Resumo
O presente artigo visa realizar análise comparativa da psicologia junguiana com a simbologia maçônica, mais especificamente com os símbolos contidos em uma Loja Maçônica do Rito Escocês Antigo e Aceito e em suas práticas ritualísticas, além de observar os efeitos psicológicos da prática da ritualística do referido rito maçônico sobre seus adeptos.
Introdução
A definição mais comum de Maçonaria é a de que Maçonaria é um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos. (ZELDIS, 2011).
Isso já diz muito sobre a instituição e seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de rituais repletos de alegorias e expressões simbólicas.
No entanto, entre o desdobramento do ritual e o comportamento moral de seus praticantes há um mecanismo psicológico que não pode ser ignorado e cuja compreensão pode colaborar um melhor entendimento da razão da Maçonaria atrair ao longo dos séculos o interesse de tantos distintos homens e a ira de tão perigosos inimigos, como os nazistas, papas e o Comintern – Comitê Comunista Internacional (ROBERTS, 1969).
Este estudo tem por objetivo analisar as influências psicológicas que a prática ritualística maçônica, suas falas, movimentos, símbolos, dramas e alegorias, pode ter sobre seus praticantes.
Muitos talvez possam julgar os rituais maçônicos como ingênuos, ultrapassados, estranhos ou até mesmo supersticiosos.
Serão apresentados neste estudo indícios de que tanto os rituais como a mitologia possuem as mesmas fontes de origem — *o inconsciente* (CAMPBELL, 2007; JUNG, 2005).
Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da humanidade, e todas essas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em alguma medida, representadas nas alegorias maçônicas (MAXENCE, 2010).
Foi em 1900 que Sigmund Freud apresentou ao mundo sua teoria do Inconsciente, na obra ―A interpretação dos sonhos (FREUD, 1972).
O conceito de Inconsciente já existia de alguma forma desde a Grécia Antiga, contudo foi somente com Carl Gustav Jung que tal teoria encontrou sua plenitude, alcançando um sentido mais amplo, quando o mesmo diferenciou a atuação do inconsciente de uma camada mais profunda, que chamou de Inconsciente Coletivo, que são formas ou imagens de natureza coletiva que se manifestam praticamente em todo o mundo como constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos individuais de origem inconsciente, que influenciam toda nossa psique (JUNG, 2011c).
Ao contrário da escola freudiana, que afirma que os mitos estão profundamente enraizados dentro de um complexo do inconsciente, para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro de uma estrutura formal do inconsciente coletivo.
Torna-se assim uma diferença considerável para Freud, que nunca reconheceu a autonomia congênita da mente e do inconsciente, enquanto que, para Jung havia uma dimensão coletiva inata e com autonomia energética.
As ideias apresentadas por Jung foram o embasamento científico que o estudioso das Religiões e Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, adotou para sustentar as similaridades existentes entre todas as religiões e mitologias da história.
Tal conceito chamado anteriormente de ―Monomito² por Jaymes Joyce, foi esmiuçado por Campbell, que mostrou todo o roteiro da manifestação arquetípica do herói, que se encontrava representado em todo o mundo como um arquétipo do Inconsciente Coletivo (JUNG, 2010; JUNG, 2011a).
Assim, será com base nas obras de Campbell e Jung o desenvolvimento deste artigo, que visa comparar e reapresentar o simbolismo maçônico sob a ótica científica da Psicologia Junguiana e da Ciência das Religiões.
Análise Comparativa da Psicologia Junguiana com o Simbolismo Maçônico
O que é um Símbolo?
Os símbolos são, em síntese, metáforas e compêndios de um conhecimento sensivelmente elevado (CAMPBELL, 2007), mas que em outras palavras, são manifestações exteriores dos arquétipos.
Os arquétipos só podem se expressar através dos símbolos em razão de se encontrarem profundamente escondidos no inconsciente coletivo, sem que o indivíduo os conheça ou possa vir a conhecer (JUNG, 2011b).
Dessa forma, em nosso nível comum de consciência, para compreendermos um elevado sentimento contido no Inconsciente Coletivo, necessitamos dos símbolos, gestos existentes desde o início da humanidade (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2011a).
Essas afirmações precedentes necessitam de um exemplo hipotético: O amor da mãe para com seu filho jamais seria compreendido por palavras ou descrições objetivas, como números ou letras.
Em vez disso, podemos, ao invés de escrever sobre tal amor, apenas apresentar o conhecido símbolo do coração.
Deste modo, mesmo que parcialmente, a noção que teremos a respeito do amor de uma mãe para com seu filho, será muito mais próxima do que as expressadas por meras palavras (JUNG, 2011d).
As mitologias e sentimentos são comumente manifestados por meio de símbolos e gestos.
Do mesmo modo, a Maçonaria atua através da ritualística das suas iniciações e instruções.
Os símbolos e gestos atuam como um catalizador de sentimentos de seus praticantes através do mito trabalhado pelo grupo-cultura (CAMPBELL, 2008).
O avanço moral que a Maçonaria proporciona a seus adeptos é, além de consciente, educativo e ético, também um reforço psicológico.
A diferença crucial entre símbolo e arquétipo é que o primeiro pode ser visto e em alguns casos também tocado e sentido, ao passo que o segundo pode ser apenas sentido, e mesmo assim, somente por intermédio do primeiro.
Portanto, para que haja símbolos, deve antes haver arquétipos, pois aqueles são a manifestação destes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012).
Contrariamente a esta teoria junguiana agora apresentada, observamos na psicanálise de Freud outra visão dos arquétipos, que se encontra centrada nos três arquétipos relativos ao chamado ―Complexo de Édipo, que, por suas características peculiares, possui proximidades com a antropologia e com a linguística, ao passo que a visão apresentada neste artigo, Junguiana, possui proximidades com os conceitos do Inconsciente Coletivo sustentados pelo sociólogo francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna, onde em sua obra o define como o conjunto de crenças e sentimentos autônomos de uma sociedade (DURKHEIM, 2004).
Suas teorias também influenciaram Freud, mas com devido efeito, acham-se proficuamente delineadas nas obras de Jung.