Primeira tradução
1 Vejam como é bom, como é agradável, os irmãos viverem unidos!
2 É como óleo perfumado sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão;
descendo sobre a gola de suas vestes.
3 É como o orvalho do Hermon, descendo sobre os montes de Sião.
Pois é por aí que Javé manda a bênção e a vida para sempre!
Segunda tradução
1 Oi, que prazer, que alegria nosso encontro de irmãos!
2 É como um banho perfumado, gostosa é nossa união.
3 Sereno da madrugada, gostosa é nossa união.
É vida que dura sempre, gostosa é nossa união.
Este é o penúltimo dos salmos de romaria. Os
romeiros estão em Jerusalém, já entraram no templo. É festa! Nas romarias, uma
das coisas que mais alegram o romeiro é se sentir acolhido como irmão ou irmã
no meio de tanta gente.
O encontro é vivido como amostra do que se
espera. Uma espécie de profecia viva. Talvez não ensine nada de novo, mas isso
não é o mais importante da romaria.
O que importa é o que dizia um romeiro que
participou de um encontro de comunidades de base: "Coisa nova não aprendi,
mas enchi o tanque para o resto do ano!".
Apresentamos duas traduções. A primeira, com
pequenas diferenças, é da Bíblia
Pastoral. Tradução bonita e fiel. A outra, uma adaptação brasileira
de Reginaldo Veloso. Através de canto e imagens, ela recria em nós a
experiência que o salmo suscitava no povo daquele tempo.
O salmo tem um pensamento que se desenvolve
em três partes: chama a atenção para a alegria da convivência fraterna dos
romeiros no templo (v. 1), traz as comparações do óleo e do orvalho para
expressar o significado dessa grande confraternização (v. 2 e 3a) e conclui que
é através da união fraterna que a benção de Deus desce sobre a vida do povo (v.
3b).
Oi, que prazer, que alegria!
Vejam como é bom, como é agradável os
irmãos viverem unidos! (v. 1)
O salmo 133 canta a confraternização vivida
em Jerusalém na festa da romaria. O povo passa o dia reunido na grande
esplanada do templo.
Gente de todos os cantos do mundo, que mal se
conhece, aqui se encontra como irmãos e irmãs da mesma família e vive a alegria
profunda de estar unida na mesma fé.
É a fé em Javé que faz dessa gente uma grande
família, um povo unido.
Essa união é uma amostra concreta do futuro
que essa gente espera e pelo qual luta.
Bom e agradável
são as palavras com que o salmo define o que se vive em Jerusalém no dia da
festa.
Quem já participou de um encontro assim,
entende a alegria imensa que aí se comunica e percebe a beleza da união que se
transmite como Boa Notícia de Deus a todos.
É como perfume! É como orvalho!
É como óleo perfumado sobre a cabeça,
descendo pela barba de Aarão; descendo sobre a gola de suas vestes. É como o
orvalho do Hermon, descendo sobre os montes de Sião (v. 2-3a).
Essas duas comparações, tiradas da vida, são
como uma pedra que cai num lago: produzem círculos na imaginação criativa do
povo que escuta e reza o salmo.
Óleo e perfume - O óleo era usado
na alimentação e também amolecia os músculos para a luta. O óleo perfumado
enchia a casa quando a visita chegava e enchia o templo em dias de festa.
É como quando o pessoal chega para a festa:
roupa nova, banho tomado, vestido e corpo perfumados com água-de-cheiro.
O óleo era também usado para consagrar o
sacerdote e o rei a serviço do povo de Deus.
O povo todo é visto como ungido, pois é
comparado com o sacerdote Aarão, o irmão de Moisés.
O povo reunido no templo, celebrando os
louvores de Javé, é um povo sacerdotal.
Orvalho do Hermon - Na terra árida da
Palestina, o orvalho é sinal de vida e garante, apesar da falta de chuva, uma
boa colheita.
Naquele tempo, o povo pensava que o orvalho
descesse de modo invisível dos cumes das montanhas para se espalhar pelas
planícies.
O monte Hermon, alto e misterioso, coberto de
neve eterna, situado na fronteira nordeste da Palestina, até hoje é fonte de
vida para toda a região. Quando se produz o degelo, ele alimenta as fontes do
rio Jordão, cujas águas vão descendo, irrigando a terra, trazendo benção e vida
para o povo, pão para comer.
O Hermon é símbolo de fertilidade.
A grande confraternização dos romeiros vivida
no templo durante a romaria é o orvalho do povo, o orvalho invisível do Hermon
que cai sobre os romeiros, irrigando a vida, produzindo fertilidade e frutos
para todos.
Fonte de benção, vida para sempre!
Pois é por aí que Javé manda a benção
e a vida para sempre! (v. 3)
A benção de Javé é muito concreta. Ela se
manifesta na natureza, no óleo, no orvalho, nas chuvas, nas águas do Jordão que
irrigam a terra.
Ela tem a ver com a fertilidade da terra e
com a vida do povo.
Ela se manifesta nessa confraternização
alegre e feliz das romarias.
Quando o povo vive unido, a benção de Deus
desce.
Como diz o canto: "Onde o amor e a
caridade, Deus aí está!".
O caminho para alcançar a benção de Deus e a
vida para sempre é a união de todos em torno da fé em Javé, celebrada e vivida
nos dias de romaria.
Quando todos se unem no templo, antecipam o
futuro por alguns dias, numa intensa alegria.
"Nisso todos saberão que vocês são meus
discípulos, se tiverem amor uns para com os outros" (Jo 13,35). ____________________
Frei Carlos Julhoters é biblista, autor de diversos livros. Há anos acompanha a
caminhada das comunidades eclesiais do Brasil. Atualmente, trabalha no
Instituto Bíblico de Angra dos Reis/RJ.