setembro 06, 2021

BASTIDORES DA INDEPENDÊNCIA





(Compilado do Livro “O Poder da Maçonaria – A História de Uma Sociedade Secreta no Brasil”, de Marco Morel e Françoise Jean de Oliveira Souza, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008)


Os 94 homens, que se reuniram no dia 24 de junho de 1822, num sítio no porto do Méier, na Praia Grande (atual Niterói-RJ), e fundaram o Grande Oriente do Brasil (GOB), sonhavam alto, mas tinham os pés no chão. O dia inteiro de exaustivos trabalhos foi encerrado com um lauto banquete, e a comida, que sobrou, foi distribuída aos pobres das redondezas, reforçando, assim, a filantropia tão presente nas preocupações maçônicas. Congregados naquele momento, não poderiam imaginar que, meses depois, teriam seus destinos individuais tão separados, nem tinham certeza dos rumos políticos que ajudavam a transformar.

A formação, que originou o GOB, veio da Loja Comércio e Artes, a mesma que surgira em 1815, se dissolvera com a repressão de 1818 e reaparecera sob as bênçãos do Grande Oriente Luso-Brasileiro e sob os novos ares do liberalismo em 1821. Agora, em 1822, a Comércio e Artes crescera demais, e nela não cabiam tantos integrantes que pretendiam entrar. Os maçons então, resolveram, numa solução salomônica, subdividir a Loja em três, mantendo a Comércio e Artes e criando mais duas: União e Tranquilidade e a Esperança de Niterói. A distribuição dos integrantes em cada uma foi feita por sorteio, tradicionalmente, visto como uma instância igualitária, ou seja, que evitava favoritismo e deixava, nas mãos da Providência Divina, o destino dos envolvidos. Além disso, os iniciados deveriam portar uma roseta ou laço em forma de flor no braço esquerdo: branco para a primeira Loja, azul para a segunda e vermelho para a terceira. Todos juntos criavam, assim, o azul, vermelho e branco, caracterizadores da Revolução Francesa, paradigma da modernidade política, mas, ao mesmo tempo, repudiada em seus "excessos" pelos liberais do nascente século XIX.

O GOB adotou o Rito Francês Moderno, criado em 1783 e composto por sete graus: 1. Aprendiz; 2. Companheiro; 3. Mestre (Lojas Azuis); 4. Mestre Eleito (Primeira Ordem de Rosa-Cruz); 5. Mestre Escocês (Segunda Ordem de Rosa-Cruz); 6. Cavalheiro Rosa-Cruz (Terceira Ordem de Rosa- Cruz); 7. Soberano Príncipe Rosa-Cruz (Quarta Ordem de Rosa-Cruz). 

O maçom, que presidiu a instalação dos trabalhos do GOB, foi o capitão engenheiro João Mendes Viana, na condição de Venerável da Loja Comércio e Artes. Qual o destino de Mendes Viana? Eleito Segundo Grande Vigilante do GOB, foi enviado a Pernambuco como emissário na missão estratégica para articular a Independência.

Acabou aproximando-se dos chamados liberais exaltados, que assumiram o poder provincial e proclamariam a Confederação do Equador contra o centralismo imperial. Detido por ordem de D. Pedro I, Mendes Viana passaria sete anos do Primeiro Reinado como preso político nos cárceres do Rio de Janeiro, ao lado de Cipriano Barata. Ao ser solto, em 1830, Mendes Viana estava com a saúde irremediavelmente debilitada pelas precárias condições em que foi forçado a viver e faleceu logo depois. Mais uma trajetória de vida destruída devido ao engajamento maçônico. Mas, naquele momento de otimismo e entusiasmo da fundação do GOB e preparação da Independência, tal previsão trágica parecia impensável.

Estavam presentes, entre os 94 fundadores, uma verdadeira galeria de Pais da Pátria: alguns antigos maçons, como José Bonifácio, o Coronel Luiz Pereira da Nóbrega e o Padre Belchior de Oliveira, além de Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Frei Francisco Sampaio, Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo. Outros, apesar de terem os nomes registrados, tornaram-se ilustres desconhecidos e se apagaram, ainda, na poeira do próprio tempo em que viviam. O Tenente-Coronel e Cirurgião Manuel Joaquim de Menezes, um destes fundadores, lançou, três décadas depois, um pequeno livro, que, até hoje, é uma das principais fontes de informação sobre tais episódios, embora, também, envolvido nos jogos de ocultações e revelações tão próprios da Ordem dos Pedreiros-Livres. Um dos mais destacados e convictos do grupo, o Major Albino dos Santos Pereira, teria um fim trágico, como se verá a seguir.

O sítio em Niterói fora decorado à maneira de um templo maçônico, sem faltar a Sala dos Passos Perdidos. A comissão de organização era composta pelos Irmãos Manoel dos Santos Portugal, João da Silva Lomba e Antônio José de Souza, que se encarregaram do banquete maçônico e das demais providências, como levar apetrechos e a decoração do local com os símbolos adequados. 

Nas primeiras reuniões do GOB, a clandestinidade (ou segredo, como, então, se dizia) era fundamental não só por uma questão de fidelidade ritualística, mas também pela própria segurança de seus membros, por estarem tramando a Independência do Brasil. Entretanto, logo se percebeu que tudo, discutido no recinto, acabava vazando para Portugal e para os comandantes das tropas portuguesas sediadas no Brasil. Daí resultou, no encontro de 2 de agosto de 1822, a exclusão de seis irmãos do círculo maçônico, após investigações internas que levaram aos nomes dos que foram considerados delatores. 

Uma das tarefas marcantes do GOB foi enviar emissários às mais importantes províncias brasileiras, para articularem, politicamente, a Independência na forma como estava sendo concebida: unidade territorial brasileira, monarquia constitucional e governada pelo Príncipe da Dinastia de Bragança. Note-se que, desse modo, os maçons contribuíram mais efetivamente para a criação de laços de tipo nacional e de um modelo de Estado centralizado, mas poucos colaboraram para a consolidação da própria Maçonaria como Instituição de nível nacional, naquele momento. 

É precipitado apontar esse GOB como embrião de um partido político, pois suas características se diferenciavam bastante da máquina partidária típica do século XX. Entretanto, não se deve desprezar a Maçonaria como uma forma de agrupamento e organização. 

Quando se falava, já naquela época, de "partidos", era mais do que tomar um partido ou formar facções descartáveis: havia modos de agrupamento em torno de um líder, através de palavras de ordem e da imprensa, em determinados espaços associativos e a partir de interesses ou motivações específicas, além de se delimitarem por lealdades ou afinidades (intelectuais, econômicas, culturais, etc.) entre seus participantes. Tais agrupamentos eram identificados por rótulos, símbolos ou nomeações, pejorativos ou não. A Maçonaria era uma dentre as várias formas existentes de sociabilidade. 

Pode-se perceber que o nó da questão, em que se envolveu a Maçonaria em 1822, foram as presenças de José Bonifácio e D. Pedro I em seus quadros como dirigentes máximos (Grão-Mestres). Daí resultou, num primeiro momento, a força e a vitória da entidade, com a Independência proclamada, como seus membros queriam. Daí resultou, logo depois, a destruição dos trabalhos maçônicos e até da vida pública de vários irmãos. 

Se, do ponto de vista externo, o GOB serviu, no tempo e na hora certa, como espaço aglutinador, tal papel foi efêmero. As dissensões internas e as intervenções externas acabaram destruindo, naquele momento, esse núcleo de associação. A recriação do GOB e das Potências posteriores já pertenciam a outro contexto, com outros objetivos e horizontes.

setembro 05, 2021

A ESTRELA FLAMEJANTE





INTRODUÇÃO

V \ M \ , Dignitários que decoram o Oriente e todos vocês meu FF \ em suas fileiras e qualidades.

Tenho o grande privilégio de apresentar esta tarde à vossa consideração esta obra de arquitectura intitulada "L'Etoile Flamboyante".

A estrela de cinco pontas é encontrada em todas as tradições, em todas as religiões, em   todas as filosofias, em todo o universo, em todos os tempos. Já aparecendo entre os grafites neolíticos (em Ariège, Olargues em Hérault), aparece na mitologia egípcia, como representando Ísis e Hórus, a Mãe Terra e o Sol.

Na mitologia grega, com o nome de Ugeia, por causa de Hygieia, deusa da saúde, ela tinha valor terapêutico como a pentalfa da vida e da saúde.

Na Bíblia, os Três Reis foram capazes de perceber e seguir a estrela cintilante que os conduziria ao feto.

Sua presença em mais de quarenta bandeiras nacionais atesta sua importância como conceito espiritual no mundo.

Aproximando-se de nossa ordem, durante a iniciação do leigo logo após fazer o juramento, a estrela flamejante pisca brevemente para o leste atrás do planalto do Venerável Mestre.

Durante a cerimônia de aumento de salário do aprendiz, ele caminha sobre os quatro pontos do pentagrama que é desenhado no chão durante sua quinta viagem para se encontrar no ponto leste.

Não esqueçamos de mencionar os construtores de catedrais da Idade Média, maçons operativos, que expressaram seu gênio construtivo através da estrela que encontramos em muitas igrejas, reflexos da perfeita harmonia do cosmos, onde tudo é cuidadosamente ordenado. Portanto, eles conheciam o pentagrama ou a estrela de cinco pontas. Este último foi de fato um de seus principais símbolos, ao mesmo tempo que a ferramenta geométrica preferida para a construção de templos, ou seja, a transformação da pedra bruta e inerte em edifícios construídos para a glória do Grande Arquiteto da Igreja. ”Universo.

A Maçonaria, portanto, tem um valor espiritual muito grande para a Estrela Flamejante, é sua estrela polar, a estrela do pensamento livre. É o símbolo essencial da categoria de Companheiro.

Para continuar a reflexão sobre a estrela flamejante, é preciso tocar as verdades que ela esconde para que o iniciado, principalmente o companheiro, vislumbre os caminhos de pesquisa que ela lhe abre.

A- A estrela flamejante suas propriedades, suas verdades.

Mais do que qualquer outro polígono regular, a estrela de cinco pontas, a estrela flamejante é representativa das leis da harmonia e simboliza a interação do microcosmo e do macrocosmo . O microcosmo que é o iniciado, o Companheiro, deve se tornar esse foco ígneo, essa fonte de calor e luz, de compreensão e propaganda. Este iniciado, iluminado por sua inteligência e seu coração, deve buscar a verdade praticando o altruísmo, mostrando bondade e devotando-se de todo o coração. Ele deve introduzir o desenvolvimento da ordem certa para alcançar a harmonia perfeita do homem consigo mesmo, ao mesmo tempo que a harmonia das coisas externas, com as idéias necessárias que melhor as organizam.

1- As propriedades numéricas da estrela em chamas.

Dois números chamam a atenção: o número 5, o microcosmo, que está simbolicamente associado ao poder da mente e da magia , o número 9 atribuído ao macrocosmo.

a- O número cinco

O cinco é o número do homem, assim como o do companheiro: aos cinco anos, ele fez cinco viagens, bate palmas cinco vezes para tocar a bateria, sua caminhada é de cinco passos.

O número cinco, base da estrela de cinco pontas, na árvore da vida, representa a sephirah Gebourah onde está localizado o planeta Marte, representação da Vontade que o companheiro deve nutrir para continuar seu caminho de iniciação, de pesquisa.

O número cinco é a união do número par 2 representando o princípio feminino e do número ímpar 3 representando o princípio masculino: a união, a adição dos dois números representa a vida manifesta, o sopro divino que vem animado e dirige o corpo.

A estrela de cinco pontas constitui uma aplicação estrita da relação privilegiada por excelência, a relação áurea ou proporção divina, que se expressa pela relação áurea.

Pela observação universal, tudo o que dá aos nossos olhos ou ouvidos uma agradável sensação de beleza e harmonia foi construído com base na proporção áurea, o ritmo cinco, daí as suas múltiplas aplicações em todas as artes: pintura, escultura, arquitetura e música.

b- O número nove

O nove   é o número da criação, vida e realização.

De sua correspondência com o macrocosmo, 3 x 3, representa os três mundos que fazem o Adam Kadmon, o homem primitivo que irá evoluir para um homem evoluído, um iniciado.

Portanto, temos:

Ø       Neshamah mundo do espírito,

Ø       Ruach mundo da alma,

Ø       Nephesh o mundo da questão.

Dotado de uma paciência infalível, o iniciado deve meditar para estar em harmonia consigo mesmo e com o exterior.

É transcendendo a matéria que ele terá a inspiração e a perfeição das idéias, a plenitude dos talentos.

É o número eterno da imortalidade do homem.

2- A letra G

A estrela de cinco pontas tem uma sexta ponta, invisível, induzida e equidistante dos cinco vértices, representando o centro, nosso centro.

Este centro, o do círculo, por vezes invisível, no qual repousa a estrela flamejante, exprime a presença do princípio divino, a prevalência do espírito sobre a matéria, a necessidade de uma relação harmoniosa entre o indivíduo e o mundo. Exterior, de um feliz coordenação entre seu corpo e seu espírito: os alquimistas dizem “a obra oculta e misteriosa está em você; onde quer que você vá, estará com você, desde que você não o procure fora ” . Nele tudo é um porque ele funciona no centro, no coração de todas as coisas: é apenas no Centro que a pessoa se torna Tudo.

A letra G, este sexto ponto no centro da Estrela de cinco pontas, resplandece a riqueza do espírito e da consciência do Companheiro: é o princípio divino resumido em 5 significados.

a- Gravitação

A gravitação, que rege o mundo físico, torna-se na esfera moral a imagem de uma força coesiva, sem a qual as pedras vivas que somos não deixariam de se separar. É o símbolo da unidade fraterna. A ferramenta da gravitação: o fio de prumo dá-nos a sensação de profundidade, a humildade que nos permite descer ao nosso abismo para poder subir e assim superar o ego.

b- geometria

A geometria é uma das artes do quadrivium, considerada a ciência do estudo do mundo sensível: aritmética, geometria, astronomia, música. O quadrivium está intimamente ligado ao trivium, riqueza das riquezas, das artes da fala: gramática, retórica, dialética. A geometria é a arte sagrada da construção universal. Tem por objeto citar Platão "Conhecimento do que é sempre e não do que nasce e perece". Os construtores viram na geometria a possibilidade de alcançar a beleza por um lado e, por outro, a forma de responder aos problemas técnicos. Para quem constrói, a geometria permite que se destaquem da multidão.

Mas o maçom, mais precisamente o companheiro, deve ser capaz de desenvolver a geometria interior, o trabalho do espírito, o domínio das paixões, a correta valorização dos atos, dos pensamentos. Platão disse: "Que ninguém entre sob meu teto, a menos que seja um agrimensor" e Pascal "Vemos por experiência que entre mentes iguais e todas essas coisas, quem tem geometria vence e adquire vigor. Tudo novo".

c- Geração

Como o templo construído com pedras vivas, o pedreiro deve construir um organismo capaz de decifrar o enigma da vida, os mistérios de gerações. Símbolo de transmissão iniciática a novos companheiros.

d- Engenharia

O homem de gênio é aquele que domina a arte de construir, aquele que conecta por meio de uma ponte as duas margens de um rio entre o microcosmo e o macrocosmo, entre ele e o universo, entre seus impulsos imediatos e seu projeto de vida.

e- Gnose

Conhecimento sagrado ao qual é adicionada sabedoria. Este conhecimento é adquirido por meio do trabalho que o Companheiro deve glorificar e da busca pessoal pelo significado oculto dos símbolos.

O Companheiro deve despir-se para se descobrir, encontrar sua primeira realidade, seu centro invisível, o da Estrela Flamejante que ordena e estrutura esses cinco pontos.

Este conhecimento permite a passagem do quadrado ao círculo, isto é, do quadrado ao compasso, da progressiva prevalência do espírito sobre a matéria. Assim, por um jogo indefinido de ressonâncias, de ritmos que se refletem e respondem uns aos outros, a construção se levanta, o Iniciado se levanta, se contempla em relação aos outros, daí o dever de comunicar-se com a Beleza, a Força e a Sabedoria para a harmonia universal.

B- As duas últimas etapas do acompanhante

O companheiro deve ser guiado no caminho de seu ideal pela estrela em chamas. O caminho que é o método que a Maçonaria disponibiliza ao Companheiro em sua abordagem do ideal iniciático é mostrado a ele graças às cinco viagens, especialmente a quinta. A estrela flamejante será toda a sua vida durante seu ideal iniciático. Qual evolução para o iniciado?

1- A cabala: “A chave dos grandes mistérios”

O companheiro em sua pesquisa deve encontrar um caminho complementar para sua jornada iniciática. Sendo o ritual do segundo grau no rito de Memphis Misraim muito imbuído da Cabala , a convivência é caracterizada pelo estudo da Cabala: Diz-se que: “O que está abaixo é como o que está acima, e o que está acima. é como o que está abaixo ”. Sendo o homem a imagem da natureza ou a natureza a imagem do Homem, o iniciado deve adquirir os conhecimentos essenciais para uma melhor compreensão da natureza, a fim de assegurar a sua evolução moral espiritual e material.

A   cabala ou magia branca é caracterizada em duas expressões:

Ø       Magia cerimonial,

Ø      Magia estrutural ou magia sem ritual.

a- Magia cerimonial

A magia cerimonial usa forças por meio de gestos e da pronúncia de Nomes Sagrados durante um ritual. O iniciado pode, graças a isso, chamar essas energias e direcioná-las.

Este ritual é montado em torno do pentagrama que representa um excelente suporte para a meditação e é um sinal de extrema força na Cabal: por isso é um símbolo que manifesta o espírito que está acima da matéria e que a transcende.

Este domínio da matéria é bem simbolizado pelos quatro elementos nos diferentes pontos do pentagrama (Terra, Ar, Água, Fogo, Éter ou Espírito, a Rainha do Céu, é atribuído ao ponto superior, com a implicação de que o Espírito domina os elementos físicos) e pela representação do corpo humano com seus quatro membros com um único ponto que representa a cabeça nele. O iniciado assim representado é o homem harmonioso e luminoso.

Outros atributos são dados a ele, a saber, os cinco sentidos (visão, tato, olfato, sensibilidade e paladar), e os cinco estágios da vida (nascimento, adolescência, amor, sabedoria, morte).

b- Magia estrutural

Após a purificação de sua natureza etérica, psíquica e mental por meio da magia cerimonial, o iniciado não mais recorre ao ritual para convocar as Forças Divinas. Portanto, ele se torna um canal permanente dessas Forças: ele pensa, ele murmura certas palavras e o que ele deseja é realizado.

Esta magia resulta da magia cerimonial, mas é inerente à estrutura elemental do iniciado porque é um presente divino.

A cabala assim caracterizada pode ser dividida em três tipos:

Ø       A cabala judaica,

Ø       A cabala cristã,

Ø       A cabala de hoje.

Se essa precisão é dada, é para que o iniciado de acordo com sua afiliação étnica ou religiosa possa se encontrar em sua pesquisa espiritual.

2- O   contorno do pentagrama em um ritual

O gesto fundamental da cabala é traçar o pentagrama em um ritual para implementar as forças do número cinco.

As propriedades ativas do pentagrama só são possíveis por meio de rituais que atuam na matéria e no espírito como uma forma de onda de energia. Sendo ativo e se o iniciado respeitar as leis da natureza, o pentagrama permite uma dosagem relativa dos quatro elementos (Fogo, Ar, Água e Terra) na mistura corporal (seu corpo que é a base, fundamento, terra / sua vontade, energia, vitalidade, fogo / intuição, pensamento, emoção, água / imaginação, criatividade, intelecto, ar) para que a alma domine o corpo, ou seja  que as fontes que estão no mundo das idéias, o poder da Respiração e do Éter, a Santa Gnose iluminando nossa alma, a luz inteligível espalhada sobre ela com Ordem e Medida a substância do real porque nada existe que tenha descido de acima e não volta para descer. Neste caminho de perfeição que será obra do companheiro, o domínio da Matéria permitirá que reine a Harmonia e será uma estrela resplandecente a nossa quintessência, ou seja, o que há de melhor em nós para a humanidade: o objetivo profundo da Maçonaria .

A semente cresce apenas em solo bom: o iniciado deve preparar seu ser traçando e pronunciando os Nomes Sagrados durante um ritual para que as forças do número cinco, aquelas que se relacionam com o aspecto Divino, isto é, "perfeito a inteligência controladora do mundo ", vitoriosa sobre a densidade, faz com que ela evolua em seu caminho de iniciação, daí a atividade benéfica do pentagrama sobre o homem. Uma vez que a Estrela é acesa, o Germe Solar nasce e então segue sua germinação.

CONCLUSÃO

Ao nível da Filosofia Perennis , da Filosofia Eterna, a resposta de todos os iniciados, de todas as idades, de todas as religiões, de todas as escolas de pensamento espiritualista, é uniformemente a seguinte: devemos ir até ao fundo do seu ser e, encontrando ele mesmo plenamente ele mesmo, renascendo para uma nova vida de pesquisa e aplicação do Conhecimento adquirido: que gradualmente despertará o homem primitivo para o homem do conhecimento.

Todas as experiências místicas nos mostram que esse homem acaba não tendo nem dentro nem fora . Este homem que, outrora, se referia a escalas sociais, morais, religiosas, para aceitar ou condenar, para pesar seus pensamentos e suas ações, para julgar seus vizinhos ... descobre, agora, que chegou a " um universo privado de obstáculos, porque sem dualidade ”(MM Davy). Simultaneamente, o equilíbrio do universo se torna perceptível . Por um paradoxo simplesmente aparente, este " homem interiorizado está perfeitamente corporificado e aberto a todos " (MM Davy).

Com Fé, Boa Vontade, todos podem, em um contexto de respeito mútuo, escolher seu caminho moral, seus meios, seu grande ou seu "pequeno veículo" (como dizem os budistas) ... para ir em direção ao Equilíbrio porque a Verdade é Uma .

EGO ESPIRITUAL X RELACIONAMENTOS



No filme "Eu não sou seu guru", Tony Robbins disse mais ou menos assim: 

_Você pode ter força espiritual, meditar todos os dias e ser o melhor nisso, mas se não sabe se relacionar, não evoluiu nada. 

Essa é a mais pura verdade! 

O que mais vemos por aí é uma galera grande se achando evoluído porque tem uma religião, porque faz caridade, porque faz Yoga, porque é vegetariano, porque medita... 

O que nos faz crescer e evoluir são as nossas relações.

São elas que nos mostram verdadeiramente quem somos. 

De nada adianta fazer tudo isso se ainda não sabemos nos relacionar e se não estivermos conscientes de que essa é a única forma de crescer. 

Porque meditar é fácil! Frequentar casas espirituais também!

Ser generoso dentro dos templos é mais fácil ainda! 

O difícil é trazer tudo isso pro dia a dia, nas relações.

Porque nelas experimentamos intimidade e na intimidade as nossas vulnerabilidades são expostas. 

É aí que mostramos mesmo quem somos. 

É aí que as nossas sombras aparecem.

E é aí, no dia a dia das relações, que podemos nos trabalhar para melhorar. 

Nesse momento da intimidade, as mentiras que contamos pra nós e para o mundo, não se sustentam.

Não tem meditação, Yoga, ou Espiritualidade que sustente as nossas mentiras. 

É claro que tudo isso nos conduz a um lugar melhor de nós mesmos.

É maravilhoso fazer tudo isso. 

Mas não basta! 

Todas essas coisas são parte do caminho, parte do caminhar.

Todas essas formas de nos acessarmos fazem parte da teoria, mas a prática mesmo são os relacionamentos. 

_Não basta meditar todo dia e se aborrecer constantemente com o(a) companheiro(a), ou com os filhos, ou com os pais. 

_Não basta se espiritualizar, fazer caridade e tratar mal o porteiro, o garçom, o caixa do supermercado. 

_E não basta achar que somos maravilhosos e seres elevados se não conseguimos saber, de verdade, quem somos. 

_Não adianta fazer de conta que está se aprofundando, quando na verdade o olhar só fica na superfície, colocando a responsabilidade de tudo nos outros. 

O nome que se dá a todas essas pegadinhas é "Ego Espiritual".

E o mundo tá cheio deles. 

Pessoas que até têm uma boa intenção de transformação, mas que na maioria das vezes não conseguem reconhecer seus erros, suas falhas e vão colocando as responsabilidades daquilo que não deu certo, no outro. 

Então, é preciso estarmos atentos ao nosso ego espiritual. 

É preciso estarmos atentos a quem somos e o que lá no fundo desejamos. 

É preciso reconhecer que se nos julgamos melhores e/ou mais evoluídos porque não comemos carne, porque produzimos menos lixo, porque andamos de bicicleta ou por qualquer outra coisa, tudo o que não somos é evoluídos. 

Porque seres evoluídos não se comparam e não competem. 

Eles são o que são, sabem disso e não precisam provar pra ninguém. 

E se você descobriu que seu ego espiritual está gritando aí dentro, que bom! 

Fique feliz por estar se tornando consciente dele. 

Porque é só através dessa consciência que podemos melhorar. 

Seja bem-vindo ao mundo dos que são de verdade!!! 

Boas Reflexões meus irmãos. 

(Autor desconhecido)

setembro 04, 2021

DADOS HISTÓRICOS DO GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM


Doutrinariamente, o grau de Companheiro é o mais legítimo grau maçônico, por mostrar o obreiro já totalmente formado e aperfeiçoado, profissionalmente. 

Historicamente, é o grau mais importante da Franco-Maçonaria, pois sempre representou o ápice da escalada profissional, nas confrarias de artesãos ligados à arte de construir, as quais floresceram na Idade Média e viriam a ser conhecidas, nos tempos mais recentes, sob o rótulo de “Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício”. 

Na realidade, antes do século XVIII havia apenas dois graus reconhecidos na Franco-Maçonaria: Aprendiz (Entered Apprentice) e Companheiro (Fellow Craft, ou, simplesmente, Fellow). Na época anterior ao desenvolvimento da Maçonaria dos Aceitos, ou Especulativa (1), o Companheiro era um Aprendiz, que havia servido o tempo necessário como tal e havia sido reconhecido como um oficial, um trabalhador qualificado, autorizado a praticar seu ofício. Na Idade Média, quando as construções em pedra eram comissionadas pela Igreja, ou pelos grandes reis, duques ou lords, a Maçonaria operativa era um lucrativo negócio ; ser reconhecido, portanto, como um Companheiro pelos operários era um passaporte seguro para uma participação no negócio e para uma renda praticamente garantida.

Graças a isso, os mestres da obra eram escolhidos entre os Companheiros mais experientes e com maior capacidade de liderança ; e só exerciam as funções de dirigentes dos trabalhos, daí surgindo o Master da Loja (2), o qual, pelas suas funções e pelo respeito que merecia de seus obreiros, viria a ser o Worshipful Master --- Venerável Mestre --- o máximo dirigente dos trabalhos (3). 

O grau de Mestre Maçom só surgiria em 1723 --- depois da criação, em 1717, da Primeira Grande Loja, em Londres --- e só seria implantado a partir de 1738. Por isso, o grau de Companheiro foi sempre o sustentáculo profissional e doutrinário dos círculos maçônicos, não se justificando a pouca relevância que alguns maçons dão a ele, considerando-o um simples grau intermediário. Autores existem, inclusive, que afirmam que na fase de transição da Maçonaria, ele era o único grau, do qual se destacaram, para baixo, o grau de Aprendiz, e, para cima, o de Mestre. Na realidade, não pode ser considerado um maçom completo aquele que não conhecer, profundamente, o grau de Companheiro.

A palavra Companheiro é de origem latina. 

O seu significado tem provocado controvérsias quanto à sua etimologia, pois alguns autores sustentam que ela seria derivada da preposição cum = com e do verbo ativo e neutro pango (is, panxi, actum, angere) = pregar, cravar, plantar, traçar sobre a cera e --- no sentido figurado --- escrever, compor, celebrar, cantar, prometer, contratar, confirmar. Neste caso, especificamente, pango teria o sentido de contrato, promessa, confirmação, fazendo com que a expressão cum pango --- que teria dado origem à palavra Companheiro --- signifique com contrato , com promessa , envolvendo um solene compromisso, que teria orientado as atividades das companhias religiosas e profissionais da Idade Média e do período renascentista. 

A origem mais aceita, todavia, é outra: o termo Companheiro é derivado da expressão cum panis, onde cum é a preposição com e panis é o substantivo masculino pão, o que lhe dá o significado de participantes do mesmo pão. Isso dá a idéia de uma convivência tão íntima e profunda entre duas ou mais pessoas, aponto destas participarem do mesmo pão, para o seu nutrimento. 

Essa origem, evidentemente, deve ser considerada nos idiomas derivados do latim: compañero (castelhano), compagno (italiano), compagnon (francês), companheiro (português). A Enciclopédia Larousse, editada em Paris, por exemplo, registra o seguinte, em relação aos vocábulos compagnon e compagnonnage: 

Compagnon - n.m. (du lat. cum = avec, et panis = pain) --- Celui que participe à la vie, aux occupations d’un autre: compagnon d’études. Membre d’une association de compagnonnage. Ouvrier. Ouvrier qui travaille pour un entrepreneur (par opos a patron). 

Compagnonnage - n.m. -- Association entre ouvriers d’une même profession à des fins d’instruction professionelle et d’assistence mutuelle. Temps pendant lequel  l’ouvrier sorti d’apprentissage travaillait comme compagnon chez son patron. Qualité de compagnon. 

Ou seja: 

Companheiro - substantivo masculino (do latim cum = com, e panis = pão) ---  Aquele que participa, constantemente, das ocupações do outro: condiscípulo, companheiro de estudos. Membro de uma associação de companheirismo. Operário que trabalha para um empreiteiro. 

Companheirismo - substantivo masculino --- Associação de trabalhadores de uma mesma profissão, para fins de aperfeiçoamento profissional e de assistência mútua. Tempo durante o qual o operário saído do aprendizado trabalhava como companheiro, em casa de seu patrão. Qualidade de companheiro. 

Nos idiomas não latinos, os termos usados têm o mesmo sentido. Em inglês, por exemplo, o Companheiro, como já foi visto, é o Fellow, que significa camarada, par, equivalente, correligionário, membro de uma sociedade, conselho, companhia, etc. . Daí, temos as palavras derivadas, como: fellow laborer = companheiro de trabalho; fellow member = colega; fellow partner = sócio; fellow student = condiscípulo; fellow traveler = companheiro de viagem; e fellowship = companheirismo. 

Não se deve, todavia, confundir o grau de Companheiro Maçom, ou o Companheirismo maçônico com o Compagnonnage --- associações de companheiros --- surgido na Idade Média, em função direta das atividades da Ordem dos Templários, e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria. O Compagnonnage foi criado porque os templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos ; assim organizaram-nos de acordo com a sua própria doutrina, dando-lhes um regulamento, chamado Dever. E esses trabalhadores construíram formidáveis  cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho herdados da Antigüidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto têm maravilhado, esteticamente, a Humanidade. O Compagnonnage, execrado pela Igreja, porque tinha sua origem na Ordem dos Templários, esmagada no início do século XIII, por Filipe, o Belo, com a conivência do papa Clemente V, acabaria sendo condenado pela Sorbonne. Esta, originalmente, era uma Faculdade de Teologia, já que fora fundada em 1257, por Robert de Sorbon, capelão de S. Luís, para tornar acessível o estudo da teologia aos estudantes pobres. E a condenação, datada de 14 de março de 1655, contendo um alerta aos Companheiros das organizações de ofício (os maçons operativos), tinha, em relação às práticas do Compagnonnage, o seguinte texto: 

“Nós, abaixo assinados, Doutores da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris, estimamos: 

1. Que, em tais práticas, existe pecado de sacrilégio, de impureza e de blasfêmia contra os mistérios de nossa religião; 

2. Que o juramento feito, de não revelar essas práticas, mesmo na confissão, não é justo nem legítimo e não os obriga de maneira alguma ; ao contrário, que eles se obrigam a acusar a si mesmos desses pecados e deste juramento na confissão; 

3. Que, no caso do mal estar continuar e não possam eles remediá-lo de outra forma, são obrigados, em consciência, a declarar essas práticas aos juizes eclesiásticos ; e da mesma forma, se for necessário, aos juizes seculares, que tenham meios de dar remédio; 

4. Que os Companheiros que se fazem receber em tal forma assim descrita não podem, sem incorrer em pecado mortal, se servir da palavra de passe que possuem, para se fazer reconhecer Companheiros e praticar os maus costumes desse “Companheirismo”; 

5. Que aqueles que estão nesse Companheirismo não estão em segurança de consciência, enquanto estiverem propensos a continuar essas más práticas, às quais deverão renunciar; 

6. Que os jovens que não estão nesse “Companheirismo”, não podem neles ingressar sem incorrer em pecado mortal. 

Paris, no 14o. dia de março de 1655”. 

Nada a estranhar! Era a época dos tribunais do Santo Ofício, da “Santa” Inquisição. 

Para finalizar, é importante salientar que muitos dos símbolos do grau de Companheiro Maçom --- os quais tanto excitam a mente de ocultistas --- foram a ele acrescentados já na fase da Maçonaria dos Aceitos, pelos adeptos da alquimia oculta, da magia, da cabala, da astrologia e do rosacrucianismo , já que os obreiros medievais, os verdadeiros operários da construção, nunca adotaram tais símbolos, limitando-se às lendas e aos mitos profissionais. Eram, inclusive, adversários das organizações ocultistas, combatidas pela Igreja, à qual eles eram profundamente ligados, pois dela haviam haurido a arte de construir e mereciam toda a proteção que só o clero católico poderia dar, numa época em que o poder maior era o eclesiástico. 

Com o incremento do processo de aceitação, a partir dos primeiros anos do século XVII, as portas das Lojas dos franco-maçons foram sendo abertas não só aos intelectuais e espíritos lúcidos, que foram responsáveis pelo renascimento europeu, mas, também, a todos os agrupamentos místicos e às seitas existentes na época. Isso iria provocar uma verdadeira revolução nas corporações de ofício e iria começar a delinear a ritualística especulativa do grau, baseada em símbolos místicos e nas doutrinas ocultistas, principalmente na Cabala e na Alquimia Oculta

NOTAS 

1. Aceitos eram aqueles elementos não ligados ao ofício, ou à arte de construir, os quais tinham o seu ingresso admitido nas Lojas dos verdadeiros obreiros da construção. O costume de admitir “aceitos” era muito antigo e, praticamente, sempre existiu nas agremiações profissionais, como maneira de distinguir algumas pessoas ; e essa distinção podia ser uma simples honraria, ou, então, motivada por uma questão de sobrevivência e de amparo, através da aceitação de nobres e aristocratas. A prática, todavia, era bastante restrita, e tais aceitos, em número diminuto, não eram mais do que membros honorários das Lojas, não tendo, nelas, qualquer atuação decisiva. Com a decadência das corporações de ofício, estas começaram, de maneira mais evidente e não mais como honraria, a aceitar elementos estranhos ao ofício, para aumentar o enfraquecido contingente dos franco-maçons. O primeiro caso conhecido é o de John Boswell, lord de Aushinleck, aceito na St. Mary’s Chapell Lodge --- Loja da Capela de Santa Maria --- em Edinburgo, Escócia, em 1600. Essa Loja fora criada em 1228, quando da fundação da Fraternidade de Construtores da Capela de Santa Maria, que alguns autores consideram como núcleo original do Rito Escocês, o que não parece viável. Durante todo o século XVII, o processo iria se acentuar a ponto de, no seu final, o elemento aceito superar, amplamente, o operativo, o que iria levar, em 1717, à fundação da Premier Grand Lodge, em Londres, a qual serve como marco --- um “divisor de águas”--- entre a Maçonaria operativa e a moderna Maçonaria dos Aceitos. 

2. As Lojas dos operativos eram formadas para proceder à construção de obras de arte, obras públicas, ou templos católicos (é o caso, por exemplo da já citada Loja da Capela de Santa Maria). Concluída a obra, a Loja continuava, pois, em construções com a envergadura daquelas, incluindo as imensas e trabalhadas catedrais góticas, havia a necessidade de constante manutenção e eventuais reparos. 

3. O título de Mestre da Loja, ou Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Oficina maçônica, tem sua origem na Inglaterra, nos meados do século XVII, quando já ia avançada a paulatina transformação da Maçonaria de ofício em Maçonaria dos aceitos. Derivado da palavra inglesa worship, que significa adoração, culto, reverência --- como forma de tratamento --- quando usada como substantivo, e venerar, adorar, idolatrar, quando usada como verbo transitivo, tem-se o termo worshipful , que significa adorador, reverente, ou venerável  (neste último caso, como forma de tratamento). Assim, o presidente da Loja tinha o título de Master (Mestre), ao qual se adicionou, posteriormente, o tratamento reverente de worshipful  (venerável) --- pois, no início, o termo venerável era aplicado apenas às corporações de artesãos --- o que produziu a expressão worshipful master  (venerável mestre). A expressão, todavia, não é muito utilizada nos países de fala inglesa, onde se prefere, simplesmente, Master, dando-se o título de Past-master ao ex-Venerável Mestre. Nas Obediências latinas, ao contrário, é quase abolido o termo Mestre, já que as referências ao presidente da Loja limitam-se, quase sempre, a um simples Venerável, o que é altamente incorreto, pois este vocábulo, no caso, é um adjetivo, que não pode ser usado sem o substantivo Mestre.

SABEDORIA, FORÇA E BELEZA - Leonardo Redaelli




Em hebraico e no judaísmo, um conceito muito importante.

De acordo com a tradição judaica, a alma é tripla, como os 3 pilares em nossas Lojas e a chama de uma vela, notamos:

FORÇA :

1 - A pequena chama negra ou negra, presa ao pavio e que se alimenta do corpo, a substância material da vela (nun, phé, shin) o NEPHESH , ou seja, a alma animal, princípio da vida .

BELEZA:

2 - a luz visível e branca da chama, que é emitida pela chama negra, a base de sua existência, (substantivo, shin, mem, héh) o NESHAMAH , ou seja, a alma da respiração, da respiração.

SABEDORIA :

3 - luz invisível, calor, que só pode ser tangível capturando sua propagação, por exemplo, colocando a mão acima e à distância da chama.

A radiação de luz e calor invisíveis torna-se então tangível, é o ROUAKH (resh, vav, kheth), parte da alma, centelha que é o reflexo, a sombra de ELOHIM (D ...) e que é feita dela, Nela Imagem, o TSELEM ( tsadik , lamed, mem), uma palavra hebraica usada em Gen. I: 27 e erroneamente traduzido como "Imagem" em vez de Sombra ou melhor , Silhueta, ou seja, a parte da alma que pode, se quisermos, comunicar-se, em ambas as direções, com o Divino, com o nosso próximo, com a natureza, etc.

Sede de sentimentos, amor, pensamento, desejo e vontade.

NB: 1 \ Segundo a tradição judaica, o homem ganha vida no momento de sua concepção, no momento do encontro do espermatozóide com o óvulo; mas sua alma tríplice é recebida em seu nascimento.

É oferecido a ele por ordem de Gadlu, por seu anjo da guarda, que o acompanhará por toda a vida, colocando um dedo de fogo em seus lábios, com a injunção de esquecer tudo o que ele teria aprendido em sua vida.

A cicatriz, lembrança daquele dedo de fogo em nossos lábios, está aí, veja, embaixo do nosso nariz!

       2 \ Outra tradição nos ensina que recebemos uma alma adicional

(Neshama Yetérah) na noite de sexta-feira, véspera do Shabat, até o seu final, no sábado à noite, se essas 25 horas forem dedicadas ao dia do Senhor.

É em homenagem a essa segunda alma adicional que a anfitriã judia acende uma segunda vela antes do pôr do sol na noite de sexta-feira.


setembro 03, 2021

MARTINHO LUTERO



Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Foi criado em Mans feld. Na sua fase estudantil, foi enviado às escolas de latim de Magdeburg (1497) e Eisenach (1498-1501). Ingressou na Universidade de Erfurt, onde obteve o grau de bacharel em artes (1502) e de mestre em artes (1505).

Seu pai, um aldeão bem sucedido pertencente a classe média, queria que fosse advogado. Tendo iniciado seus estudos, abruptamente, os interrompeu entrando no claustro dos eremitas agostinianos em Erfurt. É um fato estranho na sua vida, segundo seus biógrafos. Alguns historiadores dizem que este fato aconteceu devido a um susto que teve quando caminhava de Mansfeld para Erfurt. Em meio a uma tempestade, quase foi atingido por um raio. Foi derrubado por terra e em seu pavor, gritava "Ajuda-me Santa Ana! Eu serei um monge!". Foi consagrado padre em 1507.

Entre 1508 e 1512, fez preleções de filosofia na Universidade de Wurtenberg, onde também ensinou as Escrituras, especializando-se nas Sentenças de Pedro Lombardo. Em 1512 formou-se Doutor em Teologia.

Fazia conferências sobre Bíblia, especializando-se em Romanos, Gálatas e Hebreus. Foi durante este período que a teologia paulina o influenciou, percebendo os erros que a Igreja Romana ensinava, à luz dos documentos fundamentais do cristianismo primitivo.

Lutero era homem de envergadura intelectual e habilidades pessoais. Em 1515, foi nomeado vigário, responsável por onze mosteiros. Viu-se envolvido em controvérsias com respeito a venda de indulgências.

Suas Lutas Pessoais

Lutero estava galgando os escalões da Igreja Romana e estava muito envolvido em seus aspectos intelectuais e funcionais. Por outro lado, também estava envolvido em questões pessoais quanto à salvação pessoal. Sua vida monástica e intelectual não forneciam resposta aos seus anseios interiores, às suas aflitivas indagações.

Seus estudos paulinos deixaram-no mais agitado e inseguro, particularmente diante da afirmação "o justo viverá pela fé", Romanos 1:17. Percebia ele que a Lei e o cumprimento das normas monásticas, serviam tão-somente para condenar e humilhar o homem, e que nesta direção não se pode esperar qualquer ajuda no tocante à salvação da alma.

Martinho Lutero, estava trabalhando em "repensar o evangelho". Sendo monge agostiniano, fortemente influenciado pela teologia desta ordem monástica paulina quanto aos seus pontos de vista, Lutero estava chegando a uma nova fé, que enfatizava a graça de Deus e a justificação pela fé.

Esta nova fé tornou-se o ponto fundamental de sua preleções. No seu desenvolvimento começou a criticar o domínio da filosofia tomista sobre a teologia romana. Ele estudava os escritos de Agostinho, Anselmo e Bernardo de Claraval, descobrindo nestes, a fé que começava a proclamar. Staupitz, orientou-o para que estudasse os místicos, em cujos escritos se consolou.

Em 1516, publicou o devocionário de um místico desconhecido, "Theologia Deutsch". Tornou-se pároco da igreja de Wittenberg, e tornou-se um pregador popular, proclamando a sua nova fé. Opunha-se a venda de indulgências comandada por João Tetzel.

As Noventa e Cinco Teses

Inspirado por vários motivos, particularmente a venda de indulgências, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg, sua teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.

João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído do Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.

Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.

Reação Papal

A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, e seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a retratar-se de suas idéias, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519.

A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos, dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor.

Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.

Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que ameaçava Lutero de ser excomungado, a menos que se retratasse publicamente. Lutero queimou a bula em praça pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública.

Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Recusou-se a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém". Respondendo a Dieta em 25 de maio de 1521, formalizou a excomunhão de Martinho Lutero, e a Reforma nascente também foi condenada.

Influência Política e Social

Por medidas de precaução, Lutero este recluso no castelo de Frederico, o Sábio, cerca de 10 meses. Teve tempo de trabalhar na tradução do Novo Testamento para a língua alemã. Esta tradução foi publicada em 1532. Com a ajuda de Melancton e outros, a Bíblia inteira foi traduzida, e, então, foi publicada em 1532. Finalmente, essa tradução unificou os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.

Tem-se dito que Lutero foi o verdadeiro líder da Alemanha, de 1521 até 1525. Houve a Guerra dos Aldeões em 1525, das classes pobres contra os seus líderes. Lutero tentou estancar o derramamento de sangue, mas, quando os aldeões se recusaram a ouvi-lo, ele apelou para os príncipes a fim de restabelecerem a paz e a ordem.

Fato notável foi o casamento de Lutero, com Catarina von Bora, filha de família nobre, ex-freira cisterciana. Tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Houve controvérsia entre Lutero e Erasmo de Roterdã, que nunca deixou a Igreja Romana, por causa do livre-arbítrio defendido por este. Apesar de admitir que o livre-arbítrio é uma realidade quanto a coisas triviais, Lutero negava que fosse eficaz no tocante à salvação da alma.

MÃOS JUNTAS - Heitor Rodrigues Freire



Heitor Rodrigues Freire,  corretor de imóveis e advogado é Past GM da GLEMS e presidente da Santa Casa de Campo Grande, MS.


Os últimos acontecimentos que sacudiram o mundo tiveram um saldo positivo, no sentido de ter provocado o despertar do ser humano. A espiritualidade está se manifestando em tudo e em todos. A religiosidade sincera e verdadeira tem estado presente.

Sinto que desde que o ser humano existe, ele naturalmente junta as mãos quando se dirige a algo superior. Parece ser ao mesmo tempo instintivo e intuitivo.

Agora, a ciência comprova a eficácia desse ato, comprovando o que naturalmente cada um já sabia empiricamente. O gesto significa conexão com Deus.

As mãos juntas representam igualdade e reconhecimento da divindade do outro. Estimulam e motivam a meditação, proporcionando reverência e respeito, tranquilidade e paz interior.

É um hábito que remonta aos tempos mais antigos. Desde as práticas judaicas, dos ensinamentos hindus, do yoga e do budismo. Jesus ensinava aos seus discípulos que ao adentrar uma casa, unissem as mãos, dizendo: “Paz a esta casa e a todos os que aqui estão”. 

As mãos juntas têm um simbolismo muito poderoso na história da humanidade, independentemente de crença ou religião.

Agora, Thaís Faria Coelho, uma neurocientista brasileira, com mais de 20 anos de experiência, divulga por meio do instituto que leva seu nome uma série de ensinamentos que comprovam o significado das mãos juntas. Recentemente, em um video no seu canal no Youtube, ela contou que a ciência confirma a eficácia dessa atitude, dizendo que ao juntar as mãos, as pessoas acionam os lobos temporais no cérebro, fazendo uma conexão com Deus. Os cientistas deram a essa região do cérebro o nome de “ponto de Deus”.

Esse fato está chamando a atenção de todos, porque confirma o que a religião já pregava sem evidência científica, baseada na intuição, mas que na realidade é verdadeira.

A pandemia, que tanto espanto continua causando em todo o mundo, nos colocou frente a frente com a morte. Morte, que na realidade é uma consequência natural da vida.  Todos os dias morre gente em todo o mundo, pelos mais variados motivos. Assim como, diariamente, nasce gente em todo o mundo. Uns chegam. Outros partem de volta para a pátria espiritual, onde daremos continuidade aos nossos trabalhos.

 A transformação que esse entendimento proporciona não pode ser descrita por palavras, pois implica na vivência dessa experiência salutar e libertadora. A situação natural irá provocar, penso eu, o despertar que conduzirá cada um a trilhar o seu caminho individual, a pensar por si mesmo, porque ocupará toda a sua alma, desimpedida e sem a distração de pensamentos secundários, sem ser corrompida por artifícios retóricos.

E assim, de mãos juntas, vamos agradecer a Deus e conectar-nos com Ele.


setembro 02, 2021

APENAS MESTRES - Roberto Ribeiro Reis



Roberto Ribeiro Reis, intelectual e poeta é membro da ARLS Esperança e União de Rio Casca, MG


ᴍɪɴʜᴀ sᴀᴜᴅᴏsᴀ ɪɴɪᴄɪᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ

ᴛᴇᴠᴇ ᴜᴍ ϙᴜᴇ̂ ᴅᴇ ᴇᴍᴏᴄ̧ᴀ̃ᴏ, 

ғᴜʟɢᴜʀᴏsᴀ ᴇ ʀᴇʟᴜᴢᴇɴᴛᴇ ᴄᴇɴᴛᴇʟʜᴀ;

sᴏᴜ ᴀᴘʀᴇɴᴅɪᴢ ᴅᴇ ᴇɴᴛᴜsɪᴀsᴍᴏ,

ᴇ ᴏ ᴛʀɪsᴛᴇ ᴀʙɪsᴍᴏ ᴅᴏ ᴍᴀʀᴀsᴍᴏ

ᴀ ᴍɪᴍ ᴊᴀ́ ɴᴀ̃ᴏ ᴍᴀɪs sᴇ ᴇsᴘᴇʟʜᴀ.


ᴠᴇɴᴇʀᴀ́ᴠᴇʟ ᴘᴏᴛᴇsᴛᴀᴅᴇ

ϙᴜᴇʀ ᴀᴜᴍᴇɴᴛᴀʀ-ᴍᴇ ᴀ ɪᴅᴀᴅᴇ

ᴇ ғᴏʀᴛᴀʟᴇᴄᴇʀ ɴᴏssᴀ ᴜɴɪᴀ̃ᴏ;

ᴠᴇᴊᴏ ϙᴜᴇ ᴇssᴀ sᴜᴍɪᴅᴀᴅᴇ

ᴇ ᴛᴏᴅᴏs ᴏʙʀᴇɪʀᴏs, ɴᴀ ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇ,

ᴀᴄᴏᴍᴘᴀɴʜᴀᴍ-ᴍᴇ ᴀ ᴇʟᴇᴠᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ. 


ᴜᴍ ᴏғɪ́ᴄɪᴏ ᴀʟᴛᴀɴᴇɪʀᴏ

ϙᴜᴇʀ ᴘʀᴏɢʀᴇᴅɪʀ ᴜᴍ ᴄᴏᴍᴘᴀɴʜᴇɪʀᴏ, 

ɴᴜᴍᴀ ᴍɪssᴀ̃ᴏ ɴᴀᴅᴀ ᴛᴇʀʀᴇsᴛʀᴇ;

ᴘᴇᴅʀᴇɪʀᴏs ᴅᴇ-ᴅᴇ́ᴜ-ᴇᴍ-ᴅᴇ́ᴜ,

ᴀsᴄᴇɴᴅᴇᴍ ᴀᴛᴇ́ ᴏ ᴄᴇ́ᴜ,

ᴘᴀʀᴀ ᴍᴇ ᴇxᴀʟᴛᴀʀᴇᴍ ᴀ ᴍᴇsᴛʀᴇ.


ᴇʟᴇs ᴛᴇ̂ᴍ ʜɪsᴛᴏ́ʀɪᴀs ɪɴᴄʀɪ́ᴠᴇɪs, 

ᴀ ɴᴏ́s ɴᴏs sᴀ̃ᴏ ʙᴇᴍ ᴀᴄᴇssɪ́ᴠᴇɪs, 

ᴏ ϙᴜᴇ ɴᴀ̃ᴏ ᴇ́ ᴍᴏᴛɪᴠᴏ ᴅᴇ ᴇsᴛʀᴀɴʜᴇᴢᴀ;

sᴀ̃ᴏ ᴅᴇ ᴇʟᴇɢᴀɴᴛᴇ ᴛʀᴀᴛᴏ ᴇ ғɪᴅᴀʟɢᴜɪᴀ, 

ɪᴍᴘʀᴇssɪᴏɴᴀɴᴛᴇ ʟʜᴇs ᴇ́ ᴀ ʟɪᴛᴜʀɢɪᴀ,

ϙᴜᴇ ᴇsʙᴀɴᴊᴀ ɪɴᴛᴇʟᴇᴄᴛᴏ ᴇ ʙᴇʟᴇᴢᴀ.


ᴍᴇsᴛʀᴇs ᴀssɪᴍ ᴛᴀ̃ᴏ ᴇsᴘᴏɴᴛᴀ̂ɴᴇᴏs,

ᴇᴛᴇʀɴᴏs ᴇ ᴊᴀᴍᴀɪs ᴍᴏᴍᴇɴᴛᴀ̂ɴᴇᴏs,

sᴀ̃ᴏ ᴘᴜʀᴀ ᴀᴛᴇɴᴄ̧ᴀ̃ᴏ ᴇ ᴍᴀɢɪᴀ;

ᴇɴsɪɴᴀᴍ ᴏ ϙᴜᴇ ᴇ́ ᴀ ᴠɪᴅᴀ ᴇ ᴀ ᴍᴏʀᴛᴇ,

ᴇ ᴘᴇᴅᴇᴍ ᴘᴀʀᴀ ϙᴜᴇ ᴇᴜ ᴇxᴏʀᴛᴇ

ᴀ ᴇxɪsᴛᴇ̂ɴᴄɪᴀ ᴇᴍ ғᴏʀᴍᴀ ᴅᴇ ᴀʟᴇɢʀɪᴀ.




"MAÇONS ACEITOS" - (Pedreiros Livres) - Newton Agrella




Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante, um dos mais renomados intelectuais da maçonaria.

A expressão que ganhou consistência e identificação, conforme o processo de transição que a Maçonaria sofreu a partir do final do século XVII e notadamente no século XVIII - no chamado período Iluminista, foi a de "Maçom Aceito".  

Esta expressão caracterizava o âmbito da Ordem que moldava sua natureza, ganhando um perfil sobretudo filosófico e especulativo e não mais puramente operativo, como de sua origem.

A Maçonaria Operativa começou a viver seu declínio quando já não havia tantas catedrais e templos a serem construídos, além do monopólio das Guildas ou Corporações de Ofício que dominavam essa atividade.

O comportamento dentro da Ordem Maçônica sofre mudanças, e aqueles que não eram construtores começam a ser "aceitos" na Maçonaria.

O termo "Aceito", passa a ser utilizado de maneira recorrente, vez que novos adeptos da Sublime Ordem,  tais como: pensadores, filósofos, literatas, artistas, cientistas e intelectuais , passaram a dedicar à Maçonaria a prática da justica, da humanidade, da ética e da moral, e  exaltavam antes de mais nada, o exercício da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.

Os "Aceitos" , cuja essência se traduz nos nossos dias, buscavam o desenvolvimento espiritual e intelectual. 

Foi com esse ideal, que os Aceitos, trouxeram para a Ordem o estudo aprofundado da Simbologia, como forma de transmissão do conhecimento, na busca pelo aprimoramento interior do homem.

Com o advento dos Aceitos, a Ordem Maçônica ganhou requintes mais elaborados na sua estrutura, e no seu conceptismo iniciático,  conferindo-lhe assim finalidades filantrópicas, filosóficas, educacionais, progressistas e evolucionistas.

A relevância e a contribuição que os chamados Maçons Aceitos deram à Maçonaria, fez com que sua perenidade se mantivesse até os nossos dias, inobstante as incontáveis agruras, adversidades e perseguições, que a Ordem sofreu e ainda sofre ao longo de sua História.

Se durante muito tempo, até por volta do ano 1600, a Maçonaria se revestia de um aspecto sobejamente Católico, foi com os Aceitos e o caráter especulativo que se acentuava, através de seus novos membros, que a Ordem passou a valorizar o "Livre Pensador", abrindo assim o direito de praticar sua fé, a liberdade de seguir qualquer religião, sem impor dogmas, mas apenas e tão somente respeitar como um postulado filosófico a crença num Princípio Criador e Incriado do Universo - como referência para a existência de todas as coisas e inclusive de nós mesmos.  

A adoção da expressão Grande Arquiteto do Universo, ou qualquer outra semelhante, utilizada pela Maçonaria, seja na língua que for, obedece basicamente a relação semântica do sentido que a palavra ou a mensagem enunciam. 



setembro 01, 2021

MAÇONARIA & FÉ - Kennyo Ismail


Kennyo Ismail é professor universitário, tradudor, escritor e um dos mais destacados intelectuais maçonicos do Brasil.


A Maçonaria tem como princípio a crença num Ser Supremo, ao qual denominamos “Grande Arquiteto do Universo”. Mas qual seria esse Deus da Maçonaria, o GADU? Afinal de contas, existem tantos deuses, com tantos diferentes nomes e tantas diferentes qualidades! Qual seria o verdadeiro?

Se a Maçonaria aceita e possui membros de qualquer religião, qual o Deus presente no Altar Maçônico? Ou se trata de um Deus específico, o Deus da Maçonaria, e todos ali estão renegando seus próprios deuses? Seria então a Maçonaria uma religião? Isso seria um prato cheio para os fanáticos de plantão!

Quando vários maçons estão presentes diante do Altar de um Templo Maçônico, onde se vê o Livro Sagrado de uma ou mais religiões, além do Esquadro e do Compasso, eles realizam uma breve oração. Ali estão católicos, protestantes, muçulmanos, espíritas, budistas, judeus, etc. Eles estão um do lado do outro, como irmãos. E ali, diante do Altar da Maçonaria, só há duas opções de entendimento ao Irmão: ou “eu estou orando para o Deus verdadeiro, e aqueles irmãos que professam outras crenças estão orando para falsos deuses”; ou “nós estamos todos orando para o mesmo Deus, o Criador do Universo, visto de forma diferente conforme as peculiaridades da religião e crença de cada um”.

É evidente que o entendimento do verdadeiro maçom é a segunda opção. Ora, se você chama o maçom que está ao seu lado de “Irmão”, isso significa que você acredita que ambos nasceram do mesmo Pai, foram feitos pelo mesmo Criador, independente da fé professada.

O GADU pode ser chamado de vários nomes e títulos, conforme culturas, épocas, povos, religiões: Deus, Pai Celestial, Mestre Maior, Senhor do Universo, Alá, Jeová, Adonai, Zeus, Senhor, El Shadday, Oxalá, Brahma, Rá, etc. Até mesmo nos sistemas politeístas, sempre houve e há um Ser Supremo, mais antigo, criador dos demais.

Da mesma forma, o GADU pode ser visto de diversas formas, também conforme as mesmas variáveis: Vingativo, Clemente, Misericordioso, Justo, Soberano, Sustentador, Providenciador, Organizador, Verdadeiro, Benevolente, etc.

Os homens deram nomes ao GADU conforme suas línguas e culturas. Eles apontaram qualidades ao GADU conforme as histórias de seus povos e a pregação de seus profetas. O único ponto comum em todas as religiões é esse: a existência de um Ser Supremo, Criador do Universo. Se as diferenças na fé sempre foram combustíveis para preconceitos, tirania, atritos e guerras, então apenas o comum pode servir para unir os homens como irmãos.

Maçonaria é isso: ciente da dualidade das forças e respeitando as diferenças, investe no que há de igual nos homens de bem em busca da felicidade da humanidade.


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A ESCÓCIA E AS PRIMEIRAS SUPERSTIÇÕES SOBRE A MAÇONARIA - Luis Felipe Moura






INTRODUÇÃO

Quando revelei a um amigo que estava para ingressar na Maçonaria, ele – que não era uma pessoa religiosa (muito menos um fanático) – me disse: “Tome cuidado, ouvi dizer que te penduram de cabeça para baixo e queimam os seus pés com brasa quente!”

Costuma-se associar, com toda razão, esse tipo de crendice em grande parte aos opositores da Maçonaria que, por razões políticas, desejaram persegui-la ao longo dos séculos, bem como a charlatães do passado, como Léo Taxil, ou mais modernos, como Tio Chico.

Porém, as primeiras superstições associadas à Maçonaria Especulativa são tão antigas quanto ela própria e podem ter tido origem em algo muito mais trivial.

A Maçonaria Especulativa teve sua origem nos idos do século 16. Nessa época, a Igreja e outros grupos não estavam muito preocupados com a abrangência da mesma, pois ainda não tinha atingido poder político a ponto de gerar profundos incômodos.

Sobre isso, o historiador David Stevenson afirma: “A ideia de que a Igreja da Escócia estava pronta a aceitar a existência de lojas, e os rituais dentro delas, desde que não fossem rituais religiosos, explicariam muito bem o que seria uma surpreendente falta de preocupação (com algumas exceções) na Igreja acerca das lojas. A Igreja não tinha necessidade de perseguir as lojas porque sabia que elas não eram uma ameaça para a sua autoridade religiosa exclusiva.”

A PALAVRA DO MAÇOM

Quanto à Maçonaria Operativa, pode-se considerar que uma pessoa se tornou um Aprendiz Maçom quando começou literalmente a aprender a manejar os instrumentos do ofício de pedreiro da pedra livre (Firestone mason). Certamente que esse seria considerado o ponto focal.

Já na Maçonaria Especulativa, o Aprendiz não mais aprenderia literalmente o manejo das ferramentas. Com o passar do tempo, evidentemente, esse aprendizado foi sendo substituído por ferramentas abstratas, de cunho moral e filosófico.

Mas, se ele não sabia literalmente lapidar uma pedra livre, qual era o conhecimento principal que lhe era ensinado? Stevenson esclarece:

“No centro das atividades esotéricas descritas nos catecismos estava a Palavra do Maçom e foi através do falar sobre ela que os profanos primeiro aprenderam que os maçons tinham segredos.”

(Observação: O sentido aqui empregado do termo “esotérico” é algo restrito a um grupo interno de pessoas; não algo de cunho ocultista.)

Trocando em miúdos: O Aprendiz recebia a Palavra do Maçom, que era uma das formas através das quais ele poderia se comunicar com outras pessoas, identificando-se como maçom.

(Embora isso tenha mudado com os séculos e já não seja mais nenhum segredo, nem seja a forma como confirmamos hoje que alguém seja maçom, o autor deste material, por zelo quanto ao seu juramento, se absterá de dar detalhes sobre o processo.)

O problema: Essa prática da “Palavra do Maçom” foi terrivelmente mal compreendida por profanos.

A mente humana é extremamente hábil em imaginar. Desde quando somos pequenos e vemos nossos pais fechar a porta do quarto para discutir, criamos uma ideia de que se uma porta está fechada, então existe algo terrível acontecendo ali, tão horrendo que não pode ser revelado publicamente. Assim sendo, é claro que uma sociedade que se reúne a portas fechadas acabaria vítima da criatividade da imaginação alheia. Na realidade, seres humanos trabalham a portas fechadas o tempo todo. Empresas fazem reuniões fechadas; igrejas fazem assembleias só entre a liderança; etc.

UM PODER SOBRENATURAL

Quando, portanto, os profanos tomaram conhecimento de que, através da “Palavra do Maçom”, os maçons poderiam se reconhecer mutuamente, mesmo sem nunca terem se conhecido, logo imaginaram que se tratava de algum tipo de bruxaria ou encantamento. Afinal, vários feitiços e afins utilizam palavras mágicas para serem realizados.

Isso pode parecer absurdo e pueril ao leitor, mas realmente aconteceu. Em 1653, debochando de tais crendices, Sir Thomas Urquhart de Cromarty afirmou:

“Por ser capaz, por intermédio da Palavra do Maçom, de detectar um maçom, a quem ele nunca viu antes, sem falar, ou sem sinal aparente, vir e cumprimentá-lo reputado, por muitos da mesma estirpe, como tendo tido um espírito familiar, sua grosseira ignorância os impelindo, a chamar isso de sobrenatural, ou acima do alcance natural de um mero homem, porque eles não sabem a causa disso.”

Urquhart, portanto, descreve que pessoas achavam que alguém que usava a Palavra do Maçom estava possuído, ou trabalhando com algum tipo de espírito que lhes dava a possibilidade de ver, até mesmo à distância, se o outro era também um maçom.

O mesmo tipo de pensamento aparece em um poema publicado em Edimburgo, em 1638, denominado “The muses threnodie, or, mirthfull mournings on the death of Master Gall”, que afirma:

“Pois somos irmãos da Rosa Cruz;

Temos a Palavra do Maçom e a clarividência,

Coisas vindouras podemos prever corretamente.”

Esse poema foi escrito por Henry Adamson, que morrera um ano antes da publicação. Adamson era um assistente de um ministro de uma paróquia local.

Como se pode perceber, o autor alude a uma ideia de que, através da Palavra do Maçom, seria possível prever o futuro. Em outras palavras, revela uma crença de que a Palavra do Maçom pudesse ter algum tipo de poder oculto.

Não é difícil perceber de onde ele tirou essa ideia: Através da Palavra do Maçom, era possível identificar outro maçom, isto é, ver aquilo que era invisível para outras pessoas. Basta um pouco de criatividade para transformar isso em alguma espécie de clarividência.

CONCLUSÃO

A Maçonaria Especulativa muito provavelmente surgiu no final do século 16. Nessa época, a Igreja não estava muito interessada na Maçonaria, pois a mesma não tinha conotação religiosa nem tampouco havia ainda desenvolvido qualquer grande poder político.

Como foi demonstrado, pouquíssimo tempo depois, no início do século seguinte, já havia documentos mostrando crendices e receios populares que derivam não de um desejo por parte de opositores de demonizar a Maçonaria, mas sim do entendimento equivocado da população com relação às práticas maçônicas.

Claro, certamente isso viria mais tarde a ser explorado e fomentado por aqueles que visavam combater a Maçonaria, bem como por aproveitadores e até mesmo por pessoas que tentaram (ou ainda tentam), de fato, transformar a Maçonaria em uma sociedade ocultista.

BIBLIOGRAFIA

NEWMAN, A. N. A Reference to the “Mason Word” in 1653. ARS Quatuor Coronatum. Londres, no. 80, 1967.

STEVENSON, David. The Origins of Freemasonry: Scotland’s century, 1590-1710. Nova Iorque: Cambridge University Press, 1998.

Sobre o Autor

Luis Felipe Moura é M∴ M∴, membro da ARLS Conde de Grasse-Tilly nº301 (Grande Oriente Paulista/COMAB). É bacharel em Letras (inglês), mestre em Teologia e em Psicanálise, atualmente trabalha como psicanalista e professor de Bíblia Hebraica.

agosto 31, 2021

HISTÓRIA DE UMA BEBIDA - A CERVEJA



Muita gente imagina, com comovente candura, que a cerveja ou "cervoise" foi fruto da imaginação dos nossos antepassados, os gauleses, em oposição ao sumo da vinha dos romanos. Correndo o risco de desapontá-lo, a sua origem, muito mais antiga, remonta à antiguidade, há cerca de 8.000 anos.

É na Mesopotâmia, entre o Tigre e o Eufrates, no reino da Suméria, que a preciosa bebida nasce e cresce. Civilização e cerveja têm um ponto em comum: ambas vêm do gênio do homem, e gênio, os sumérios não faltam.

Eles nos legaram, entre outras coisas, a escrita, o sistema sexagesimal baseado na divisão do tempo em horas, minutos e segundos, o princípio da divisão da abóbada celeste em 12 signos zodiacais, o primeiro conhecimento astronômico, ... Podemos facilmente entender que depois de tudo isso, sentiram a necessidade de relaxar com um "pouquinho de espuma"!

Desde o seu surgimento, a cerveja, então chamada de " sikaru ", cuja tradução literal é pão líquido , é associada a ritos religiosos e usada como bebida em oferendas aos deuses.

A cervejaria suméria germina espelta e cevada e, portanto, produz malte. Ele o transforma em bolos de cerveja claros ou tostados, dependendo da cor desejada para a bebida. Esses pães são então esmigalhados e diluídos para fazer a fermentação necessária à produção do álcool . Chegando da Babilônia , o   famoso " sikaru " "  zythum  " é muito popular entre os egípcios. Dotados das abundantes matérias-primas que são a água e os cereais, é bastante lógico que os egípcios começaram a fabricar cerveja. Heródoto escreverá sobre este assunto "como o suco da videira faltando em seu país, os egípcios faziam vinho com cevada".

Nos estágios de germinação, queima (isto é, aquecimento da mistura) e fermentação , é adicionado o tempero com canela , mel ou quaisquer outras especiarias .

Como entre os sumérios, a cerveja continua ligada ao sagrado. Nenhum egípcio, mesmo o mais humilde, sai deste mundo sem levar para o túmulo a cerveja, símbolo da eternidade. Segundo a lenda, a fabricação de cerveja era ensinada por Osíris , deus da vegetação renascida, e gozava da proteção de Ísis , a deusa da fertilidade agrária. Ramsés II , apelidado de faraó cervejeiro, contribuirá para o estabelecimento sustentável da cerveja e para a sustentabilidade das primeiras cervejarias.

A cerveja se infiltrou rapidamente na região mediterrânea durante o primeiro milênio aC. Traços dela podem ser encontrados na Grécia , na Península Ibérica, no sul da Gália e em todo o Império Romano . A cerveja é então produzida em um caldeirão de cobre, símbolo da vida, abundância, símbolo mágico.

A cervoise gaulesa, mais alcoólica do que a cerveja atual, era então a mais famosa da Europa. Cerveja e pão são irmãos. O pão gaulês também goza de grande reputação por sua leveza, conferida pela adição de fermento de cerveja à sua massa. O boom da cerveja atingiu seu auge com o imperador romano Domiciano que, após uma fome, ordenou “ que em qualquer terra capaz de produzir cereais, o cultivo de videiras deveria ser proibido  ”. Daí devem, sem dúvida, datar os primórdios da velha contenda entre amadores de cerveja e amadores de vinho…

Porque em geral os romanos preferem o vinho , bebida nobre por excelência, cultivável em todo o império, à excepção de alguns países. , menos ensolarado e menos propício ao cultivo devinha .

Grande senhor da guerra, o imperador César difundiu o cultivo da videira ao mesmo tempo que suas legiões. Mas o augusto Caio Júlio César tem uma deficiência terrível, pois para um patrício romano, ele não pode suportar o vinho cuja amargura lhe queima o estômago. Também como muitos de seus legionários, ele sucumbe à tentação da cerveja. Esses mesmos legionários que, chamando o substantivo cervoise “BERE” do verbo latino BIBERE (beber), estão na origem da palavra cerveja. Por fim, e para encerrar o capítulo romano, recordo a frase que César lançou depois de ter derrotado Vercingetórix em Alésia (citação que aliás foi distorcida ao longo dos séculos): "  VINI, BIBI, VICI ", vim, bebi, venci  .

Por volta do século 5, o Império Romano começou a desmoronar sob os repetidos ataques dos alemães. Graças às suas muitas expedições, os povos do norte da Europa descobriram a cerveja. A bebida divina não encontra resistência da videira e se estabelece de forma duradoura em latitudes com chuvas ideais para o cultivo da cevada.

Como eu disse, a cerveja naquela época tinha um grau de álcool muito maior do que a que conhecemos hoje. É por isso que a Igreja se preocupa em ver seu rebanho se entregar ao consumo excessivo desta bebida, durante as festas pagãs, além disso, irá recuperar a fabricação de cerveja, confiando-a aos monges.

Você também notará a surpreendente profusão de marcas de cerveja com nomes de santos ou nomes diabólicos, o que ressalta o caráter ambivalente da cerveja: delirium tremens, morte súbita, o fruto proibido, o judas, o santo Bernardus, São Benedito, Val Dieu ... Estamos permanentemente nas fronteiras do divino e do satânico. O vidro, o bock, também significa em alemão "a cabra".

Todas as abadias da Idade Média têm uma cervejaria que lhes fornece uma renda substancial. Aos poucos, vão se proliferando decretos para regular o comércio dessa bebida, que vai esperar até o século XV para se tornar mais ou menos a que conhecemos hoje.

Com a introdução da flor de lúpulo, cujas propriedades desinfetantes foram descobertas, ela se tornou mais digerível e perfumada.

Cerveja universal do prazer 

Os ingredientes principais, água, cevada e espelta, fazem deste pão líquido uma bebida universal.

Em todo lugar do planeta onde o cultivo de cereais é possível, existe cerveja, e isso desde os tempos mais remotos. Não há necessidade, como acontece com o vinho, de terrenos ensolarados e de condições climáticas muito especiais.

Os chineses, no século III aC, produzirão cerveja de maneira semelhante à dos egípcios na mesma época. Em todas as latitudes, em todos os continentes e até mesmo nos navios dos vikings durante suas expedições, a cerveja pode ser fabricada.

Prová-lo é um prazer que realça todos os sentidos: além da língua, o nariz, os olhos e até as orelhas estão na festa quando se ouve o farfalhar suave da espuma:

Falamos de “renda” de cerveja a definir os traços de espuma deixados nas laterais do vidro. Essa espuma também é chamada de "flor" da cerveja. No aspecto visual, falamos de “vestido”, no domínio olfativo de “nariz” ou de “bouquet”, e no aspecto gustativo de “boca”, termos comuns à cerveja e ao vinho. Todo esse vocabulário lembra o do Amor. Provar uma cerveja é realmente um ato de amor. O melhor está de fato pendente, e não o fazemos com pressa:

“Começa muito antes da garganta. Nos lábios já este ouro cintilante, frescura amplificada pela espuma, depois aos poucos no paladar peneirou a felicidade da amargura ... (...) ... a enganosa sensação de um prazer que se abre ao infinito ... » diz Philipe DELERM .

Um prazer que se abre ao infinito. Em seguida, uma leve amargura. Uma amargura, com cada gole mais presente à medida que o prazer vai desaparecendo. Uma amargura semelhante à que senti durante a cerimônia de corte no dia da minha iniciação. Uma amargura que me lembra que "  nem tudo na vida é perfeito  " ...

Será que a Taça do Conhecimento estaria cheia de cerveja? Para mim, não há dúvida. O prazer que tiro do primeiro gole é imenso. Um milagre que acabou de acontecer e escapou ao mesmo tempo. E a amargura faz parte da diversão. É ela quem me dá vontade de beber do copo de novo ...

Cerveja e ciclos

Hoje à noite, vamos participar da cerimônia do solstício de verão. A festa do sol e da luz, pela "  oferta do trigo, símbolo da vida material, e do vinho, símbolo da vida espiritual  ", nos conta o ritual da cerimônia do solstício.

O ritual da oferenda é sem dúvida o mais praticado no Egito faraônico. Ele é o eixo de todos os outros, porque não há rito sem uma oferta. O ritual da oferenda não é uma prece para pedir um favor aos deuses, é antes uma espiritualização, uma dinamização da matéria diante do divino. Ele permite que você escape do que a alquimia chama de Rude. Trata-se de nutrir os espíritos, assim como o espírito.

A cerveja associada ao pão é a oferta básica de grãos. Presente em todas as mesas, representa o alimento metafórico dos deuses e dos defuntos.

O rei-faraó praticante do rito da oferenda é aquele que dá vida ao Egito, lhe dá a subsistência e permite que a criação continue seu caminho, mantendo a Ordem da Natureza. Por isso é associado a NEPER, o deus dos grãos, filho de RETENOUTET, a deusa cobra protetora das colheitas.

No Egito faraônico, consumir cerveja pode curar, afastar as influências sethianas, desde que não seja abusado, o que permitiria então que o deus vermelho SETH fosse liberado no corpo e na mente do bebedor impenitente. Ainda encontramos o caráter ambivalente da cerveja.

A embriaguez também pode apaziguar, como evidenciado pelo mito da Deusa Distante, TEFNOUT. Incorporando o calor nascido do sol, ela deixa seu pai Rê, para fugir para o deserto da Núbia na forma de uma leoa sanguinária. A deusa enfurecida deixa de lado seus impulsos assassinos depois de ficar bêbada com uma cerveja vermelha maliciosamente oferecida por THOT.

A radiação solar enfraquece no inverno quando a deusa foge e recupera a força após seu retorno.

Cerveja, vinho de cevada, é a bebida de Ísis e Osíris; simboliza o eterno retorno da vida após a morte, após a fermentação do grão. No Livro dos Mortos, a cevada é definida como "o alimento da imortalidade  "

Da Terra, o grão de cevada germinado é misturado à Água, aquecida pelo Fogo. Em contato com o Ar, fermenta e produz cerveja. A cerveja, como a vida, está no centro dos 4 elementos fundamentais. A criação se manifesta quando se organizam, se sustenta quando se harmonizam.

Durante nossa estada na sala de estudos, fiquei pensando na presença de um pedaço de pão ao lado de uma caveira. Se a vida precisa de alimento material, também precisa de outro alimento, integrando-se no ciclo do eterno retorno, símbolo da vida universal.

Nas entranhas da Terra, a semente se prepara para germinar, como o leigo no gabinete de reflexão. O maçom traz-lhe a Luz, o trigo aparece.

A Água do conhecimento o rega. O malte é formado. O rito acrescenta fermento, que o eleva e o traz de volta à vida em uma forma mais nobre. A cerveja como o pão, fruto espiritual, é o resultado da fermentação e da purificação.

A cerveja então simboliza esta elevação da alma, esta fecundidade do trabalho do homem que transforma o trigo, a sabedoria da Terra, em alimento espiritual.

O mestre cervejeiro e maçonaria têm uma coisa em comum. Eles são os guardiães de um segredo: o fermento para alguns, o Ritual para outros.

Seu segredo pode ser conhecido por qualquer pessoa que se importe. Porque não há segredo. Ele está na implementação. Ele está compartilhando.

É pensando em mim mesma, mas também nos meus irmãos e irmãs, que por minha vez, me tornarei o fermento de outra vida, mais profunda e mais rica.

Conclusão

Concluirei meu prato com uma “bolha” de luz, baseada em uma observação de Aristóteles. Ele notou que as pessoas que beberam vinho caem de cara, enquanto as que beberam cerveja deitam com a cabeça para trás. Onde os primeiros confiam na Terra, os segundos cochilam e confiam no Céu, concluiu ele.

Qualquer maçom cujo sonho é ligar o Céu e a Terra, não pode mais parar apenas no vinho e ignorar a cerveja.

Para realizar sua utopia, ele terá que beber os dois!