junho 03, 2021

VELHO AVENTAL- Adilson Zotovici

 


O irmão Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif é um dos mais festejados poetas da maçonaria. 


Oh quão formoso cenário 

Sem acasos, tão bom astral,

Bem demarcado ternário

E adequado ferramental 


Prende atenção no plenário

Alguém muito especial

Obreiro sexagenário

Em meio ao grupo jovial 


Livre pedreiro lendário,

Perene nas mãos manual

Qual guarda nosso  ideário,

Arcanos e bom ritual


Mas, um neófito solidário,

Em tom curioso, informal,

Aflito, teceu comentário

Sobre o que viu de anormal ;


Um homem sábio, argentário,

Grande mestre da Arte Real,

Orgulhosamente usuário,

“Dum tão desgastado avental “ 


O velho alvenéu honorário,

Fala mansa, coloquial,

Diz que  esse estado precário

É motivo de honra sem igual 


Que o desgaste é originário

Dum desbastar divinal

Que pedreiro visionário

Logo vê que imaterial...


Que com ele fez bom salário

Por seu justo labor fraternal

E que a ele, um relicário...

Do Grande Arquiteto Universal !


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif 169

REVISITAR CONCEITOS - Newton Agrella



Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Um dos mais notáveis estudiosos da maçonaria no país..


O caráter iniciático de uma ordem filosófica se coaduna com as leis morais e éticas que se fundamentam em critérios intelectuais e dialéticos.

A liberdade de pensamento é um exercício legítimo e reconhecido como base de sustentação da propria consciência humana, assim como o é a obediência aos princípios ou  marcos regulatórios que dão forma e conteúdo a uma instituição que faz jus à sua perenidade, graças ao iluminismo que se conquista a partir de seu caráter especulativo.

Exaltar "culto a divindades"  no âmbito de uma atividade intelectual e filosófica que busca o Conhecimento e a Verdade através da Simbologia, na prática do raciocínio, da lógica, do espiritualismo e do exoterismo como elementos consistentes para o entendimento da existência humana - confere um ar de descompromisso com o exercício do pensamento.

Igrejas, Sinagogas, Mesquitas, Centros Espiritas, e todo e qualquer outro recinto em que se busca trabalhar a Fé estão disponíveis mundo a fora e não exigem qualquer tipo de iniciação ou sindicância. 

Contudo, àqueles que ainda não se deram conta sobre o real significado e propósito de uma Ordem Filosófica e Oficina de Aprimoramento Interior Humano, seria interessante rever alguns conceitos.

junho 02, 2021

ÍNCUBOS E SÚCUBOS ALÉM DA FANTASIA












incubus (1)


É um fato de domínio público e que muitos afirmam have-lo experimentado ou escutado pessoas autorizadas que tenham experiência disso, que os Silvanos e os Faunos, vulgarmente chamados íncubus, tem atormentado com frequência às mulheres e saciado suas paixões. Além disto, são tantos e de tal peso os que afirmam que certos demônios chamados pelos Gauleses, Dusios, intentaram e executaram essa animalidade que, negá-lo parece imprudência.” - Santo Agostinho, livro 15 Cap. 23 em DE CIVITATE DEI

Ao se tratar de íncubos e súcubos, o que é mais popularmente conhecido, é o mito como citado acima por Santo Agostinho que viveu nos longínquos séculos IV e V da nossa era cristã.

Embora, séculos se passaram, ainda hoje, Íncubos e Súcubos são conhecidos como demônios que atacam suas vítimas enquanto essas se encontram “dormindo”. O intuito do ataque é ter relações sexuais com elas e, por meio disso, drenar suas energias para assim se alimentarem, na maioria das vezes deixando-as vivas, mas em condições muito frágeis, por esse motivo, também estão relacionados aos vampiros.

Os Íncubos são demônios masculinos que atacam as mulheres, já os súcubos são demônios femininos que atacam os homens. Numa pesquisa no Wikipedia, temos a informação de que o prefixo in- “sobre”, da palavra íncubos, dá o significado de alguém que está em cima de outra pessoa. De acordo com o livro “O Martelo das Bruxas” (Malleus Maleficarumda idade média, a palavra “succubus” vem de uma alteração do antigo latim succuba significando prostituta. A palavra é derivada do prefixo “sub-“, em latim, que significa “em baixo-por baixo”, e da forma verbal “cubo“, ou seja, “eu me deito”. Assim, o súcubo é alguém que se deita por baixo de outra pessoa, e o íncubo (do latim, in-, “sobre”) é alguém que está em cima de outra pessoa.

Apesar de as descrições acima do “modus operandi” desses seres serem distintas entre si, segundo os relatos das vítimas, eles atacam de forma muito semelhante, como uma pressão muito forte sobre o peito, os imobilizando e ainda, com intensa conotação sexual.

De aparência muito sedutora e magnética, esses demônios são descritos algumas vezes com asas de morcego e também com outras características demoníacas, como chifres e cascos. O súcubos atraem o sexo masculino e, em alguns casos, o homem “apaixona-se” por ela. Mesmo fora do sonho, ela não sai da sua mente, por esse motivo, ela permanece lentamente a sugar-lhe energia até à sua morte por exaustão. Outras fontes dizem que o demônio irá roubar a alma do homem através de relações sexuais.

Diz-se ainda que, tanto os súcubos, assim como os íncubos, descendem de um mesmo demônio, o qual, para uma mulher apareceria na forma masculina e para um homem o mesmo demônio apareceria com a forma feminina.

E disto deriva que os súcubos recolhem o sêmen dos homens com os quais copulam, para que um íncubo possa depois, vir a engravidar mulheres, e desta união ocorre nascerem crianças mais suscetíveis às influências de demônios. Diz à lenda que o mago Merlin é fruto desses tipos de uniões.

Numa nova leitura e interpretação mais atualizada sobre o mito, é muito fácil concluir que tais pesadelos não passam de “fantasias” de desejos sexuais fortemente reprimidos em uma época (idade média) onde, os conceitos de moral, religião e bons costumes eram extremamente rígidos e controlados pela inquisição da igreja romana.

Isto por si só, justificaria o fato de que esses mitos e lendas, tomados como fantasias reprimidas, serem associados a casos de doenças e tormentos psicológicos de origem sexual, os quais são os causadores de pesadelos, paralisia do sono e poluções noturnas. Essa interpretação de relativa simplicidade, pra não dizer rasa, até nos parece convincente, não fosse a dúvida: seriam mesmo, somente essas duas possibilidades – demoníaca ou repressão sexual – a se considerar sobre o assunto?

O assunto nem de longe é tão simples e, por esse mesmo motivo, vai muito além do exposto acima. Não podemos esquecer que tanto em mitologia, bem como magia e também psicologia analítica, o mito está totalmente relacionado com aspectos da psique humana, portanto, faz parte tanto do inconsciente individual bem como do coletivo e, disso resulta que o quadro acima se altera completamente.

Incubus

No livro “O herói de mil faces”, o mitólogo Joseph Campbell nos traz um novo olhar sobre esses temíveis demônios, que se apresentam nas mais diversas formas e aparências. Os íncubos são os centauros, sátiros, silenos ou outros concupiscentes da horda de Pã. Já as súcubos são as melusinas, sereias, nereidas, ninfas do bosque, etc.; ambos, íncubos e súcubos, são seres élficos habitantes das profundezas escuras das águas ou das florestas, são representações do estranho a nós e, por isso mesmo, não cansamos de os narrar nos mitos e contos de fadas.

O deus Pã é o mais conhecido exemplo clássico da presença perigosa que habita essas fronteiras entre o conhecido e desconhecido. Silvano e Fauno foram suas contrapartes latinas. Para aqueles que ousassem adentrar os seus domínios, Pã era causador de um grande medo súbito e sem razão aparente, enchia a mente de um terror imaginário, daí a origem da palavra “pânico”. Mas Pã também tem seu lado bom para aqueles que lhes prestavam culto, os abençoando com boa colheita e boa saúde, da mesma forma lhes concedia sabedoria.

Plutarco enumera os êxtases dos rituais orgiásticos de Pã, do frenesi do amor como sendo o divino entusiasmo que supera a razão e libera as forças da escuridão destrutiva-criativa. Portanto, íncubos são as representações ou personificações dos espíritos da floresta, das águas e do ar, são espíritos da natureza, do desconhecido além do humano, do instintivo, e tudo isso, não é outra coisa, se não aspectos do inconsciente coletivo.

Essas forças que vigiam os limites entre o consciente e inconsciente são perigosas e lidar com elas envolvem riscos mas, aqueles que a confrontarem com coragem verão o perigo desaparecer.

Já em ocultismo, um dos súcubos mais conhecidos é Lilite. Na tradição rabínica, ela foi a primeira mulher de Adão, criada da substância de sua imaginação. Em um manuscrito da Aurora Dourada [Ordem Goldem Dawn] intitulado “A Mercará”, ela é descrita como “uma mulher bonita por fora, mas por dentro, corrupta e putrefata”.

Kenneth Grant diz que Crowley menciona o seguinte sobre Lilite: “Os antigos rabinos judeus sabiam disso e ensinaram que, antes que VA fosse dada a Adão, o demônio Lilite foi concebido pelos respingos de seus sonhos de modo que as raças híbridas de sátiros, elfos e outros parecidos começaram a povoar aqueles lugares secretos da terra que não são sensíveis aos órgãos do Homem Comum”.

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Eva e Lílite não são duas criaturas diferentes, mais dois aspectos de uma única entidade. O aspecto brilhante, solar, criativo, angélico foi chamado Eva (uma forma da divindade criadora IHVH – Iavé [YOD – HEH - VAV – HEH]; o aspecto lunar, corrupto, demoníaco foi chamado Lílite.

De acordo com antigas autoridades em feitiçaria, íncubos e súcubos eram personificações do próprio diabo, mas não podemos ignorar que também o diabo é sinônimo do espírito criativo no homem.

Estes seres quando se comportam como companheiros, atuam como elos através dos quais o indivíduo se torna capaz de se comunicar com habitantes dos reinos astrais da mesma natureza do súcubo ou íncubo.

Crowley vai mais fundo ao declarar que “o sátiro é a verdadeira natureza de cada homem e cada mulher”. O íncubo ou súcubo é a exteriorização, ou extrusão, do sátiro em cada indivíduo. Ele representa a vontade subliminar (inconsciente); na verdade, ele representa o Ser Anão ou Sagrado Anjo Guardião.

Ele é o princípio no homem que é imortal e inextricavelmente possui estreita ligação com a sexualidade que, por sua vez, é a chave para sua natureza e os meios de sua encarnação. Num sentido espiritual, eles podem ser considerados como guias da alma pelas trilhas luminosas e obscuras de Amenti (psique objetiva/inconsciente coletivo).

Tudo isso acima, nos leva, claro, para a psicologia analítica, que descreve o fenômeno da anima-animus como psicopompos e guias da alma a adentrar o inconsciente coletivo.

Jung aborda o tema sobre íncubos e súcubos com maior profundidade no livro “Sobre os Arquétipos do Inconsciente Coletivo”, ele diz : “quem olha para dentro da água vê sua própria imagem, mas atrás dele surgem seres vivos, possivelmente peixes, habitantes inofensivos da profundeza – inofensivos se o ego não fosse mal-assombrado para muita gente. Trata-se de seres aquáticos de um tipo especial. Ás vezes , o pescador apanha uma ninfa em sua rede, um peixe feminino, semi-humano.”

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Herbert Draper, Ulisses e as Sereias

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Esses seres como as sereias, e que também podem ser ondinas, cisnes, ou a Válquiria nórdica Brunhild, ninfas, filhas do rei dos elfos, lâmia, súcubos que atordoam os jovens, sugando-lhes a vida, são seres mágicos femininos que representam um estado mais instintivo e primitivo no homem, este que está além de sua parte consciente, e que Jung designou pelo nome de anima. Da mesma forma ele concorda que esses seres, do ponto de vista de um cético ou de um crítico moralista, não passam de projeções de estados emocionais nostálgicos e fantasias condenáveis ou idiotas. E também da mesma forma questiona: Será a sereia apenas um produto do afrouxamento moral?

Em se tratando de anima e, sendo esta um arquétipo do inconsciente coletivo, o termo projeção não é muito apropriado, pois nada é arrojado fora da alma. Para Jung o que ocorre é que a psique atingiu sua complexidade atual através de uma série de atos de introjeção. Essa complexidade tem aumentado proporcionalmente à desespiritualização da natureza. Uma entidade inquietante da floresta da idade média ou tempos passados, chama-se agora “fantasia erótica”, o que vem complicar com muito dano a vida anímica. Ela vem ao nosso encontro sob a forma de uma ninfa, mas pelos motivos acima, se comporta como uma súcubo.

Mas porque Jung denominou esse ser élfico como sendo igual a anima?

Alma ou anima designa algo de maravilhoso e notável, como algo movente ou iridescente, como a borboleta. Para o homem primitivo ela é um sopro mágico de vida, daí o termo anima, ou chama, ou fogo. E ainda, a anima acredita no conceito primitivo anterior à descoberta do conflito entre estética e moral, portanto, anima-animus sendo os arquétipos da vida e de seu significado são idênticos com a deusa kundalini.

Então, assim como a deusa Kundalini, anima/animus assume as mais diversas formas como uma bruxa/mago e é de uma autonomia insuportável que, a bem dizer, não seria própria de um conteúdo psíquico. Provoca fascinações, ou assim como Pã, desencadeia estados de terror que nem mesmo a aparição do diabo poderia ocasionar. Ela/ele é um ser provocante que cruza nosso caminho nas mais diversas modalidades e disfarces, pregando-nos peça de todo tipo, provocando ilusões felizes e infelizes, depressões, êxtases, emoções descontroladas.

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Diana y sus ninfas sorprendidas por satiros1638-1640. Rubens-739550

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Como todos os arquétipos, anima/animus tem um lado positivo e um lado negativo, um lado benéfico e um maléfico. Anima-animus é a representação dos gêmeos bem e mal, sendo assim, sabedoria e loucura aparecem na natureza élfica como uma só e mesma coisa. Estas entidades, sendo representações arquetípicas, adentram o reino dos deuses da metafísica e, no reino da vida dos elfos bem e mau não existem, por isso a vida é ao mesmo tempo significativa e louca.

Na mulher, especificamente, se apresenta como espírito, ou logos, um ser que tem alma e um ser vivo, pois alma é o que vive no homem, no sentido de ser humano. A alma é um daimon doador da vida, que conduz seu jogo élfico para a existência humana como um impulso para a vida.

Mas a que tipo de mentalidade corresponde a maneira de expressar simbólica ou metafórica desse arquétipo? Ela corresponde a mentalidade do homem primitivo, cuja linguagem não possui termos abstratos, mas apenas analogias naturais e “não-naturais”, por isso os mitos e lendas de seres sobrenaturais, meio humano/meio animal, representando essa natureza do homem, que adentrou o universo dos deuses, ou o mais primitivo e instintivo, que é até mesmo anterior a consciência.

Já Emma Jung nos trás uma valiosa contribuição sobre o arquétipo da anima/animus, para ela, em nossas crenças populares, em nossos mitos e contos de fadas, os gigantes e anões bons e maus, fadas e magos, estes que representam conteúdos do inconsciente coletivo, ou seja, imagens arquetípicas ou primordiais, estas que não se originam de conteúdos pessoais, os quais, como animas-animus atuam ou funcionam como uma espécie de ponte ou elo de ligação entre o pessoal e impessoal, entre o consciente e o inconsciente.

O fato, dentro de nossa psiquê, desses seres serem a representação ou imagem do que há de mais primitivo e também instintivo no homem, os quais estão totalmente relacionados com aquela camada muito profunda do inconsciente, este que a psicologia de Jung denomina psiquê objetiva, são nada mais nada menos que os guardiões dos limiares do abismo, estão as margens do inconsciente coletivo e podem nos conduzir suavemente ou dramaticamente a adentrar o total desconhecido.

” Esses mensageiros élficos são perigosos porque ameaçam as bases seguras sobre as quais construímos nosso próprio ser ou família. Mas eles são diabolicamente fascinantes, pois trazem consigo chaves que abrem as portas para todo domínio da aventura, a um só tempo desejada e temida.” - Joseph Campbell

DA CONCEPÇÃO DA MORTE PARA OS MAÇONS




Trabalho de Cícero Pedrosa Neto, Ernesto Feio Boulhosa, João Paulo de Oliveira & Raphael Gomes:

Sendo a Instituição Maçônica uma Ordem Iniciática, portanto detentora de axiomas próprios, configurando-se tal qual um estamento; possui uma concepção assaz particularizada sobre o “grande mistério” da morte.

Conforme Bayard, a analise da Morte pressupõe antes uma análise da Vida. Para o Maçom, conforme já foi dito neste trabalho através das palavras de José Mattias Lopes, a vida resume-se a um constante aperfeiçoamento, um labor que visa o melhoramento do ser in terrae, não estando desta forma, o homem, fadado a permanecer perpetuamente neste plano corruptível.

Desta feita, a morte para a Maçonaria é, senão, uma passagem, uma transferência de um plano corrupto para uma vida post mortem em um plano maior, junto à perfeição divina, transferência esta que sugestiona o câmbio do status do morto, colocando-o na esfera do sagrado, o que nos remete, analogamente, às concepções judaico-cristãs, conforme explicita o Ritual de Pompas Fúnebres do Rito Adonhiramita em citação de Job:

“Nós ouvimos, sombra cara, as tuas queixas e teus suspiros, dirigimos-te estas palavras ternas e consoladoras. Está escrito que seremos revestidos de uma carne incorruptível no seio da Glória, que então veremos o Pai, o Criador de tudo que respira; nós O contemplaremos com os nossos olhos despidos de qualquer emblema.”

Este lugar imaculado, habitáculo dos maçons já falecidos chama-se maçonaria celeste, que é uma espécie de loja regida diretamente pelo Grande Arquiteto do Universo, o Senhor dos Mundos, Pai da “perfeição” tão almejada pelo maçom em vida.

É certo que estas concepções de morte são propostas a fim de se obter um tipo de universalização no qual se contemple todo tipo de credo, posto que, como já foi colocado, a maçonaria é uma instituição laica, ou seja, sem grilhões dogmáticos, o que implica que seus membros já possuem seus credos advindos de sua vida extra-maçônica.

Monografia apresentada á disciplina Introdução à Antropologia, ministrada pela Profº. Eneida de Assis para a obtenção de nota parcial referente à 3º avaliação da turma do 2º semestre/manhã do curso de Ciências Sociais da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA . INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – IFCH.FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS. Belém – PA. Dez./2007


junho 01, 2021

A QUESTÃO DA REGULARIDADE MAÇONICA



 

A questão da Regularidade Maçônica tem sido a principal luta priorizada pelas organizações maçônicas, as quais se voltaram unicamente para a burocracia e apegos superficiais, esquecendo-se da verdadeira necessidade do aperfeiçoamento interior humano.

É lamentável ver maçons imorais, arrogantes, cheios de vícios e defeitos, galgarem os graus maçônicos, sem saberem qualquer significado das lendas ou dos personagens, sem retificarem sua moral e ética, a sua conduta social, arrogando-se "maçom regular" e imputando aos outros o anátema de "maçom irregular" ou “espúria”.

Para estes maçons, importa primeiramente saber, antes de mais nada, qual a Loja Simbólica ou Potência/Obediência Maçônica a qual se está filiado, do que avançar no diálogo calcado em conhecimento histórico, simbólico e místico da Maçonaria. São os considerados "MAÇONS DE PAPEL", que priorizam a carteira de identificação, o certificado de graus, atestados e declarações, os quais encontram-se todos em suas paredes para exibição.

Mas afinal, o que significa "SER MAÇOM REGULAR?".

Num tempo próximo, na época em que os pedreiros se reuniam em tavernas ou nos átrios de igrejas, ou ainda em campo aberto, seria impróprio perguntar a um irmão - "és maçom regular?".

Não havia qualquer templo para reunião periódica, porque nem periodicidade era obrigatória entre os maçons.

Os templos, atendendo a um conceito contemporâneo, somente foram institucionalizados entre 1715 a 1726, mas inicialmente com muitas reservas.

Não havia "grau superior ou filosófico" ou mesmo o grau de mestre.

Inexistiam os paramentos mais complexos, o painel do grau (que eram apenas um desenho riscado no chão, à giz ou com carvão), as colunas, os nós, os degraus, a balaustrada, os altares, enfim... a instituição maçônica era formada mais de irmãos do que forjada de aparências. O que antes era impensável e motivo de repulsa, hoje digladiam-se para saber quem é e quem não é "regular".

Ultrapassado o preconceito de achar que Maçonaria sempre existiu tal como é hoje, ainda há a questão da regularidade.

É evidente que ambos os termos "regular" ou "irregular" significam CONCEITOS DE EXCLUSÃO. Ou seja, quem é regular deverá atender ou atentar e se subordinar às regras, normas, estatutos, formalidades exigidas de quem se presta a "conceder" a tal regularidade. Assim, essa disciplina gera subordinação, dominação, submissão a determinado conjunto de normas, usos, costumes da Obediência da qual se pressupõe a regularidade. Mas...

Quem foi a primeira "Potência Regular"?

Foi a dos Estados Unidos que organizou o primeiro Supremo Conselho ou a da Inglaterra, onde aparentemente se estruturou a primeira Loja ou Primeiro Grão-Mestrado?

Será menos "regular" a França que teve os pedreiros-livres em seu seio antes mesmo dos Estados Unidos virarem um país independente?

E o que dizer no Brasil?

Será "regular" o Oriente mais antigo (Grande Oriente do Brasil), com ou sem vários reconhecimentos internacionais ou as Grandes Lojas Estaduais (dissidentes do Grande Oriente do Brasil), que se rebelaram daquele primeiro Oriente, fundando suas próprias Potências?

Quais das rupturas políticas geraram a "potência mais regular"?

E acaso se reconhecem uma à outra que convivem há décadas?

Observa-se que "regularidade" depende da instituição, conselho, congregação, para os quais se voltam o agrupamento que busque esse título “Regular”. Esse procedimento é, como tudo o mais na vida, vinculante à coerência.

Uma potência pode se dizer "regular", quando outra vizinha não a reconhece?

Afinal, será que a regularidade maçônica está sob o jugo e o cabresto de um conjunto de outras potências externas, elas mesmas lutando por ser "mais regular e reconhecida" que a outra?

Por óbvio, o raciocínio nesse diapasão não poderá prosperar, porquanto teremos a seguinte situação:

“Uma potência brasileira "X", do século XIX se diz regular, da qual nasceu uma potência brasileira "Y", por meio de um rompimento no século XX.

Essa potência "Y" não é regular para a potência "X", mas por ter sido reconhecida por um Supremo Conselho Internacional, o será para todas as potências ligadas a este Supremo Conselho, enquanto que a potência "X" torna-se irregular para este Supremo Conselho Internacional e suas demais Potências...”.

E então, como ficamos?

Ora, persistindo neste grande erro, a Obediência será e não será regular dependendo da conveniência política da ocasião, da instituição que a reconhece, dos interesses em jogo, da penetração social disposta no tabuleiro.

Como a maçonaria chegou a este ponto?

Onde ela errou tanto?

Como conseguiram desvirtuar a Maçonaria dessa forma?

Infelizmente hoje observamos Maçons corrigirem Maçons, dizendo o que é "certo" e o que é "errado", mesmo que a história demonstre que nunca houve nada além de Lojas livres, sem subordinação, sem obediências.

É uma ignorância sem fim ver os doutos expedirem os pareceres sobre cores, colunas, nós, altares, disposição de oficiais, jóias, usos e costumes, e toda essa pletora de práticas que se compõe um ritual, o qual já sofreu centenas de modificações ao longo do tempo, por razões das mais diversas.

Foram tantas as mudanças e eram tantas as vertentes locais, regionais e nacionais, ritos dos mais diversos que não há como afirmar quem é regular ou irregular.

Há os princípios gerais e só. Mais do que isso é fantasiar a história e mistificar a própria Obediência que sempre se arroga como "antiga, regular, aceita" e outros adjetivos. Na verdade, tais qualificações são apenas excludentes.

Afirmamos sem medo de errar que a estrutura profana tem dominado algumas potências maçônica ditas regulares. Tribunais, Ministério Público, Defensoria, Conselhos, Tratados, Direito Maçônico, Jurisprudência, Atas, Secretarias, carimbos, carteiras.

Qual a origem disso tudo?

É tradição ou criação moderna?

Então, resta a pergunta:

Tu és um maçom regular?

Como responder?

É muito simples, ao contrário do que parece.

Para nós o MAÇOM REGULAR é aquele que:

1) Estuda com freqüência e conhece o significado dos símbolos do seu próprio Rito?

2) É assíduo na loja da qual é filiado, arcando com todas as obrigações para com sua própria potência ou Rito?

3) Reflete e aplica na própria vida os ensinamentos adquiridos na loja que freqüenta?

4) Estende a mão a outro irmão, quando necessário, sem atender à coloração política?

5) Transforma a sociedade ao seu redor, atuando positivamente para a fraternidade e liberdade?

6) Julga-se igual ao seu semelhante, não fazendo distinção de credo, raça, religião ou orientação política?

7) É um exemplo de vida e de compostura diante da sociedade?

8) Aplaina as divergências e fomenta o consenso, ainda que se despindo de vaidades?

9) É discreto quanto à sua própria condição?

10) Está preparado para a transição para o Oriente Eterno (morte), preparando os seus familiares e todos que estão à sua volta?

Todos os Maçons, Ritos e Potências que enquadram-se nos princípios supracitados são regulares, sem necessidade de certificados ou tratados. Não é preciso qualquer certidão na parede para dizer ao público que se é honesto, assim como os atestados de regularidade são plenamente sem valor quando a potência ou a loja semeia cizânia, discrimina ou exclui.

A família do "irregular" vive contendas; Sua loja não pode contar com ele, porque não sabe se comparece ou não; Ele abandona sua loja, após galgar o grau pretendido; Ele deixa de estudar, de escrever, de dialogar, de palestrar, de conviver, tornando-se um poço de preconceitos sem qualquer explicação razoável.

"Ser regular" é ser honesto consigo mesmo e com o grupo a que se deve fidelidade. É simples, meus irmãos, é fácil e é ético.

Não deixe com que a "maçonaria de papel" vos contamine.

Seja um homem livre e de bons costumes.

Seja, pois, regular primeiro consigo e para com os seus.

..FILÓSOFO VELADO

OBRAS IMPRESSIONANTES DOS MAÇONS OPERATIVOS

 

A ponte Kursunlugerme de dois andares, parte do sistema de aquedutos de Constantinopla: dois canais de água passam por esta ponte – um acima do outro. Crédito da imagem: Jim Crow

O aqueduto romano de 426 km de comprimento forneceu água para Constantinopla.    

Cientistas da Johannes Gutenberg University Mainz (JGU) investigaram o aqueduto mais longo da época, o Aqueduto de Valente de 426 quilômetros que abastece Constantinopla, e revelaram novos insights sobre como essa estrutura foi mantida no tempo. 

Os aquedutos romanos são exemplos impressionantes da capacidade técnica e laborativa de nossos ancestrais, os maçons operativos, através dos Collegia Fabrorum. Essa estrutura é maior do que a distância do Rio de Janeiro a São Paulo e apresenta enorme dificuldade construtiva. Mesmo hoje em dia seria uma obra difícil de ser executada.

Mesmo hoje, eles ainda nos fornecem novos insights sobre os aspectos estéticos, práticos e técnicos de construção e uso. Parece que os depósitos de carbonato dos canais foram limpos apenas algumas décadas antes do local ser abandonado. O aqueduto romano tardio fornecia água para a população de Constantinopla.

O Império Romano estava à frente de seu tempo em muitos aspectos, com um forte compromisso com a construção de infraestruturas para seus cidadãos que ainda hoje consideramos fascinante. Isso inclui templos, teatros e anfiteatros com arquitetura inspiradora, mas também uma densa rede de estradas e portos e minas impressionantes.

“No entanto, a conquista técnica mais inovadora do Império Romano está na gestão da água, especialmente seus aquedutos de longa distância que distribuíam água para cidades, banhos e minas”, disse o Dr. Gül Sürmelihindi, do grupo de Geoarqueologia da Universidade de Mainz . Aquedutos não foram uma invenção romana, mas em mãos romanas, esses aquedutos de longa distância desenvolveram-se ainda mais e se espalharam amplamente por um dos maiores impérios da história.

Quase todas as cidades do Império Romano tinham um amplo suprimento de água potável, em alguns casos com um volume maior do que é o caso hoje.

O sistema de aquedutos de Constantinopla com 426 quilômetros de extensão. Crédito da imagem: ill./ pis: Cees Passchier

“Esses aquedutos são principalmente conhecidos por suas pontes impressionantes, como a Pont du Gard no sul da França, que ainda estão de pé depois de dois milênios. Mas eles são mais impressionantes pela maneira como os problemas em sua construção foram resolvidos, o que seria assustador mesmo para engenheiros modernos “, disse o professor Cees Passchier da JGU. Mais de 2.000 aquedutos romanos de longa distância são conhecidos até o momento, e muitos mais aguardam descoberta.

O estudo realizado pela Dra. Gül Sürmelihindi e sua equipe de pesquisa concentra-se no mais espetacular aqueduto romano tardio, as linhas de abastecimento de água de Constantinopla, agora Istambul, na atual Turquia.

Os depósitos de carbonato fornecem informações sobre a gestão da água bizantina

Em 324 DC, o imperador romano Constantino, o Grande, fez de Constantinopla a nova capital do Império Romano. Embora a cidade esteja em uma encruzilhada geopoliticamente importante de rotas terrestres e marítimas, o abastecimento de água doce era um problema. Portanto, um novo aqueduto foi construído para abastecer Constantinopla das nascentes 60 quilômetros a oeste. À medida que a cidade crescia, esse sistema foi expandido no século 5 para nascentes que ficam a 120 quilômetros da cidade em linha reta. Isso deu ao aqueduto um comprimento total de pelo menos 426 quilômetros, tornando-o o mais longo do mundo antigo. O aqueduto consistia em canais de alvenaria abobadados grandes o suficiente para serem percorridos, construídos em pedra e concreto, 90 grandes pontes e muitos túneis de até 5 quilômetros de comprimento.

“Isso significa que todo o aqueduto deve ter sido mantido e limpo de depósitos durante o Império Bizantino, mesmo pouco antes de parar de funcionar”, explicou Sürmelihindi, que junto com sua equipe estudou os depósitos de carbonato deste aqueduto, ou seja, o calcário que se formou na corrida água, que pode ser usada para obter informações importantes sobre a gestão da água e o paleoambiente da época. Os pesquisadores descobriram que todo o sistema de aquedutos continha apenas depósitos finos de carbonato, representando cerca de 27 anos de uso. Dos anais da cidade, porém, sabe-se que o sistema de aquedutos funcionou por mais de 700 anos, pelo menos até o século XII.

Os depósitos de carbonato podem bloquear todo o abastecimento de água e devem ser removidos de tempos em tempos. A construção dupla com mais de 50 quilômetros foi provavelmente construída para manutenção

Embora o aqueduto seja de origem romana tardia, o carbonato encontrado no canal é da Idade Média bizantina. Isso fez com que os pesquisadores pensassem em possíveis estratégias de limpeza e manutenção – porque limpar e consertar um canal de 426 quilômetros implica que ele não possa ser usado por semanas ou meses, enquanto a população da cidade depende do abastecimento de água. Eles então descobriram que 50 quilômetros da parte central do sistema de água são construídos em dobro, com um canal de aqueduto acima do outro, cruzando-se em pontes de dois andares.

“É muito provável que este sistema tenha sido configurado para permitir operações de limpeza e manutenção”, disse Passchier. “Teria sido uma solução cara, mas prática.”

Infelizmente para a equipe de pesquisa, não é mais possível estudar o funcionamento exato do sistema. Uma das pontes mais imponentes, a de Ballıgerme, foi explodida com dinamite em 2020 por caçadores de tesouros que erroneamente acreditaram que poderiam encontrar ouro nas ruínas.

Em 324 DC, o imperador romano Constantino, o Grande, fez de Constantinopla a nova capital do Império Romano. Embora a cidade esteja em uma encruzilhada geopoliticamente importante de rotas terrestres e marítimas, o abastecimento de água doce era um problema. Portanto, um novo aqueduto foi construído para abastecer Constantinopla das nascentes 60 quilômetros a oeste. À medida que a cidade crescia, esse sistema foi expandido no século 5 para nascentes que ficam a 120 quilômetros da cidade em linha reta. Isso deu ao aqueduto um comprimento total de pelo menos 426 quilômetros, tornando-o o mais longo do mundo antigo. O aqueduto consistia em canais de alvenaria abobadados grandes o suficiente para serem percorridos, construídos em pedra e concreto, 90 grandes pontes e muitos túneis de até 5 quilômetros de comprimento.

“Isso significa que todo o aqueduto deve ter sido mantido e limpo de depósitos durante o Império Bizantino, mesmo pouco antes de parar de funcionar”, explicou Sürmelihindi, que junto com sua equipe estudou os depósitos de carbonato deste aqueduto, ou seja, o calcário que se formou na corrida água, que pode ser usada para obter informações importantes sobre a gestão da água e o paleoambiente da época. Os pesquisadores descobriram que todo o sistema de aquedutos continha apenas depósitos finos de carbonato, representando cerca de 27 anos de uso. Dos anais da cidade, porém, sabe-se que o sistema de aquedutos funcionou por mais de 700 anos, pelo menos até o século XII.

Os depósitos de carbonato podem bloquear todo o abastecimento de água e devem ser removidos de tempos em tempos. A construção dupla com mais de 50 quilômetros foi provavelmente construída para manutenção

Embora o aqueduto seja de origem romana tardia, o carbonato encontrado no canal é da Idade Média bizantina. Isso fez com que os pesquisadores pensassem em possíveis estratégias de limpeza e manutenção – porque limpar e consertar um canal de 426 quilômetros implica que ele não possa ser usado por semanas ou meses, enquanto a população da cidade depende do abastecimento de água. Eles então descobriram que 50 quilômetros da parte central do sistema de água são construídos em dobro, com um canal de aqueduto acima do outro, cruzando-se em pontes de dois andares.

“É muito provável que este sistema tenha sido configurado para permitir operações de limpeza e manutenção”, disse Passchier. “Teria sido uma solução cara, mas prática.”

Infelizmente para a equipe de pesquisa, não é mais possível estudar o funcionamento exato do sistema. Uma das pontes mais imponentes, a de Ballıgerme, foi explodida com dinamite em 2020 por caçadores de tesouros que erroneamente acreditaram que poderiam encontrar ouro nas ruínas

fonte : ancientpages - texto original de :  Conny Waters -Tradução : Fatos Curiosos

TUTMÉS III E O MISTÉRIO - Kristie E. Knutson, SRC




Contribuição do Ir. Redaelli de P. Alegre, RS.

Como sabemos, a Ordem Rosacruz é uma Ordem mística e iniciática. Não nos surpreende o fato de as raízes de sua rica herança remontarem a um acontecimento singular que se encontra entre as primeiras experiências místicas registradas na história.

Nos tempos do antigo Egito, os sistemas social, econômico e político estavam estreitamente ligados numa estrutura religiosa altamente desenvolvida. Entendia-se que o Faraó não era apenas o regente político do país, mas também um deus encarnado, a presença viva de Hórus na Terra.

Por isso, como se pode imaginar, o processo de seleção de cada Faraó era muito complicado, misturando um ritual religioso complexo com uma intensa intriga política. Tradições muito antigas entendiam que o Faraó era escolhido pelos deuses. Mas existem evidências sugerindo que, na verdade, o processo era muito mais mundano com facções políticas seculares influenciando a escolha final.

Foi neste rico clima político e reli­gioso, quase 3.500 anos atrás, que os rituais fúnebres solenes para o Faraó Tutmés II foram realizados, e o procedimento extremamente formal para a seleção de seu sucessor foi iniciado.

Naquele momento, no dia do equinócio da primavera, uma festa especial aconteceu no Templo de Amon – templo este que faz parte do Grande Templo de Karnak em Tebas. Como era de costume, entre aqueles que assistiam à cerimônia estava um grande número de sacerdotes e membros da família real. Um desses membros, um humilde sacerdote, assistia ao desenrolar do ritual com grande interesse e fascinação.

A escolha do faraó

Sentado na ala norte do Grande Templo, seu olhar acompanhava o Sumo Sacerdote em seu deslocamento lento ao redor da sala hipóstila, levando uma imagem simbólica do deus Amon. À medida que se deslocava, o Hm-Ntr – ou Sumo Sacerdote fixava ritualisticamente o olhar no rosto de cada um dos presentes procurando por aquele a quem os deuses tinham conferido o cargo de Faraó. Repetidamente, após fitar atentamente os olhos de pessoa por pessoa, ele balançava a cabeça sinalizando que não tinha encontrado o escolhido.

Então, de repente, algo inesperado e chocante aconteceu. O Sumo Sacerdote preteriu o membro da família real que era o herdeiro legítimo ao trono! Enquanto os que assistiam cochichavam confusos, o Sumo Sacerdote continuou sua busca até chegar ao sacerdote humilde, o irmão que todos achavam que deve­ria ser o próximo Faraó.

Fitando-o profunda­mente nos olhos, o Sumo Sacerdote soube que ali estava finalmente o homem que procurava!

Tendo encontrado, o Sumo Sacerdote colocou a imagem de Amon aos pés do perplexo sacerdote que passou a se chamar Tutmés III dando a entender que ele tinha sido escolhido pelos deuses dentre todos os outros para ser o Faraó. E quando Tutmés III lentamente se colocou de pé, reconhecendo a indicação, todos os que estavam ali reunidos lhe fizeram uma grande aclamação.

Esse acontecimento arrebatador marcou-o de forma tão vívida que, anos depois, Tutmés III mandou esculpir nas paredes do templo o que havia experienciado durante aquela cerimônia.

Segundo o que está escrito, ele foi totalmente arrebatado pela ação inesperada do Sumo Sacerdote. Quando a imagem de Amon foi colocada a seus pés, Tutmés III relatou que se sentiu “elevado”, como se seus pés não mais tocassem o chão e como se ele tivesse ascendido aos céus. Relatou que foi durante esta harmonização que Deus de fato lhe conferiu o cargo de Faraó e solenemente o encarregou de servir a seu povo. Tão divina foi sua ordenação que Tutmés III quebrou mais uma vez a tradição e decidiu não fazer a viagem simbólica a Heliópolis para a coroação formal no Templo do Sol, como era de costume.

Essa notável experiência iniciática marcou o início do extraordinário reinado de 54 anos do Faraó Tutmés III – e também influenciou profundamente o estilo e a direção de seus anos de serviço.

A Escola de Mistério

No início de seu reinado, os pensadores mais avançados da época – os verdadeiros filósofos, sábios e estudiosos – tinham o hábito de se reunir informalmente na residência do Faraó para discutir as doutrinas místicas ensinadas pelos antecessores de Tutmés. Nessas discussões, ficou claro para Tutmés III que o desenvolvimento do pensamento místico seria conseguido mais facilmente e permanentemente se fosse criado algum tipo de escola de filosofia formal, no qual estudantes sinceros pudessem desenvolver a disciplina interior necessária para explorar princípios místicos e para aprender a colocá-los em prática.

Sabendo que as condições políticas e econômicas de seu país exigiam que as formas externas de religião fossem mantidas, Tutmés III foi levado a desenvolver secretamente tradições que constituíram uma base firme para o crescimento místico posterior desencadeado pelo Faraó Akhenaton, e cultivado pelas gerações subsequentes.

Então, Tutmés III colocou em prática a ideia que tinha tido por inspiração. Segundo alguns registros, na quinta-feira, 1º de abril de 1489 a.C., foi realizada uma reunião para se criar formalmente uma “escola de mistério” secreta dedicada ao estudo e à aplicação dos misteriosos e maravilhosos princípios e das leis da natureza. Tutmés III decretou regras e modos de procedimento bem definidos para esta escola, e tudo isso foi repassado até os tempos modernos na forma das tradições da atual Ordem Rosacruz, AMORC.

Chamado de várias formas – “ele”, “a fraternidade”, ou “o conselho” – este grupo não era rosacruz no sentido que esta palavra tem em nossa Ordem atualmente. Mas a Ordem Rosacruz, AMORC tem suas raízes tradicionais nessa antiga fraternidade. E deriva seus princípios e objetivos da organização que foi instituída inicialmente pelo Faraó Tutmés III.

De fato, uma das mais importantes tradições rosacruzes que foi transmitida dos tempos antigos até hoje é a dependência do verdadeiro estudante da experiência iniciática. Os ensinamentos rosacruzes enfatizam que a compreensão e a iluminação não provêm de outras fontes que não da experiência iniciática interior.

A Iniciação é aquele momento em que a consciência do estudante muda quando um fluxo inundante de inspiração e compreensão muda para sempre a forma como o estudante entende e experiencia a vida. A experiência da Iniciação é um dom maravilhoso que, como Tutmés III descobriu, pode chegar nos momentos mais inesperados e das formas mais inesperadas. Certamente, o ritual ajuda a criar uma atmosfera que conduz a essa manifestação. Mas não é apenas o ritual que a desencadeia. Na verdade, é o Mestre Interior que, percebendo a prontidão do aspirante, permite uma ressurgência de sabedoria e um profundo sentimento de conexão.

É através desse processo iniciático que experienciamos uma comunhão cada vez mais profunda com o Mestre Interior. Às vezes, os momentos de comunhão são profundamente comoventes, como o que aconteceu com Tutmés III e, às vezes, são mais sutis um murmúrio suave do Eu Interior.

No entanto, todos esses contatos místicos trazem consigo um despertar espiritual maior, mais tolerância, e uma criatividade que resolve problemas e encara desafios. Trazem consigo o amor incondicional que envolve o mundo todo. É nessas experiências que descobrimos, como aconteceu com Tutmés III, as sementes da nossa grandeza, o sentido do propósito divino que dá significado e direção às nossas vidas.

O mistério da Iniciação abre portas internas para a Luz, para a Vida e para o Amor, que são as grandes dádivas da Ordem Rosacruz para a humanidade.

maio 31, 2021

O GRAU DE COMPANHEIRO - José Castellani



Excerto do livro *Liturgia e Ritualística do Grau de Companheiro Maçom (em todos os Ritos)* - Irm.’.José Castellani

História e doutrinariamente, o Grau de Companheiro é o mais importante da Maçonaria, sem qualquer sombra de dúvidas, pois ele sempre representou o fim da escalada iniciática e profissional, nas confrarias de artesãos, que floresceram, principalmente, na Idade Média e que ficaram sendo conhecidas como Maçonaria de Ofício, ou Operativa.

Na realidade, tanto na Maçonaria de Ofício, como nos primórdios da Maçonaria dos Aceitos (dita Especulativa), quando as Oficinas operativas passaram a aceitar elementos não ligados à arte de construir, só existiam os Aprendizes e os Companheiros, sendo que estes representavam o ápice da iniciação profissional. Entre os Companheiros, era escolhido, geralmente, o mais experiente, ou com maior capacidade de liderança, para ser o Mestre da construção e dirigir os trabalhos. O Grau de Mestre só seria introduzido em 1738, mais de vinte anos após a implantação do sistema obediencial (com a fundação da Grande Loja de Londres em 1717).

Historicamente, ele é, portanto, o mais legítimo grau maçônico, por mostrar o obreiro já totalmente formado, profissionalmente.. Não se justifica, assim, a pouca relevância que se dá a esse grau, na atualidade, com maçons considerando-o um simples grau intermediário, ou um trampolim para o mestrado, pois não pode ser considerado um maçom completo, aquele que não conhecer, profundamente, o grau de Companheiro.

Esse conhecimento, todavia, é praticamente inexistente, pois a maioria das Lojas (salvo raras e honrosas exceções, em algumas Obediências) não realiza, regularmente, sessões Econômicas e de Instrução do 2º grau, limitando-se às pouquíssimas sessões de elevação de Aprendizes ao grau de Companheiro, feitas, geralmente,  a “toque de caixa” e sem permitir que os maçons colados no grau 2 tomem conhecimento mais profundo da ritualística, da liturgia, da história e das implicações alquímicas e cabalísticas inerentes ao seu grau. Para sanar essas falhas, todas as Obediências deveriam exigir que as Lojas a elas jurisdicionadas promovessem, mensalmente, uma sessão do grau de Companheiro (e também uma do grau de Mestre, que, igualmente, não costuma ter sessões periódicas).

Mostrar a importância fundamental do grau de Companheiro Maçom, dedicado à exaltação do Trabalho, em todas as suas formas, e contribuir, um pouco, para que seja melhor conhecida a sua verdaeira ritualística e a influência das associações medievais no seu ritualismo especulativo, em todos os principais ritos, é a finalidade desta obra de pesquisa.


Interessados contatar o Irm.’. Almir no hatsApp (21) 99568-1350

maio 30, 2021

A RAZOÁVEL IDÉIA DE RAZÃO NA MAÇONARIA - Reinaldo de Freitas Lopes


Um infinito pensamento de como eu vejo a maçonaria nos dias atuais , indivisivelmente e incapaz de ser absorvida a sua essência major e preponderante .

Ainda no século XVIII, a Maçonaria chegava à América portuguesa, acompanhada de seus opositores, que acusavam seus membros de incitarem complôs, atos maldosos e sedições, mesmo tendo em vista que o segundo ordenamento das Constituições de Anderson proibisse os maçons de se envolverem em conspirações .

A seguir a admoestação escrita e catalogada em uma das mais importantes bases de uma instituição maçônica regular:

“Um Maçom é uma Pessoa pacífica perante os Poderes Civis, onde quer que resida ou trabalhe, e jamais deverá se envolver em conjuras ou conspirações contra a Paz e o bem-estar da nação, nem faltar a seus deveres perante os magistrados inferiores”

*(CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON)*.

Apesar dessa exigência colocada por Anderson, em acordo com Jean Théophile Desaguliers, no século seguinte essas imagens ligadas a ideia de complô ganharam força, incitadas pela produção e circulação de textos antimaçônicos ainda nos seus primórdios como organizaçã oefetiva e centralizada, a Maçonaria já levara o papa clemente XII a emitir em 1738 a Constituição Apostólica *In Eminentia postolatus specula* , a primeira condenação católica formal à Maçonaria, motivado pelo incentivo que esta dava à reunião de homens de diferentes credos e pela manutenção de segredos entre maçons – mas isso não foi uma novidade, pois governos europeus já haviam feito o mesmo na Holanda,em Genebra, na França, na Suécia e em Hamburgo.

Tal proibição foi reiterada em 1751, pela bula papal *providas romanorum pontificum*, de Benedito XIV.

Em Portugal, suspeitos de heresia, os maçons eram acusados de serem maus católicos e maus vassalos e deveriam ser denunciados à Santa Inquisição .

*O que maçonaria significa para mim*.

Por Reverendo Dr. Norman Vincent Peale, - 33o.

A maçonaria não é uma religião, porém, na minha experiência, os maçons são predominantemente homens religiosos e, em sua maior parte, da fé cristã. Através da Maçonaria, no entanto, tive a oportunidade de compartilhar o pão com homens bons, além da minha fé cristã. A Maçonaria não promove nenhum credo religioso. Todos os maçons acreditam na Deidade, sem  reservas. No entanto, a Maçonaria não faz exigências sobre como um membro deve pensar no Grande Arquiteto do Universo.

A Maçonaria é, para todos os seus membros, um suplemento à vida boa, que elevou a vida de milhões de pessoas que entraram em suas portas. Embora não seja uma religião, como tal, ela complementa a fé em Deus, o Criador. É o apoio da moral e da virtude.

A maçonaria não tem dogma nem teologia. Não oferece sacramentos. Ensina que é importante para cada homem ter uma religião de sua própria escolha e ser fiel a ela em pensamento e ação. Como resultado homens de 4 diferentes religiões podem se encontrar em comunhão e fraternidade sob a paternidade de Deus. Eu acho que um bom Maçom se torna ainda mais fiel aos princípios de sua fé, por sua participação na Loja.

Conclusões:

O acirramento do conflito entre Igreja e Maçonaria pode ser reconstruído a partir do advento da chamada Maçonaria Especulativa de cunho iluminista, iniciado no século XVIII, rumo a criação de uma organização filosófico-racionalista, com base nos antigos mistérios e harmonizada com as religiões monoteístas de seus integrantes.

Por sua vez, poderíamos concluir também que a polissemia da simbologia maçônica é menos uma fuga fácil de disputas e discussões religiosas dentro das Lojas, do que uma forma eficaz, racional e libertária de incorporação dessas mais variadas crenças e filosofias, fornecida pela pluralidade de interpretações possíveis aos seus símbolos e narrativas simbólicas. A famosa inscrição do Templo de Delfos, na Grécia Antiga, Conhece-te a ti mesmo, muitas vezes atribuída a Sócrates, é um exemplo paradigmático do pensamento clássico antigo e está associada ao enaltecimento da razão e do movimento filosófico e intelectual de autodepuração do indivíduo. Ela é também o título da Introdução da Carta Encíclica sobre as relações entre fé e razão, do papa João Paulo II – lembrando que, aqui, a visada católica se justifica pela busca da verdade plena, que somente pode ser manifestada por Deus (PAULO II, 1999, p. 8).Nesse documento, o papa esclarece que a crença na verdade revelada pela fé está além da compreensão humana, o que a torna dogmática e inquestionável.

Podemos concluir, portanto, que a fé é construída de forma coletiva, mas, ao fim e ao cabo, cala fundo na alma de cada crente, de maneira individual.

Por sua vez, a verdade descoberta pela razão está sujeita a questionamentos, experimentações e repetições. Caberia, então, a cada maçom estabelecer um equilíbrio entre esses dois polos.

Assim sendo, a liberdade de consciência é fundamental para que os maçons, em consonância com a natureza filosófico inicática dos Ritos Maçônicos , possam desenvolver seu longo, e infindável, trabalho de desbastamento interior, uma vez que a liberdade é a falta de entraves, a ausência de bloqueios coercitivos, ainda que possa trazer em si

o germe da dúvida, a angústia da liberdade, em um aparente paradoxo. *O paradoxo é apenas aparente* , porque a angústia deriva da imobilização , da incapacidade de se conhecer e reconhecer suas potencialidades e limitações. Sendo a consciência a capacidade inerente ao ser humano de perceber sua realidade imediata (exterior) e a si próprio (interior), ela, associada à liberdade, é o que deveria mover os maçons em busca de suas conquistas espirituais, sejam elas quais forem. 

REINALDO DE FREITAS LOPES 

M.M 

Obreiro da maçonaria universal e especulativa
, zelador de meus direitos e senhor de minhas idéias e se reconhecido ou não por algum irmão , ainda assim não sou ele , sou eu e a ele estou sempre :

Em Pé e a Ordem 

A Mim meus irmãos , para a Glória de hoje e de sempre que será a do Grande regente Universal e assim propiciando aos irmãos que logrem êxitos em todos os vossos empreendimentos , a reservarem também lugar a pratica de Rituais de :

Luz 

Vida 

E Amor 

Recebam o meu Tríplice e Fraterno Abraço

APOCALIPSE - UM LIVRO PROFÉTICO- Almir Santa Cruz



O Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz é um renomado estudioso e autor de vasta obra maçônica. 


Samuel Sandmel, Ph.D. Professor de Bíblia e Literatura Helenística no Hebrew Union College, Cincinnati, Ohio, nos “Comentários Ecumênicos” da Bíblia adotada pela Igreja Católica (Tradução de Figueiredo) teceu os seguintes comentários a respeito do Livro do Apocalipse, também conhecido como Livro das Revelações: “... a Revelação de João foi, originariamente, um livro judaico, escrito em hebraico ou em aramaico e depois adaptado e reescrito em grego (e grego pobre), em conformidade com o interesse cristão (...) É difícil de entender como Livros do gênero de Daniel e  da Revelação eram escritos em tanta abundância (...) Os escritos apocalípticos judaicos têm características comuns. Refletem períodos de feroz perseguição, ordinariamente por um conquistador. O medo do poder ocupante fez com que o autor desenvolvesse a sua mensagem de tal maneira que os companheiros judeus pudessem entendê-la, mas que os conquistadores estrangeiros não o pudessem. Por ocultarem sua intenção dos conquistadores estrangeiros, os autores têm confundido, muitas vezes, os leitores modernos ...”

Ah, dirão alguns, mas esse Samuel é um judeu e eles não acreditam nos textos do Novo Testamento! É verdade, embora ele tenha citado também Daniel, que está contido na Sagrada Escritura Judaica e que os Cristãos chamam de Antigo Testamento.

Pois bem, então Martinho Lutero (1484-1546), o grande reformador alemão e precursor do Protestantismo, quando traduziu a Bíblia para o alemão, no prefácio de Apocalipse, escreveu: “Sobre esse livro Apocalipse de João, eu deixo todos livres para terem suas próprias opiniões. Eu não quero ninguém preso à minha opinião ou julgamento. Eu digo o que sinto. Eu acho que faltam algumas coisas nesse livro, o que me faz considerá-lo nem apostólico e nem profético... Muitos dos pais também rejeitaram esse livro muito tempo atrás... Para mim isso é razão suficiente para não tê-lo em alta consideração: Cristo nem é ensinado nem conhecido nele.”

A grande maioria dos Cristãos considera o livro bíblico Apocalipse como sendo um livro profético e que o que nele é narrado está por vir. Ledo engano! 

O autor, um judeu convertido ao cristianismo (Jesus e os primeiros cristãos eram judeus) escreveu essa mensagem às Igrejas da Ásia Menor, para encorajá-las durante a cruel perseguição romana aos cristãos. 

Usou uma linguagem cheia de metáforas, alegorias e numerologia, para que fosse ininteligível aos romanos, mas perfeitamente compreensível aos seus contemporâneos, judeus cristianizados. Vejamos alguns exemplos:

- 7 cornos e 7 olhos = perfeição (7), poder (cornos) e conhecimento (olhos);

- 10 dias = curto período;

- 144.000 = multidão;

- Grande prostituta = Roma;

- Prostituição = idolatria;

- Sinagoga de Satanás = Judeus de Smirna, que se opunham ao cristianismo; 

- Armagedon = montanha de Megido, local de grandes e decisivas batalhas na Palestina.

- 666, o “famoso” nº da besta, nada mais é que uma referência ao Imperador Romano Cesar Nero que, em caracteres hebraicos, convertidos para os números correspondentes, resulta em 666;

Ler a Bíblia e não entendê-la, como ensina o adágio popular, é o mesmo que um “Burro olhando um palácio”.

DIA DA LINGUA PORTUGUESA - Eduardo Affonso

 


Volta e meia alguém olha atravessado quando escrevo “leiaute”, “becape” ou “apigreide” – possivelmente uma pessoa que não se avexa de escrever “futebol”, “nocaute” e “sanduíche”.

Deve se achar um craque no idioma, me esnobando sem saber que “craque” se escrevia “crack” no tempo em que “gol” era “goal”, “beque” era “back” e “pênalti” era “penalty”. E possivelmente ignorando que esnobar venha de “snob”.8

Quem é contra a invasão das palavras estrangeiras (ou do seu aportuguesamento) parece desconsiderar que todas as línguas do mundo se tocam, como se falar fosse um enorme beijo planetário. As palavras saltam de uma língua para outra, gotículas de saliva circulando em beijos mais ou menos ardentes, dependendo da afinidade entre os falantes. E o português é uma língua que beija bem.

Quando falamos “azul”, estamos falando árabe. E quando folheamos um almanaque, procuramos um alfaiate, subimos uma alvenaria, colocamos um fio de azeite, espetamos um alfinete na almofada, anotamos um algarismo.

Falamos francês quando vamos ao balé, usamos casaco marrom, fazemos uma maquete com vidro fumê, quando comemos um croquete ou pedimos uma omelete ao garçom; quando acendemos o abajur pra tomar um champanhe reclinados no divã ou quando um sutiã provoca um frisson.

Falamos tupi ao pedir um açaí, um suco de abacaxi ou de pitanga; quando vemos um urubu ou um sabiá, ficamos de tocaia, votamos no Tiririca, botamos o braço na tipoia, armamos um sururu, comemos mandioca (ou aipim), regamos uma samambaia, deixamos a peteca cair. Quando comemos moqueca capixaba, tocamos cuíca, cantamos a Garota de Ipanema.

Dá pra imaginar a Bahia sem a capoeira, o acarajé, o dendê, o vatapá, o axé, o afoxé, os orixás, o agogô, os atabaques, os abadás, os babalorixás, as mandingas, os balangandãs? Tudo isso veio no coração dos infames “navios negreiros”.

As palavras estrangeiras sempre entraram sem pedir licença, feito uma tsunami. E muitas vezes nos pegando de surpresa, como numa blitz.

Posso estar falando grego, e estou mesmo. Sou ateu, apoio a eutanásia, gosto de metáforas, adoro bibliotecas, detesto conversar ao telefone, já passei por várias cirurgias. 

E não consigo imaginar que palavras usaríamos para a pizza, a lasanha, o risoto, se a máfia da língua italiana não tivesse contrabandeado esse vocabulário junto com a sua culinária.

Há, claro, os exageros. Ninguém precisa de um “delivery” se pode fazer uma “entrega”, ou anunciar uma “sale” se se trata de uma “liquidação”. Pra quê sair pra night de bike, se dava tranquilamente pra sair pra noite de bicicleta?

Mas a língua portuguesa também se insinua dentro das bocas falantes de outros idiomas. Os japoneses chamam capitão de “kapitan”, copo de “koppu”, pão de “pan”, sabão de “shabon”. Tudo culpa nossa.

Como o café, que deixou de ser apenas o grão e a bebida, para ser também o lugar onde é bebido. E a banana, tão fácil de pronunciar quanto de descascar, e que por isso foi incorporada tal e qual a um sem-fim de idiomas. 

E o caju, que virou “cashew” em inglês (eles nunca iam acertar a pronúncia mesmo). “Fetish” vem do nosso fetiche, e não o contrário. “Mandarim”, seja o idioma, seja o funcionário que manda, vem do portuguesíssimo verbo “mandar”. O americano chama melaço de “molasses”, mosquito de “mosquito” e piranha, de “piranha” – não chega a ser a conquista da América, mas é um começo.

Tudo isso é a propósito do 5 de maio, Dia da Língua Portuguesa, cada vez mais inculta e nem por isso menos bela. Uma língua viva, vibrante, maleável, promíscua – vai de boca em boca, bebendo de todas as fontes, lambendo o que vê pela frente. Mais de oitocentos anos, e com um tesão de vinte e poucos.

PS:

O dia já passou, mas o texto é tão bom que resolvi publicar.