A comunidade Judaica na diáspora romana remonta ao século II aC e foi relativamente grande. Várias sinagogas e catacumbas são conhecidas e testemunham uma pujante vida Judaica em Roma.
Sabe-se que por volta de 120 aC uma delegação Judaica de Jerusalém visitou Roma e dialogou com a Comunidade local. No entanto a comunidade realmente começou a crescer quando Pompeu foi chamado a ajudar na luta entre duas correntes dos Hasmoneus e como consequência conquistou o Reino da Judeia em 63 aC, restituiu Horkanus ao poder sem dar-lhe autonomia. Pompeu traz a Roma muitos Judeus como escravos.
A partir de 66 CE começa na Galileia a Grande Revolta contra Roma, vencida por Vespasiano em 68 CE. A revolta se espalha para o sul, Tito, filho de Vespasiano assume o comando e conquista Jerusalém. Após a destruição de Jerusalém em 70 CE, milhares de Judeus são trazidos como escravos. Este grande grupo populacional será quem constrói o Coliseu.
Esta comunidade manteve uma certa distância do novo Judaísmo Rabínico da Judeia, mantendo vários traços do Judaísmo arcaico. Um exemplo é que as casas de oração não são chamadas de Sinagogas e sim Casa de Estudos e tampouco há, em Roma antiga, menção de Rabinos, função inexistente na época do Templo.
A história da comunidade Judaica da Roma antiga é conhecida através de várias fontes clássicas, Latinas e Gregas além dos escritos de Flávio José que foi o historiador Judeu do Século 1, conhecido entre os Judeus como Yossef Ben Matitiahu. Algumas informações adicionais sobre práticas de culto em Roma podem ser encontradas no Talmud. As inscrições encontradas nas catacumbas Judaicas são valiosas fontes de informação sobre as “sinagogas”. Grande partes destas lápides se encontra hoje no Museu do Vaticano.
Autores clássicos
Um dos textos-chave é escrito pelo filósofo Judeu Philo de Alexandria, que visitou Roma como membro de uma delegação ao imperador Caligula (40 CE). Em seu relatório, ele faz uma visão geral da vida dos judeus em Roma, mencionando que sua posição havia sido garantida pelo imperador Augusto. Augusto permitiu que eles enviassem seus impostos (os “primeiros frutos”) a Jerusalém, lhes deu cidadania Romana e permitiu estudar leis Judaicas (em vez de Romanas). Ele também decretou que, se um Judeu fosse agendado para receber sua quota mensal de grãos em um sábado, ele ficava autorizado a retornar noutro dia
Esta é uma imagem altamente idealizada. Roma não era o paraíso Judaico que Philo quer mostrar. Por exemplo, a água do aquaduto Aqua Alsietina não era saudável e só podia ser usada para fins de irrigação. No entanto, os Judeus foram forçados a usar este aqueduto, porque ele chegava a seu bairro.
As atitudes dos Romanos não-Judeus são descritas pelo poeta Juvenal. que desdenha os estranhos hábitos dos Judeus em geral e ri da pobreza dos Judeus perto da Porta Capena em particular. A acusação de pobreza é típica do anti-semitismo grego e romano; Entre os hábitos estranhos estão a abstinência da carne de porco, o estudo da Lei de Moisés (considerado como uma recusa de aprender a lei Romana), a circuncisão, o comportamento anti-social e a manutenção do sábado (considerado como preguiça).
O governo Romano não estava realmente interessado nos Judeus, como pode ser demonstrado pelo fato de que mesmo um imperador bem-intencionado como Augusto não sabia que os Judeus podiam comer no sábado, acreditando que eles jejuam.
É possível estimar o número de Judeus Romanos durante o reinado de Augusto. O historiador judeu Flavius Josefo menciona um processo na corte, em que 8 mil judeus de Roma se juntaram a uma das partes. Ora, para participar de um julgamento eles deveriam ser homens adultos, porque as mulheres e os filhos não podiam participar de um processo judicial.
Uma vez que uma família nuclear consistia em pelo menos quatro ou cinco membros, deve ter havido cerca de 40 mil Judeus. É provável que este número tenha aumentado após a deportação em massa de prisioneiros de guerra após a queda de Jerusalém em 70 CE. Isso se reflete no enorme tamanho da catacumba de Monteverde. (NOTA: Até o presente todos os relatos de Josephus Flavius têm se mostrado exatos)
Há ainda algo extremamente forte: 534 catacumbas com inscrições em Hebraico datando desde o século I aC após a batalha de Pompeu em 63 aC, a partir de quando muitos Judeus foram trazidos como escravos. Algumas inscrições mecionam “libertos” o que faz crer que sejam escravos Judeus que conseguiram comprar sua liberdade. A partir do ano 70 CE cresce vertiginosamente a população Judaica de Roma em função da destruição do Templo por Tito e a dispersão que ele ordenou.
O uso de catacumbas por Judeus tem mais de uma explicação. Judeus acreditam na ressurreição e não podem cremar seus mortos. O custo da terra era imenso para escravos e pobres. As catacumbas estão em grutas baratas. Na Judéia era costume difundido enterrar em cavernas (vide Qumran).
A catacumbas Judaicas têm características muito distintas das demais. Os corredores entre os túmulos são amplos enquanto as catacumbas não-Judaicas têm corredores bastante estreitos. Nas grutas há algo como “câmeras” ou “quartos” muito parecidos com o que há na Judéia e que está bem descrito na Mishná.
Muitos dos túmulos mencionam a ‘Sinagoga” (chamadas Casa de Estudos) a qual pertenciam e consegue-se identificar 13 Sinagogas na Roma Antiga, com seus nomes e localização e há mais algumas que não se consegue identificar. Interessante mencionar duas delas: Sinagoga Hebraica e Sinagoga Vernacular. A primeira parece ter sido a primeira Sinagoga de Roma e lá se utilizava o Hebraico. Já a outra, aparentemente, tinha seus ritos em Latim.
Outro fator interessante: 76% dos nomes tinham raízes Gregas e só 23 % Latinas. Isto parece demonstrar que os Judeus carregavam muito mais a cultura Grega que a Latina. Apenas 5 tumbas tinham nomes Hebraicos. Isto se confirma na carta de Paulo aos Romanos (Epístolas aos Romanos 16, 5-16). Nesta carta ele saúda 18 pessoas com nomes Gregos, 4 com nomes Latinos e 2 Hebraicos.
Interessante notar que todos os Judeus que tinham nomes Latinos eram membros da Sinagoga Elaias. Não se sabe a razão, mas aparentemente estes formavam uma minoria com congregação separada das demais. Outra característica interessante: nos escritos Judaicos em Grego há uma série de erros gramaticais básicos. Isto parece indicar um nível educacional mais baixo. Talvez isto corrobore o que disse Juvenal, que os Judeus eram pobres (e daí que não podiam pagar uma boa educação). Nas pedras lapidares mencionam-se filantropos, escribas, líderes de Sinagoga, tesoureiros mas não há nenhuma menção a Rabi, o que parece indicar que Roma não havia ainda aceito os Rabinos pós destruição do Templo. Há uma lápide onde diz ser "um professor da lei” mas nunca Rabi.
O Gueto Judaico
Escondido no coração da cidade, o Gueto Judaico de Roma é uma das melhores atrações da cidade e também um dos seus menos conhecidos. Como a mais antiga comunidade Judaica da Europa, esta área bela e vicejante é tão básica para a história da cidade quanto para a fé Judaica. O Gueto é bem recente em termos históricos.
O Gueto foi estabelecido em 1555 no Bairro de Sant’Angelo, perto do Rio Tibre, na parte sul do Campo de Fiori. Suas fronteiras foram fixadas em uma Bula Papal, juntamente com várias leis discriminatórias sobre o profissões que Judeus podiam e não podiam exercer. Dentre as profissões aceitas estava a de vendedores de peixe, que ainda empresta seu nome a ruas na área do antigo mercado de peixes.
Esta profissão visava marcar os Judeus como pessoas sem asseio. Embora o bairro hoje tenha alguns dos preços de imóveis mais altos da cidade, o Gueto Judaico original (conhecido simplesmente como o Gueto de Roma) era murado em e super-lotado. Foi construído na Terra Baixa, área onde a malária proliferava e era sujeita a inundações regulares do Rio Tibre. A vida era cruel até que as paredes do gueto foram postas abaixo em 1888.
A cultura judaica cresceu e prosperou no Gueto de Roma, mas o bairro também testemunhou um dos episódios mais comoventes e cruéis da ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Após o governo alemão proclamar que os Judeus de Roma seriam poupados de deportação para os campos de concentração se pagassem um “resgate” em ouro – 50 kg – , muitos na cidade, incluindo o Vaticano, doaram seu ouro (embora haja dúvidas sobre se a oferta do Vaticano foi recusada ou não). Ainda que a comunidade judaica tenha juntado a quantidade necessária nas 36 horas ordenadas pelos nazistas, soldados alemães entraram no bairro em 16 de outubro de 1943 e deportaram entre 2.045 pessoas. Apenas 16 sobreviveram.
O governo de Roma afixou uma placa emocionante no local onde os Judeus foram juntados. Deste local foram levados a uma estação de trem, colocados em vagões totalmente fechados por dois dias sem comida ou asseio. Depois de dois dias os trens partiram para o campo de extermínio de Auschwitz, uma viagem de sete dias.
Ao longo dos anos, a área do Gueto se transformou num belo bairro cheio de restaurantes, igrejas e sinagogas que combinam a cultura Judaica com a grandiosidade da arquitetura Romana. As ruínas do enorme pórtico antigo, o Pórtico d’Ottavia, sobem desde 6 metros abaixo do nível da rua, trazendo ao mesmo tempo uma prova da história, bem como as mudanças que o tempo traz. O passado, Augusto havia erguido aí um memorial para sua sofrida irmã, Otávia. Nas ruínas deste portal funcionava o mercado de peixes medieval e a seu lado, o mercado de carnes.
Teatro Marcello
Recebeu o nome em homenagem a Marcus Marcellus, sobrinho do Imperador Augusto que seria seu sucessor mas morreu cinco anos antes da sua conclusão, aos 25 anos. O Teatro foi iniciado por Júlio César e completado por Augusto em 13 aC. Também é conhecido como o Coliseu Judaico por sua semelhança com o Coliseu original. Este antigo teatro ao ar livre podia receber cerca de 11.000 a 20.000 espectadores, e seus assentos ficavam cheios nas apresentações teatrais, de dança ou canto. Localizado no Bairro de Sant’Angelo, ainda hoje é palco de diferentes shows durante todo o verão. Nos andares superiores foram construídos apartamentos elegantes que oferecem belas vistas do centro da cidade e são ocupados por algumas das famílias Judaicas mais antigas da cidade.
A Grande Sinagoga
A Grande Sinagoga de Roma, ou o Templo Maggiore di Roma em italiano, é a maior sinagoga de toda Roma e, possivelmente, toda a Itália. Este edifício impressionante é bastante novo pelos padrões Romanos. Em 1870, com a unificação da Itália, as pessoas de fé Judaica receberam cidadania plena, o direito ao estudo e a qualquer profissão. A Comunidade passa a exercer profissões bem remuneradas, decidem derrubar uma das sinagogas do gueto original e elaborar planos para a Grande Sinagoga. A pedra fundamental foi colocada em 1901 e a sinagoga foi oficialmente completada em 1904, ou seja, é um verdadeiro bebê no horizonte Romano. A Sinagoga, em seu interior, impressiona por sua imensa beleza estética e por suas proporções. A imensa e altíssima cúpula, os mosaicos com passagens bíblicas, a área feminina muito bonita e o imenso pé direito nos chama à reflexão e oração.
Museu Judaico de Roma
O Museu Judaico está localizado sob a Grande Sinagoga. Aberto em 1960, exibe fantásticos adereços da Torá – coroas de prata e os chamados Rimini (peças de prata que cobrem os cilindros de madeira que seguram os pergaminhos). Há um sem número de capas da Torá, datados a partir de 1550 com as datas precisas em que foram usadas e o nome do doador de cada um. Há pergaminhos e esculturas de mármore das coleções da Comunidade Judaica de Roma, duas riquíssimas cadeiras esculpidas com motivos Judaicos usadas nas cerimônias de Breit Mila (circuncisão). Também conta a história dos Judeus e do Gueto Judaico de Roma, com fotos e recortes de jornal. La se aprende que de 1901 a,1907 Roma teve um. Prefeito Judeu – apenas 30 anos depois da emancipação, Judeus já galgaram importantes cargos públicos! Comece suas explorações do bairro aqui e assim terá informações sobre o contexto da região.
Vale mencionar que os Judeus de Roma não são Ashkenazim nem Sefaradim. Sua origem remonta à época do Templo, seus costumes são locais bem como seu rito religioso e de orações. Na verdade a dispersão dos Judeus pelo mundo se inicia com Tito e seguirá com ênfase por Adriano a partir de 132 dC quando Adriano faz com que Judeus sejam incorporados como ajudantes da Legião Romana, seguindo-os. Assim Adriano povoava as regiões conquistadas com estrangeiros e, ao mesmo tempo, evitava que os Judeus permanecessem agrupados, o que leva a a riscos de sublevação. (poderiam fazer parte dos primitivos Collegia Fabrorum).
La Bocca della Verità
A Boca da Verdade, ou Bocca della Verita, é a imagem do rosto de um homem esculpido em mármore. Localizado na entrada da igreja de Santa Maria na Cosmedin desde o século 17 e acredita-se que a escultura seja do século I. Embora saibamos que não esteja ligado ao Judaísmo ou ao Gueto Judaico de Roma, as lendas sobre suas origens variam de ser parte de uma fonte antiga, de uma igreja, de uma tumba, mas o mais estranho de todos é o seu poder como detector de mentiras . Desce a Idade Média os Romanos acreditavam que se você dissesse uma mentira com a mão na boca da escultura, sua mão seria mordida! Ainda que não ligada ao Judaísmo, é uma atração no Gueto.
A Escola Judaica
Localizada bem próxima à Grande Sinagoga, é um prédio imponente. É interessante notar que os edifícios em volta da escola são muito simples e pobres, enquanto a escola é linda, imponente e pujante – uma clara evidência da importância que Judeus dão à educação.
A Fonte das Tartarugas
A Fontane delle Tartarughe é uma fonte da época tardia do Renascimento, no riacho Sant’Angelo. Embora possa ter sido chamada de Fonte dos Golfinhos, já que no passado havia golfinhos onde hoje estão as tartarugas. Os golfinhos foram removidos devido à baixa pressão da água e as tartarugas foram adicionadas para que a fonte pareça completa. Originalmente construída como um bebedouro, a água era proveniente da Acqua Vergine, um dos primeiros aquadutos de Roma – uma grande obra para os Romanos do século VI!
O Coliseu
O Coliseu, que está fora do Gueto, é mencionado aqui por sua ligação com is Judeus de Roma. – afinal, foi construído totalmente por escravos Judeus trazidos por Vespasiano e Tito. Muitos destes escravos encontraram sua morte sendo dados como alimentos a feras famintas para deleite dos espectadores do Coliseu. Apesar de não haver sequer uma evidência de que Cristãos tenham sido martirizados no Coliseu, o Vaticano na idade média proclamou que isto havia ocorrido e assumiu a guarda do Coliseu, onde realiza a famosa Missa de Páscoa em memória aos mártires.
Interessante ressaltar que Judeus Cativos construíram as Pirâmides do Egito e 1400 anos mais tarde, Judeus cativos construíram o Coliseu.
…E quem sabe, até uma Igreja
Um tanto surpreendentemente, considerando todas as coisas, há mais de 15 igrejas na pequena área que compreende o antigo Gueto Judaico. Algumas das mais famosas são a Chiesa di Santa Maria del Pianto, Chiesa di San Tommaso ai Cenci, Chiesa di Santa Caterina dei Funari e Chiesa di San Stanislao dei Polacchi.
Hoje
Hoje Roma tem cerca de 40.000 Judeus. Cerca de 50% são praticantes ortodoxos. Há 18 Sinagogas, todas ortodoxas = não existe comunidade Conservadora e nem Reformista. Há apenas una Sinagoga Ashkenazi, 5 Sefaradim e as restantes do Rio Romano. As Sinagogas Sefaradim Ashkenazim se devem ao influxo de Judeus provenientes de Países Árabes, em especial Judeus da Líbia e Benazir que chegaram numa imensa onda migratória em 1967, após o pogrom de Tripoli. Grande número desta imensa imigração seguiu mais tarde para USA e Canada más ficaram um significativo número que usa estas cinco Sinagogas. Para servir esta comunidade há grande número de restaurantes e pizzarias Kasher bem como lojas, padaria, supermercados etc. O Carrefour tem 8 lojas com áreas Kasher.