, a cura para fenômenos histéricos foi simplesmente uma dose maior de sexo.
Absoluta exceção com relação ao papel da mulher na Hélade eram as prostitutas, conhecidos como "hetairas". Os registros documentais a respeito da presença e da participação das cortesãs na vida grega são infinitamente maiores do que as notícias sobre as mulheres virtuosas. A história registrou entre outras os nomes de Frinéia, modelo das estatuas de Afrodite, de Leontina, culta hetaira de Epicuro e principalmente de Taís, hetaira de Alexandre, o grande, presenteada por este ao general Ptolomeu, que com a morte de Alexandre ascendeu ao trono do Egito. Assim, a cortesã Taís tornou-se a matriarca da linhagem protolomaica, que por mais de 300 anos governou com pompa e circunstância a maior potência do mundo na sua época, encerrando-se a linhagem com Cleópatra, que por sua vez se tornou concubina de Julio César e Marco Antonio.
Ao atingir a puberdade os jovens gregos procuravam um "protetor" entre os adultos ricos e letrados, que se tornaria seu conselheiro e orientador. Admitia-se implicitamente que este relacionamento fosse também sexual, no entanto os rígidos mandamentos sociais exigiam que o rapaz só cedesse à corte após ter certeza das sérias intenções de seu "protetor", principalmente da intenção de educá-lo e fazer dele um bom cidadão.
Os membros das elites gregas consideravam tais relacionamentos afetivos nobres e aristocráticos e lhes davam o nome de "dóricos", significando "de sangue azul".
Tornado adulto esperava-se que ele se tornasse ativo, possuindo moças e rapazes. Se continuasse a se comportar apenas como passivo era tratado com desprezo.
Entre as mulheres o relacionamento homoafetivo também existia embora fosse menos comum. Conta a lenda que a poetisa Safo, que dirigia uma escola para meninas na ilha de Lesbos apaixonou-se por uma de suas alunas e mais tarde pela amiga Féon. Não tendo sido correspondida por nenhuma das duas suicida-se, afogando-se no mar. Da denominação da ilha deriva a palavra "lésbica".
Platão, um dos maiores atletas de sua época (seu nome deriva de "Platos" ? ou seja "ombros largos" e um dos maiores filósofos da história, em sua obra "Simpósio", que é um tratado sobre a homossexualidade, cria um tipo de ideal amoroso, entre homens, livre de luxúria ou contato físico, que passou a ser conhecido como "amor platônico". No entanto, apesar do ideal de Platão, a homossexualidade atingiu tais proporções que Sólon, legislador e filósofo, prescreveu aos atenienses a abertura de bordéis como remédio eficaz contra a sodomia, tendo sido fundado do primeiro bordel estatal de que se tem notícia na história. Embora não tenham sobrevivido documentos oficiais a respeito do assunto, Nicandro de Colofon e Filemon de Siracusa descrevem com minúcias esta atitude do grande estadista.
A despeito das boas intenções de Sólon, a medida deu como único resultado concreto transformar a bela Atenas numa das mais depravadas metrópoles da antiguidade, ponto de partida da decadência daquela grandiosa civilização.
Os romanos, legítimos sucessores da cultura helênica continuaram considerando a homossexualidade como natural e desejável. Julio César era conhecido pelo epíteto de "marido de todas as mulheres e mulher de todos os maridos." Os imperadores Trajano, Augusto, Tibério, Domiciano e Adriano, entre muitos outros, eram notoriamente homossexuais, e Nero e Calígula foram extraordinariamente depravados.
Tem-se notícia de que lesbianismo foi muito mais comum em Roma do que na Grécia, e a não ser em casos onde o amor e o sexo se imiscuíam na política, não gerava maiores escândalos. Muitas das esposas ou matriarcas romanas, esposas de oficiais do exército, devido a longa ausência de seus maridos em distantes guerras, usavam os favores sexuais de escravos ou gladiadores, que quase sempre eram "propriedade" de suas famílias.
Muitos romanos usavam em torno do pescoço um amuleto fálico chamado "fascinium", de onde derivam as palavras "fescenino" e "fascínio". Gravados ou fundidos, em ouro ou chumbo, tem de um lado a representação dos órgãos sexuais masculino e feminino e do outro, uma cruz.
Aliás, a cruz egípcia, ou cruz ansata, o ANKH, que tem a forma de um T, encimado por um oval, representava a imortalidade, porque o oval significava o órgão feminino, por extensão o útero, e a haste do T, obviamente, o pênis.
Em 1955, o Dr. Roger Gronjeam, chefiando uma equipe de arqueólogos da Sociedade Francesa de Estudos pré-históricos, descobriu na Córsega gigantescas figuras datadas de 3.000 AC. Inúmeros destas estátuas tinham a forma de pênis, com cerca de três metros de altura de um lado, e do outro formas humanas como a nuca, omoplatas e a coluna vertebral, ou ainda rostos humanos, ou ainda complementos anatômicos do pênis, como as pregas do prepúcio.
Esculturas semelhantes, ainda maiores e mais rudimentares foram descobertas no Sudão, Argentina, México, Inglaterra e Peru. Na Índia centenas de templos cobertos literalmente por milhares de imagens celebram em cenas vívidas, sem ressalva alguma, o ato sexual.
Alguns antropólogos imaginam que estas obras, criadas desde a Idade do Bronze, são símbolos fálicos em louvor do deus da sexualidade e também um elo simbólico entre a vida e a morte, a procriação e a destruição.
Outros, corajosamente, lançam a discutível teoria de que o cetro e coroa, símbolos da realeza e do poder absoluto, representam simbolicamente os órgãos masculino e feminino, que empunhados e coroados sobre um homem comum significam que lhe foi concedido o poder de criar e que se aproximou da imortalidade.

fevereiro 02, 2021

SEXO E MISTICISMO - UMA ABORDAGEM HISTÓRICA E CULTURAL - PARTE 1


 SEXO E MISTICISMO: uma abordagem histórica e cultural


Parte 1

O intuito deste ensaio é abordar as relações entre duas das mais poderosas manifestações que abordam o gênero humano: o sexo e o misticismo.
O sexo é uma das manifestações de energia criadora. Sem esta força vital não existiriam formas organizadas de vida. Por esta razão as grandes correntes religiosas e filosóficas da antiguidade trataram deste assunto com grande ênfase.
No hebraísmo estudou-se a sexualidade com minúcias, existindo mesmo um aspecto de "erotismo sagrado" na Cabala, que abordaremos a seguir. A tradição hindu, bem como a chinesa, são riquíssimas neste aspecto.
Diversas estatísticas levantadas em foros judiciais em todo o país mostram que uma expressiva parcela das ações de separação diz respeito, direta ou indiretamente a incompatibilidade sexual. O sexo é o "leit motiv" dos problemas interpessoais.
É certo que os condutores de homens, os líderes de todas as épocas sempre souberam disso e por essa razão os códigos de comportamento ético ou moral de todos os povos se preocuparam em conter a sexualidade dentro de estreitos limites.
Segundo um renomado sociólogo americano, Dr. A Willy, o comportamento do ser humano com relação a sexualidade depende de três fatores: os instintos, a sociedade e a razão.
Os instintos, comuns a todos os animais, o que inclui naturalmente o "homo sapiens", formam uma base constante de comportamento sexual, quer o agente seja uma macaco antropóide, quer seja um ser humano.
A sociedade, com suas leis e regras, exerce sobre o comportamento sexual do homem uma influência maior do que a dos primitivos instintos. No entanto, quer a leis sejam naturais, quer sejam consuetudinárias, variam em função do local e da época.
O terceiro fator que rege o comportamento sexual do homem é a razão. A razão é, com sua força equilibradora, o que leva o indivíduo a aceitar exteriormente as prescrições da sociedade e a agir interiormento de acordo com o seu foro íntimo, que chamamos de moral ou de consciência.
A razão, por conseguinte, equilibra o antagonismo existente entre as prescrições da sociedade e os apelos do instinto. Quando tal não se dá, o erotismo gratuito se desencadeia e a decadência dos costumes e da sociedade processa-se num ritmo acelerado, cujo exemplo mais dramático foi o Império Romano.

Sexo entre os hebreus

Uma tradição judaica dis que, quando um homem e uma mulher se encontram e se amam, os anjos se rejubilam, e que é do encontro desses amantes que se inspiram os cânticos celestiais.
Independentemente de suas finalidades específicas a natureza fez do sexo uma função muito agradável. Qualquer tensão que se acumule no organismo, como sono, fome ou sede causa angústia e o relaxamento desta tensão mediante sua satisfação é sentido como prazer. Isso é muito mais verdadeiro ainda no caso da tensão sexual, cuja satisfação constitui uma das mais prazenteiras atividades do ser humano.
No Velho Testamento, o Cântico dos Cânticos, atribuído ao Rei Salomão, celebra esse prazer através do amor mútuo em que um amado e uma amada se unem, se perdem, se buscam e se encontram. Este livro, sem nenhum plano definido, é uma coleção de poemas unidos pelo mesmo tema, o amor carnal, considerado com um sadio realismo. O Cântico não fala de Deus, emprega a imagem de uma amor apaixonado e segundo alguns estudiosos foi baseado nos cultos de Ishtar e Tammuz, copiados pelos cananeus e praticado nos primórdios do culto de Iaweh.
Embora seja discutível, alguns exegetas pretendem que o Cântico teria sido o ritual expurgado e revisado dos ritos da hierogamia, ou casamento divino, praticado desde o antigo Egito, e cuja cultura teve ponderável influência na formação das tradições judaicas.
Vejamos, para conhecer o estilo e o espírito, alguns trechos do Livro:

Como és bela, minha amada, com és bela
Teus peitos são dois filhotes, filhos gêmeos da gazela,
pastando entre açucenas...
Antes que sopre a brisa e as sombras se debandem
vou ao monte de mirra, à colina do incenso...
Tua boca é um vinho delicioso, que se derrama na minha
molhando-me os lábios e os dentes.
Eu sou do meu amado, seu desejo o traz a mim.

O mesmo amor humano é eventualmente tema de outros livros do Antigo Testamento: assim, em relatos do Gênesis, na história de Davi, nos Provérbios e no Eclesiastes, onde ele é tratado de forma e com expressões semelhantes às do Cântico.
A Cabala, como também as demais tradições do Oriente tem um aspecto de erotismo sagrado, em que Adão é simbolizado pelo IUD, letra hebraica de formato semelhante a um apóstrofo, ou a um espermatozóide, e representa o aspecto masculino. Se se acrescentar a essa letra o nome ternário de EVA, obtemos IEVE, o Nome Sagrado. Isso eignifica que desse encontro, dessa relação entre o homem e a mulher nasce o Nome Sagrado de Deus. Abrem-se dessa forma, novas perspectivas de entendimento sobre o amor e o sexo.
Também traz nova visão sobre o antagonismo natural do 1 e 2 e sobre a atração dos contrários.
Assim: ALEF é masculino, homem; BEIT é feminino, mulher.
A é ativo e B é passivo. Na tradição hindu representam o LINGAM e a YONI. Na chinesa o YIN e o YANG.
O princípio ativo busca o princípio passivo. Qual é a natureza do princípio ativo? É propagar. E qual a natureza do princípio passivo? É fecundar. A unidade se exprime pelo binário.
Uma das interpretações da Estrela de David, o "maguen David", é a de que os dois triângulos sobrepostos que formam a figura, um para cima, e outro para baixo, representam o encontro entre o homem é a mulher, a relação fecunda que glorifica o amor e cria a vida.

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fevereiro 01, 2021

O PAI NOSSO ORIGINAL, EM ARAMAICO



O Pai Nosso original, em aramaico

 

            O Pai Nosso é a oração mais comum da cristandade. Não há quem não tenha a proferido em adoração, súplica ou gratidão em algum momento da vida, só ou em grupo, antecedida da expressão “a oração que nos foi ensinada pelo Pai”.

 No entanto o Pai Nosso que costumamos rezar não é aquele que nos foi ensinado por Jesus Cristo, conforme conta Mateus: Jesus estava rezando em algum lugar, sozinho, próximo a Cafarnaum, em alguma colina com vista para o Mar da Galiléia. Quando ele parou de orar, um dos discípulos se aproximou e pediu: - “Senhor, emsina-nos a rezar como João ensinou a seus discípulos”. E então Jesus lhes disse, na língua comum do povo daquela época, o aramaico: - “Quando vocês rezarem, digam”:

            Abvum d’bashmáia, netcádash shimóch, tetê malcutách, nehuê tcevianách aicana d`bashimáia af b’arha, havlan lácma d’suncanán ianomána, uáshbocan haubéin uahtehin aicána dáf quinan shbuocán l´haiabéin, uêla tahlan l´nesiôna. Ela patssan min bixa, mêtol diláhie malcutá uahália usteshbôcta l’ahlám almin. Amen.

            O aramaico, (cujo nome deriva do Patriarca Aaram – ou Aarão) é um idioma semítico[M1]  nascido por volta de 600 anos antes de Cristo e era falado por todo o povo daquela região. É uma língua de pastores e agricultores, muitos deles nômades, e cujos limites geográficos eram as estreitas faixas de terra fértil delimitadas pelos intermináveis desertos e o límpido céu maravilhosamente estrelado como cobertura. Tem um vocabulário limitado e os seus conceitos referem-se fundamentalmente a vida simples daquelas pessoas, ligadas a terra, a agricultura, às colheitas, aos animais de pastoreio e as tradições místicas dos povos do deserto.

            Desta forma, muitas expressões em aramaico têm significados impossíveis de se verter com precisão para outros idiomas. Por exemplo, a palavra céu, no sentido bíblico, traduzida para o grego como “cosmos” que significa “ordem”, tem em aramaico o sentido muito mais amplo e belo, de “luz e som brilhando através de toda a criação”, provavelmente a sensação que emocionava aqueles primitivos pastores durante as noites de vigília.

            Os 39 livros que compõe o Velho Testamento e outras dezenas de livros que chamamos de apócrifos, foram grafados em aramaico, hebraico e siríaco e os 27 livros contidos no Novo Testamento em grego. Mas os livros do Velho Testamento também foram vertidos para o grego, a língua culta da época, idioma muito mais estruturado e lógico, e a partir deste foram feitas as traduções da Bíblia, para quase todos os idiomas.

            O grego foi introduzido no Oriente Médio por Alexandre da Macedônia, cujas conquistas militares helenizaram o mundo antigo mas nunca se tornou uma língua popular. Era falado pelos intelectuais e pela elite da época e o povo da Terra Santa sempre usou o aramaico. O hebraico era um idioma litúrgico falado apenas pelos sacerdotes e nas cerimônias das sinagogas.

Em 1681 é publicada a primeira Bíblia em língua portuguesa, tradução do Reverendo João Ferreira de Almeida, (Torre de Álvares, Portugal, 1628-1691), sacerdorte católico que se converteu ao protestantismo e que dedicou praticamente toda sua vida a verter a Bíblia para o português.

            Uma vez que as traduções da

            Abvum d`bashmáia (Pai-mãe, Respiração da Vida, Fonte do Som. Ação sem Palavras, Criador do Cosmos. Faça sua Luz brilhar entre nós, fora de nós e que possamos nos tornar úteis).

            Netcádash shimóch ( Ajude-nos a seguir nossos caminhos, respirando apenas o sentimento que emana de você)


 [M1]Refere-se aos povos semitas, um dos quais é o povo hebreu.



janeiro 31, 2021

NOTAS SOBRE A CONTRIBUIÇÃO JUDAICA PARA A CULTURA BRASILEIRA


 Notas sobre a contribuição judaica para a cultura brasileira


Prof. Michael Winetzki

A chuva caía em grossas gotas sobre os paralelepípedos encharcados formando rápidos cursos e inúmeras poças. Os cavalos apressavam-se, espargindo água para os lados, enquanto a comitiva cortava a madrugada.
Dentro da carruagem com as cortinas cerradas, o padre procurava obter do prisioneiro a derradeira confissão.
Este, usando uma camisola de algodão grosseiro, mãos atadas com cordas rústicas, ia murmurando de olhos fechados as suas últimas orações. As torturas não tinham conseguindo quebrantar o seu espírito e há muito, a dor, de acérrima inimiga, havia se transformado em suave companheira.

Ainda é madrugada quando chegam ao local. A execução não havia sido anunciada e não havia público, mas, apesar do segredo, os rituais legais da morte precisavam ser seguidos. Sobre o patíbulo, o carrasco, o sacerdote e o prisioneiro que pediu para não ser vendado. Como testemunhas os soldados da guarda e o condutor da carruagem.
Eleva-se a voz do sacerdote: - pela última vez infeliz, renegas a heresia e aceitas Jesus Cristo como seu único Senhor e Salvador ?
Enquanto o carrasco ajeita a corda em seu pescoço, o prisioneiro murmura: - Ouve ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um!

Ouve-se um forte estalido do alçapão se abrindo e outro, mais fraco, do pescoço se quebrando. A corda balança algumas vezes e pára. Os guardas retiram o corpo, enfiam-no em um grande saco de aniagem e o jogam no chão da carruagem. O padre esparge água benta em forma de cruz sobre o cadáver que seria queimado e reduzido a pó, "para que dele não restasse qualquer memória".

A chuva torrencial lava qualquer sinal do acontecido. O sol começa a nascer em úmida Lisboa em meados de fevereiro de 1744.
Quem era afinal a vítima do carrasco ?

Pedro de Rates Hanequim, cristão-novo, erudito historiador, geógrafo, astrônomo, matemático, e aventureiro, um dos maiores cérebros do império português, viveram 26 anos no Brasil e finalmente morreu em sua própria terra como apóstata.
Esse notável estudioso, que sabia ler os livros sagrados no original em hebraico e aramaico e as versões em latim e grego, após décadas de estudo identificou o lugar onde teria sido o paraíso terrestre, o Éden.

Dizia que do local do paraíso seria possível ver uma constelação em cruz, o trono de Deus, o Cruzeiro do Sul; que a arvore do conhecimento era não a macieira e sim a bananeira, que ele chamava de árvore da vida e os nove rios que demarcavam o paraíso seriam os rios que formam a bacia amazônica : Amazonas, Juruá, Tefé, Guará, Purus, Madeira, Tapajós. Xingu e Tocantins.
O paraíso terrestre teria sido onde hoje se situa o Estado do Pará, que aliás, em hebraico, significa "vaca".

Entre os anos de 1492 e 1540, a o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição obrigou a conversão ao catolicismo de cerca de 190.000 judeus em Portugal e Espanha. Outras centenas de milhares de homens, mulheres e crianças que se negaram à conversão foram torturados e dizimados da forma mais cruel. Observe-se que nesta época cerca de metade de população de Portugal, em torno de um milhão de habitantes, era composta de judeus.
Basta dizer que o primeiro livro impresso em Portugal, em 1487, foi a Torah (Pentateuco) em caracteres hebraicos.

Em 1500 o Brasil é descoberto pela esquadra de Pedro Álvares Cabral, abrindo-se, assim, um "Mar Vermelho" para a fuga dos judeus portugueses que corriam risco de vida. Um dos importantes oficiais da esquadra de Cabral era o interprete judeu Gaspar da Gama, bem como eram confeccionados por cartógrafos e instrumentadores como o judeu Jehuda Cresques da Escola Naval de Sagres, os mapas que conduziram Cabral e outros navegadores, durante as suas expedições.

Em 1503 o judeu Fernão de Loronha, que passou para a história com o nome de Fernando de Noronha lidera um grupo de judeus portugueses e apresenta a D. Manuel a primeira proposta de colonização do novo território. Por este documento o grupo de judeus cristãos-novos liderados por Noronha arrendava todo o Brasil e obtinha o monopólio de tudo que o país produzia, principalmente pau-brasil e comércio de escravos, em troca de mandar anualmente seis barcos carregados de mercadoria para a metrópole, descobrirem 300 léguas de novas terras e construírem e manterem algumas fortificações.

Em 1516, D. Manuel distribui ferramentas aos que quisessem se mudar para o Brasil. Ele queria implantar engenhos de cana nesta terra "recém descoberta". Milhares de judeus aproveitam esta oportunidade.

Em 1531, Martin Afonso de Souza, discípulo do judeu português Pedro Nunes foi mandado pelo Rei D. João III para a primeira expedição sistemática colonizadora tendo implantado o primeiro engenho de açúcar do país em S. Vicente. As primeiras usinas de açúcar do Brasil foram criadas por judeus egressos da Ilha da Madeira, onde esta cultura era tradicional.
Em 1550 havia 5 engenhos no país. Em 1600 havia 120. Segundo os historiadores Oliveira Lima e Gilberto Freyre,"a industria do açúcar foi importada pelo Brasil pela maior parte por judeus, que constituíam o melhor elemento econômico de sua época, e lucravam com fugir à fúria religiosa que grassava na Península Ibérica". Um dos maiores usineiros de açúcar de Pernambuco era Diogo Fernandes, marido da judia Branca Dias, uma das poucas brasileiras executadas pela Inquisição e que dá nome nos dias de hoje a um belíssimo palacete tombado, sede de uma Loja Maçônica em João Pessoa.

Em 1577 com o término do domínio espanhol sobre Portugal, muitos judeus vieram para o Brasil direto da Península Ibérica. Alguns destes foram para a América do Norte, Holanda e América Espanhola. Entre os anos de 1591 e 1618 os judeus se espalharam pelo Brasil, principalmente para o Sul.

1601 - Licença para a saída do Reino e promessa de nunca mais se renovar a proibição. Serviço de 170 mil cruzados. A licença para a saída era expedida em forma de um salvo-conduto, com direito apenas a uma ida (e nunca à volta) e exigia que o nome do solicitante fosse aportuguesado.

Há milhares de sobrenomes judeus utilizando a combinação das cores, dos elementos da natureza, dos ofícios, cidades e características físicas, tendo como raiz, por exemplo as seguintes palavras:

Cores: Roit ou Roth (vermelho); Grun ou Grinn (verde); Wais ou, Weis ou Weiss (branco); Schwartz ou Swarty (escuro, negro); Gelb ou Gel (amarelo); Blau (azul)
Panoramas: Berg (montanha); Tal ou Thal (vale); Wasser (água); Feld (campo); Stein (pedra); Stern (estrela); Hamburguer (morador da vila).
Metais, pedras preciosas e mercadorias: Gold (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant ou Diamante (diamante), Rubin (rubi), Perl (pérola), Glass, (vidro), Wein (vinho).
Vegetação ou natureza: Baum ou Boim (árvore); Blat (folha); Blum ou Blume (flor); Rose (rosa); Holz, (Madeira).
Características físicas: Shein ou Shen (bonito); Hoch (alto); Lang (comprido); Gross ou Grois (grande), Klein (pequeno), Kurtz (curto); Adam (homem).
Ofícios: Beker (padeiro); Schneider (alfaiate); Schreiber (escriturário); Singer; (cantor); Holtzkocker (cortador de madeira), Geltschimidt (ourives), Kreigsman, Krigsman, Krieger, Kriger (guerreiro, soldado), Eisener (ferreiro), Fischer (peixeiro ou pescador), Glass ou Gleizer (vidreiro).

Utilizaram-se as palavras de forma simples, combinadas e com a agregação de sílabas como son, filho; man, homem ou er, que designa lugar.
Na versão para o português ou espanhol, procurou-se aproximar o máximo possível os mesmos critérios. Considere-se também a mudança do idioma português através dos séculos.

Alguns dos sobrenomes de judeus aportuguesados são: Alves; Andrade; Alencar, Amaral; Alfaia; Aguiar; Arruda; Benjamim; Bento; Bentes; Bezerra; Brito; Botelho; Cáceres; Cabral; Carvalho; Cardoso; Cerqueira; Costa; Cintra, Contente; Daniel; David; Duarte; D?Avila; Dias; Elias; Franco; Ferreira; Fundão; Feijão; Fonseca; Gabai; Gabilho; Gomes; Henriques; Laredo; Ladeira; Lisboa; Linhares; Levi; Leite; Madeira; Machado; Marques; Matos; Matatias, Moreno; Mendes; Mello; Medina; Muniz; Navarro; Neto; Nunes; Noronha; Osório; Oliveira; Obadia; Passarinho; Pina; Pinto; Pereira; Prado: Porto; Rocha; Ribeiro; Regatão; Rego; Rodrigues; Salomão; Santos; Saraiva; Salvador; Serra; Silva; Silveira; Simão; Soares; Vasconcelos; Viana, Vieira e muitos outros. Recentemente fotografei na parede da primeira sinagoga das Américas, a Zur Israel, em Recife, um quadro com centenas de sobrenomes aportuguesados dos judeus que vieram da Península Ibérica nos anos da Inquisição.

1605 - (16 de janeiro). Perdão geral em troca do donativo de 1.700.000 cruzados. Em 1610 retira-se a concessão de saída de 1601.

De 1637 a 1644 ? São tempos áureos para os judeus no governo holandês de Maurício de Nassau. Neste período, funda-se a 1ª Sinagoga "Zur Israel", em Pernambuco, quando vem da Holanda o 1º rabino de descendência Portuguesa Isaac Aboab da Fonseca.

Com a derrota dos holandeses para os portugueses em 1654, um grupo de prósperas famílias judias estabelecidas havia décadas no Recife, temendo a volta da Inquisição toma uma navio e ruma para uma outra colônia holandesa mais ao norte, Nova Amsterdã. Esse grupo faria parte dos fundadores da cidade de Nova York. A família proprietária do maior jornal do mundo, o New York Times, descende em linha direta desses judeus de Pernambuco.

1770-1824 - Período de liberalização progressiva, forte imigração de judeus marroquinos e alsacianos para a Amazônia,que acabaram por monopolizar a produção e exportação de borracha durante o seu período de maior apogeu e gradual assimilação dos judeus.
Os imigrantes judeus vinham para Belém do Pará e se estabeleceram em Belém, Manaus, Cametá, Gurupá, Breves, Baião, Macapá, Santarém, Itaituba, Óbidos, Parintins, Maués, Itacoatiara, Manacapuru, Coari, Tefé, Humaitá, Porto Velho, e outras cidades.
Outro ramo foi para o Nordeste e se estabeleceu no Ceará, criando uma grande e próspera colônia em Sobral, especialmente por causa do porto de Camocim, que nesta época não era alfandegado, e da excelente estrada de ferro, construída por D. Pedro II, que ligava o porto a Sobral. Outra grande colônia se estabeleceu em Recife, e menores na Paraíba, Bahia e Rio Grande do Norte.

Os judeus foram os primeiros regatões da Amazônia e a bordo de seus barcos e batelões levavam mercadorias para vender no mais remotos rincões em troca de castanha, borracha, bálsamo de copaíba, peles e couros e outros produtos que depois eram exportados.
Entre 1824-1855 ocorreu a fase da assimilação profunda, subseqüente à cessação da imigração judaica homogênea e a equalização total entre judeus e cristãos perante a lei.
O período entre 1855 e 1900 marcou o início do momento imigratório moderno, caracterizado pelas primeiras levas de imigrantes judeus, oriundos, sucessivamente, da África do Norte, da Europa Ocidental, do Oriente Próximo e mesmo da Europa Oriental, precursores das correntes caudalosas que, nas Primeiras décadas do século XX, viriam gerara e moldar a atual coletividade israelita do país.

Esses judeus se estabeleceram no sul e sudeste do país e se dedicaram principalmente ao comércio, a indústria, a construção civil e a área de comunicação. Por exemplo: o primeiro prédio feito em concreto armado em todo o Brasil, foi uma sinagoga em S. Paulo.
A Rede Brasil Sul de Comunicação com sede no Rio Grande do Sul, a Editora Abril; a Editora Nova América (dos gibis), a TVS; a rádio e TV Vanguarda de Sorocaba e outras tantas pertencem a famílias de origem judia.

Segundo alguns estudiosos, cerca de 10% da população brasileira, algo em torno de 15 a 17 milhões de pessoas, é descendente direta dos judeus fugidos da Inquisição. Isso quer dizer que a população de cristãos novos, descendentes de judeus no Brasil, é praticamente igual a população total de judeus em todo o mundo.

Três curiosas contribuições do judaísmo para a cultura brasileira são a carne de sol, a tapioca e talvez o chapéu de couro dos vaqueiros no Nordeste.
A dieta judaica chamada "kasher" obriga a comer a carne sem sangue, por isso, os cortes eram pendurados em varais para dessangrar. Ao se repetir o procedimento no Brasil, o sol, a umidade e temperatura cozinhavam a carne. Pronto: estava criada uma das mais tradicionais iguarias da região.

A tapioca é a tentativa de reproduzir o "matzá", o pão ázimo de Moisés, com farinha de tapioca, porque não existia farinha de trigo no Brasil. Nascia mais uma delícia da cozinha regional brasileira.

A forma tradicional do chapéu de couro nordestino aproxima-se da forma da "kipá", o solidéu, que era provavelmente usado pelos primeiros fazendeiros judeus da região. Observa-se enorme diferença entre os chapéus de palha do México, da Colômbia, do Panamá e dos Pampas, embora a mesma matéria prima estivesse disponível em todas as regiões.
Para encerrar, o nome Brasil tem como origem o pau-brasil, madeira de cor avermelhada que foi o primeiro produto de exportação do país, e que também é conhecido como pau-tinta ou pau-ferro. Curioso é notar que em hebraico, ainda hoje, a palavra que denomina ferro é barzel. Brasil poderia ser assim uma derivação dessa expressão.

Bibliografia:
1) A presença dos judeus em Sobral e circunvizinhanças....
Padre João Mendes Lira ? Rio de Janeiro ? 1988
2) Eretz Amazônia ? Os judeus na Amazônia
Samuel Benchimol ? Manaus, AM ? 1998
3) Os judeus no Brasil Colonial
Arnold Wiznitzer ? Ed. Pioneira ? 1966
4) O ultimo cabalista de Lisboa
Richard Zimler ? Companhia de Letras ? 1997
5) O mistério do cubo sagrado ( no prelo)
Michael Winetzki ? Brasília, DF ? 2005
6) A fênix de Abraão
Sonia Bloomfield Ramagem - Brasília ? 1994
7) Cristãos Novos na Bahia
Anita Novinsky ? São Paulo ? 1972

8) Visão Judaica on Line ? diversos