junho 08, 2021

A DOUTRINA



 A Maçonaria, em certo sentido (como sendo escola) é denominada de doutrina (do latim docere).

Doutrinar significa incutir ideias filosóficas na pessoa, mas genericamente diz respeito a um ensinamento religioso. A doutrina pode ser exclusivamente moral ou de filosofia, ou de fé, oculta, exteriorizada, esotérica, ideológica, enfim, quantos nomes lhe possam atribuir.

Cada Grau Maçônico dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito, bem como de outros ritos, constitui uma “doutrina em separado”. Assim, podemos afirmar que a Maçonaria esparge múltiplas doutrinas entre os seus adeptos.

As doutrinas secretas são muito atrativas; os antigos mistérios foram preservados durante milênios; hoje não existe mais nenhuma doutrina secreta; a universidade, as bibliotecas e a informática revelaram tudo e todo o saber humano.

Quando o homem não alcança a compreensão do que lhe é ensinado, isso não significa que possa existir alguma coisa absolutamente secreta; a própria Maçonaria, que se ufanava em manter secretos os seus ensinamentos, hoje nada mais tem para ocultar, seja seus próprios adeptos, seja em relação aos profanos.

Logo, a Maçonaria não é uma doutrina secreta.

NOSSAS ANTIGAS LEIS E COSTUME - José Maurício Guimarães




,




Por que devemos pautar nossos atos pelo comportamento digno? Por que não somos estranhos uns aos outros? Por que o maçom deve cultivar um perfeito controle de si próprio? Por que só devemos admitir em nossas lojas homens honrados, de ilibada reputação moral e atitudes discretas? Por que somos uma fraternidade iniciática?

As respostas estão nas profundas raízes da Arte Real, isto é, nos antigos deveres do ofício (The Old Charges of Craft Freemasonry) e na compilação deles da qual resultaram a Constituição de Anderson e, mais tarde, noutras compilações denominadas landmarks. (Neste texto uso landmark com L maiúsculo ou minúsculo conforme me refira ao termo geral ou à lista adotada pela Potência Maçônica. Da mesma forma, uso Constitution em inglês para diferenciar da Constituição adotada pela Potência Maçônica.)

Todos os maçons conhecem bem os preâmbulos
dos atos e decretos de suas Potências ou Obediências que começam com a proclamação: “O Grão-Mestre, no uso das atribuições que lhe conferem os Landmarks da Ordem, a Constituição de Anderson… etc
.”. Mas poucos têm a oportunidade de conhecer aprofundadamente os landmarks; e são pouquíssimos os que se interessam pelo texto completo das chamadas Constituições de Anderson (Constitution).

Comecemos pelo aparentemente mais simples – os landmarks.

Uma vez que a palavra é inglesa, o que se entende por landmarks? Para simplificar, tomemos landmark no sentido de LIMITE – ponto de referência, marco divisório ou fronteira. Há quem prefira esquartejar a palavra: land (terra) + mark (marco) – antigamente, aquela cerca de arame que separava as hortaliças de Joe Smith das galinhas do seu vizinho John Dolittle – um marco divisório, uma fronteira, um limite: “daqui pra lá é seu, daqui pra cá é meu”.

A Bíblia, de onde o conceito foi tirado, refere-se à cláusula pétrea “nolumus leges mutari”, isto é, que essas leis não sejam transgredidas – implícita no livro dos Provérbios, 22:28 – “Ne transgrediaris terminos antiquos quos posuerunt patres tui”, traduzido na versão inglesa King James por “Remove not the ancient landmark, which thy fathers have set.” – não removas os marcos antigos que teus antepassados colocaram.

Resumindo: landmark envolve – social e politicamente falando – as questões do direito patriarcal (‘antiquos’ e ‘thy fathers’), de posse, domínio e poder.

Mas quem foram esses pais ou antepassados que andaram colocando limites e fixando fronteiras no território terrestre? Quais foram esses precursores chefes de família que restringiram quaisquer mudanças nas leis e assentaram regiões de interdição ao pensamento das gerações vindouras?

O livro “llustrations of Masonry“, do maçom inglês William Preston (1772) registra a palavra “landmark” como sinônimo de usos e costumes estabelecidos na Arte Real. 

Penso que seja esta acepção mais correta, principalmente por ser a mais antiga (terminos antiquos) e considerando que o Direito inglês é eminentemente consuetudinário (de uso habitual, comum). Além disso, a Grande Loja Unida da Inglaterra nunca enumerou uma lista de landmarks porque considera fundamental o único landmark possível: a crença na existência de um Ser Supremo.

Ressalvo, entretanto, que a expressão “usos e costumes” deve ser entendida no contexto histórico da Maçonaria e não no sentido jurídico atual (fonte do direito) erigido através de condutas e atos praticados reiteradamente nas Lojas. Nesse sentido não existem usos e costumes na Maçonaria e muito menos nas questões ritualísticas.

O pesquisador inglês Harry Carr (1900-1983), Past Master da Quatuor Coronati Lodge nº 2076 de Londres, aponta dois pontos essenciais para as cláusulas pétreas: 1 – Um landmark deve ter existido desde os tempos imemoriais (terminos antiquos) e não fabricados a partir de certo ponto da história; 2 – Os landmarks são elementos de tal importância essenciais para nossa fraternidade que a Ordem já não seria Maçonaria se algum deles fosse alterado. Neste particular, Albert Gallatin Mackey alertou: “Não admitamos mudanças de quaisquer espécies, pois desde que isso se deu, funestas consequências demonstraram o erro cometido.”

Apesar disso, e de acordo com os modernos pesquisadores do assunto, existem várias listas de landmarks que pode ser de apenas três para Alexander S. Bacon e Chetwode Crawley, ou nove para J. G. Findel. Para Roscoe Pound, a Grande Loja da Virgínia e o cubano Carlos F. Betancourt são sete; ou seis landmarks para a Grande Loja de Nova York, que toma por base os capítulos em que se dividem as Constituições de Anderson. Vinte para a Grande Loja Ocidental de Colômbia; dezenove para Luke A. Lockwood e a Grande Loja de Connecticut; dezessete para Robert Morris; quinze para John W. Simons e para a Grande Loja de Tennessee; doze para A. S. MacBride e dez para a Grande Loja de Nova Jersey. As listas maiores compreendem trinta e um landmarks para o Dr. George Oliver, cinquenta e quatro para H. G. Grant e para a Grande Loja de Kentucky; vinte e nove para Henrique Lecerff, vinte e seis para a Grande Loja de Minnesota e assim por diante.

A Grande Loja Maçônica de Minas Gerais adota a lista de Albert Gallatin Mackey que compilou vinte e cinco landmarks, a lista mais conhecida e utilizada no Brasil, que preconiza: “Não admitamos mudanças nos legítimos e inquestionáveis landmarks, pois desde que isso se deu, funestas consequências demonstraram o erro cometido.”

Mackey foi um médico norte-americano nascido em 1807. Publicou “The Principles of Masonic Law on the Constitutional Laws, Usages And Landmarks of Freemasonry” em 1856 onde propôs um meio termo entre a ritualística, à legislação e o cerimonial:

“Várias definições foram dadas para landmarks. Alguns supõem terem sido constituídos a partir de todas as regras e regulamentos que estavam em vigor antes da revitalização da Maçonaria em 1717, confirmados e aprovado pela Grande Loja da Inglaterra naquela época. Outros, mais rigorosos, limitam essa definição aos modos de reconhecimento em uso na fraternidade.

Eu proponho um meio termo, e considero landmarks todos os usos e costumes do ofício ritualístico, legislativo, cerimonial, e mesmo à organização da sociedade maçônica conforme os usos dos tempos imemoriais. E considero a alteração ou a supressão de algo que possa afetar o caráter distintivo da instituição como fator de destruição da sua identidade.”

O meio termo acenado por Mackey foi, entretanto, o sinal verde para novas hermenêuticas entre as visões ortodoxa e heterodoxa da Maçonaria. Sem falar na nítida constatação de que alguma coisa fora mudada ou alterada nos antigos marcos colocados por nossos antepassados – antevisão reveladora de que outras modificações estariam a caminho no devido tempo.

Muitos autores questionam a lista de Mackey que descreve, com exagerada ênfase, os poderes e atribuições do Grão-Mestre. Um dos mais expressivos críticos foi Roscoe Pound (1870-1964), reitor da Harvard Law School que – talvez motivado pela teoria do “meio termo” – propôs uma lista mais curta, de sete landmarks… com a possibilidade de mais dois. 

Esses nove landmarks possíveis mantiveram, com algumas modificações, os de Mackey (III, X, XIV, XVIII, XIX, XX, XXI, XXIII e XXIV) eliminando os números I e II que a Maçonaria tradicional considera fundamentais: os processos de reconhecimento e a divisão do Simbolismo em três graus, além do polêmico e nevrálgico Landmark XXV – “nenhuma modificação pode ser introduzida…”

Por outro lado, por estranho que pareça, o próprio Mackey considerava os landmarks uma generalidade e que os regulamentos gerais e locais fossem os determinantes para as autoridades locais da Maçonaria. 

Afirmava também, no mesmo diapasão da Quatuor Coronati Lodge de Londres, que um dos requisitos dos landmarks é terem eles existido desde o tempo que a memória do homem possa alcançar – donde se deduz que os verdadeiros marcos são as leis morais ou o Direito Natural inscritos na mente e no coração dos homens. Por isso James Anderson escreveu na primeiríssima página da Constitutions:

“Adão, nosso primeiro pai, criado à imagem de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, deve ter tido a Ciência Liberal, particularmente Geometria escrita em seu coração…” (Adam, our first parent, created after the Image of God, the Great Architect of the Universe, must have had the Liberal Science, particulary Geometry written on his Heart…)

Houve (e ainda há) os que debocharam dessa declaração interpretando, grosso modo, que o sábio James Anderson estava a dizer que o Venerável Deus iniciou o Aprendiz Adão na Maçonaria. O ilustre Irmão José Castellani ironizou essa interpretação do mito no texto humorístico “Loja Paraíso nº0”, mas, da parte de lá do fino humor, Castellani sabia a qual escrita James Anderson estava se referindo. 

Para os que conhecem a Filosofia do Direito, aquela Ciência Liberal escrita no coração do homem nada mais é do que o Direito Natural comunicado à razão humana desde sua criação – simbolizada pela Geometria – um código ético completo coligido da estrutura da natureza – tese sustentada por Tomás de Aquino, Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau e presente na Common Law.

Talvez isso responda à pergunta sobre quais foram aqueles pais que colocaram fronteiras nas divagações inúteis da vaidade humana.

As Constituições de Anderson (1723) são anteriores a quaisquer landmarks e, por isso, ouso dizer que elas são – ao lado do Jus Naturalis – os verdadeiros LANDMARKS. Os antigos deveres do ofício de maçom foram consolidados nessas Constitutions of the Free-Masons dedicadas ao Grão-Mestre Philip Wharton Duque de Montagu e assinadas pelo francês Jean Théophile Désaguliers, Grão-Mestre Adjunto e membro da Royal Society of London. O redator James Anderson, por sua vez, era um pastor presbiteriano nascido na Escócia.

As Constitutions dividem-se em quatro partes: I – a História, “para ser lida quando da admissão de um Novo Irmão (to be read at the admission of a New Brother). Essa primeira parte vai até a página 48; II – Os Deveres (extraídos dos antigos registros das Lojas Ultramarinas e daquelas da Inglaterra, Escócia e Irlanda), da página 49 até 57; III – Os Regulamentos Gerais (da página 58 até 74); IV – Partituras e Canções dos Mestres, dos Vigilantes, dos Companheiros e dos Aprendizes, completando a obra em 91 páginas.

CONCLUSÕES 

Nem tudo que é Constitutions, portanto, está nos Landmarks; mas tudo o que é landmark está nas Constitutions;

As Constitutions não deixam margens ao oportunismo iniciatório e respondem àquelas cinco perguntas que aparecem no início deste artigo. O conhecimento do passado (a História) é a principal e insubstituível fonte do aprendizado e do conhecimento maçônicos;“... pela sua Missão, um maçom torna-se obrigado a obedecer à Lei moral, e nunca será um estúpido ateu nem um Libertino” (Constituitions, página 50, concernente a Deus e à religião);

Não basta preencher um formulário dizendo “sim” às clássicas perguntas: “credes num Ente Supremo? credes na imortalidade da alma?” se a reposta afirmativa não vier da Consciência e com o aval do Conhecimento. Por isso pautamos nossos atos pela dignidade e só admitimos em nossas lojas homens honrados.

,

junho 07, 2021

POR QUE O PÉ ESQUERDO - Kennyo Ismail



Kennyo Ismail, do DF, professor universitário, escritor, historiador, palestrante é um dos mais notáveis estudiosos da maçonaria no Brasil.


PÉ ESQUERDO: Passo esquerdo

Ao contrário do que alguns podem pensar, esse é um costume muito antigo, de milênios, e não possui relação alguma com o azar.

As principais pinturas e esculturas de deuses e faraós egípcios mostram sempre o pé esquerdo à frente, enquanto as que ilustram pessoas comuns em situações do cotidiano mostram o pé direito. Trata-se de uma coincidência? Não. O passo com o pé esquerdo era considerado pelos egípcios como símbolo do “primeiro passo” para uma nova vida. Por isso, era com o pé esquerdo que o faraó dava seu primeiro passo após sua posse. Também por isso que as escadas eram feitas com degraus em número ímpar, de forma a ser possível iniciar e encerrar a subida com o pé esquerdo. Essa tradição foi herdada posteriormente pelos gregos, como também se pode ver estampada em sua arte.

Por que o esquerdo, e não o direito?

Os egípcios acreditavam que o lado esquerdo era o lado espiritual, enquanto que o lado direito era o lado material. O passo esquerdo relaciona-se com o lado onde está nosso coração, que para os egípcios era a sede da alma. Onde pomos nosso pé esquerdo, colocamos nosso coração. Por esse motivo, as coisas tidas como sagradas eram feitas com o pé e mão esquerda.

Esse simbolismo do primeiro passo, um passo espiritual para uma nova vida, continuou sendo observado nas instituições tradicionais, principalmente em suas cerimônias.

“Rompendo a Marcha”

O costume também foi incorporado pelos antigos exércitos, que davam o primeiro passo de suas marchas com o pé esquerdo como um sinal de sorte para a batalha. Com o tempo, o costume se tornou regra, mas perdeu sua simbologia.

A MAÇONARIA E OS MÓRMONS




A Maçonaria não surgiu apenas como uma sociedade secreta que desejava transformar a sociedade em que vivia. Vale destacar, no entanto, o peso da maçonaria nos processos revolucionários do século XIX. Porém, um dos seus atrativos era a pretensão dos iniciados de possuírem conhecimentos secretos, uma gnose que lhes eram transmitida. Isso explica o considerável papel representado pela maçonaria na configuração de algumas seitas surgidas durante o século XIX e no importante ressurgimento do ocultismo desse século e do seguinte.

Os Mórmons

Dentre as seitas contemporâneas, a mais importante é a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, mais conhecida como mórmom. Seu fundador Joseph Smith Jr. era maçom, tendo a maçonaria  desempenhado um papel bastante considerável no nascimento e estabelecimento da seita por ele fundada.

O pai, Joseph Smith Jr., havia iniciado no grau de mestre maçom em 7 de maio de 1818 na loja maçônica de Ontario n. 23 de Canandaigua, Nova York. Um dos filhos mais velhos, Hyram Smith, era membro da loja maçônica Mount Moriah n. 112 de Palmyra, Nova York. Numa época bem próxima, 1820, segundo o relato dos mórmons, Deus apareceu para Joseph Smith num episódio que explica o surgimento da seita.

Em 6 de abril de 1840, foi fundada a Grande Loja Maçônica d Illinois pelo general, juiz e patriarca mórmom James Adams. A nova Grande Loja maçônica passou imediatamente a estabelecer estreitos vínculos com a seita fundada por Smith. Em pouco tempo, Nauvoo contava com três lojas maçônicas e Iowa com duas; cinco eram denominadas "lojas maçônicas mórmons" e somavam 1500 irmãos. O próprio Joseph Smith Jr., profeta de Deus segundo seu testemunho, foi iniciado como aprendiz maçom na terça-feira, 15 de março de 1842. O fato está documentado nas atas da loja de Nauvoo correspondentes a essa data, nas quais conta como Smith Jr. e Sydney Rigdon "foram devidamente iniciados como aprendizes maçons durante o dia".

Era apenas o começo. Os cinco primeiros presidentes da seita - Joseph Smith, Brigham Young, John Taylor, Wilford Woodruff e Lorenzo Snow - foram iniciados na maçonaria na mesma loja de Nauvoo. Na verdade, quase todos os membros da hierarquia ou já eram maçons ou foram iniciados assim que Joseph Smith ascendeu ao grau de mestre maçom. Para falar a verdade, é possível que a loja mórmom de Nauvoo tenha sido a que contou com mais pessoas célebres entre seus membros, com exceção  da Joja maçônica das Nove Irmãs.

No entanto, as relações da nova seita e de seu fundador com a maçonaria não podiam ser melhores. Contudo, Joseph Smith estava muito longe - considerações sobre suas revelações à parte - de ser um modelo de moral tal e qual a maçonaria exige de seus membros. De fato, em 1842, o profeta foi acusado de assassinato. Verdade ou não, certo é que se saiu bem do processo judicial e inclusive se permitiu aspirar a ser candidato à Presidência dos Estados Unidos. Não chegaria a tanto, mas no ano seguinte receberia outra revelação de enormes consequências. O tema seria a poligamia. 

Parece que, antes da canônica revelação de 12 de julho de 1843, Smith tinha tido várias outras relativas a este tema; a diferença estava em que, até então, tinham sido privadas e geralmente dirigidas a convencer a mulher ansiada ( que podia ser tanto solteira como casada) de que Deus desejava que ela se entregasse ao profeta Smith.

A primeira acusação pública de adultério formulada contra Smith procedeu, nada mais nada menos, de uma testemunha do Livro de Mórmon: Oliver Cowdery. Este documentado que, desde 1835, Smith manteve com uma tal Fanny Alger uma relação adúltera da qual não conseguiram dissuadí-lo nem sequer alguns dos seus colaboradores mais próximos. Logo, o número de amantes - esposas, segundo Smith - superou o número de oitenta.

ENTREGA AO APRENDIZADO - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Um dos mais notáveis estudiosos da maçonaria no país.

Quando nos propomos a elaborar uma trabalho maçônico, também chamado de "peça de arquitetura"  é princípio basilar que tenhamos junto de nós um Dicionário.

Esse nobre instrumento constitui-se num apoio intelectual imprescindível, tanto no âmbito morfológico, ortográfico quanto etimológico.

Ao escrevermos, deparamo-nos com palavras, às vezes, não tão familiares e das quais raríssimamente lançamos mão.

Por isso mesmo, é fundamental que saibamos sua origem e seu real significado, bem como, se esta se faz compatível e adequada ao universo semântico em que ela será empregada.

A linguagem maçônica, em especial, dispõe de inúmeros vocábulos, que por vezes assumem um caráter simbólico e alegórico, em razão de sua própria essência introspectiva e rigorosamente solene.

As habituais e circunstantes formas de apresentação inicial do tema, sobretudo para os maçons que obedecem ao Rito Escocês Antigo e Aceito - o mais difundido e praticado aquí no Brasil - não podem e nem devem abdicar da consagrada expressão:

*À G.'.D.'.G.'.A.'.D.'. U.'.* que por si só revela o espírito de respeito e liturgia ao propósito com que a Obra será dedicada.

Ater-se, na medida do possível, a uma linguagem, culta, clara, direta e fluida, também contribui sensivelmente neste processo de elaboração.

A tripontuação de vocábulos e expressões de caráter filosófico-maçônicos, devem seguir como uma norma, no sentido de preservar a confidencialidade e as próprias tradições da Sublime Ordem, inclusive para de algum modo, dificultar o entendimento de profanos.

Ler e reler, em voz alta o trabalho a ser apresentado, é também um meio para garantir mais segurança ao Expositor antes de sua apresentação em Loja.

Palavras como :

*MISTER* (que significa NECESSÁRIO(A)

*ABÓBADA* (que refere-se a uma construção arqueada; firmamento)

São dois singelos exemplos de palavras que na maioria das vezes são pronunciadas erroneamente, aparecem em vários textos maçônicos, e acabam provocando situações embaraçosas.

Ao valermo-nos de fontes de pesquisas para desenvolver um texto, é imprescindível que se cite a fonte, autor, livro, etc...

Muito mais  importante que isso,  é que se  busque fazer uma leitura detida, e a partir daí, estabelecer um caráter pessoal, próprio e interpretativo do fragmento consultado, suscitando ao Trabalho um aspecto de legitimação criativa e cultural.

O Trabalho que o Maçom tem que desempenhar, não é o da cópia pura e simples, ou da cola disfarçada, com a mera alteração de uma palavra ou de um parágrafo.

O Trabalho deve ser resultado de nossa própria lavra, de nosso Livre Pensamento.

Ao elaborar um Trabalho Maçônico devemos nos preocupar em construir um caráter crítico e argumentativo, de maneira a estarmos preparados para arguições, questionamentos, trocas de idéias, e evitarem-se longos hiatos sem saber o que responder, ou pior ainda, tentar responder com evasivas, sem qualquer consistência.

Cabe não somente aos Vigilantes da Loja atuarem como mentores ou tutores dos Irmãos Aprendizes e Companheiros, mas também a estes últimos, perguntarem, questionarem, trazerem suas dúvidas e empreenderem iniciativa, para darem início à construção de seus próprios templos.

A rigor, trajetória maçônica, é solitária, única e individual, cabendo a cada um o esforço para galgar degraus superiores.

É claro, que os Mestres mais experientes tem o dever de orientar, tirar dúvidas e acompanhar a caminhada dos mais novos, porém isso não desobriga a todos os Maçons continuarem seus estudos, pesquisas e especulações intelectuais, como exercício pródigo da nossa própria Evolução.

Lembrando que Maçonaria não é escola, não é religião e tampouco uma academia ou clube de serviços.

Maçonaria é uma Oficina de Trabalho Interior Humano de cunho filosófico, que se sustenta na Simbologia  como seu instrumento principal para o nosso aprimoramento moral, ético e espiritual.


,

junho 06, 2021

O MAÇOM E O SAL - Sergio Quirino





O ir. Sérgio Quirino é um notável erudito da maçonaria e é o atual Grão-Mestre da GLMMG 2021/2024


Uma passagem no Livro da Lei merece reflexão de todos nós, pela profunda simbologia e pelo que diz das ocupações, ofícios e condições dos que se propõem a realizar algo.

Está em Mateus, capitulo 5, versículo 13; “Vós sois o sal da terra. Mas, se o sal perder o seu sabor, com que se há de salgar? Não servirá para nada, exceto para ser lançando ao solo e pisado por quem passa”

A segunda parte, mais densa, de certa forma, até desumana, tem sua compreensão no versículo: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar” (Gênese 3,19).

Muitos são os significados simbólicos na relação Maçom/Sal encontrados na Câm.’. Refl.’..

O sal na medida certa pode simbolizar a vida, por imprimir sabor aos alimentos. Nesta dosagem ele proporciona saúde e prazer. Existe outra medida que preserva o alimento e evita sua deterioração. Há ainda outras quantidades que, simplesmente, o estragam.

O que em nos nossos labores podemos fazer na analogia com o sal? As instruções maçônicas, que são o próprio sal.

O conhecimento maçônico é o que dá “sabor” à vida do Maçom. Este “alimento” nos mantém “saudáveis”, nutrindo e afastando a degeneração causada pelos vícios.

Assim como na Medicina, a “obesidade mórbida maçônica” é uma realidade e se apresenta mais perigosamente em Grau 3.

Longe de mim propor aos Irmãos que cessem de se alimentar/instruír. Mas, não podemos nos descuidar dos “desvios alimentares” ou a aplicação equivocada do “sal” em pratos diferentes.

Na analogia alimentar, digamos que pratos famosos sejam Ritos. O Rito da Feijoada Brasileira, o Rito do Strogonoff Russo, o Rito da Sopa de Cebola Francês, são pratos/ritos muito “saborosos”, com tradição e real valor nutricional/instrucional. PORÉM, devemos compreende-los como originalmente completos, portanto mantendo suas características.

Imagine uma Sopa de Cebola feita com feijão, uma feijoada com asas de frango ou strogonoff com orelha de porco!

Este alerta é necessário para os Irmãos terem consciência do que se trata o “sal”, que é útil a um prato e pode estragar um outro. Assim, deve ser dosado o tempero que se acrescenta nas instruções.

Encontramos Irmãos que não querem se instruir, são os insípidos e completamente DES-SAL-INIZADOS.

Os bem nutridos/instruídos, são os SAL-DÁVEIS (permita-me esta breve digressão de vocábulo).

No outro extremo estão os Irmãos SAL-GADOS, carregados de informação, sem controle do necessário tempero.

Lamentavelmente, existem Irmãos que, por conduta própria ou mal conduzidos, se tornam indigestos.

A estes, nossa tolerância. Aos “saudáveis”, nosso respeito. Aos “sem sabor”, nossa dedicação.

A PROGRESSÃO DO MAÇOM SE FAZ POR AUMENTO DE SAL-ÁRIO,

NA MEDIDA EXATA ENTRE O APRENDER E O ENSINAR.

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, legítimo Construtor Social.

Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo. Vamos em Frente!

Fraternalmente

Sérgio Quirino

Candidato a Grão-Mestre - GLMMG 2021/2024

DA CURIOSIDADE À SABEDORIA - Gabriel Campos Oliveira



O Ir. Gabriel Campos de Oliveira publica em diversos grupos a coluna "Fatos Maçonicos do dia" que traz sempre informações interessantes. 

 

Os termos “informação”, “conhecimento” e “sabedoria” são freqüentemente utilizados com o mesmo sentido, o que traz muitas interpretações dúbias e até errôneas, principalmente no que diz respeito aos termos conhecimento e sabedoria.

A informação é o dado em seu estado bruto, captado pelos sentidos de todos os níveis: um odor, uma imagem, um pressentimento, etc. O conhecimento é a informação analisada, compreendida e incorporada. A sabedoria é o conhecimento submetido ao julgo da Ética e da Moral. Desta forma, não há sabedoria sem conhecimento, e nem conhecimento sem informação.

No entanto, a informação que não é transformada em conhecimento é inútil. A inteligência é o dom humano capaz de “digerir” as informações, através da análise, e transformá-la em conhecimento útil. Para guardar uma informação, precisamos retê-la em nossa memória; para guardar um conhecimento, devemos incorporá-la em nossa mente e, conseqüentemente, em nossa maneira de pensar.

De forma semelhante, o conhecimento diferencia-se da sabedoria. O conhecimento que não é transformado em sabedoria está sujeito a tornar-se alimento para o vício, um vício mental que, incorporado em nossa mente, passa a influenciar negativamente nossa maneira de desenvolver processos mentais. A Sabedoria é a mãe de todas as virtudes, pois é dela que se origina a prática consciente dos bons hábitos que, incorporados em nossa maneira de pensar, conduzem o homem à Verdade.

Sendo a ignorância a ausência de conhecimento, ainda que a mente possua informação em abundância, esta é menos perigosa do que o conhecimento que não é feito sabedoria, pois conhecer sem saber é como possuir uma espada sem os critérios que diferenciam sua utilidade consagradora de sua capacidade mortal.

A ignorância é o estado original de todo o ser pensante, inicialmente desprovido de conhecimento por não ter sido alimentado pela informação obtida pela experiência e pela instrução. Sabe-se que não é possível dar conhecimento ao homem, pois este só pode ser construído por ele mesmo. No entanto, é possível fornecer-lhe informação, submetendo-o às experiências e instigando-o à busca. Para tanto, a curiosidade cumpre seu papel de alavanca que impulsiona o homem a buscar a informação e, através desta, a construir o conhecimento.

Na iniciação Maçônica, mais precisamente na Câmara de Reflexões, existe a frase “Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te”, que tem como objetivo alertar o candidato que este deverá desistir de ingressar na Maçonaria caso sua motivação seja a mera curiosidade. Esta curiosidade, enquanto apenas desejo a ser saciado, age tão somente como elemento de busca da informação, não digerida e, possivelmente, mal interpretada.

No entanto, não devemos condenar a curiosidade, pois ela é parte integrante de qualquer ser pensante. Sendo um elemento útil ao aprendizado, a curiosidade é a força impulsionadora do espírito investigativo, necessário à busca do conhecimento e, conseqüentemente, da sabedoria.

É através da curiosidade que despertamos para o aprendizado, lançando mão da fé - não aquela cega ao mundo e limitada aos dogmas - para perseverar na busca, utilizando a inteligência para analisar o mundo à nossa volta, colocando o conhecimento obtido sob o julgo da retidão Moral, da sinceridade de propósitos

  O sinal mais seguro da Sabedoria é a constante serenidade.

"Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, então cala-te."

Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos; e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.”

TFA GABRIEL CAMPOS DE OLIVEIRA .  :

junho 05, 2021

DA IGREJA - Newton Agrella




Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante. Um dos mais notáveis estudiosos da maçonaria no país..

No universo etimológico das Línguas Ocidentais observe como é interessante a origem da palavra  *"IGREJA"*

O substantivo advém do Grego *"EKKLESÍAS"* que significa (assembléia, convocação ou reunião de fiéis).

Em Latim           :   ECCLESIAE 

Em Espanhol     :   IGLESIA

Em Italiano        :   CHIESA

Em Francês       :   ÉGLISE

Em Galego         :   IGREXA

Em Catalão        :   ESGLÉSIA

Em Sardo           :   CRESIA

Em Corso           :   GHJESGIA

Em Occitano      :   ÉGLÉSE

Em Vêneto         :   CIÉXA

Em Mirandês     :   EIGREIJA

Em Romeno       :   BISERICĂ

Neste caso a palavra advém do Grego *"BASILIKÉ"*  que significa "Casa Real"  e que em Português deu origem à palavra BASÍLICA.

Em Inglês        :     CHURCH 

Esta palavra deriva também do Grego.  Advém de *"KYRIAKE"* que para o PORTUGUÊS suscitou a palavra "CÚRIA".

KYRIAKE em Grego =  Senhor, Deus

KYRIAKON DOMA =  Casa de Deus

De volta à KYRIAKE e CHURCH observe que para outras línguas ocidentais derivaram-se :

Em Alemão            :   KIRCHE

Em Holandês         :   KERKE

Em Dinamarquês  :   KIRKE

Em Norueguês      :   KIRKE

Em Sueco              :   KYRKA

Em Russo              :   CERKOV

IGREJA em MALTÊS  =  KNISJA

que por sua vez advém do ÁRABE =   KANISA (transliteração)

Como se percebe, as palavras relacionadas a *IGREJA* tiveram sua origem na Língua Grega.

Fraternalmente

NEWTON AGRELLA

NÃO SE ASSALTA O CÉU PARA ROUBAR O TESOURO DOS DEUSES - Cel. Sidney


O Décimo Segundo Trabalho de Hércules, consistia em roubar as maçãs douradas do Jardim das Hespérides, que eram os frutos sagrados que Hera, a esposa de Zeus, dele recebera por ocasião de suas núpcias. 

Essa tarefa simboliza, na verdade, a apoteose final de toda cadeia Iniciática. 

Representa a aquisição do conhecimento, do símbolo da ciência, da *Gnose* final, capaz de dar ao iniciado aquele estado superior de consciência, que buscou desde quando iniciou a sua escalada.

A sabedoria tem sido comparada a frutos de ouro, guardados ciosamente pelos deuses. 

E os homens nunca deixaram de cobiçá-los e tentar se apropriar deles. 

A própria Bíblia se utiliza desse símbolo para explicar que o pecado que causou a queda do homem foi ao fato do casal humano ter comido, indevidamente, o *“fruto do conhecimento do bem e do mal”* que Deus plantara no Jardim do Éden. 

Simbolizam o desejo do homem de adquirir a Gnose, ou seja, o conhecimento total das causas que possibilitam a vida do universo, para que possa controlar e administrar seus efeitos. 

O homem enfrenta todas as adversidades, todos os perigos, enfrenta mesmo os próprios deuses para obter essa sabedoria, mesmo que, após tê-la adquirido, não saiba o que fazer com ela, como aconteceu com o rei Eristeu

As tradições iniciáticas estão cheias de conselhos sobre esse desejo insano de apropriar-se desse fruto sagrado, que é a Gnose, o supremo conhecimento; apenas pelo desejo de poder ou por simples curiosidade. 

*Não se assalta o céu para roubar o tesouro dos deuses*. 

Esse tesouro só pode ser adquirido por quem sabe o que fazer com ele, que é dado voluntariamente pelos deuses aqueles que dele se fazem merecedores.

Hércules obteve os pomos dourados e os entregou ao rei. 

Este não soube o que fazer com ele por que deles não era merecedor. 

Por isso é que a Gnose não pode ser obtida apenas academicamente. 

A Gnose é fruto de uma longa escalada Iniciática.

Esse é um erro que algumas escolas de mistérios, como instituição, tem cometido ao longo dos séculos.

Para atender a objetivos simplesmente profanos, como o são os interesses políticos e pessoais de seus membros, tem admitido em seus quadros pessoas não qualificadas para perseguirem os objetivos da Ordem. 

Esses iniciados entram para a Confraria, mas jamais alcançam a verdadeira sabedoria, a Verdadeira GNOSE. 

Bom Dia meus irmãos.

junho 04, 2021

A BOMBA QUE NÃO EXPLODIU



Conta a lenda urbana que em uma vila do País Basco houve uma bomba que chegou a terra mas nunca estourou. A bomba ficou embutida no meio da praça central da pequena aldeia. Os habitantes  surpreendidos e assustados não se animaram a movê-la, e muito menos desarmá-la. Lá permaneceu anos durante o governo de Franco como um símbolo aterrorizador. Representava a morte, o poder do regime e a punição a quem se revelasse.

Um dia de primavera, de manhã, Julien cansou do detalhe da paisagem que arruinava a praça. Procurou ferramentas, pediu ajuda que não encontrou, e decidiu desarmar e remover o artefato. Nas primeiras horas ele trabalhou sozinho, diante do olhar distante dos seus conterrâneos. Ao meio-dia já contava com a ajuda dos amigos, pois se de algo for preciso morrer, que seja junto dos amigos. Na meia tarde toda a vila estava na praça, expectante e colaborando como pudesse.

Antes do anoitecer tinha sido desarmada, subindo em uma carreta, e decidido que iriam levá-la para a vila vizinha, onde se encontrava a sede municipal da região. Mas o interessante da história foi o que encontraram dentro da ogiva, ou seja, a ponta ou cabeça da bomba; a parte que viaja do lado de baixo quando uma bomba é lançada e possui o detonador. Lá, junto a cabos e peças de metal, encontraram um papel manuscrito que continha apenas algumas palavras. Pensaram que talvez  indicasse o lugar onde foi feita, seus componentes, ou algumas instruções de uso, mas de qualquer forma despertou a curiosidade do povo.

Claramente não era basco, nem castelhano, nem inglês. Aparentemente era alemão. Na vila, havia uma pessoa que podia chegar a decifrar a escrita: Miratxu, que quando era pequena, pelo trabalho do seu pai tinha estado alguns anos em Hamburgo. Miratxu  naturalmente estava na praça. Foi solicitada e assumiu o papel. Levou alguns segundos, que não foram mais de meio minuto. Ordenou em sua mente as palavras, a gramática, e para cortar com o suspense disse olhando para todos os seus vizinhos (que ao mesmo tempo a olhavam em silêncio):  "Saúde. De um trabalhador alemão que não mata trabalhadores ".

Ninguém saiu da praça nas horas seguintes. Discutiram, fizeram suposições, e interpretaram de mil maneiras o manuscrito.

Finalmente, antes da meia noite, por unanimidade, a cidade decidiu que a bomba não iria embora, voltaria ao mesmo lugar. A partir desse momento a bomba na praça começou a simbolizar a resistência, o fim do medo, e o poder de um povo com consciência de classe. Tudo isso como presente de um trabalhador alemão que, no meio da ditadura nazi, inutilizou a bomba e deixou claro que nem o medo, nem o regime o poderiam fazer matar trabalhadores como ele próprio.

O MOMENTO PRESENTE - Heitor Rodrigues Freire


Heitor Rodrigues Freire é Past GM da GLEMS, corretor de imóveis, advogado, jornalista, atual presidente da Santa Casa de Campo Grande, MS notável intelectual e escreve frequentemente belas colunas literárias, como esta.

 A sucessão e a rapidez dos acontecimentos presentes estão a nos propiciar uma oportunidade rica de aprendizado e de conhecimento.

Um embasamento filosófico é importante para que cada pessoa possa se situar no tempo e no espaço. Para buscar esse embasamento, ao longo dos tempos muitas pessoas se dedicaram ao estudo e à prática de normas de comportamento, visando orientar a humanidade para o desenvolvimento mental e espiritual.

Assim, tivemos na China Lao-Tsé e Confúcio; na Índia, Buda; no Egito, Hermes Trismegisto; na Grécia, Pitágoras, Heráclito, Sócrates, Platão e Aristóteles, todos por volta do século V antes de Cristo. 

Pitágoras proporcionou à humanidade seus Versos de Ouro, que contêm um ensinamento voltado exatamente para orientar o comportamento consciente e verdadeiro. Deles, destaco os versos 41 a 46, que por si só nos dão uma orientação importante:

Ao deitares, nunca deixe que o sono se aproxime dos teus olhos cansados

enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas ações do dia.

Pergunta: "Em que errei? Em que agi corretamente? Que dever deixei de cumprir?"

Recrimina-te pelos teus erros, alegra-te pelos acertos.

Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Tu deves amá-las de todo o coração.

São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina.

Com o nascimento de Jesus, o Mestre dos mestres de todos os tempos, a história da humanidade começou a tomar um rumo definido. Os seus ensinamentos se perpetuaram pela essência, pelo conteúdo, apresentado de maneira simples.  O maior dos mandamentos, a Regra de Ouro, é:

 “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

Em Roma, no século I da nossa era, tivemos Sêneca, que dedicou sua vida à prática do estoicismo.

O estoicismo não é um conjunto de teorias sobre como o mundo funciona ou deixa de funcionar, é um conjunto de reflexões, dicas e práticas para viver melhor. Como exemplo do estoicismo, citamos ensinamentos do próprio Sêneca: 

"A filosofia nos ensina a agir, não a falar”.

“O maior obstáculo à vida é a expectativa, que fica na dependência do amanhã e perde o momento presente. Tu dispões do que está nas mãos da Fortuna, mas deixas de lado o que está nas tuas. Para onde olhas? Para onde te projetas? Tudo o que há de vir repousa na incerteza. Vive de imediato!”

“O homem que sofre antes, sofre mais que o necessário”.

A filosofia é vista pela maioria das pessoas como algo abstrato, desnecessário, supérfluo, perfumaria, desconhecendo assim a contribuição prática para o dia-a-dia de todos.

Esse ensinamento é muito prático. Não adianta viver com as glórias do passado ou com as expectativas do futuro. O presente é aqui e agora. É neste momento que a vida acontece.

Nestes tempos em que a humanidade se vê acossada pela pandemia causada pelo vírus da Covid-19, em que assistimos ao sofrimento de tantos, a perda de entes queridos, e o medo que se instalou na mente das pessoas, a filosofia se torna mais necessária do que nunca, para orientar e acalmar a todos, mostrando que nada acontece por acaso e ao mesmo tempo, os nossos queridos continuam a viver, porque a vida é infinita e ela só muda de estado, saindo da materialidade para a espiritualidade.

Santo Agostinho nos mostrou isso de forma muito clara em seu poema “A morte não é nada”:

A morte não é nada. 

Eu somente passei para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo.

Me deem o nome que vocês sempre me deram.

Falem comigo como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene ou  triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim, rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo.

Sem nenhum traço de sombra ou tristeza.

A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado.

Por que eu estaria fora de seus pensamentos,agora que estou apenas fora de suas vistas?

Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho.

Você que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.


O QUE LEVA O HOMEM A SER MAÇOM? - Ivair Lopes

 


A primeira premissa esclarece que a Maçonaria é uma Fraternidade.

Ora, o substantivo feminino fraternidade designa o parentesco de irmãos, o amor ao próximo, a harmonia, a boa amizade, a união ou convivência como de irmãos.

Isso leva à conclusão de que, na organização designada, genericamente, como Maçonaria, ou Franco-Maçonaria, definida como uma Fraternidade, deve prevalecer a harmonia e reinar a união ou convivência como de irmãos.

(Do livro “Fragmentos da Pedra Bruta – José Castellani)

Estive meditando, nos últimos dias….

O que leva o homem a ser maçom?

Devemos inquirir nossos conhecimentos de prima facie, relembrando que o homem maçom é escolhido dentro a sociedade profana, como que um diamante ainda em estado bruto, pois assim o determina os antigos costumes, de forma que ele somente toma pé de onde e o que o espera, quando da sua iniciação.

Sabemos que hoje, não mais como ontem, o indicado, indaga-se e prepara seu espírito, quando lhe é informado que será iniciado, certamente pelas ferramentas disponíveis na internet e em outros meios de comunicação, toma nota e assimila um conteúdo considerável a respeito da sublime ordem.

Mas, muito provável, muita coisa que lerá, será apenas falácias, enquanto outros se apresentarão muito maiores que possa imaginar a sua vã expectativa.

Nestas falácias, muita coisa, escrita, ou não se enquadra no seu rito ou não é operada ao pé da letra por sua futura loja ou potência.

Podendo traduzir num permeio de desolação e decepção quanto ao que esperava.

Noutro mote, há expectativas geradas pelos próprios futuros irmãos de ordem, que acreditam piamente e esperam algo que não se traduz em realidade tangível, mas apresenta-se apenas como expectativas.

Assim, o candidato e a oficina se apresenta com enorme expectativa, desde a sua iniciação até o dia que o laço de rompa, seja pela saída do obreiro, desligamento obrigatório ou a sua passagem para outro oriente.

Pois bem, há nítido jogo de interesses, não manejo o interesse com o intuito depreciativo, mas sob a ótica construtiva, o interesse como objeto de vontade, a loja adquirindo um obreiro que atenda as suas expectativas enquanto membro, maçom, pai de família, pessoa da sociedade e o iniciado aglutinando outras visões de interesse, de lapidar seu conhecimento de si, adquirir novas amizades, prover um meio social coerente a si e a seus familiares, etc.

Quando não esta tudo caminhando. Afirma-se que a “egrégora” não esta condizente. Particularmente não gosto desta afirmação!

Mas, certo é que também discordo da afirmação de que a maçonaria, escolhe grandes homens, e entre eles, haverá diferenças maiores quanto mais for a capacidade e a liberdades daqueles.

A afirmação alhures, é tipicamente profana.

Vale fora dos nossos templos.

Não poderia vingar quando falamos de relações entre maçons. 

Que deve ser uma relação alicerçadas nas leis naturais, nos antigos costumes e num sistema que tem como meta algo mais que uma boa relação entre irmãos.

Lembramos que combatemos o despotismo, a iniquidade, levantamos templos a glória do criador, em honra da virtude e sepultamos nas profundezas todas as formas de vícios.

Neste permeio de locuções é que busco a resposta para a indagação que me trouxe até estas linhas, aquele profano imaginário, não sabia de nada disso, se sabia, o seu horizonte não imaginaria como os olhos de um maçom vêem a tudo isso.

Por tal é recebido maçom, um homem, que circula por dentre a descortinação do grande espetáculo da luz da verdade, o caminho solar do escocesismo. 

Viaja por dentre as luzes da sabedoria, aprende nas ciências e sente a existência da força e embebedar-se pelos caminhos da beleza, situações que sustentam todo o arcabouço do aprendizado maçônico.

Arrancam-lhe o juramento.

São lhes deferidas as obrigações, assentindo é feito maçom!

Descobri o que leva o homem a ser maçom? 

É guardar consigo, não grandes segredos.

Mas o segredo da vida, ser feliz, amar ao próximo, lutar, vencer, sorrir e chorar e não tripudiar dos oprimidos, não blasfemar, não vilipendiar, não deixar de lapidar-se, aprender a praticar a iniciação em si mesmo dia após dia.

Bom dia meus irmãos. 

Ivair Lopes M.'.M.'.

O EXPERTO - Rui Bandeira



No Rito Escocês Antigo e Aceito, o Experto é um Oficial de Loja que exerce uma função puramente ritual. Nas normais sessões de trabalho, essa função é relativamente secundária, limitando-se a seguir e auxiliar o Mestre de Cerimônias na execução dos rituais de abertura e enceramento dos trabalhos. 

Este ofício assume, porém, particular importância e relevo quando a Loja realiza uma Cerimônia de Iniciação. Quase se poderia dizer que o ofício de Experto existe para essa cerimônia, sendo tudo o resto secundário, mero apêndice do papel que exerce nos trabalhos em que um homem livre e de bons costumes abandona a vida profana e renasce maçom.

É encargo do Experto, sempre que ocorre uma iniciação, ser o elo entre o profano que busca a luz e a Loja. É o Oficial que a Loja disponibiliza ao candidato para o acompanhar e auxiliar nas suas provas de iniciação. 

É o Experto que prepara o profano antes de ele enfrentar essas suas provas. É o Experto que ordena ao profano o que ele deve fazer enquanto aguarda o início delas. É o Experto que conduz e acompanha o profano perante a Loja. É o Experto que acompanha e auxilia o profano na superação das provas. 

É o Experto que dá e retira a luz. É o Experto que acompanha aquele que se submeteu às provas de iniciação enquanto ele se recompõe dos trabalhos realizados. 

É o Experto que, recomposto quem se submeteu às provas, o conduz à sua plena integração na Loja. É o Experto quem executa e demonstra a primeira instrução do novo Aprendiz. 

Em resumo, o Experto é a mão amiga que ampara o profano no seu trajeto para a luz, o guia que lhe indica o caminho.

A designação do ofício é uma adaptação fonética – não propriamente feliz – do termo Expert, que, quer em francês, quer em inglês, significa Especialista. O Experto é, assim, o Oficial Especialista no acompanhamento do Candidato à iniciação.

Em rituais antigos, este Oficial de Loja era designado por Irmão Terrível. Esta designação, obviamente irónica, era fruto da forma brusca como se preconizava que decorresse a primeira abordagem do Irmão Terrível ao candidato.

Dupla ironia, se atentarmos que o Experto só é terrível no suporte e apoio a esse mesmo candidato, que lhe cumpre auxiliar ao longo de toda a Cerimônia de Iniciação…

Em muitas lojas este ofício não está integrado na informal “linha de sucessão” para o ofício de Venerável Mestre e é usualmente confiado a um Mestre jovem. 

É um ofício que, por ser de reduzida dificuldade de execução, na maior parte das sessões, permite uma calma e progressiva integração nas responsabilidades de Oficial de Loja aos Mestres mais jovens, enquanto aguardam oportunidade para assumirem mais exigentes responsabilidades. 

Mas, sendo também um ofício fundamental num momento tão importante para qualquer maçom, como é a sua iniciação, confiá-lo a um jovem Mestre (note-se: jovem, em termos de antiguidade, não de idade; um septuagenário pode, neste sentido, ser um “jovem Mestre”…) é uma prova de confiança nas suas capacidades e na sua contribuição para a Loja.