setembro 08, 2021

OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO - parte 1 - Raphael Guimarães

 


Resumo 

O presente artigo visa realizar análise comparativa da psicologia junguiana com a simbologia maçônica, mais especificamente com os símbolos contidos em uma Loja Maçônica do Rito Escocês Antigo e Aceito e em suas práticas ritualísticas, além de observar os efeitos psicológicos da prática da ritualística do referido rito maçônico sobre seus adeptos. 

Introdução

A definição mais comum de Maçonaria é a de que Maçonaria é um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por símbolos. (ZELDIS, 2011).

Isso já diz muito sobre a instituição e seu modo de ensino e aprendizagem, que ocorre por meio de rituais repletos de alegorias e expressões simbólicas.

No entanto, entre o desdobramento do ritual e o comportamento moral de seus praticantes há um mecanismo psicológico que não pode ser ignorado e cuja compreensão pode colaborar um melhor entendimento da razão da Maçonaria atrair ao longo dos séculos o interesse de tantos distintos homens e a ira de tão perigosos inimigos, como os nazistas, papas e o Comintern – Comitê Comunista Internacional (ROBERTS, 1969).

Este estudo tem por objetivo analisar as influências psicológicas que a prática ritualística maçônica, suas falas, movimentos, símbolos, dramas e alegorias, pode ter sobre seus praticantes. 

Muitos talvez possam julgar os rituais maçônicos como ingênuos, ultrapassados, estranhos ou até mesmo supersticiosos.

Serão apresentados neste estudo indícios de que tanto os rituais como a mitologia possuem as mesmas fontes de origem — *o inconsciente* (CAMPBELL, 2007; JUNG, 2005).

Há, sem dúvida, inúmeras diferenças entre as religiões e mitologias da humanidade, e todas essas, de uma forma ou de outra, podem ser encontradas em alguma medida, representadas nas alegorias maçônicas (MAXENCE, 2010).

Foi em 1900 que Sigmund Freud apresentou ao mundo sua teoria do Inconsciente, na obra ―A interpretação dos sonhos (FREUD, 1972).

O conceito de Inconsciente já existia de alguma forma desde a Grécia Antiga, contudo foi somente com Carl Gustav Jung que tal teoria encontrou sua plenitude, alcançando um sentido mais amplo, quando o mesmo diferenciou a atuação do inconsciente de uma camada mais profunda, que chamou de Inconsciente Coletivo, que são formas ou imagens de natureza coletiva que se manifestam praticamente em todo o mundo como constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos individuais de origem inconsciente, que influenciam toda nossa psique (JUNG, 2011c).

Ao contrário da escola freudiana, que afirma que os mitos estão profundamente enraizados dentro de um complexo do inconsciente, para Jung, a origem atemporal dos mitos reside dentro de uma estrutura formal do inconsciente coletivo.

Torna-se assim uma diferença considerável para Freud, que nunca reconheceu a autonomia congênita da mente e do inconsciente, enquanto que, para Jung havia uma dimensão coletiva inata e com autonomia energética.

As ideias apresentadas por Jung foram o embasamento científico que o estudioso das Religiões e Mitologias Comparadas, Joseph Campbell, adotou para sustentar as similaridades existentes entre todas as religiões e mitologias da história.

Tal conceito chamado anteriormente de ―Monomito² por Jaymes Joyce, foi esmiuçado por Campbell, que mostrou todo o roteiro da manifestação arquetípica do herói, que se encontrava representado em todo o mundo como um arquétipo do Inconsciente Coletivo (JUNG, 2010; JUNG, 2011a).

Assim, será com base nas obras de Campbell e Jung o desenvolvimento deste artigo, que visa comparar e reapresentar o simbolismo maçônico sob a ótica científica da Psicologia Junguiana e da Ciência das Religiões.

Análise Comparativa da Psicologia Junguiana com o Simbolismo Maçônico

O que é um Símbolo? 

Os símbolos são, em síntese, metáforas e compêndios de um conhecimento sensivelmente elevado (CAMPBELL, 2007), mas que em outras palavras, são manifestações exteriores dos arquétipos.

Os arquétipos só podem se expressar através dos símbolos em razão de se encontrarem profundamente escondidos no inconsciente coletivo, sem que o indivíduo os conheça ou possa vir a conhecer (JUNG, 2011b).

Dessa forma, em nosso nível comum de consciência, para compreendermos um elevado sentimento contido no Inconsciente Coletivo, necessitamos dos símbolos, gestos existentes desde o início da humanidade (CAMPBELL, 2008; JUNG, 2011a).

Essas afirmações precedentes necessitam de um exemplo hipotético: O amor da mãe para com seu filho jamais seria compreendido por palavras ou descrições objetivas, como números ou letras.

Em vez disso, podemos, ao invés de escrever sobre tal amor, apenas apresentar o conhecido símbolo do coração.

Deste modo, mesmo que parcialmente, a noção que teremos a respeito do amor de uma mãe para com seu filho, será muito mais próxima do que as expressadas por meras palavras (JUNG, 2011d).

As mitologias e sentimentos são comumente manifestados por meio de símbolos e gestos.

Do mesmo modo, a Maçonaria atua através da ritualística das suas iniciações e instruções.

Os símbolos e gestos atuam como um catalizador de sentimentos de seus praticantes através do mito trabalhado pelo grupo-cultura (CAMPBELL, 2008).

O avanço moral que a Maçonaria proporciona a seus adeptos é, além de consciente, educativo e ético, também um reforço psicológico.

A diferença crucial entre símbolo e arquétipo é que o primeiro pode ser visto e em alguns casos também tocado e sentido, ao passo que o segundo pode ser apenas sentido, e mesmo assim, somente por intermédio do primeiro.

Portanto, para que haja símbolos, deve antes haver arquétipos, pois aqueles são a manifestação destes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012).

Contrariamente a esta teoria junguiana agora apresentada, observamos na psicanálise de Freud outra visão dos arquétipos, que se encontra centrada nos três arquétipos relativos ao chamado ―Complexo de Édipo, que, por suas características peculiares, possui proximidades com a antropologia e com a linguística, ao passo que a visão apresentada neste artigo, Junguiana, possui proximidades com os conceitos do Inconsciente Coletivo sustentados pelo sociólogo francês Émile Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna, onde em sua obra o define como o conjunto de crenças e sentimentos autônomos de uma sociedade (DURKHEIM, 2004).

Suas teorias também influenciaram Freud, mas com devido efeito, acham-se proficuamente delineadas nas obras de Jung.



setembro 07, 2021

O 07 DE SETEMBRO E A MAÇONARIA - Revisão Sidnei Godinho M.'.M.'.



O ano  de  1821  começara  para  D. João  VI  como  principiara  o  de 1808. 

O  Grande Oriente  Lusitano  levara-o,  treze  anos  antes,  a  transferir  a  sede do  governo  monárquico  da  Nação  Portuguesa  de  Lisboa  para  o  Rio  de  Janeiro.

Mais tarde,  esse  mesmo  grande  Oriente  obrigá-lo-ia  a  retransferir  a sede  do  seu  governo  do  Rio  de  Janeiro  para  Lisboa.  

Com  receio  de  perder  o  trono  e  sem  alternativa,  face  às  exigências  da Corte  (Parlamento  português),  D.João  VI  regressa  a  Lisboa  (Portugal)  em  26  de abril  de  1821,  deixando  como  Príncipe  Herdeiro,  nomeado  Regente  do  Brasil pelo  Decreto  de  22  de  abril  de  1821,  o  primogênito  com  então  21  anos  de  idade –  PEDRO  DE  ALCANTARA  FRANCISCO  ANTÔNIO  JOÃO  CARLOS  XAVIER DE  PAULA  MIGUEL  RAFAEL  JOAQUIM  JOSÉ  GONZAGA  PASCOAL CIPRIANO  SERAFIM  DE  BRAGANÇA E  BOURBON.  

O  Príncipe  Dom  Pedro,  jovem  e  voluntarioso,  aqui  permanece, não  sozinho,  pois  logo  se  viu  envolvido  por  todos  os  lados  de  homens  de  bem, Maçons,  que  constituíam  a  elite  pensante  e  econômica  da  época.

Apesar  de  ver  ser  aceitas  suas  reivindicações,  os revolucionários  portugueses  não  estavam  satisfeitos. 

As  cortes  de  Portugal estavam  preocupadas  com  as  perdas  das  riquezas  naturais  do  Brasil  e  previam sua  emancipação,  como  ocorria  em  outros  países  sul-americanos. 

Dois decretos,  em  29  de  setembro  de  1821,  de  números  124  e  125  emanados  das Cortes  Gerais  portuguesas  são  editados  na  tentativa  de  submeter  e  inibir  os movimentos  no  Brasil.  

Um  reduzia  o  Brasil  da  posição  de  Reino  Unido  à  antiga condição  de  colônia,  com  a  dissolução  da  união  brasílico-lusa,  o  que  seria  um retrocesso,  o  outro,  considerando  a  permanência  de  D.  Pedro  desnecessária  em nossa  terra,  decretava  a  sua  volta  imediata.  

Os  brasileiros  reagiram  contra  os  decretos  através  de  um  forte discurso  do  Maçom  Cipriano  José  Barata,  denunciando  a  trama  contra  o  Brasil.

O  Maçom,  José  Joaquim  da  Rocha,  funda  em  sua  própria  casa  o  Clube  da Resistência,  depois  transformado  no  Clube  da  Independência.  

Verdadeiras  reuniões  maçônicas  ocorrem  na  casa  de  Rocha  ou na  cela  de  Francisco  de  Santa  Tereza  de  Jesus  Sampaio,  Frei  Sampaio,  no convento  de  Santo  Antônio,  evitando  a  vigilância  da  polícia. 

Várias  providências foram  tomadas,  dentre  elas:  consultar  D.  Pedro;  convidar  o  Irmão,  Maçom,  José Clemente  Pereira,  Presidente  do  Senado  a  aderir  ao  movimento  e  enviar emissários  aos  maçons  de  São Paulo e  Minas  Gerais.

Surge o  jornal,  “Revérbero Constitucional  Fluminense”,  redigido  por  Gonçalves  Ledo  e  pelo  Cônego Januário,  que  circulou  de  11  de  setembro  de  1821  a  08  de  Outubro  de  1822,  e que  teve  a mais extraordinária  influência  no  movimento  libertador,  pois  contribuiu para  a  formação  de  uma  consciência  brasileira,  despertando  a  alma  da nacionalidade.

Na  representação  dos  paulistas,  de  24  de  dezembro  de  1821,  redigida pelo  Maçom  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva,  pode-se  ler  o  seguinte  registro:

... “É  impossível  que  os  habitantes  do  Brasil,  que  forem  honrados e  se  prezarem  de  ser  homens,  possam  consentir  em  tais  absurdos  e despotismo.

V.  Alteza  Real  deve  ficar  no  Brasil,  quaisquer  que  sejam  os projetos  das  Cortes  Constituintes,  não  só  para  o  nosso  bem  geral,  mas  até  para a  independência  e  prosperidade  futura  do  mesmo. 

Se  V.  Alteza  Real  estiver  (o que  não  é  crível)  deslumbrado  pelo  indecoroso  decreto  de  29  de  setembro,  além de  perder  para  o  mundo  a  dignidade  de  homem  e  de  príncipe,  tornando-se escravo  de  um  pequeno  grupo  de  desorganizadores,  terá  que  responder, perante  o  céu,  pelo  rio  de  sangue  que,  decerto,  vai  correr  pelo  Brasil  com  a  sua ausência...”.

Nessa  época,  funcionavam  no  Rio  de  Janeiro,  a  Loja  Maçônica “Comércio  e  Artes”,  da  qual  eram  membros vários  homens  ilustres  da  corte  como o  Cônego  Januário  da  Cunha  Barbosa,  Joaquim  Gonçalves  Ledo  e  José Clemente  Pereira  entre  outros.  

Esses  maçons  reunidos  e  após  terem  obtido  a  adesão  dos irmãos  de  São  Paulo,  Minas  Gerais  e  Bahia,  resolveram  fazer  um  apelo  a  D. Pedro  para  que  permanecesse  no  Brasil.

Em  09  de  janeiro  de  1822,  na  sala  do  trono  e  interpretando  o pensamento  geral,  cristalizando  nos  manifestos  dos  fluminenses  e  dos  paulistas e  no  trabalho  de  aliciamento  dos  mineiros,  o  Maçom  José  Clemente  Pereira, presidente  do  Senado  da  Câmara,  antes  de  ler  a  representação,  pronunciou inflamado  e  contundente  discurso  pedindo  para  que  o  Príncipe  Regente Permanecesse  no  Brasil.  

Após  ouvir  atentamente,  o  Príncipe  responde:  “Como  é  para  o bem  de  todos  e  felicidade  geral  da  nação,  estou  pronto,  diga  ao  povo  que  fico”.

A  alusão  às  hostes  maçônicas  era  explícita  e  D.  Pedro conheceu-lhe  a  força  e  a  influência,  entendendo  o  recado  e  permanecendo  no Brasil. 

Este  episódio,  conhecido  como  o  Dia  do  Fico,  marcou  a  primeira  adesão pública  de  D.  Pedro  a  uma  causa  brasileira.

Em  13  de  maio  de  1822,  os  Maçons  fluminenses,  sob  a  liderança  de Joaquim  Gonçalves  Ledo,  e  por  proposta  do  brigadeiro  Domingos  Alves  Branco, da  loja  “Comércio  e  Artes”,  resolvem  outorgar  ao  Príncipe  Regente  o  título  de “Príncipe  Regente  Constitucional  e  Defensor Perpétuo  do  Reino  Unido  do  Brasil”, oferecido  pela  Maçonaria  e  pelo  Senado,  que  acabou  por  acirrar  ainda  mais  os ânimos  entre  os  portugueses  e  nativistas.

Ainda  em  maio  de  1822,  aconselhado  pelo  então  seu  primeiro ministro  das  pastas  do  Reino  e  de  Estrangeiros,  o  Maçom  José  Bonifácio  de Andrada  e  Silva,  D.  Pedro  assina  o  Decreto  do  Cumpra-se,  segundo  o  que  só vigorariam  no  Brasil  as  Leis  das  Cortes  portuguesas  que  recebessem  o  cumprase  do  príncipe  regente.

A 21 de maio, em plena sessão das Cortes, em  Lisboa,  o Maçom Monsenhor  Muniz  Tavares  diz  que  talvez  os  brasileiros  se  vissem  obrigados  a declarar  sua  independência  de  uma  vez.

Em  02  de  junho  de  1822,  em  audiência  com  D.  Pedro,  o  Irmão José  Clemente  Pereira  leu  o  discurso  redigido  pelos  Maçons  Joaquim  Gonçalves Ledo  e  Januário  Barbosa,  que  explanavam  da  necessidade  de  uma  Constituinte.  

D.  Pedro  comunica  a  D.  João  VI  que  o  Brasil  deveria  ter  suas Cortes.  Desta  forma,  convoca  a  Assembleia  Constituinte  para  elaborar  uma Constituição  mais  adequada  ao  Brasil. 

Era  outro  passo  importante  em  direção  à independência.

A  02  de  junho,  José  Bonifácio,  com  outros  maçons,  funda  a sociedade  secreta  "Nobre  Ordem  dos  Cavaleiros  de  Santa  Cruz",  melhor conhecida  com  o  nome  de  "Apostolado",  da  qual  fez  parte  D.  Pedro,  com  o  título de  Arconte-Rei.

Em 17 de junho  de 1822,  a  Loja  Maçônica,  “Comércio  e  Artes”  em  sessão memorável,  resolve  criar  mais  duas  Lojas  pelo  desdobramento  de  seu  quadro  de Obreiros,  através  de  sorteio,  surgindo  assim  as  Lojas  “Esperança  de  Niterói”  e “União  e  Tranqüilidade”,  se  constituindo  nas  três  Lojas  Metropolitanas  e possibilitando  a  criação  do  “Grande  Oriente  Brasílico  ou  Brasiliano”,  que  depois viria  a  ser  denominado  de  “Grande  Oriente  do  Brasil”.

José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva  (O  Patriarca  da Independência)  é  eleito  primeiro  Grão-Mestre,  tendo  Joaquim  Gonçalves  Ledo como  1º  Vigilante  e  o  Padre  Januário  da  Cunha  Barbosa  como  Grande  Orador.  

 O objetivo principal da criação do GOB foi de engajar a Maçonaria como Instituição, na luta pela independência política do Brasil, conforme consta de forma explícita das primeiras atas das primeiras reuniões, onde só se admitia para iniciação e filiação em suas Lojas, pessoas que se comprometessem com o ideal da independência do Brasil.

No dia 02 de agosto (13º do 5º mês maçônico, conforme o historiador Hélio Viana), por proposta do Grão-Mestre da Maçonaria, José Bonifácio, foi D.Pedro, o Príncipe Regente, aprovado e recebido maçom, no primeiro grau na forma regular e prescrita pela liturgia, adotando o nome histórico de Guatimozim (último imperador Asteca morto em 1522), e passa a fazer parte do Quadro de Obreiros da Loja Comércio e Artes. 

No dia 05 de agosto, por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a presidência dos trabalhos, foi aprovada a exaltação ao grau de Mestre Maçom, com a dispensa do interstício, que possibilitou, posteriormente, em 04 de outubro de 1822, numa jogada política de Ledo, o Imperador ser eleito e empossado no cargo de Grão-Mestre, do GOB.

Porém, foi no mês de agosto de 1822 que o Príncipe, agora Maçom, tomou a medida mais dura em relação a Portugal, declarou inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no Brasil sem o seu consentimento.

Em 14 de agosto parte em viagem, com o propósito de apaziguar os descontentes em São Paulo, acompanhado de seu confidente Padre Belchior Pinheiro de Oliveira e de uma pequena comitiva. 

Faz a viagem pausadamente, percorrendo em 10 dias, 96 léguas entre Rio e São Paulo. 

Em Lorena, a 19 de agosto, expede o decreto dissolvendo o governo provisório de São Paulo. 

No dia 25 de agosto chega a São Paulo sob salva de artilharia, repiques de sino, girândolas e foguetes, se hospedando no Colégio dos Jesuítas. 

De São Paulo se dirige para Santos em 5 de setembro de 1822, de onde regressou na madrugada de 7 de setembro. 

Encontrava-se na colina do Ipiranga, às margens de um riacho, quando foi surpreendido, pelo Major Antônio Ramos Cordeiro e por Paulo Bregaro, correio da corte, que lhes traziam noticias enviadas com urgência pelo seu primeiro ministro José Bonifácio.

D. Pedro, após tomar conhecimento dos conteúdos das cartas e das notícias trazidas pelos emissários, pronunciou as seguintes palavras: 

... “As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro.

Verão agora quanto vale o rapazinho. 

De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal. 

Independência ou Morte!”...

A independência do Brasil foi realizada à sombra da acácia, cujas raízes prepararam o terreno para isto. 

A Maçonaria teve a maior parte das responsabilidades nos acontecimentos literários. 

Não há como negar o papel preponderante desta instituição maçônica na emancipação política do Brasil.

Desde 1815, com a fundação da Loja Maçônica “Comércio e Artes”, que daria origem as Lojas União e Tranquilidade e Esperança de Niterói e a posterior constituição do Grande Oriente do Brasil em 17 de Junho de 1822, o ideário de independência se fazia presente entre seus membros e contagiava os brasileiros.

À frente do movimento, enérgica e vivaz, achavam-se a Maçonaria e os Maçons. 

Entre seus principais Obreiros, pedreiros livres, de primeira hora podemos destacar: Joaquim Gonçalves Ledo, José Bonifácio da Andrada e Silva, José Clemente Pereira, Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Joaquim da Rocha, Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, Felisberto Caldeira Brant, o Bispo Silva Coutinho, Jacinto Furtado de Mendonça, Martim Francisco, Monsenhor Muniz Tavares, Evaristo da Veiga dentre muitos outros.

Faz-se necessário também alçar a figura do personagem que se destacou durante todo o movimento articulado e trabalhado pela Maçonaria, o Príncipe Regente, Dom Pedro.

Iniciado Maçom na forma regular prescrita na liturgia e nos rituais maçônicos, e nesta condição de pedreiro livre no grau de Mestre Maçom, aos 24 anos de idade, proclama no 07 de setembro a nossa INDEPENDÊNCIA.

Posteriormente, no dia 04 de Outubro de 1822, D. Pedro comparece ao Grande Oriente do Brasil e toma posse no cargo de Grão-Mestre (havia sido investido no cargo de Grão Mestre no dia 14 de setembro), sendo na oportunidade aclamado Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

Neste mesmo dia, D. Pedro oferece a Gonçalves Ledo o título de marquês da Praia Grande que é por este recusado, com a declaração de ser muito mais honroso o de brasileiro patriota e de homem de bem.

No mesmo dia, Joaquim Gonçalves Ledo, redigiu uma nota patriótica ao povo Brasileiro, a primeira divulgação, depois da independência, que dizia: 

... “Cidadãos! A Liberdade identificou-se com o terreno; a natureza nos grita Independência; a razão nos insinua; a justiça o determina; a glória o pede; resistir-lhe é crime, hesitar é dos covardes, somos homens, somos Brasileiros. Independência ou Morte! Eis o grito de honra, eis o brado nacional...”.

E assim se fez a Independência do Brasil com a Maçonaria sendo o cérebro atuante por trás do então Príncipe Regente.

LIBERDADE E IGUALDADE para todos meus irmãos neste dia 07 de setembro.


Bibliografia:

- FILHO, Theobaldo Varoli. Curso Maçonaria Simbólica 1º Tômo (Aprendiz) 2ª edição, São Paulo, SP – Brasil, Editora A Gazeta Maçônica S.A.

- CASTELLANI, José - Os Maçons na Independência do Brasil 

- FAGUNDES, Morivalde Calvet - A Maçonaria e as Forças Secretas da Revolução

-PINTO, Teixeira - A Maçonaria na independência do Brasil

- FERREIRA, Tito L. e Manoel Rodrigues - A Maçonaria e a independência Brasileira - Livro Constituição do Grande Oriente do Brasil - Capítulo II – Art. 3º (página 3)

DISCURSO PROFERIDO POR JOAQUIM GONÇALVES LEDO

 


*DISCURSO PROFERIDO POR JOAQUIM GONÇALVES LEDO, NA LOJA MAÇÔNICA “COMÉRCIO E ARTES”, NO RIO DE JANEIRO, EM 20/AGOSTO/1822*


Joaquim Gonçalves Ledo foi um dos maiores autores da Independência, se não o maior. A peça de arquitetura que a seguir transcrevemos do Boletim do GOB (julho/agosto de 1963), é dirigida ao hesitante Príncipe D. Pedro e entre seus arrojados conceitos lá está a antecipação da Doutrina de Monroe.

SENHOR! A natureza, a razão e a humanidade, este feixe indissolúvel e sagrado, que nenhuma força humana pode quebrar, gravaram no coração do homem uma propensão irresistível para, por todos os meios e com todas as forças em todas as épocas e em todos os lugares, buscarem ou melhorarem o seu bem-estar. Este principio tão santo como a sua origem, e de centuplicada força quando aplicado às nações, era de sobra para o Brasil, esta porção preciosa do globo habitado, não acedesse a inerte expectação de sua futura sorte, tal qual fosse decretada longe de seus lugares e no meio de uma potência (Portugal) que deveria reconhecer inimiga de sua glória, zelosa de sua grandeza, e que bastante deixava ver pelo seu Manifesto às nações que queria firmar a sua ressurreição política sobre a morte do nascente Império Luso-Brasileiro, pois baseava as razões de sua decadência sobre a elevação gloriosa deste filho da América – o Brasil.

Se a esta tão óbvia e justa consideração quisesse juntar a sua dolorosa experiência de trezentos e oito anos, em que o Brasil só existira para Portugal para pagar tributos que motivos não encontraria na cadeia tenebrosa de seus males para chamar a atenção e vigilância de todos os seus filhos a usar da soberania que lhe compete, e dos mesmo direitos de que usara Portugal e por si mesmo tratar de sua existência e representação política, da sua prosperidade e da sua constituição? Sim, o Brasil podia dizer a Portugal: “Desde que o sol abriu o seu túmulo e dele me fez saltar para apresentar-se ao ditoso Cabral a minha fertilidade, a minha riqueza, a minha prosperidade, tudo te sacrifiquei, tudo te dei, e tu que me deste? Escravidão e só escravidão. Cavavam o seio das montanhas, penetravam o centro do meu solo para te mandarem o ouro, com que pagavas as nações estrangeiras a tua conservação e as obras com que decoras a tua majestosa capital; e tu quando a sôfrega ambição devorou os tesouros, que sob mão se achavam nos meus terrenos, quisestes impor-me o mais odioso dos tributos, a “capitação”. Mudavam o curso dos meus caudalosos rios para arrancarem de seus leitos os diamantes que brilham na coroa do monarca; despiam as minhas florestas para enriquecerem a tua grandeza, que, todavia, deixava cair das enfraquecidas mãos … E tu que deste? Opressão e vilipêndio! Mandavas queimar os filatórios e teares, onde minha nascente indústria beneficiava o algodão para vestir os meus filhos; negavas-me a luz das ciências para que não pudesse conhecer os meus direitos nem figurar entre os povos cultos; acanhavas a minha indústria para me conservares na mais triste dependência da tua; desejavas até diminuir as fontes da minha natural grandeza e não querias que eu conhecesse o Universo senão o pequeno terreno que tu ocupas. Eu acolhi no meu seio os teus filhos a que doirava a existência e tu me mandavas em paga tiranos indomáveis que me laceravam.

Agora é tempo de reempossar-me de minha Liberdade; basta de oferecer-me em sacrifício as tuas interessadas vistas. Assaz te conheci, demasiando te servi… – os povos não são propriedade de ninguém.

Talvez o Congresso de Lisboa no devaneio de sua fúria (e será uma nova inconseqüência) dê o nome rebelião ao passo heróico das províncias do Brasil a reassunção de sua soberania desprezada; mas se o fizer, deverá primeiro declarar rebelde a Razão, que prescreve aos homens não se deixarem esmagar pelos outros homens, deverá declarar rebelde a Natureza, que ensinou aos filhos a separarem-se dos seus pais, quando tocam a época de sua virilidade; é mister declarar rebelde a Justiça, que não autoriza usurpação, nem perfídias; é mister declarar rebelde o próprio Portugal, que encetou a macha de sua monarquia, separando-se de Castela; é mister declarar-se rebelde a si mesmo (esse Congresso), porque se a força irresistível das coisas prometia a futura desunião dos dois Reinos os seus procedimentos aceleraram esta época, sem dúvida fatal para outra parte da nação que se queira engrandecer.

O Brasil, elevado à categoria de Reino, reconhecido por todas as potencias e com todas as formalidades que fazem o direito público na Europa, tem inquestionavelmente jus a reempossar-se da porção de soberania que lhe compete, porque o estabelecimento da ordem constitucional é negócio privativo de cada povo.

A independência, Senhor, no sentido dos mais abalizados políticos, é inata nas colônias, como a separação das famílias o é na Humanidade.

A natureza não formou satélites maiores que os seus planetas. A América deve pertencer à America, e Europa à Europa, porque não debalde o Grande Arquiteto do Universo meteu entre elas o espaço imenso que as separa. O momento para estabelecer-se um perdurável sistema, e ligar todas as partes do nosso grande todo, é este…

O Brasil, no meio das nações independentes, e que falam com exemplo de felicidade, não pode conservar-se colonialmente sujeito a uma nação remota e pequena, sem forças para defendê-lo e ainda para conquistá-lo. As nações do Universo têm os olhos sobre nós, brasileiros, e sobre ti, Príncipe!

Cumpre aparecer entre elas como rebeldes ou como homens livres e dignos de o ser. Tu já conheces os bens e os males que te esperam e à tua posteridade. Queres ou não queres?

Resolve, Senhor!

setembro 06, 2021

MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL - Ir.’. Fuad Haddad



História da nossa Independência está intimamente ligada com a Fundação do Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da Maçonaria Brasileira.

Apesar do farto material documental existente, pouco se publica sobre o papel importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como Instituição, teve nos fatos que precipitaram a proclamação da Independência.

Deixar de divulgá-los é ocultar a verdade e consequentemente ocorrer no erro da omissão, que nem a História e nem o tempo perdoam, principalmente para com aqueles nossos Irmãos, brava gente brasileira, que acreditavam, ou ainda mais, tinham como ideário de vida a Independência da Pátria tão amada.

O Objetivo principal, sem dúvida nenhuma, da criação do Grande Oriente, foi engajar a Maçonaria na luta pela Independência Política do Brasil.

Desde sua descoberta em 1500, o Brasil foi uma Colônia Portuguesa, sendo explorada desde então pela sua Metrópole. Não tinha, portanto, liberdade econômica, liberdade administrativa, e muito menos liberdade política.

Como a exploração metropolitana era excessiva e os colonos não tinham o direito de protestar, cresceu o descontentamento dos brasileiros.

Inicia-se então as rebeliões conhecidas pelo nome de Movimentos Nativistas, quando ainda não se cogitava na separação entre Portugal e Brasil. Estampava-se em nosso País o ideal da liberdade. A primeira delas foi a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão.

No início do século XVIII, com o desenvolvimento econômico e intelectual da colônia, alguns grupos pensaram na Independência Política do Brasil, de forma que os brasileiros pudessem decidir sobre seu próprio destino. Ocorreram, então, a Inconfidência Mineira (1789) que marcou a história pela têmpera de seus seguidores; depois a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas duramente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades Secretas já existentes, de caráter maçônico tais como: “Cavaleiros das Luz” na Bahia e “Areópago de Itambé” na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem como pelas ações individuais ou de grupos de Maçons.

Nos dias atuais, os grandes vultos e os fatos marcantes da nossa história estão, na maioria das pessoas, adormecidos. O sentimento cívico está distante e muita vezes apagado em nossas mentes. Fatos e acontecimentos importantes marcaram o início da emancipação política da nossa nação. Retomemos os tempos idos e a alguns referenciais da nossa rica história.

Início do século XIX – ano de 1808 – D. João e toda família real refugia-se no Brasil em decorrência da invasão e dominação de Portugal por tropas francesas, encetadas pelo jugo napoleônico. Este fato trouxe um notável progresso para a colônia, pois esta passou a ter uma organização administrativa idêntica à de um Estado independente. D. João assina o decreto da Abertura dos Portos, que extinguia o monopólio português sobre o comércio brasileiro. O Brasil começa a adquirir condições para ter uma vida política independente de Portugal, porém sob o aspecto econômico, passa a ser cada vez mais controlado pelo capitalismo inglês.

Ano de 1810 – Ocorre a expulsão dos franceses por tropas inglesas, que passam a governar Portugal com o consentimento de D. João.

Ano de 1815 – D. João, adotando medidas progressistas, põe fim na situação colonial do Brasil, criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, irritando sobremaneira os portugueses.

Ano de 1820 – Cansados da dominação e da decadência econômica do país, os portugueses iniciam uma revolução na cidade do Porto culminando com a expulsão dos ingleses. Estabelecem um governo temporário, adotam uma Constituição Provisória e impõem sérias exigências a D. João (agora já com o título de rei e o nome de D. João VI), ou sejam:

– aceitação da constituinte elaborada pelas cortes;

– nomeação para o ministério e cargos públicos;

– sua volta imediata para Portugal.

Com receio de perder o trono e sem outra alternativa, em face das exigências da Corte (Parlamento português), D. João VI regressa a Lisboa (Portugal) em 26 de abril de 1821, deixando como Príncipe Herdeiro, nomeado Regente do Brasil pelo Decreto de 22 de abril de 1821, o primogênito com então 21 anos de idade – PEDRO DE ALCÂNTARA FRANCISCO ANTÔNIO JOÃO CARLOS XAVIER DE PAULA MIGUEL RAFAEL JOAQUIM JOSÉ GONZAGA PASCOAL CIPRIANO SERAFIM DE BRAGANÇA E BURBON. O príncipe Dom Pedro, jovem e voluntarioso, aqui permanece, não sozinho pois logo viu-se envolvido por todos os lados de homens de bem, Maçons, que constituíam a elite pensante e econômica da época.

Apesar de ver ser aceitas suas reivindicações, os revolucionários portugueses não estavam satisfeitos. As cortes de Portugal estavam preocupadas com as perdas das riquezas naturais do Brasil e previam sua emancipação, como ocorria em outros países sul-americanos. Dois decretos em 1821 de números 124 e 125 emanados das Cortes Gerais portuguesas, são editados na tentativa de submeter e inibir os movimentos no Brasil.

Um reduzia o Brasil da posição de Reino Unido à antiga condição de colônia, com a dissolução da união brasílico-lusa, o que seria um retrocesso; o outro, considerando a permanência de D. Pedro desnecessária em nossa terra, decretava a sua volta imediata.

Os brasileiros reagiram contra os decretos através de um forte discurso do Maçom Cipriano José Barata, denunciando a trama contra o Brasil.

O Maçom José Joaquim da Rocha funda em sua própria casa o Clube da Resistência, depois transformado no Clube da Independência. Verdadeiras reuniões maçônicas ocorrem na casa de Rocha ou na cela de Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio, Frei Sampaio, no convento de Santo Antônio, evitando a vigilância da polícia. Várias providências foram tomadas, dentre elas: consultar D. Pedro; convidar o Irmão, Maçom, José Clemente Pereira, presidente do Senado, a aderir ao movimento e enviar emissários aos Maçons de São Paulo e Minas Gerais.

Surge o jornal, “Revérbero Constitucional Fluminense”, redigido por Gonçalves Ledo e pelo Cônego Januário, que circulou de 11 de setembro de 1821 a 8 de outubro de 1822, e que teve a mais extraordinária influência no movimento libertador, pois contribuiu para a formação de uma consciência brasileira, despertando a alma da nacionalidade.

Posteriormente, a 29 de julho de 1822, passa a ser editado o jornal – “Regulador Brasílico-Luso”, depois denominado, “Regulador Brasileiro”, redigido pelo Frei Sampaio, que marcou também sua presença e atuação no movimento emancipador brasileiro.

Na representação dos paulistas, de 24 de dezembro de 1821, redigida pelo Maçom José Bonifácio de Andrada e Silva, pode-se ler o seguinte registro:

É impossível que os habitantes do Brasil, que forem honrados e se prezarem de ser homens, possam consentir em tais absurdos e despotismo… V. Alteza Real deve ficar no Brasil, quaisquer que sejam os projetos das Cortes Constituintes, não só para o nosso bem geral, mas até para a independência e prosperidade futura do mesmo. Se V. Alteza Real estiver (o que não é crível) deslumbrado pelo indecoroso decreto de 29 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno grupo de desorganizadores, terá que responder, perante o céu, pelo rio de sangue que, decerto, vai correr pelo Brasil com a sua ausência…

9 de janeiro de 1822 – Na sala do trono e interpretando o pensamento geral, cristalizado nos manifestos dos fluminenses e dos paulistas e no trabalho de aliciamento dos mineiros, o Maçom José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara, antes de ler a representação, pronunciou inflamado e contundente discurso pedindo para que o Príncipe Regente permanecesse no Brasil. Após ouvir atentamente, o Príncipe responde: “estou pronto, diga ao povo que fico”.

A alusão às hostes maçônicas era explícita e D. Pedro conheceu-lhe a força e a influência, entendendo o recado e permanecendo no Brasil. Este episódio, conhecido como o Dia do Fico, marcou a primeira adesão pública de D. Pedro a uma causa brasileira.

Em 13 de maio de 1822 – os Maçons fluminenses, sob a liderança de Joaquim Gonçalves Ledo, e por proposta do brigadeiro Domingos Alves Munis Barreto, resolviam outorgar ao Príncipe Regente o título de Defensor Perpétuo do Brasil, oferecido pela Maçonaria e pelo Senado.

Ainda em maio de 1822 – aconselhado pelo então seu primeiro ministro das pastas do Reino e de Estrangeiros, o Maçom José Bonifácio de Andrada e Silva, D. Pedro assina o Decreto do Cumpra-se, segundo o qual só vigorariam no Brasil as Leis das Cortes portuguesas que recebessem o cumpra-se do príncipe regente.

Em 2 de junho de 1822 – em audiência com D. Pedro, o Irmão José Clemente Pereira leu o discurso redigido pelos Maçons Joaquim Gonçalves Ledo e Januário Barbosa, que explanavam da necessidade de uma Constituinte. D. Pedro comunica a D. João VI que o Brasil deveria ter suas Cortes. Desta forma, convoca a Assembléia Constituinte para elaborar uma Constituição mais adequada ao Brasil. Era outro passo importante em direção à independência.

Em 17 de junho de 1822 – a Loja Maçônica “Comércio e Artes na Idade do Ouro” em Sessão memorável, resolve criar mais duas Lojas pelo desdobramento de seu quadro de Obreiros, através de sorteio, surgindo assim as Lojas “Esperança de Niterói” e “União e Tranqüilidade”, se constituindo nas três Lojas Metropolitanas e possibilitando a criação do “Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano”, que depois viria a ser denominado de “Grande Oriente do Brasil”.

José Bonifácio de Andrada e Silva (o Patriarca da Independência) é eleito primeiro Grão-Mestre, tendo Joaquim Gonçalves Ledo como 1º Vigilante e o Padre Januário da Cunha Barbosa como Grande Orador.

O Objetivo principal da criação do GOB foi de engajar a Maçonaria como Instituição, na luta pela independência Política do Brasil, conforme consta de forma explícita das primeiras atas das primeiras reuniões, onde só se admitia para Iniciação e filiação em suas Lojas, pessoas que se comprometessem com o ideal da Independência do Brasil.

No dia 2 de agosto – por proposta de José Bonifácio, é Iniciado o Príncipe Regente, D. Pedro, adotando o nome histórico de Guatimozim (ultimo imperador Asteca morto em 1522), e passa a fazer parte do Quadro de Obreiros da Loja “Comércio e Artes”.

No dia 5 de agosto – por proposta de Joaquim Gonçalves Ledo, que ocupava a presidência dos trabalhos, foi aprovada a Exaltação ao Grau de Mestre Maçom que possibilitou, posteriormente, em 4 de outubro de 1822, numa jogada política de Ledo, o Imperador ser eleito e empossado no cargo de Grão-Mestre, do GOB.

Porém, foi no mês de agosto de 1822 que o Príncipe, agora Maçom, tomou a medida mais dura em relação a Portugal, declarou inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem no Brasil sem o seu consentimento.

Em 14 de agosto parte em viagem, com o propósito de apaziguar os descontentes em São Paulo, acompanhado de seu confidente Padre Belchior Pinheiro de Oliveira e de uma pequena comitiva. Faz a viagem pausadamente, percorrendo em 10 dias 96 léguas entre Rio e São Paulo. Em Lorena, a 19 de agosto, expede o decreto dissolvendo o governo provisório de São Paulo. No dia 25 de agosto chega a São Paulo sob salva de artilharia, repiques de sino, girândolas e foguetes, se hospedando no Colégio dos Jesuítas. De São Paulo se dirige para Santos em 5 de setembro de 1822, de onde regressou na madrugada de 7 de setembro.

Encontrava-se na colina do Ipiranga, às margens de um riacho, quando foi surpreendido pelo Major Antônio Gomes Cordeiro e pelo ajudante Paulo Bregaro, correios da Corte, que lhes traziam notícias enviadas com urgência pelo seu primeiro ministro José Bonifácio.

D. Pedro, após tomar conhecimento dos conteúdos das cartas e das notícias trazidas pelos emissários , pronunciou as seguintes palavras: “As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapazinho e de brasileiro. Verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações; nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal”

A Independência do Brasil foi realizada à Sombra da Acácia, cujas raízes prepararam o terreno para isto.

A Maçonaria teve a maior parte das responsabilidades nos acontecimentos libertários. Não há como negar o papel preponderante desta Instituição Maçônica na emancipação política do Brasil.

Desde 1815, com a fundação da Loja Maçônica “Comércio e Artes”, que daria origem às Lojas “União e Tranqüilidade” e “Esperança de Niterói” e a posterior Constituição do Grande Oriente do Brasil em 17 de junho de 1822, o ideário de Independência se fazia presente entre seus membros e contagiava os brasileiros.

À frente do movimento, enérgica e vivaz, achava-se a Maçonaria e os Maçons. Entre seus principais Obreiros, Pedreiros Livres, de primeira hora podemos destacar: Joaquim Gonçalves Ledo, José Bonifácio da Andrada e Silva, José Clemente Pereira, Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Joaquim da Rocha, Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, Felisberto Caldeira Brant, o Bispo Silva Coutinho Jacinto Furtado de Mendonça, Martim Francisco, Monsenhor Muniz Tavares, Evaristo da Veiga dentre muitos outros.

Faz-se necessário também alçar a figura do personagem que se destacou durante todo o movimento articulado e trabalhado pela Maçonaria, o Príncipe Regente, Dom Pedro. Iniciado Maçom na forma regular prescrita na liturgia e nos Rituais Maçônicos, e nesta condição de Pedreiro Livre no Grau de Mestre Maçom, aos 24 anos de idade, proclama no dia 7 de setembro a nossa INDEPENDÊNCIA. Posteriormente, no dia 4 de outubro de 1822, D. Pedro comparece ao Grande Oriente do Brasil e toma posse no cargo de Grão-Mestre, sendo na oportunidade aclamado Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. No mesmo dia, Joaquim Gonçalves Ledo redigiu uma nota patriótica ao povo brasileiro, a primeira divulgação, depois da independência, que dizia: “Cidadãos! A Liberdade identificou-se com o terreno; a Natureza nos grita Independência; a Razão nos insinua; a Justiça o determina; a Glória o pede; resistir-lhe é crime, hesitar é dos covardes, somos Homens, somos Brasileiros. Independência ou Morte! Eis o grito de honra, eis o brado nacional…”


BIBLIOGRAFIA:

CASTELLANI, José. História do Grande Oriente do Brasil.

Os Maçons na Independência do Brasil.

FAGUNDES, Morivalde Calvet. A Maçonaria e as Forças Secretas da Revolução.

FERREIRA, Tito L. e FERREIRA, Manoel Rodrigues. A Maçonaria e a Independência Brasileira

MORAIS, Melo. A Independência e o Império do Brasil

PINTO, Teixeira. A Maçonaria na Independência do Brasil.

BASTIDORES DA INDEPENDÊNCIA





(Compilado do Livro “O Poder da Maçonaria – A História de Uma Sociedade Secreta no Brasil”, de Marco Morel e Françoise Jean de Oliveira Souza, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008)


Os 94 homens, que se reuniram no dia 24 de junho de 1822, num sítio no porto do Méier, na Praia Grande (atual Niterói-RJ), e fundaram o Grande Oriente do Brasil (GOB), sonhavam alto, mas tinham os pés no chão. O dia inteiro de exaustivos trabalhos foi encerrado com um lauto banquete, e a comida, que sobrou, foi distribuída aos pobres das redondezas, reforçando, assim, a filantropia tão presente nas preocupações maçônicas. Congregados naquele momento, não poderiam imaginar que, meses depois, teriam seus destinos individuais tão separados, nem tinham certeza dos rumos políticos que ajudavam a transformar.

A formação, que originou o GOB, veio da Loja Comércio e Artes, a mesma que surgira em 1815, se dissolvera com a repressão de 1818 e reaparecera sob as bênçãos do Grande Oriente Luso-Brasileiro e sob os novos ares do liberalismo em 1821. Agora, em 1822, a Comércio e Artes crescera demais, e nela não cabiam tantos integrantes que pretendiam entrar. Os maçons então, resolveram, numa solução salomônica, subdividir a Loja em três, mantendo a Comércio e Artes e criando mais duas: União e Tranquilidade e a Esperança de Niterói. A distribuição dos integrantes em cada uma foi feita por sorteio, tradicionalmente, visto como uma instância igualitária, ou seja, que evitava favoritismo e deixava, nas mãos da Providência Divina, o destino dos envolvidos. Além disso, os iniciados deveriam portar uma roseta ou laço em forma de flor no braço esquerdo: branco para a primeira Loja, azul para a segunda e vermelho para a terceira. Todos juntos criavam, assim, o azul, vermelho e branco, caracterizadores da Revolução Francesa, paradigma da modernidade política, mas, ao mesmo tempo, repudiada em seus "excessos" pelos liberais do nascente século XIX.

O GOB adotou o Rito Francês Moderno, criado em 1783 e composto por sete graus: 1. Aprendiz; 2. Companheiro; 3. Mestre (Lojas Azuis); 4. Mestre Eleito (Primeira Ordem de Rosa-Cruz); 5. Mestre Escocês (Segunda Ordem de Rosa-Cruz); 6. Cavalheiro Rosa-Cruz (Terceira Ordem de Rosa- Cruz); 7. Soberano Príncipe Rosa-Cruz (Quarta Ordem de Rosa-Cruz). 

O maçom, que presidiu a instalação dos trabalhos do GOB, foi o capitão engenheiro João Mendes Viana, na condição de Venerável da Loja Comércio e Artes. Qual o destino de Mendes Viana? Eleito Segundo Grande Vigilante do GOB, foi enviado a Pernambuco como emissário na missão estratégica para articular a Independência.

Acabou aproximando-se dos chamados liberais exaltados, que assumiram o poder provincial e proclamariam a Confederação do Equador contra o centralismo imperial. Detido por ordem de D. Pedro I, Mendes Viana passaria sete anos do Primeiro Reinado como preso político nos cárceres do Rio de Janeiro, ao lado de Cipriano Barata. Ao ser solto, em 1830, Mendes Viana estava com a saúde irremediavelmente debilitada pelas precárias condições em que foi forçado a viver e faleceu logo depois. Mais uma trajetória de vida destruída devido ao engajamento maçônico. Mas, naquele momento de otimismo e entusiasmo da fundação do GOB e preparação da Independência, tal previsão trágica parecia impensável.

Estavam presentes, entre os 94 fundadores, uma verdadeira galeria de Pais da Pátria: alguns antigos maçons, como José Bonifácio, o Coronel Luiz Pereira da Nóbrega e o Padre Belchior de Oliveira, além de Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Frei Francisco Sampaio, Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo. Outros, apesar de terem os nomes registrados, tornaram-se ilustres desconhecidos e se apagaram, ainda, na poeira do próprio tempo em que viviam. O Tenente-Coronel e Cirurgião Manuel Joaquim de Menezes, um destes fundadores, lançou, três décadas depois, um pequeno livro, que, até hoje, é uma das principais fontes de informação sobre tais episódios, embora, também, envolvido nos jogos de ocultações e revelações tão próprios da Ordem dos Pedreiros-Livres. Um dos mais destacados e convictos do grupo, o Major Albino dos Santos Pereira, teria um fim trágico, como se verá a seguir.

O sítio em Niterói fora decorado à maneira de um templo maçônico, sem faltar a Sala dos Passos Perdidos. A comissão de organização era composta pelos Irmãos Manoel dos Santos Portugal, João da Silva Lomba e Antônio José de Souza, que se encarregaram do banquete maçônico e das demais providências, como levar apetrechos e a decoração do local com os símbolos adequados. 

Nas primeiras reuniões do GOB, a clandestinidade (ou segredo, como, então, se dizia) era fundamental não só por uma questão de fidelidade ritualística, mas também pela própria segurança de seus membros, por estarem tramando a Independência do Brasil. Entretanto, logo se percebeu que tudo, discutido no recinto, acabava vazando para Portugal e para os comandantes das tropas portuguesas sediadas no Brasil. Daí resultou, no encontro de 2 de agosto de 1822, a exclusão de seis irmãos do círculo maçônico, após investigações internas que levaram aos nomes dos que foram considerados delatores. 

Uma das tarefas marcantes do GOB foi enviar emissários às mais importantes províncias brasileiras, para articularem, politicamente, a Independência na forma como estava sendo concebida: unidade territorial brasileira, monarquia constitucional e governada pelo Príncipe da Dinastia de Bragança. Note-se que, desse modo, os maçons contribuíram mais efetivamente para a criação de laços de tipo nacional e de um modelo de Estado centralizado, mas poucos colaboraram para a consolidação da própria Maçonaria como Instituição de nível nacional, naquele momento. 

É precipitado apontar esse GOB como embrião de um partido político, pois suas características se diferenciavam bastante da máquina partidária típica do século XX. Entretanto, não se deve desprezar a Maçonaria como uma forma de agrupamento e organização. 

Quando se falava, já naquela época, de "partidos", era mais do que tomar um partido ou formar facções descartáveis: havia modos de agrupamento em torno de um líder, através de palavras de ordem e da imprensa, em determinados espaços associativos e a partir de interesses ou motivações específicas, além de se delimitarem por lealdades ou afinidades (intelectuais, econômicas, culturais, etc.) entre seus participantes. Tais agrupamentos eram identificados por rótulos, símbolos ou nomeações, pejorativos ou não. A Maçonaria era uma dentre as várias formas existentes de sociabilidade. 

Pode-se perceber que o nó da questão, em que se envolveu a Maçonaria em 1822, foram as presenças de José Bonifácio e D. Pedro I em seus quadros como dirigentes máximos (Grão-Mestres). Daí resultou, num primeiro momento, a força e a vitória da entidade, com a Independência proclamada, como seus membros queriam. Daí resultou, logo depois, a destruição dos trabalhos maçônicos e até da vida pública de vários irmãos. 

Se, do ponto de vista externo, o GOB serviu, no tempo e na hora certa, como espaço aglutinador, tal papel foi efêmero. As dissensões internas e as intervenções externas acabaram destruindo, naquele momento, esse núcleo de associação. A recriação do GOB e das Potências posteriores já pertenciam a outro contexto, com outros objetivos e horizontes.

setembro 05, 2021

A ESTRELA FLAMEJANTE





INTRODUÇÃO

V \ M \ , Dignitários que decoram o Oriente e todos vocês meu FF \ em suas fileiras e qualidades.

Tenho o grande privilégio de apresentar esta tarde à vossa consideração esta obra de arquitectura intitulada "L'Etoile Flamboyante".

A estrela de cinco pontas é encontrada em todas as tradições, em todas as religiões, em   todas as filosofias, em todo o universo, em todos os tempos. Já aparecendo entre os grafites neolíticos (em Ariège, Olargues em Hérault), aparece na mitologia egípcia, como representando Ísis e Hórus, a Mãe Terra e o Sol.

Na mitologia grega, com o nome de Ugeia, por causa de Hygieia, deusa da saúde, ela tinha valor terapêutico como a pentalfa da vida e da saúde.

Na Bíblia, os Três Reis foram capazes de perceber e seguir a estrela cintilante que os conduziria ao feto.

Sua presença em mais de quarenta bandeiras nacionais atesta sua importância como conceito espiritual no mundo.

Aproximando-se de nossa ordem, durante a iniciação do leigo logo após fazer o juramento, a estrela flamejante pisca brevemente para o leste atrás do planalto do Venerável Mestre.

Durante a cerimônia de aumento de salário do aprendiz, ele caminha sobre os quatro pontos do pentagrama que é desenhado no chão durante sua quinta viagem para se encontrar no ponto leste.

Não esqueçamos de mencionar os construtores de catedrais da Idade Média, maçons operativos, que expressaram seu gênio construtivo através da estrela que encontramos em muitas igrejas, reflexos da perfeita harmonia do cosmos, onde tudo é cuidadosamente ordenado. Portanto, eles conheciam o pentagrama ou a estrela de cinco pontas. Este último foi de fato um de seus principais símbolos, ao mesmo tempo que a ferramenta geométrica preferida para a construção de templos, ou seja, a transformação da pedra bruta e inerte em edifícios construídos para a glória do Grande Arquiteto da Igreja. ”Universo.

A Maçonaria, portanto, tem um valor espiritual muito grande para a Estrela Flamejante, é sua estrela polar, a estrela do pensamento livre. É o símbolo essencial da categoria de Companheiro.

Para continuar a reflexão sobre a estrela flamejante, é preciso tocar as verdades que ela esconde para que o iniciado, principalmente o companheiro, vislumbre os caminhos de pesquisa que ela lhe abre.

A- A estrela flamejante suas propriedades, suas verdades.

Mais do que qualquer outro polígono regular, a estrela de cinco pontas, a estrela flamejante é representativa das leis da harmonia e simboliza a interação do microcosmo e do macrocosmo . O microcosmo que é o iniciado, o Companheiro, deve se tornar esse foco ígneo, essa fonte de calor e luz, de compreensão e propaganda. Este iniciado, iluminado por sua inteligência e seu coração, deve buscar a verdade praticando o altruísmo, mostrando bondade e devotando-se de todo o coração. Ele deve introduzir o desenvolvimento da ordem certa para alcançar a harmonia perfeita do homem consigo mesmo, ao mesmo tempo que a harmonia das coisas externas, com as idéias necessárias que melhor as organizam.

1- As propriedades numéricas da estrela em chamas.

Dois números chamam a atenção: o número 5, o microcosmo, que está simbolicamente associado ao poder da mente e da magia , o número 9 atribuído ao macrocosmo.

a- O número cinco

O cinco é o número do homem, assim como o do companheiro: aos cinco anos, ele fez cinco viagens, bate palmas cinco vezes para tocar a bateria, sua caminhada é de cinco passos.

O número cinco, base da estrela de cinco pontas, na árvore da vida, representa a sephirah Gebourah onde está localizado o planeta Marte, representação da Vontade que o companheiro deve nutrir para continuar seu caminho de iniciação, de pesquisa.

O número cinco é a união do número par 2 representando o princípio feminino e do número ímpar 3 representando o princípio masculino: a união, a adição dos dois números representa a vida manifesta, o sopro divino que vem animado e dirige o corpo.

A estrela de cinco pontas constitui uma aplicação estrita da relação privilegiada por excelência, a relação áurea ou proporção divina, que se expressa pela relação áurea.

Pela observação universal, tudo o que dá aos nossos olhos ou ouvidos uma agradável sensação de beleza e harmonia foi construído com base na proporção áurea, o ritmo cinco, daí as suas múltiplas aplicações em todas as artes: pintura, escultura, arquitetura e música.

b- O número nove

O nove   é o número da criação, vida e realização.

De sua correspondência com o macrocosmo, 3 x 3, representa os três mundos que fazem o Adam Kadmon, o homem primitivo que irá evoluir para um homem evoluído, um iniciado.

Portanto, temos:

Ø       Neshamah mundo do espírito,

Ø       Ruach mundo da alma,

Ø       Nephesh o mundo da questão.

Dotado de uma paciência infalível, o iniciado deve meditar para estar em harmonia consigo mesmo e com o exterior.

É transcendendo a matéria que ele terá a inspiração e a perfeição das idéias, a plenitude dos talentos.

É o número eterno da imortalidade do homem.

2- A letra G

A estrela de cinco pontas tem uma sexta ponta, invisível, induzida e equidistante dos cinco vértices, representando o centro, nosso centro.

Este centro, o do círculo, por vezes invisível, no qual repousa a estrela flamejante, exprime a presença do princípio divino, a prevalência do espírito sobre a matéria, a necessidade de uma relação harmoniosa entre o indivíduo e o mundo. Exterior, de um feliz coordenação entre seu corpo e seu espírito: os alquimistas dizem “a obra oculta e misteriosa está em você; onde quer que você vá, estará com você, desde que você não o procure fora ” . Nele tudo é um porque ele funciona no centro, no coração de todas as coisas: é apenas no Centro que a pessoa se torna Tudo.

A letra G, este sexto ponto no centro da Estrela de cinco pontas, resplandece a riqueza do espírito e da consciência do Companheiro: é o princípio divino resumido em 5 significados.

a- Gravitação

A gravitação, que rege o mundo físico, torna-se na esfera moral a imagem de uma força coesiva, sem a qual as pedras vivas que somos não deixariam de se separar. É o símbolo da unidade fraterna. A ferramenta da gravitação: o fio de prumo dá-nos a sensação de profundidade, a humildade que nos permite descer ao nosso abismo para poder subir e assim superar o ego.

b- geometria

A geometria é uma das artes do quadrivium, considerada a ciência do estudo do mundo sensível: aritmética, geometria, astronomia, música. O quadrivium está intimamente ligado ao trivium, riqueza das riquezas, das artes da fala: gramática, retórica, dialética. A geometria é a arte sagrada da construção universal. Tem por objeto citar Platão "Conhecimento do que é sempre e não do que nasce e perece". Os construtores viram na geometria a possibilidade de alcançar a beleza por um lado e, por outro, a forma de responder aos problemas técnicos. Para quem constrói, a geometria permite que se destaquem da multidão.

Mas o maçom, mais precisamente o companheiro, deve ser capaz de desenvolver a geometria interior, o trabalho do espírito, o domínio das paixões, a correta valorização dos atos, dos pensamentos. Platão disse: "Que ninguém entre sob meu teto, a menos que seja um agrimensor" e Pascal "Vemos por experiência que entre mentes iguais e todas essas coisas, quem tem geometria vence e adquire vigor. Tudo novo".

c- Geração

Como o templo construído com pedras vivas, o pedreiro deve construir um organismo capaz de decifrar o enigma da vida, os mistérios de gerações. Símbolo de transmissão iniciática a novos companheiros.

d- Engenharia

O homem de gênio é aquele que domina a arte de construir, aquele que conecta por meio de uma ponte as duas margens de um rio entre o microcosmo e o macrocosmo, entre ele e o universo, entre seus impulsos imediatos e seu projeto de vida.

e- Gnose

Conhecimento sagrado ao qual é adicionada sabedoria. Este conhecimento é adquirido por meio do trabalho que o Companheiro deve glorificar e da busca pessoal pelo significado oculto dos símbolos.

O Companheiro deve despir-se para se descobrir, encontrar sua primeira realidade, seu centro invisível, o da Estrela Flamejante que ordena e estrutura esses cinco pontos.

Este conhecimento permite a passagem do quadrado ao círculo, isto é, do quadrado ao compasso, da progressiva prevalência do espírito sobre a matéria. Assim, por um jogo indefinido de ressonâncias, de ritmos que se refletem e respondem uns aos outros, a construção se levanta, o Iniciado se levanta, se contempla em relação aos outros, daí o dever de comunicar-se com a Beleza, a Força e a Sabedoria para a harmonia universal.

B- As duas últimas etapas do acompanhante

O companheiro deve ser guiado no caminho de seu ideal pela estrela em chamas. O caminho que é o método que a Maçonaria disponibiliza ao Companheiro em sua abordagem do ideal iniciático é mostrado a ele graças às cinco viagens, especialmente a quinta. A estrela flamejante será toda a sua vida durante seu ideal iniciático. Qual evolução para o iniciado?

1- A cabala: “A chave dos grandes mistérios”

O companheiro em sua pesquisa deve encontrar um caminho complementar para sua jornada iniciática. Sendo o ritual do segundo grau no rito de Memphis Misraim muito imbuído da Cabala , a convivência é caracterizada pelo estudo da Cabala: Diz-se que: “O que está abaixo é como o que está acima, e o que está acima. é como o que está abaixo ”. Sendo o homem a imagem da natureza ou a natureza a imagem do Homem, o iniciado deve adquirir os conhecimentos essenciais para uma melhor compreensão da natureza, a fim de assegurar a sua evolução moral espiritual e material.

A   cabala ou magia branca é caracterizada em duas expressões:

Ø       Magia cerimonial,

Ø      Magia estrutural ou magia sem ritual.

a- Magia cerimonial

A magia cerimonial usa forças por meio de gestos e da pronúncia de Nomes Sagrados durante um ritual. O iniciado pode, graças a isso, chamar essas energias e direcioná-las.

Este ritual é montado em torno do pentagrama que representa um excelente suporte para a meditação e é um sinal de extrema força na Cabal: por isso é um símbolo que manifesta o espírito que está acima da matéria e que a transcende.

Este domínio da matéria é bem simbolizado pelos quatro elementos nos diferentes pontos do pentagrama (Terra, Ar, Água, Fogo, Éter ou Espírito, a Rainha do Céu, é atribuído ao ponto superior, com a implicação de que o Espírito domina os elementos físicos) e pela representação do corpo humano com seus quatro membros com um único ponto que representa a cabeça nele. O iniciado assim representado é o homem harmonioso e luminoso.

Outros atributos são dados a ele, a saber, os cinco sentidos (visão, tato, olfato, sensibilidade e paladar), e os cinco estágios da vida (nascimento, adolescência, amor, sabedoria, morte).

b- Magia estrutural

Após a purificação de sua natureza etérica, psíquica e mental por meio da magia cerimonial, o iniciado não mais recorre ao ritual para convocar as Forças Divinas. Portanto, ele se torna um canal permanente dessas Forças: ele pensa, ele murmura certas palavras e o que ele deseja é realizado.

Esta magia resulta da magia cerimonial, mas é inerente à estrutura elemental do iniciado porque é um presente divino.

A cabala assim caracterizada pode ser dividida em três tipos:

Ø       A cabala judaica,

Ø       A cabala cristã,

Ø       A cabala de hoje.

Se essa precisão é dada, é para que o iniciado de acordo com sua afiliação étnica ou religiosa possa se encontrar em sua pesquisa espiritual.

2- O   contorno do pentagrama em um ritual

O gesto fundamental da cabala é traçar o pentagrama em um ritual para implementar as forças do número cinco.

As propriedades ativas do pentagrama só são possíveis por meio de rituais que atuam na matéria e no espírito como uma forma de onda de energia. Sendo ativo e se o iniciado respeitar as leis da natureza, o pentagrama permite uma dosagem relativa dos quatro elementos (Fogo, Ar, Água e Terra) na mistura corporal (seu corpo que é a base, fundamento, terra / sua vontade, energia, vitalidade, fogo / intuição, pensamento, emoção, água / imaginação, criatividade, intelecto, ar) para que a alma domine o corpo, ou seja  que as fontes que estão no mundo das idéias, o poder da Respiração e do Éter, a Santa Gnose iluminando nossa alma, a luz inteligível espalhada sobre ela com Ordem e Medida a substância do real porque nada existe que tenha descido de acima e não volta para descer. Neste caminho de perfeição que será obra do companheiro, o domínio da Matéria permitirá que reine a Harmonia e será uma estrela resplandecente a nossa quintessência, ou seja, o que há de melhor em nós para a humanidade: o objetivo profundo da Maçonaria .

A semente cresce apenas em solo bom: o iniciado deve preparar seu ser traçando e pronunciando os Nomes Sagrados durante um ritual para que as forças do número cinco, aquelas que se relacionam com o aspecto Divino, isto é, "perfeito a inteligência controladora do mundo ", vitoriosa sobre a densidade, faz com que ela evolua em seu caminho de iniciação, daí a atividade benéfica do pentagrama sobre o homem. Uma vez que a Estrela é acesa, o Germe Solar nasce e então segue sua germinação.

CONCLUSÃO

Ao nível da Filosofia Perennis , da Filosofia Eterna, a resposta de todos os iniciados, de todas as idades, de todas as religiões, de todas as escolas de pensamento espiritualista, é uniformemente a seguinte: devemos ir até ao fundo do seu ser e, encontrando ele mesmo plenamente ele mesmo, renascendo para uma nova vida de pesquisa e aplicação do Conhecimento adquirido: que gradualmente despertará o homem primitivo para o homem do conhecimento.

Todas as experiências místicas nos mostram que esse homem acaba não tendo nem dentro nem fora . Este homem que, outrora, se referia a escalas sociais, morais, religiosas, para aceitar ou condenar, para pesar seus pensamentos e suas ações, para julgar seus vizinhos ... descobre, agora, que chegou a " um universo privado de obstáculos, porque sem dualidade ”(MM Davy). Simultaneamente, o equilíbrio do universo se torna perceptível . Por um paradoxo simplesmente aparente, este " homem interiorizado está perfeitamente corporificado e aberto a todos " (MM Davy).

Com Fé, Boa Vontade, todos podem, em um contexto de respeito mútuo, escolher seu caminho moral, seus meios, seu grande ou seu "pequeno veículo" (como dizem os budistas) ... para ir em direção ao Equilíbrio porque a Verdade é Uma .

EGO ESPIRITUAL X RELACIONAMENTOS



No filme "Eu não sou seu guru", Tony Robbins disse mais ou menos assim: 

_Você pode ter força espiritual, meditar todos os dias e ser o melhor nisso, mas se não sabe se relacionar, não evoluiu nada. 

Essa é a mais pura verdade! 

O que mais vemos por aí é uma galera grande se achando evoluído porque tem uma religião, porque faz caridade, porque faz Yoga, porque é vegetariano, porque medita... 

O que nos faz crescer e evoluir são as nossas relações.

São elas que nos mostram verdadeiramente quem somos. 

De nada adianta fazer tudo isso se ainda não sabemos nos relacionar e se não estivermos conscientes de que essa é a única forma de crescer. 

Porque meditar é fácil! Frequentar casas espirituais também!

Ser generoso dentro dos templos é mais fácil ainda! 

O difícil é trazer tudo isso pro dia a dia, nas relações.

Porque nelas experimentamos intimidade e na intimidade as nossas vulnerabilidades são expostas. 

É aí que mostramos mesmo quem somos. 

É aí que as nossas sombras aparecem.

E é aí, no dia a dia das relações, que podemos nos trabalhar para melhorar. 

Nesse momento da intimidade, as mentiras que contamos pra nós e para o mundo, não se sustentam.

Não tem meditação, Yoga, ou Espiritualidade que sustente as nossas mentiras. 

É claro que tudo isso nos conduz a um lugar melhor de nós mesmos.

É maravilhoso fazer tudo isso. 

Mas não basta! 

Todas essas coisas são parte do caminho, parte do caminhar.

Todas essas formas de nos acessarmos fazem parte da teoria, mas a prática mesmo são os relacionamentos. 

_Não basta meditar todo dia e se aborrecer constantemente com o(a) companheiro(a), ou com os filhos, ou com os pais. 

_Não basta se espiritualizar, fazer caridade e tratar mal o porteiro, o garçom, o caixa do supermercado. 

_E não basta achar que somos maravilhosos e seres elevados se não conseguimos saber, de verdade, quem somos. 

_Não adianta fazer de conta que está se aprofundando, quando na verdade o olhar só fica na superfície, colocando a responsabilidade de tudo nos outros. 

O nome que se dá a todas essas pegadinhas é "Ego Espiritual".

E o mundo tá cheio deles. 

Pessoas que até têm uma boa intenção de transformação, mas que na maioria das vezes não conseguem reconhecer seus erros, suas falhas e vão colocando as responsabilidades daquilo que não deu certo, no outro. 

Então, é preciso estarmos atentos ao nosso ego espiritual. 

É preciso estarmos atentos a quem somos e o que lá no fundo desejamos. 

É preciso reconhecer que se nos julgamos melhores e/ou mais evoluídos porque não comemos carne, porque produzimos menos lixo, porque andamos de bicicleta ou por qualquer outra coisa, tudo o que não somos é evoluídos. 

Porque seres evoluídos não se comparam e não competem. 

Eles são o que são, sabem disso e não precisam provar pra ninguém. 

E se você descobriu que seu ego espiritual está gritando aí dentro, que bom! 

Fique feliz por estar se tornando consciente dele. 

Porque é só através dessa consciência que podemos melhorar. 

Seja bem-vindo ao mundo dos que são de verdade!!! 

Boas Reflexões meus irmãos. 

(Autor desconhecido)

setembro 04, 2021

DADOS HISTÓRICOS DO GRAU DE COMPANHEIRO MAÇOM


Doutrinariamente, o grau de Companheiro é o mais legítimo grau maçônico, por mostrar o obreiro já totalmente formado e aperfeiçoado, profissionalmente. 

Historicamente, é o grau mais importante da Franco-Maçonaria, pois sempre representou o ápice da escalada profissional, nas confrarias de artesãos ligados à arte de construir, as quais floresceram na Idade Média e viriam a ser conhecidas, nos tempos mais recentes, sob o rótulo de “Maçonaria Operativa”, ou “Maçonaria de Ofício”. 

Na realidade, antes do século XVIII havia apenas dois graus reconhecidos na Franco-Maçonaria: Aprendiz (Entered Apprentice) e Companheiro (Fellow Craft, ou, simplesmente, Fellow). Na época anterior ao desenvolvimento da Maçonaria dos Aceitos, ou Especulativa (1), o Companheiro era um Aprendiz, que havia servido o tempo necessário como tal e havia sido reconhecido como um oficial, um trabalhador qualificado, autorizado a praticar seu ofício. Na Idade Média, quando as construções em pedra eram comissionadas pela Igreja, ou pelos grandes reis, duques ou lords, a Maçonaria operativa era um lucrativo negócio ; ser reconhecido, portanto, como um Companheiro pelos operários era um passaporte seguro para uma participação no negócio e para uma renda praticamente garantida.

Graças a isso, os mestres da obra eram escolhidos entre os Companheiros mais experientes e com maior capacidade de liderança ; e só exerciam as funções de dirigentes dos trabalhos, daí surgindo o Master da Loja (2), o qual, pelas suas funções e pelo respeito que merecia de seus obreiros, viria a ser o Worshipful Master --- Venerável Mestre --- o máximo dirigente dos trabalhos (3). 

O grau de Mestre Maçom só surgiria em 1723 --- depois da criação, em 1717, da Primeira Grande Loja, em Londres --- e só seria implantado a partir de 1738. Por isso, o grau de Companheiro foi sempre o sustentáculo profissional e doutrinário dos círculos maçônicos, não se justificando a pouca relevância que alguns maçons dão a ele, considerando-o um simples grau intermediário. Autores existem, inclusive, que afirmam que na fase de transição da Maçonaria, ele era o único grau, do qual se destacaram, para baixo, o grau de Aprendiz, e, para cima, o de Mestre. Na realidade, não pode ser considerado um maçom completo aquele que não conhecer, profundamente, o grau de Companheiro.

A palavra Companheiro é de origem latina. 

O seu significado tem provocado controvérsias quanto à sua etimologia, pois alguns autores sustentam que ela seria derivada da preposição cum = com e do verbo ativo e neutro pango (is, panxi, actum, angere) = pregar, cravar, plantar, traçar sobre a cera e --- no sentido figurado --- escrever, compor, celebrar, cantar, prometer, contratar, confirmar. Neste caso, especificamente, pango teria o sentido de contrato, promessa, confirmação, fazendo com que a expressão cum pango --- que teria dado origem à palavra Companheiro --- signifique com contrato , com promessa , envolvendo um solene compromisso, que teria orientado as atividades das companhias religiosas e profissionais da Idade Média e do período renascentista. 

A origem mais aceita, todavia, é outra: o termo Companheiro é derivado da expressão cum panis, onde cum é a preposição com e panis é o substantivo masculino pão, o que lhe dá o significado de participantes do mesmo pão. Isso dá a idéia de uma convivência tão íntima e profunda entre duas ou mais pessoas, aponto destas participarem do mesmo pão, para o seu nutrimento. 

Essa origem, evidentemente, deve ser considerada nos idiomas derivados do latim: compañero (castelhano), compagno (italiano), compagnon (francês), companheiro (português). A Enciclopédia Larousse, editada em Paris, por exemplo, registra o seguinte, em relação aos vocábulos compagnon e compagnonnage: 

Compagnon - n.m. (du lat. cum = avec, et panis = pain) --- Celui que participe à la vie, aux occupations d’un autre: compagnon d’études. Membre d’une association de compagnonnage. Ouvrier. Ouvrier qui travaille pour un entrepreneur (par opos a patron). 

Compagnonnage - n.m. -- Association entre ouvriers d’une même profession à des fins d’instruction professionelle et d’assistence mutuelle. Temps pendant lequel  l’ouvrier sorti d’apprentissage travaillait comme compagnon chez son patron. Qualité de compagnon. 

Ou seja: 

Companheiro - substantivo masculino (do latim cum = com, e panis = pão) ---  Aquele que participa, constantemente, das ocupações do outro: condiscípulo, companheiro de estudos. Membro de uma associação de companheirismo. Operário que trabalha para um empreiteiro. 

Companheirismo - substantivo masculino --- Associação de trabalhadores de uma mesma profissão, para fins de aperfeiçoamento profissional e de assistência mútua. Tempo durante o qual o operário saído do aprendizado trabalhava como companheiro, em casa de seu patrão. Qualidade de companheiro. 

Nos idiomas não latinos, os termos usados têm o mesmo sentido. Em inglês, por exemplo, o Companheiro, como já foi visto, é o Fellow, que significa camarada, par, equivalente, correligionário, membro de uma sociedade, conselho, companhia, etc. . Daí, temos as palavras derivadas, como: fellow laborer = companheiro de trabalho; fellow member = colega; fellow partner = sócio; fellow student = condiscípulo; fellow traveler = companheiro de viagem; e fellowship = companheirismo. 

Não se deve, todavia, confundir o grau de Companheiro Maçom, ou o Companheirismo maçônico com o Compagnonnage --- associações de companheiros --- surgido na Idade Média, em função direta das atividades da Ordem dos Templários, e existente até hoje, embora sem as mesmas finalidades da organização original, como ocorre, também, com a Maçonaria. O Compagnonnage foi criado porque os templários necessitavam, em suas distantes comendadorias do Oriente, de trabalhadores cristãos ; assim organizaram-nos de acordo com a sua própria doutrina, dando-lhes um regulamento, chamado Dever. E esses trabalhadores construíram formidáveis  cidadelas no Oriente Médio e, lá, adquiriram os métodos de trabalho herdados da Antigüidade, os quais lhes permitiram construir, no Ocidente, as obras de arte, os edifícios públicos e os templos góticos, que tanto têm maravilhado, esteticamente, a Humanidade. O Compagnonnage, execrado pela Igreja, porque tinha sua origem na Ordem dos Templários, esmagada no início do século XIII, por Filipe, o Belo, com a conivência do papa Clemente V, acabaria sendo condenado pela Sorbonne. Esta, originalmente, era uma Faculdade de Teologia, já que fora fundada em 1257, por Robert de Sorbon, capelão de S. Luís, para tornar acessível o estudo da teologia aos estudantes pobres. E a condenação, datada de 14 de março de 1655, contendo um alerta aos Companheiros das organizações de ofício (os maçons operativos), tinha, em relação às práticas do Compagnonnage, o seguinte texto: 

“Nós, abaixo assinados, Doutores da Sagrada Faculdade de Teologia de Paris, estimamos: 

1. Que, em tais práticas, existe pecado de sacrilégio, de impureza e de blasfêmia contra os mistérios de nossa religião; 

2. Que o juramento feito, de não revelar essas práticas, mesmo na confissão, não é justo nem legítimo e não os obriga de maneira alguma ; ao contrário, que eles se obrigam a acusar a si mesmos desses pecados e deste juramento na confissão; 

3. Que, no caso do mal estar continuar e não possam eles remediá-lo de outra forma, são obrigados, em consciência, a declarar essas práticas aos juizes eclesiásticos ; e da mesma forma, se for necessário, aos juizes seculares, que tenham meios de dar remédio; 

4. Que os Companheiros que se fazem receber em tal forma assim descrita não podem, sem incorrer em pecado mortal, se servir da palavra de passe que possuem, para se fazer reconhecer Companheiros e praticar os maus costumes desse “Companheirismo”; 

5. Que aqueles que estão nesse Companheirismo não estão em segurança de consciência, enquanto estiverem propensos a continuar essas más práticas, às quais deverão renunciar; 

6. Que os jovens que não estão nesse “Companheirismo”, não podem neles ingressar sem incorrer em pecado mortal. 

Paris, no 14o. dia de março de 1655”. 

Nada a estranhar! Era a época dos tribunais do Santo Ofício, da “Santa” Inquisição. 

Para finalizar, é importante salientar que muitos dos símbolos do grau de Companheiro Maçom --- os quais tanto excitam a mente de ocultistas --- foram a ele acrescentados já na fase da Maçonaria dos Aceitos, pelos adeptos da alquimia oculta, da magia, da cabala, da astrologia e do rosacrucianismo , já que os obreiros medievais, os verdadeiros operários da construção, nunca adotaram tais símbolos, limitando-se às lendas e aos mitos profissionais. Eram, inclusive, adversários das organizações ocultistas, combatidas pela Igreja, à qual eles eram profundamente ligados, pois dela haviam haurido a arte de construir e mereciam toda a proteção que só o clero católico poderia dar, numa época em que o poder maior era o eclesiástico. 

Com o incremento do processo de aceitação, a partir dos primeiros anos do século XVII, as portas das Lojas dos franco-maçons foram sendo abertas não só aos intelectuais e espíritos lúcidos, que foram responsáveis pelo renascimento europeu, mas, também, a todos os agrupamentos místicos e às seitas existentes na época. Isso iria provocar uma verdadeira revolução nas corporações de ofício e iria começar a delinear a ritualística especulativa do grau, baseada em símbolos místicos e nas doutrinas ocultistas, principalmente na Cabala e na Alquimia Oculta

NOTAS 

1. Aceitos eram aqueles elementos não ligados ao ofício, ou à arte de construir, os quais tinham o seu ingresso admitido nas Lojas dos verdadeiros obreiros da construção. O costume de admitir “aceitos” era muito antigo e, praticamente, sempre existiu nas agremiações profissionais, como maneira de distinguir algumas pessoas ; e essa distinção podia ser uma simples honraria, ou, então, motivada por uma questão de sobrevivência e de amparo, através da aceitação de nobres e aristocratas. A prática, todavia, era bastante restrita, e tais aceitos, em número diminuto, não eram mais do que membros honorários das Lojas, não tendo, nelas, qualquer atuação decisiva. Com a decadência das corporações de ofício, estas começaram, de maneira mais evidente e não mais como honraria, a aceitar elementos estranhos ao ofício, para aumentar o enfraquecido contingente dos franco-maçons. O primeiro caso conhecido é o de John Boswell, lord de Aushinleck, aceito na St. Mary’s Chapell Lodge --- Loja da Capela de Santa Maria --- em Edinburgo, Escócia, em 1600. Essa Loja fora criada em 1228, quando da fundação da Fraternidade de Construtores da Capela de Santa Maria, que alguns autores consideram como núcleo original do Rito Escocês, o que não parece viável. Durante todo o século XVII, o processo iria se acentuar a ponto de, no seu final, o elemento aceito superar, amplamente, o operativo, o que iria levar, em 1717, à fundação da Premier Grand Lodge, em Londres, a qual serve como marco --- um “divisor de águas”--- entre a Maçonaria operativa e a moderna Maçonaria dos Aceitos. 

2. As Lojas dos operativos eram formadas para proceder à construção de obras de arte, obras públicas, ou templos católicos (é o caso, por exemplo da já citada Loja da Capela de Santa Maria). Concluída a obra, a Loja continuava, pois, em construções com a envergadura daquelas, incluindo as imensas e trabalhadas catedrais góticas, havia a necessidade de constante manutenção e eventuais reparos. 

3. O título de Mestre da Loja, ou Venerável Mestre, dado ao presidente de uma Oficina maçônica, tem sua origem na Inglaterra, nos meados do século XVII, quando já ia avançada a paulatina transformação da Maçonaria de ofício em Maçonaria dos aceitos. Derivado da palavra inglesa worship, que significa adoração, culto, reverência --- como forma de tratamento --- quando usada como substantivo, e venerar, adorar, idolatrar, quando usada como verbo transitivo, tem-se o termo worshipful , que significa adorador, reverente, ou venerável  (neste último caso, como forma de tratamento). Assim, o presidente da Loja tinha o título de Master (Mestre), ao qual se adicionou, posteriormente, o tratamento reverente de worshipful  (venerável) --- pois, no início, o termo venerável era aplicado apenas às corporações de artesãos --- o que produziu a expressão worshipful master  (venerável mestre). A expressão, todavia, não é muito utilizada nos países de fala inglesa, onde se prefere, simplesmente, Master, dando-se o título de Past-master ao ex-Venerável Mestre. Nas Obediências latinas, ao contrário, é quase abolido o termo Mestre, já que as referências ao presidente da Loja limitam-se, quase sempre, a um simples Venerável, o que é altamente incorreto, pois este vocábulo, no caso, é um adjetivo, que não pode ser usado sem o substantivo Mestre.