setembro 24, 2021

A CAMARA DE REFLEXÕES E SEUS SÍMBOLOS - parte 3

 


A CAMARA DE REFLEXÕES é uma pequena sala, sem janela, na qual o leigo é apresentado antes da cerimônia de iniciação. Este pequeno quarto é pintado de preto por dentro. Está mobilado com um banquinho e uma mesa. O leigo entra ali e se vê trancado ali. Ele deve escrever seu "testamento filosófico". A vontade não tem relação com o que se dita ao seu notário. Estas são reflexões sobre os grandes problemas filosóficos.

Ao refletir sobre esta questão, o leigo descobre a decoração do gabinete de reflexão: um crânio humano, colocado (nem sempre) sobre alguns ossos, um pedaço de pão, uma garrafa de água, um pires com sal, outro com enxofre e uma ampulheta . Na parede, desenhos simbólicos, pintados a branco sobre fundo preto: um galo, uma foice, a palavra VITRIOL ou VITRIOLUM numa escrita tal que as letras estão sempre separadas por pontos, para indicar que se trata da 'abreviatura fonética. de uma fórmula em que cada palavra é representada por uma letra. Além disso, há frases: "Se a curiosidade o trouxe até aqui, vá embora." -   Se sua alma sente medo, não vá mais longe! " 

Estas frases não são obrigatórias para constituir um gabinete de reflexão de acordo com os fins do ritual.

Com efeito, o objetivo da sala de reflexão é provocar um choque psicológico para “acordar A e convidar à meditação. O leigo não está acostumado a ficar sozinho, no escuro, em tal lugar. Na vida secular, nada é inesperado. Os dias passam, entre trabalho, casa, lazer, de forma planejada com antecedência, e isso inevitavelmente atrofia as faculdades de reflexão.

Quando um leigo é reconhecido como "iniciado", é importante fornecer-lhe os meios para desenvolver suas faculdades adormecidas pela rotina diária. O think tank é o primeiro desses meios. Seu objetivo é colocar o leigo sozinho, de frente para si mesmo e. direcionar sua reflexão para os problemas da vida e da morte pela presença de objetos especialmente selecionados para esse fim. No ambiente especial da sala de estudos, ao lado de objetos já numerosos e principalmente enigmáticos, as frases nada acrescentam nem ao mistério nem à solenidade do lugar. O gosto pelo “Pathos”, de que exprimem estas ameaças vãs e irrisórias, pertence a uma época passada e felizmente não está ligado ao simbolismo maçônico naquilo que transmite.

A VONTADE

No gabinete de reflexão, entregue a si mesmo, o destinatário deve responder a três perguntas: quais são os seus deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com a humanidade? Na Maçonaria, evocamos sobretudo os deveres e deixamos de lado os direitos. Para se aperfeiçoar, para ter acesso à liberdade, o homem deve se impor deveres e se esforçar. A liberdade é obtida por meio do ascetismo. Esta é a lei.

O "Grande Arquiteto do Universo" é o símbolo da perfeição e das primeiras causas. Este símbolo é compatível com todas as convicções filosóficas e religiosas, desde que, obviamente, essas convicções sejam acompanhadas pela Tolerância, uma virtude maçônica de suma importância.

No entanto, nos países católicos, a ideia de Deus foi associada ao longo da história com a opressão de um clero ávido pelo poder temporal. Esse Deus, que só poderia ser abordado por intermédio de uma casta de intercessores e, sob pena dos piores tormentos, inexoravelmente se tornaria antipático. O irmão Proudhon declarou guerra a esse Deus escrevendo seu Testamento Filosófico na sala de estudos. Deus, de fato, o símbolo das primeiras causas, tornou-se o padrão de uma ordem estabelecida fundada na opressão. Por isso, a fórmula: "quais são os seus deveres para com Deus", foi suprimida por muitos maçons, nos países latinos. A' tendo sido substituída pela fórmula "quais são seus deveres para com a pátria?" »Não nos parece feliz porque o maçom é um cidadão do mundo e solidário com todos os homens. Devemos ver na substituição da ideia de Deus pela de Pátria a herança dos jacobinos, cuja tolerância não era a maior virtude. Entre os símbolos e alegorias que aparecem dentro do think tank, a bandeira nacional não tem lugar.

Esta fórmula deve, como outras coisas além, ser considerada como uma influência transitória do mundo profano que se infiltrou dentro do Templo graças a algumas rachaduras ...

Nos países anglo-saxões, Deus teve um destino melhor porque nesses países, toleramos várias formas de abordá-lo. Existem muitas igrejas, muitos cultos e também, o que é importante, a Bíblia é lida e comentada em família.

Além disso, o poder dos intercessores é menor, sendo cada pai, de certa forma, um padre em casa. No entanto, a tendência, hoje bastante forte nesses países, e que consiste em arrancar a ideia de deus da linguagem simbólica para torná-lo um verdadeiro ser consciente, exatamente em conformidade com a letra do que está escrito nos textos do monoteísmo. religiões fundadas na revelação, é de origem secular. A ideia de um Deus transcendendo o universo está efetivamente ligada à religião exotérica.

Para Cabalistas e Gnósticos, o mundo é imanente e Deus (Ein Sof, infinito) representa as causas primárias do desconhecido. Ele está localizado além do verbo, enquanto a criação real está ligada à ideia de um Demiurgo. Esta é também uma tentativa de recuperar por uma ortodoxia o que deve permanecer escrupulosamente na encruzilhada de todas as ortodoxias, o Centro da União (Apenas alguns anos após a publicação das Constituições de Anderson, as manobras realizadas para reduzir a Maçonaria a uma simples associação cristã frequentemente tiveram sucesso).

O simbolismo maçônico está associado a todas as tradições esotéricas cujos mitos e valores foram mais ou menos bem transmitidos por religiões exotéricas. Assim, por exemplo, um maçom não despreza a Virgem, mas o que lhe interessa neste personagem é o princípio da fertilidade transfigurado no feminino eterno, tal como este princípio foi corporificado por Ísis, Ishtar, Astarté, Cibele., Ceres, Deméter, a Boa Mãe e, finalmente, Santa Maria. Os princípios, corporificados para as necessidades do exoterismo, vestidos e nomeados de maneira diferente pelas várias religiões exotéricas, são de interesse apenas para os maçons.

Com efeito, esses princípios, fruto de um esforço coletivo do qual participaram todas as faculdades humanas, inteligência, observação, imaginação, intuição, são a expressão da realidade humana e das leis da vida.

Após as três perguntas, o leigo é convidado a resumir em poucas palavras o seu “Testamento Filosófico”. O que ele acredita e o que considera essencial transmitir. A ideia de Testamento implica a ideia de transmissão. O homem é um usufrutuário que, pela sua vontade, transmite uma herança em princípio melhorada pelo seu esforço pessoal. A solenidade de tal ato tem sua origem na ideia de que o objeto da transmissão, a herança, deve sobreviver por gerações. Quem escreve seu Testamento Filosófico especula com os valores que considera eternos. Ele, portanto, faz um balanço de si mesmo e, seja qual for a qualidade do que escreve, o simples fato de ter feito um esforço nessa direção é extremamente saudável.

Oswald Wirth e Plantagenet acreditam que as três questões sozinhas constituem o Testamento. Agora, é costume adicionar um Testamento filosófico. Deve-se reconhecer que as poucas linhas dedicadas ao Testamento Filosófico são freqüentemente as únicas em que o destinatário realmente se entrega.

A formulação das três perguntas e o   contexto de admissão à Maçonaria na maioria das vezes nos rendem respostas de chatices exasperantes e conformismo! Pedir ao destinatário para escrever algumas linhas fora das três perguntas habituais permite ideias pessoais. O leigo, diante do testamento filosófico, é obrigado a refletir

VITRIOL OU VITRIOLUM

Estas letras constituem o signo que expressa a fórmula alquímica: "Visita Interiora Terrae, Rectificando Invenies occultam Lapidem (Veram Medicinam)", ou seja: Visite o interior da Terra, retificando encontrará a pedra escondida (Remédio da verdade )

Todos os autores que escreveram sobre o simbolismo maçônico especificam que essa sigla era o lema da antiga Rosa-Croix. De acordo com Ambelain, os RoseCroixes conscientemente entraram nas lojas maçônicas nos séculos 17 e 18 e introduziram o hermetismo e a alquimia ali (cf. Ambelain: Scala philosophorum ou o simbolismo das ferramentas).

De acordo com Oswald Wirth, essa pedra seria a pedra cúbica dos maçons. Essa analogia nos parece discutível, porque a pedra cúbica dos maçons é o resultado de um trabalho feito em pedra bruta. Este trabalho, tanto manual quanto intelectual, envolve todo o ser. Para ter sucesso, é claro, você precisa cultivar qualidades físicas: força, habilidade. Além disso, é preciso conhecimento; geometria e manuseio de ferramentas. Essas qualidades são adquiridas por meio do esforço. É aí que reside a grande Obra: fabricar, construir em si mesmo o Ser perfeito e realizado, a imagem da pedra cúbica perfeitamente bem-sucedida. Mas é a "pedra escondida" do lema alquímico, que se "encontra" visitando o interior da terra, a   pedra cúbica?  que fabricamos? Segundo o lema, a pedra escondida existiria pronta, existiria antes do homem cujo trabalho consistiria em procurá-la, enquanto a pedra cúbica seria inconcebível sem intervenção humana.

A Terra é um dos quatro elementos da cosmovisão alquímica. Talvez, visitar o interior da terra signifique: buscar em si mesmo, fazer introspecção, sendo a Terra uma alegoria para significar o homem (1). “Por retificar” significa necessariamente que em um determinado momento da “visita”, há uma operação intelectual a ser realizada. Essa operação intelectual, cujo objetivo, como a palavra "retificar" o exprime, mudar, modificar o curso normal das coisas (o significado da visita) só é concebível se for baseada em conhecimentos adquiridos, passíveis de servir como referências para julgar um estado de coisas. “Por retificar - implica, portanto, que o assunto possui amplo conhecimento. Não é a pedra escondida que fornece esse conhecimento, mas é é esse conhecimento que permite que a pedra oculta seja encontrada. A pedra escondida é a conclusão, a recompensa e a finalidade de um esforço cuja eficácia é possibilitada pelo conhecimento.

(1) Em hebraico, a palavra   (Adão), homem pode ser vista como uma raiz triliteral da qual deriva a palavra   (Adamah), terra. Portanto, a Terra está subordinada ao homem, pertence a ele. A Terra pertence ao homem e não o homem à Terra. A Terra é um   derivado   do homem.

SAL E ENXOFRE

Dois recipientes também estão entre os objetos essenciais na sala de pensamento: um contém sal e o outro enxofre.

O sal, extraído da água do mar por evaporação, é, como diz Louis Claude de Saint Martin, um fogo liberado da água. O sal retém água e a destrói por corrosão. Além disso, todo   o simbolismo do sal está ligado à lei das transmutações físicas e, por extrapolação, à lei das transmutações morais e espirituais.

A Bíblia dá importância ao sal: a aliança do sal designa uma aliança que o próprio Deus não pode quebrar (Números 18,11; crônica 13,5). Levítico (2,13) ​​faz alusão ao sal que deve acompanhar as oblações. Os sacrifícios devem ser providenciados. Na tradição semítica, compartilhar pão e sal cria uma amizade indestrutível. Assim, a Bíblia associa o sal à noção de indestrutibilidade, Incorruptibilidade e, conseqüentemente, de eternidade. Por outro lado, o sal também simboliza esterilidade. Os romanos jogaram sal nas cidades destruídas para que nada voltasse a crescer.

O enxofre é o princípio ativo da alquimia. Para os alquimistas, o enxofre estava no corpo assim como o sol está no universo. Na Bíblia, o enxofre tem um significado prejudicial. A chuva de enxofre em Sodoma é uma retribuição divina. O enxofre está associado à "luz, a anti-luz satânica que pode ser confundida com a luz verdadeira.

A ambivalência dos símbolos, principalmente no que diz respeito ao sal e ao enxofre, com o aspecto positivo, voltado para a vida, a luz, o bem e o negativo, voltado para a morte, a destruição, o irreal, tem em si um significado que todo maçom deve ser. penetrado: nada é bom ou mau em si mesmo. Sozinho, homem, o construtor, pelo uso que faz dela, torna a coisa boa ou má.

Todos os símbolos são ambivalentes. Eles existem precisamente porque permitem viver a noção de totalidade que contém todos os opostos. Essa meditação sobre o sal e o enxofre deve levar o maçom a perceber a importância de suas ações: o maçom pode ser definido como um homem responsável.

AMPULHETA

De todos os objetos do think tank, a ampulheta é o único cujo significado é claro para os não iniciados.

Na verdade, embora não seja mais comumente usada, a ampulheta é um objeto conhecido e integrado entre as figuras familiares que compõem a bagagem cultural do Sr. Todos. Ele evoca o vôo do tempo. Muito naturalmente, sem esforço, o destinatário entende que a presença da ampulheta o convida a meditar sobre a fuga do tempo, o efêmero e, a partir daí, a vaidade, etc ... Todas as extrapolações feitas a partir da noção de efêmero levam a um consciência que é dolorosa e enriquecedora.

Mas a ampulheta também significa outra coisa. Seu simbolismo é muito rico. Assim, o fato de ele girar nos remete à ideia da reversão do tempo e do retorno às origens.

Por outro lado, sua forma em dois vasos iguais conectados por um estreito gargalo mostra a analogia entre o topo e o fundo. Existe uma passagem de cima para baixo, através da atração. Se o invertermos, o fundo se torna o topo e o topo se torna o fundo e para garantir a continuidade dessa passagem, é necessária a intervenção humana, a expressão da vontade humana de mudar o curso das coisas, até mesmo de derrubá-la. Mas essa vontade leva em conta a lei da gravidade.

Essa lei, o homem nascido pode transformá-la. Ele pode girar a ampulheta, mas não pode fazer a areia fluir para cima. A lição é clara: devemos conhecer as leis que governam o mundo e que são eternas. Eles marcam os limites de nossas competências, mas, ao mesmo tempo, nos ajudam a mudar o curso dos acontecimentos, se soubermos respeitá-los e usá-los bem.

O pescoço através do qual os dois vasos se comunicam evoca a porta estreita que deve ser cruzada para mudar de plano, para chegar a outro mundo (um nível de consciência). Por meio desse gargalo, a troca ocorre. A troca também evoca uma grande lei da vida. Tudo o que vive suga e respira, ou seja, recebe e dá. A vida não é concebível sem troca porque os dois atributos da vida, crescimento e reprodução, têm a troca como princípio. O que o vaso de cima dá, ele receberá em troca quando estiver embaixo, e receberá exatamente como deu. O iniciado sabe que entre ele e a natureza, por um lado, e entre ele e os outros homens, por outro, as relações se estabelecem necessariamente a partir da troca.


setembro 23, 2021

A CAMARA DE REFLEXÕES E SEUS SÍMBOLOS - parte 2

 


METAIS

Antes de entrar no Gabinete de Reflexão, o leigo é convidado a se desfazer de todos os seus "metais": dinheiro, relógio, joias, enfeites. Ele repõe sem restrições aquelas coisas que, na vida cotidiana, permitem a integração social e que constituem os sinais de "respeitabilidade", valor relativo e contingente.

Em todo o mundo e em todos os tempos, as sociedades fechadas que se dão uma vocação espiritual exigem de seus neófitos a renúncia aos valores temporais. Essa renúncia mais ou menos severa se expressa em um   ritual. Os mosteiros orientais exigem a raspagem da cabeça, sendo o cabelo considerado um sinal de vaidade. Esse costume existe no Ocidente e persiste, em menor grau, entre os padres, na forma de tonsura. Todas as cerimônias de iniciação praticadas em todas as latitudes começam com a remoção das roupas ou atributos corporais. A circuncisão também tem uma origem que pode ser inserida no mesmo contexto.

Na Maçonaria, a remoção dos metais tem um valor puramente simbólico, pois o neófito os recupera após a cerimônia. Não é, na tradição maçônica, arrancar o neófito do mundo profano no sentido concreto do termo.

A Maçonaria não requer renúncia ao mundo temporal. Pretende apenas ensinar seus membros a se abstrair das contingências seculares, que é o pré-requisito para a autorreflexão, para a “interiorização”. Indica a direção espiritual, o “caminho real”, que permite ao neófito cultivar seu reflexo, sua sensibilidade, sua intuição. O iniciado, treinado nesta forma particular de ascetismo, retornará ao mundo profano com novas forças. Tendo sua atenção sido atraída para o significado da remoção de metais, o neófito se esforçará durante sua vida para alcançar um equilíbrio tão harmonioso quanto possível entre os valores materiais e espirituais.

Este equilíbrio exclui necessariamente o desprezo pelos valores materiais em favor dos valores espirituais ou vice-versa. A realidade é uma totalidade inseparável. O maçom aprende que “o que está em cima é como o que está embaixo” (The Emerald Table).

Ele deseja alcançar uma espécie de "alquimia espiritual", ou seja, uma transformação do seu ser interior através de um trabalho rigoroso de estudo e reflexão. A “Arte Real” é simplesmente a arte de encontrar todos os valores em seu devido lugar. Por uma simples analogia, podemos comparar o homem, seus problemas, seus desejos, suas contradições, a um jardim com suas mais variadas plantas que competem por água e espaço. Trata-se de cultivar o jardim de maneira que cada planta encontre, segundo uma alegre expressão japonesa, o seu "lugar primoroso".

Mas as analogias são perigosas e não devemos nos perder nas reconciliações muitas vezes precipitadas e leves entre metais e paixões.

Até agora falamos apenas de signos, devemos agora estudar a noção de metais no nível simbólico.

Dissemos acima: metais são signos. Um signo é a representação material que tem a vantagem de ser facilmente expressa por uma simplificação gráfica fácil de lembrar de uma realidade abstrata. Os sinais matemáticos são a melhor ilustração dessa definição. Mas não são só eles. A sociedade precisa de uma série de sinais: sinais de trânsito, as mais diversas grafias para indicar aqui a presença de um hospital, ali a existência de uma tabacaria. Siglas, abreviações e, em um nível mais detalhado, atributos de roupas como gravata, paletó,. jaquetas, joias, formas, qualidade e cores de alojamentos, móveis, objetos, são todos signos. Vivemos em um mundo de signos que traduzem mensagens mais ou menos precisas. Os sinais são inequívocos e sua interpretação sempre leva ao mesmo resultado. Eles constituem mensagens a serem decifradas.

Não é o mesmo com os símbolos. A confusão é frequentemente feita entre signos e símbolos porque estamos falando de "símbolos" matemáticos e físicos. No contexto das ciências físicas e matemáticas, confundimos signo e símbolo e isso não tem importância porque se trata de criar ferramentas precisas para construir teorias, ou seja, desenvolver vínculos causais entre fenômenos.

No discurso filosófico, por outro lado, a distinção é essencial e por um motivo muito preciso: o pensamento do pesquisador é posto em causa. Não se supõe, a priori, ser uma ferramenta suficiente para abordar o estudo dos fenômenos. Ela coloca o problema do sentido da vida, da própria vida, e esse próprio problema leva à reflexão sobre o pensamento, seus limites, sua origem, suas estruturas. O símbolo é, portanto, interessante para o filósofo por duas razões: por um lado, sua própria existência e suas manifestações levantam a questão de sua função na evolução da humanidade e ele deve estudá-lo objetivamente.  como fenômeno, e por outro lado o símbolo pode ser um estímulo para sua própria reflexão. É esta função, estimulante para a mente, que Gaston Bachelard ilude quando diz: “O símbolo não impõe nada, dá origem ao pensamento. "

O símbolo se distingue do signo, do ponto de vista formal, pela pluralidade de seus significados. Quanto à substância, sua vocação é metafísica e ontológica. Qualquer reflexão sobre o símbolo leva à questão dos propósitos da vida e ao problema da natureza do ser. É, como disse Goethe, uma "janela aberta para o mundo".

A realidade é muito complexa e quanto mais perto você se aproxima dela, mais difícil é contê-la inteiramente em uma definição. A definição básica de uma pedra é "corpo mineral sólido e duro". Podemos incluir na definição tudo o que o compõe e, além disso, tudo o que está nele e o transforma ao longo do tempo? Podemos expressar em uma definição simples tudo o que é movimento na pedra ao nível dos átomos e elétrons?

Qualquer definição é uma simplificação operada por abstração. Ele negligencia a totalidade de uma coisa para reter apenas a aparência ou função. No entanto, a razão precisa de definições. No campo da filosofia, as definições são, como sabemos, ainda mais aproximadas e incompletas do que na ciência objetiva. Estamos cientes disso, mas o discurso racional tropeça em definições e, de definição em definição, às vezes leva ao delírio. A ideia de sair do campo do discurso e representar por uma simplificação gráfica um sistema coerente de leis e princípios universais está na origem do símbolo. Mas o símbolo só merece este nome a partir do momento em que a simplificação gráfica deixa de ser percebida apenas como sinal de lembrança de um sistema, mas também como um suporte para a imaginação criativa e intuição. Sua virtude educativa se manifesta quando tentamos traduzi-la no discurso. Este exercício desenvolve as faculdades de imaginação e intuição, faculdades infelizmente negligenciadas pela educação "leiga".  que envolve quase exclusivamente a inteligência racional e a memória.

O símbolo, simplificação gráfica como uma cruz ou um compasso, poderia ser definido como a manifestação desta necessidade essencial para a mente humana: encerrar a realidade elusiva em um objeto ao alcance humano; coloque o imenso no perceptível e o complicado no simples. É uma questão de dominar a realidade, com o duplo objetivo de compreender e afastar a ansiedade. É o gênio preso na lâmpada de Aladim. Em outras palavras, é reunir o que está espalhado.

Na origem do símbolo, há uma abordagem que envolve a totalidade das faculdades humanas: inteligência, sensibilidade, afetividade, intuição, etc ... A finalidade de uma sociedade iniciática é transformar o homem para fazê-lo feliz harmoniosamente desenvolvendo todas as suas faculdades, é natural que ela integre símbolos em seu sistema.

Em relação à preparação do candidato antes da iniciação, a remoção dos metais nada tem a ver com o processo simbólico. É, como já dissemos, um rito relacionado com uma tradição universal, aquele que se baseia na ideia de uma renúncia a certas riquezas para adquirir outras, de outra ordem. A originalidade da Maçonaria consiste em recordar este rito sem aplicá-lo inteiramente, pois restaura os metais. Portanto, os metais não são objeto de desprezo.

Além disso, não seguimos as interpretações de certos autores que vêem no descascamento dos metais o ensino do desprezo pela riqueza. Essa forma de ver as coisas deve muito a uma certa influência de origem católica. A Maçonaria não exige de seus membros o voto de pobreza. A Maçonaria exalta o trabalho. Todo o seu simbolismo estampava o amor ao trabalho, única fonte verdadeira de dignidade e único motor do progresso individual e coletivo. A Maçonaria não pode admitir que o trabalho seja um castigo infligido ao homem por causa de sua desobediência à ordem desejada por Deus. Riqueza em  na medida em que é fruto do trabalho (e apenas sob esta restrição, é claro) é uma bênção. Em países com tradição protestante, essa afirmação é vista como óbvia. O iniciado, se não despreza a riqueza, fruto do seu trabalho, não se deixa embriagar por ela e sabe dar-lhe o seu devido lugar, onde não atrapalhe o seu desenvolvimento espiritual.

Esta é a lição a ser aprendida com o rito da remoção do metal.

O trabalho maçônico na Loja também exige que   os metais sejam deixados na porta do Templo.

Todos os rituais nos lembram disso. Para compreender plenamente o significado desta obrigação, é necessário situá-la no contexto das fontes bíblicas da Tradição Maçônica. O Templo Maçônico, nesta perspectiva, é o Templo de Salomão que os maçons claramente dizem que desejam reconstruir. Agora, se nos referirmos ao relato da construção do Templo, lemos na Bíblia (Reis 6,7): “Quando construímos a Casa, a construímos com pedras preparadas na pedreira: martelos, picaretas, não ferramentas. nenhum ferro foi ouvido na casa durante a construção ”.

É fácil extrapolar a partir desta citação para explicar a obrigação de deixar metais na porta do Templo. Na Loja, não usamos mais ferramentas de ferro para preparar pedras. Estes estão prontos. É apenas uma questão de montá-los. Para isso, apenas instrumentos de medição são utilizados: esquadro, bússola, prumo, nível, etc. Estes instrumentos são silenciosos. Eles não envolvem os músculos, mas apenas as faculdades intelectuais. Estamos na fase final de construção: montar, consultar os planos, construir a casca. Por fora cortamos a pedra bruta e por dentro montamos as pedras. Aprendizes cuja tarefa é tornar a pedra áspera fazem esse trabalho fora do Templo. Dentro,

Na Loja, todos os elementos à nossa disposição, ou seja, os irmãos com o seu trabalho e os seus pontos de vista pessoais, devem encontrar o seu devido lugar no edifício, fruto do trabalho coletivo. A este nível, as únicas ferramentas são os instrumentos de medição, com qualidades próprias: precisão e rigor. Nesse clima, qualquer excesso de linguagem é incongruente, qualquer manifestação apaixonada é indesejável. As trocas têm apenas um objetivo: construir o edifício. As opiniões, como as pedras, são colocadas sob o signo da igualdade. Nenhum prevalece, nenhum é esquecido. Eles devem encontrar seu lugar e se encaixar harmoniosamente.



A CAMARA DE REFLEXÕES E SEUS SÍMBOLOS - parte 1





INTRODUÇÃO

O Câmara de Reflexões, tal como existe hoje nos vários ritos escoceses e no rito francês, tem quase certamente menos de duzentos anos.

Por outro lado, corresponde a parte dos ritos de iniciação praticados em todos os momentos e em todos os lugares.

Na verdade, o isolamento do neófito em uma cabana ou caverna é praticado desde o início dos tempos. Trata-se de separar o neófito de sua família, de figurar por seu isolamento em um lugar fechado, a morte, uma ruptura, para preparar uma mudança essencial, como a crisálida em seu casulo. Essa analogia, como a do retorno ao ventre materno, corresponde a profundas realidades psíquicas. A Câmara de Reflexões, em sua maior parte, é a forma moderna e adaptada aos nossos costumes da antiga cabana iniciática.

Este trabalho oferece alguns elementos de reflexão sobre os símbolos e seu uso a partir de uma perspectiva iniciática. Postulamos a iniciação como um processo que envolve todas as faculdades intelectuais e emocionais e cujo objetivo é construir a paz em si mesmo. Isso implica a conquista da liberdade, portanto uma transformação individual qualitativa. Ou seja, é descobrir a união na diversidade, superar suas contradições, aproximar o que está espalhado. O mito de Osíris está mais atual do que nunca. Arremessado por inúmeras solicitações, restringido por inúmeras restrições, desmembrado p




or status sociais e "   diferentes papéis a desempenhar, o cidadão do mundo civilizado não vive mais a não ser" compensando "em um de seus papéis pelas frustrações.

Acreditamos que a iniciação maçônica pode restaurar sua identidade, sua unidade e torná-lo um homem responsável, senhor de sua própria vida. A iniciação é libertadora. Mas não se pode iniciar pela fala. Podemos falar sobre iniciação e processo esotérico até onde a vista alcança, sem desviar o que apenas a experiência oferece. Da mesma forma, podemos falar sobre uma maçã, falar sobre suas propriedades, sua origem e sua utilidade, mas não podemos falar sobre seu sabor.

O contexto de iniciação, ou seja, a abordagem esotérica e o confronto com os símbolos só são fecundos para a mente se corresponderem a um esforço vivido. É preciso paciência e humildade para aprender. Kant entendeu isso bem. Não existe um caminho real na filosofia, disse ele. A estrada real é o ascetismo. É bem verdade que todo conhecimento corresponde a uma forma de ser. Todo esforço em si mesmo leva a um certo conhecimento.

O neófito que entra na Câmara de Reflexões deve saber que pode conquistar sua liberdade. Depende apenas dele. É possível indicar uma direção. Não é possível carregá-lo no caminho. Ele deve ir sozinho e suportar sozinho o cansaço, o desânimo e todas as provações que o aguardam.

No início de sua aventura espiritual, ele deve saber que todas as suas idéias, todas as suas crenças, todos os seus preconceitos mais queridos são apenas as sublimações de seus problemas pessoais e não correspondem a nada de objetivo. Ele vai adquirir o sentido da realidade por meio da ascese iniciática, na meditação sobre os símbolos que traduzem, além das palavras, realidades contraditórias. Tudo o que pode ser expresso por meio da fala é apenas abstração. Uma palavra não pode ser ele e seu oposto. O símbolo, por outro lado, é versátil e insondável. Como tal, ele se adere mais à realidade. Como disse Bachelard, dá o que pensar. Isso significa que orienta a mente para a compreensão do real além da fala.

Não se trata de buscar na iniciação um remédio para os males de nosso tempo. Tudo o que se pode dizer sobre o mundo moderno, a tecnologia, a tecnocracia, a primazia do quantitativo sobre o qualificador etc., nos parece pusilânime. Nosso mundo, nós o merecemos e fazemos parte dele. É uma etapa necessária em nossa história espiritual. O ciclo da morte-ressurreição, como o ciclo da putrefação até o desabrochar da rosa, constitui a vida. Aqueles que condenam são falsos profetas. O verdadeiro processo iniciático parece-nos ser aquele que consiste, antes de mais nada, em aceitar o que existe para participar do devir.

Os julgamentos de valor em nosso mundo atual, bem como nas várias "ordens estabelecidas" são irrelevantes, sejam esses julgamentos positivos ou negativos.

O processo iniciático, para ser frutífero, deve manter distância tanto da contestação quanto da submissão. Se essas distâncias não forem respeitadas, todas as armadilhas tornam-se perigosas.

É uma questão de buscar na iniciação, não um remédio, mas uma realização. Não lutamos contra a doença, mas com ela. A cura é obtida "adicionalmente".

A iniciação não pode ser transmitida, como já dissemos, apenas pela fala. Da mesma forma, só pode ser transmitido no contexto de um grupo. O ritual praticado por um grupo iniciático fornece as “salvaguardas” sem as quais uma abordagem introspectiva solitária afundaria no delírio.

Câmara de Reflexões constitui, durante a iniciação maçônica, a única prova durante a qual o neófito é isolado. O resto da cerimônia é realizado em grupo e o neófito, ainda cego, percebe a presença de outras pessoas.

Não poderíamos terminar esta introdução sem prestar uma humilde homenagem, tanto quanto merece a todos os maçons que acharam útil escrever sobre esses assuntos. Com o tempo, eles enriqueceram a substância da Maçonaria. Por medo de esquecermos pelo menos um, não nomearemos nenhum. Talvez seja melhor assim. Nesta área, nada é mais perigoso do que o culto à personalidade e ao Mandarinato.

Todos são úteis para poucos e cada um realiza sua missão sozinho. É impossível imaginar uma conferência magistral sobre esoterismo e iniciação, pela simples razão de que nessas áreas, inteligência e memória não estão apenas envolvidas, mas todas as faculdades.

Por outro lado, a fala é útil. Privado de apresentações sobre essas questões, o neófito não poderia avançar. Só que a fala deve tender a despertar e não simplesmente a transmitir uma mensagem. Os escritos fornecem ao neófito a presença de outras pessoas necessárias para esta iniciação. Eles dão ideias, compartilham experiências, fornecem documentação. Eles são necessários, mas não suficientes.


setembro 22, 2021

A MAÇONARIA INCORPÓREA - Paulo M. (do Blog “A partir pedra”)



“Ministro da Saúde acusa Medicina de incoerência”. “Engenharia desacredita cursos do ensino privado”. “Dança moderna na bancarrota”. “Atletismo acusado de burla”. “Geografia convoca eleições”. “Química sobe os preços dos combustíveis”. Imaginem qualquer destas frases na primeira página de um jornal. Nenhuma delas faz sentido, pois não? Agora imaginem-nas alteradas desta forma: “Ministro da Saúde acusa Ordem dos Médicos de incoerência”. “Associação dos Engenheiros Civis desacredita cursos do ensino privado”. “Escola Nacional de Dança Moderna na bancarrota”. “Tesoureiro do Conselho Superior de Atletismo acusado de burla”. “Sociedade Lisbonense de Geografia convoca eleições”. “GALP sobe o preço dos combustíveis”. Já se percebe melhor, não acham?

        A Medicina, a Engenharia, a Dança, o Atletismo, a Geografia, a Química, não são entidades; são, quando muito, nomes de áreas do saber, de técnicas, de atividades. Dizer-se que “a Medicina” fez isto ou aquilo é desprovido de sentido, assim como o é acusar-se “a Política” de má fé. Já dizer-se que “o quadro médico do Hospital X ganhou prémio de excelência” é um discurso pelo menos coerente, como o será acusar-se “o Secretário de Estado de Z” de má fé. Por outro lado, não parece correto dizer-se que “a ponte foi construída com recurso aos mais modernos conhecimentos da Ordem dos Engenheiros”, mas se dissermos “aos mais modernos conhecimentos da Engenharia” tudo muda de figura.

        Entaladas entre dois conceitos ficam frases como “Igreja Católica condena o uso do preservativo”, ou “O Futebol está de luto”. O que não é claro, nestes casos, é a identidade do sujeito. “Igreja Católica” refere-se a quê, precisamente? Ao conjunto dos fiéis, significando que estes, na sua maioria, condenam o uso do preservativo; ou, por outro lado, ao Papa, enquanto representante da Igreja Católica, sendo este quem condena independentemente da posição da massa de fiéis? Quanto ao futebol, pode a notícia significar que, por exemplo, a Federação Portuguesa de Futebol decretou luto oficial por uma qualquer razão; ou pode, por outro lado, querer dizer que milhões de adeptos da modalidade sofrem com a perda de uma figura de referência. Qualquer das interpretações faz sentido; traduz é realidades distintas.

        Precisamente o mesmo fenómeno ocorre de cada vez que se ouve ou lê: “A Maçonaria fez…”, “Maçonaria implicada em…” ou “Ligações à Maçonaria no caso…”, como se a Maçonaria, à semelhança de uma Igreja, de uma Colmeia ou um Clube Desportivo, fosse uma entidade, uma soma das partes, um substantivo coletivo. E aqui, uma vez mais, há quem tenha um entendimento, e quem tenha outro, quem concorde com esta posição e quem a repudie.

        Para a Maçonaria Regular – de origem Britânica, recorde-se – “a Maçonaria” não é o conjunto dos Maçons, mas o nome daquilo que eles fazem, do mesmo modo que “a Medicina” é o nome daquilo que os médicos fazem, e não o nome que se dá ao conjunto dos médicos. Da esfera da Maçonaria Regular faz parte o princípio de que a Maçonaria não deve intervir na sociedade enquanto tal, mas apenas através de cada maçon. Cada um destes pode – deve! – promover a melhoria da sociedade através do seu próprio exemplo, da sua atuação e da sua influência, seja isoladamente seja em ações conjuntas dos elementos da mesma Loja ou, mesmo, da mesma Obediência (ou seja: da mesma Grande Loja ou Grande Oriente). Assim, não se pode dizer que a Maçonaria Regular tenha um “corpo” atuante, pois cada mão, cada dedo, cada cabelo, age por si mesmo, sem que haja concertação daquilo que se faz.

        Entendimento diverso tem, normalmente, quem pratica a Maçonaria Liberal – de origem Francesa – por entender ser a Maçonaria o conjunto dos Maçons, ativamente empenhados, enquanto parceiro social, na promoção dos ideais maçónicos de uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais fraterna. A Maçonaria é, aos seus olhos, o conjunto daqueles que defendem uma mesma visão do mundo, e que se congregam enquanto grupo organizado no sentido de a tornar realidade. Deste modo, atua de forma mais ou menos concertada, mas sempre com a consciência de que fazem parte de um todo, de um corpo, com um propósito comum para o qual cada um contribui na medida da sua possibilidade.

        Em Portugal, a obediência internacionalmente reconhecida no seio da Maçonaria Regular é a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, de que a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues faz parte. A maior das obediências portuguesas internacionalmente reconhecidas no seio da Maçonaria Liberal é o Grande Oriente Lusitano (GOL). Uma e outra praticam Maçonaria – mas fazem-no de forma substancialmente diferente, decorrendo esta diferença, nomeadamente, do distinto entendimento que têm da ação da Maçonaria na sociedade. Não será alheia a esta diferença de postura perante a sociedade a profusão de referências nos media ao GOL, enquanto que a GLLP/GLRP tem uma exposição mediática muito mais reduzida. A avaliação do quanto de benéfico ou de nefasto para cada uma das Obediências e para a Maçonaria advém destas distintas posturas é algo que vos deixo como exercício de especulação individual.

        E a partir de agora, quando ouvirem dizer ou lerem que “a Maçonaria” fez isto ou aquilo, averiguem a quem se refere a notícia: a que maçons, a que loja, a que obediência – isto, se não for “boato”. Vão ver que, se o fizerem, muitas das perguntas que aqui têm surgido ficarão rapidamente respondidas – ou saberão, pelo menos, a quem dirigi-las.

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O CARÁTER DO HOMEM MAÇOM - UMA ANÁLISE À LUZ DA PRÁXIS MAÇÔNICA. - Dario Baggieri




Muitas vezes vemos irmãos se manifestarem intra e extra-templo sobre que o irmão “X “ não tem um bom caráter, o Irmão “Y” é mau caráter e o irmão “Z” é de caráter duvidoso, dúbio.

Tais ponderações me levaram a estudar esse assunto,  dentro de nossas Oficinas dentro de uma visão Médica, Psicológica, Sociológica e de relações humanas, à luz da Doutrina Maçônica.

Muito difícil formar opinião a uma simples visão.

O Universo do relacionamento humano é vastíssimo, complicado, com Nuances diversificadas dentro das normas sociológicas da boa ou má “ vizinhança”.

Assim, definiríamos genericamente o Caráter como:” Conjunto de traços morais, psicológicos etc., que distinguem um indivíduo, grupo ou povo; índole; temperamento; qualidade; firmeza de atitudes.

Mau caráter: quem demonstra maldade ou qualidades negativas de caráter; pessoa sem escrúpulo; que engana as pessoas sem o menor constrangimento; desvio de caráter (para o mal); diz-se daquele ou daquela que age sem decência, sem pudor, sem sensibilidade humana.”

Nesse sentido podemos compreender o caráter como algo que se forma para manter uma estrutura necessária ao desenvolvimento do indivíduo. 

Porém, quanto mais rígida e inflexível for a estrutura do caráter, mais esse caráter se transformará em uma resistência que tenta manter o material inconsciente fora de alcance, fazendo com que o indivíduo passe a reagir de modo automático como um mecanismo de defesa. 

Ou seja, o caráter não é uma escolha deliberada, ele se forma devido a necessidade do indivíduo se proteger do meio externo. 

O caráter é uma reação àquilo que foi experimentado na infância. 

Cada caráter é único porque cada experiência é única.

Caráter é a maneira a qual a pessoa se apresenta e se comporta em suas relações. 

É a atitude psíquica particular em direção ao mundo externo, específica a um dado indivíduo. 

É determinado pela disposição e pela experiência de vida, assim, podemos considerar tipos de caráteres onde se apresentam comportamentos mais ou menos ajustados à realidade e ao contexto social.

Na Maçonaria , deveríamos ser todos , pessoas de BOM CARÁTER. 

Mas, infelizmente , temos muitos membros , que não poderiam ser definidos dentro dessa premissa.

Cada dia que passa fica mais escasso encontrarmos alguém de caráter totalmente ilibado, mesmo na Seara Maçônica. 

As virtudes, que são evidências do caráter, hoje, ao invés de serem regras, têm sido raríssimas exceções! 

Parece que é mais fácil nivelar todos por baixo, pelo o que se deixa de ser ou fazer, e abandonar de vez qualquer sentimento de “excelência”, “hombridade” e “obrigação”. 

Estamos sendo varridos violentamente por uma ideia de niilismo moral, onde tudo se reduz a um nada comportamental! 

A sensação que se tem é que não tem valido mais a pena prezar pelo nobre e pelo ético. 

Este contexto de relativização e banalização de valores tem contribuído para uma fragmentação conceitual e, consequentemente, prática do que significa caráter.

Assim, meus amados irmãos, temos que ter em

mente , que a formação do caráter leva em consideração não apenas o meio em que o ser humano vive, mas também a sua história. 

Falar de caráter é lidar com a historia do indivíduo: o que ele foi no passado, o que ele é no presente e o que ele será no futuro. 

Certamente, o seu caráter no presente-agora é determinado pelas experiências acumuladas no passado-anterior e por suas expectativas projetadas para o futuro-posterior. 

É simplesmente impossível dissociar nossa história de nossa estrutura; divorciar nossa identidade de nossos sonhos! 

Dentro de nossa vida privativa, coletiva, familiar e também dentro de nossa Sublime Instituição. 

Noutras palavras, tudo o que priorizamos como essencial, ou não damos tanta importância; as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos e os rumos que seguimos estão intimamente ligados e giram em torno do caráter que temos e construímos. 

Acredito que devemos nos preocupar mais com o que somos de verdade e não vivermos tanto em função do que aparentamos ser. 

Devemos retomar o caminho do caráter. 

O caminho do coração. 

Vai parecer meio retrógrado e anacrônico ser honesto, onde se cultua a hipocrisia; ser diligente, onde se louva a indolência; ser humilde, onde se prega a arrogância. 

CONCLUINDO:

“Precisamos voltar ao tempo em que nossas palavras eram a assinatura de nosso coração e as marcas de nossas mãos calejadas eram a prova de um “caráter aprovado".

Quando semeamos um pensamento, colhemos um ato; 

Quando semeamos um ato, colhemos um hábito; 

Quando semeamos um hábito, colhemos caráter; 

Quando semeamos caráter, colhemos um destino. 

Que o GADU, nos ilumine e guarde hoje e sempre e nos molde na fornalha onde o Caráter seja elemento da argamassa que  nos une juntamente com a Paz, a Harmonia e a Concórdia, que são Basilares na Essência doutrinária de nossa Sublime Ordem.


setembro 21, 2021

ENTROPIA MAÇÔNICA - Sérgio Quirino

 

Sérgio Quirino  é um notável intelectual maçônico e atual Grão-Mestre da GLMMG 2021/2024

Saudações, estimado Irmão!

Segundo Albert Einstein, Entropia é a primeira lei de todas as ciências.

Qual é a essência desta lei? A irreversibilidade!

“Irreversibilidade é a propriedade de um sistema de sofrer alterações que o leve de um estado inicial A para um estado final B, contudo, de forma que se torne impossível o regresso ao estado inicial.”​ Ou seja, não tem volta.

O conceito e as propriedades de entropia e de irreversibilidade não se resumem a isso. São, na verdade, mais profundos e diversos. Há também uma ligação simbólica com “Ordo ab Chao” estudado em graus posteriores.

Entre as diversas áreas do conhecimento humano é na Física, especificamente no estudo das Leis da Termodinâmica que, de forma simbólica, traçamos paralelos com a Entropia Maçônica.

Esclarecemos que a termodinâmica é o estudo de transferência de energia buscando compreender as relações entre calor, energia e trabalho. Analogamente, sob a perspectiva maçônica figuramos o calor como instruções, a energia como o processo de reflexão e o trabalho, a mudança ou incorporação das instruções.

A Primeira Lei da Termodinâmica nos ensina que a energia de um sistema não pode ser destruída nem criada; somente transformada.

Sendo o foco principal da Maçonaria tornar feliz a humanidade, naturalmente compreendemos que ela nunca será destruída ou criada. Ela já existe e cabe a nós transformá-la através do aperfeiçoamento dos costumes, pela compreensão e aplicação da tolerância, pela ação da equidade, até alcançarmos a igualdade, o respeito não serviçal à autoridade e o estímulo às diversas modalidades de enlevo espiritual.

A Segunda Lei da Termodinâmica prescreve que a transferência de calor ocorre invariavelmente do corpo mais quente para o corpo mais frio. Isso acontece de forma espontânea, mas, não ocorre o contrário. (Do frio para o quente)

Trazendo esta lei para o nosso ambiente: Quem tem mais calor/instruções a oferecer é o M.’.M.’. O mais “frio” é o A.’.M.’. As leis existem para serem cumpridas, ou seja, o Mestre que, realmente, alcançou a temperatura máxima, a que chamamos de “plenitude maçônica”, deve aquecer aquele que está em aprendizado.

Este, por sua vez, pelas inquietudes geradas e pelos Sãos Princípios forjados pela energia da reflexão, se coloca em constante movimento de transformação interna, que sintetiza uma vida maçônica plena.

Se o processo for inverso, deve-se reavaliar os “graus de temperatura”. Evidentemente, não sabemos de tudo. Mas, quem é “1” deve saber sobre o 1, quem é “2” deve saber sobre o 2 e o 1, quem é realmente “3” não pode desconhecer a certeza material do 1 e a dubiedade espiritual do 2, exatamente por ele ser a resultante da interação deles.​

O NOSSO PROCESSO DE ENTROPIA TRANSFORMA O PROFANO EM INICIADO.

UMA VEZ INICIADO, ELE ESTÁ IMPOSSIBILITADO DE VOLTAR A CONDIÇÃO DE PROFANO.

Começamos com Albert Einstein e encerramos com a sua conhecida sentença:

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

Atingimos quinze anos de compartilhamento de instruções maçônicas. Nosso propósito fundamental é incentivar os Irmãos ao estudo, à reflexão e tornar-se um elemento de atuação, um legítimo Construtor Social.

Sinto muito, me perdoe, sou grato, te amo. Vamos em Frente!


Sérgio Quirino

Grão-Mestre - GLMMG 2021/2024

O HOMEM VITRUVIANO - Reinaldo de Freitas Lopes




O Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci é  um estudo das proporções do corpo humano .

Uma das medidas mais importantes do Homem vitruviano é a “Razão Áurea” ou “Divina Proporção”.

Razão Áurea  (1:1.618 ) é um padrão que demonstra simetria perfeita .

O padrão se repete em toda a natureza incluindo o corpo humano.

O Umbigo exibe a razão áurea , a razão áurea está presente na face e também pode ser encontrada na mão .

Entretanto , a várias outras ideias em funcionamento no desenho de Leonardo .

Na história clássica o Círculo representa o mundo espiritual .

O Homem Vitruviano de Leonardo , o circulo também mostra  Movimento.

As pernas formam um triângulo equilátero .

Nesta posição o centro exato do corpo é o umbigo.

Os dedos juntam-se a intersecção entre o círculo e o quadrado .

Isto de acordo com Vitrúvio e Leonardo , nos demonstra a relação entre o mundo físico e espiritual.

Na História Clássica do quadrado representa o mundo físico .

O quadrado também representa as 4 direções do vento , pois o quadrado também representa os 4 elementos :

Terra 

Fogo 

Água 

Ar

Nesta posição o centro exato do corpo são os órgãos genitais .

O Comprimento formado pelos braços estendidos é igual a altura do homem .

A Régua abaixo do desenho , mostra as proporções do corpo humano.

4 dedos é igual a 1 Palmo 

6 Palmos é igual a um Cúbito ( Cúbito é a distância entre o cotovelo e o dedo médio ).

Em suas anotações Leonardo afirma que 4 cúbitos é a altura de um Homem.

A distância entre a sola do pé e o joelho , é de 1 Cúbito .

Do Joelho aos órgãos genitais , a distância também é de 1 cúbito.

Dos órgãos genitais aos mamilos , a distância é de 1 cúbito .

Dos mamilos ao topo da cabeça , a distância é de 1 cúbito.

A distância entre os ombros , também é de 1 cúbito.

O comprimento da passada de um homem também é igual a sua altura ou seja , 4 cúbitos .

O pé sozinho corresponde a 1/7 da  altura do Homem . 

A parte superior do braço corresponde a 1/8 da altura de um homem ou metade de 1 cúbito .

O tamanho da cabeça de um homem é de 1/8 de sua altura .

A Face é dividida em 3 partes , a testa corresponde a 1/3 .

Novamente ele afirma que a face é dividida em 3 partes , o nariz corresponde a 1/3 

Mais uma vez ele afirma que , a face é dividida em 3 partes , sendo que a distância do queixo ao nariz corresponde a 1/3 .

O tamanho da orelha também é igual a 1/3 da Face .

O Comprimento da Face é de 1/10 da altura do Homem , que também é ....O tamanho da mão .

Estas teorias e medidas foram Originalmente descobertas por um Arquiteto Chamado Vitrúvius .

Leonardo as estudou e encontrou uma maneira de expô-las em uma obra de Arte .

Você consegue encontrar estas medidas em teu próprio corpo .

Nota : Como foi registrado por Vitrúvius :

“Um palmo é o comprimento de quatro dedos

Um pé é o comprimento de quatro palmos

Um côvado é o comprimento de seis palmos

Um passo são quatro côvados

A altura de um homem é quatro côvados

O comprimento dos braços abertos de um homem (envergadura dos braços) é igual à sua altura

A distância entre a linha de cabelo na testa e o fundo do queixo é um décimo da altura de um homem

A distância entre o topo da cabeça e o fundo do queixo é um oitavo da altura de um homem

A distância entre o fundo do pescoço e a linha de cabelo na testa é um sexto da altura de um homem

O comprimento máximo nos ombros é um quarto da altura de um homem

A distância entre a o meio do peito e o topo da cabeça é um quarto da altura de um homem

A distância entre o cotovelo e a ponta da mão é um quarto da altura de um homem

A distância entre o cotovelo e a axila é um oitavo da altura de um homem

O comprimento da mão é um décimo da altura de um homem

A distância entre o fundo do queixo e o nariz é um terço do comprimento do rosto

A distância entre a linha de cabelo na testa e as sobrancelhas é um terço do comprimento do rosto

O comprimento da orelha é um terço do da face

O comprimento do pé é um sexto da altura”

Quem aprende convosco é......


REINALDO DE FREITAS LOPES - M.M 

M.M 

Obreiro da maçonaria universal e especulativa , zelador de meus direitos e senhor de minhas idéias e se reconhecido ou não por algum irmão , ainda assim não sou ele , sou eu e a ele estou sempre :

Em Pé e a Ordem 


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setembro 20, 2021

O VERDADEIRO PATRONO DA MAÇÔNARIA – SÃO JOÃO DE JERUSALÉM


Meus irmãos,

Nos últimos dias, aproveitando o mote do Solstício, estivemos esclarecendo cientificamente do que se trata e depois fizemos a devida alusão às festas pagãs e aos respectivos São João(s).

Procuramos relacioná-los com a maçonaria e tentar esclarecer seus prováveis vínculos histórico, filosóficos e esotéricos.

Hoje vamos findar este assunto introduzindo o último São João que não tem vínculo com os solstícios, mas que também se enquadra nas especulações como sendo o provável patrono da Maçonaria e a quem o REAA se refere na abertura de seus trabalhos: *SÃO JOÃO ESMOLER* também chamado de *SÃO JOÃO DE JERUSALÉM*.

Ao iniciarmos os trabalhos em loja o V.’.M.’. Invoca a proteção do G.’.A.’.D.’.U.’.e abre-se a loja, dizendo  -“em homenagem a São João, nosso patrono, declaro aberta esta loja de A.’.M.’. sobre o Titulo distintivo (e diz o nome da loja)” .(REAA) 

Os trabalhos estão abertos, mas nos resta a pergunta: Quem é este São João, e porque titulo distintivo?

Para responder a esta pergunta nós precisamos ainda mais nos aprofundar um pouco em textos, lendas e histórias, para descobrirmos quem foi São João de Jerusalém e porque nossas lojas são dedicadas a ele.

Comecemos por fazer algumas distinções.

O primeiro São João de que ouvimos falar e o qual é sem duvida um dos mais famosos personagens da bíblia é sem dúvida, São João Batista, que batizou Jesus e teve sua cabeça decepada por ser fiel aos seus princípios.

Este Santo tem seu dia de comemoração também associado aos mistérios celestes, pois se comemora exatamente no dia do equinócio de inverno, ou seja, o dia mais curto do ano.

A maçonaria, por sua vez, associou este dia como contemplação a esta transição do sol, e a reverencia em suas lojas com associações a sua doutrina.

Erroneamente alguns historiadores associaram este São João como patrono da maçonaria, talvez por ser o mais famoso e conhecido, mas isso é um erro comum entre os que apenas estudam a maçonaria por obrigação.

O outro São João de que se tem noticia, e também associado à maçonaria, é o São João Evangelista.

Sua data de comemoração é associada ao solstício de verão, que ocorre em dezembro.

Nesta data eram eleitas as gestões das lojas, e neste solstício a maçonaria também realizava comemorações pela passagem do sol. (hemisfério Norte) 

Porém, também erroneamente, este São João foi associado como patrono da maçonaria; principalmente por aqueles que não se dão ao trabalho de ler, e gostam muito de citar grandes nomes do passado, não testando e investigando sua veracidade; meramente copiando e transcrevendo seus dizeres e se esquecendo que a verdade é a mola que nos impulsiona.

Então, surgem as perguntas: Se nenhum deles é o patrono da maçonaria, quem o é?

Se não são estes dois importantes santos, a quem abrimos nossas lojas e trabalhamos sobre sua proteção?

No ano de  550 da era cristã, após a vinda de Jesus, nasceu um menino na ilha de Chipre ao sul da Itália. 

Motivado por sua formação cristã e caridosa, o mesmo se encaminha a Jerusalém, com a intenção de montar um hospital que atendesse aos peregrinos que viajavam à Terra Santa, visitar o Santo Sepulcro.

O garoto faleceu no ano de 619, na cidade de Amatonto, na ilha de Chipre.

Após a sua morte, o Papa  em reconhecimento ao seu desprendimento e amor incondicional, o canonizou com o nome, São João Esmoleiro, que ficou mais conhecido como São João de Jerusalém.

A História certamente terminaria aqui mas, se fossemos meros profanos.

Mas para nós, maçons iniciados na Arte Real, livres pensadores e perseguidores da verdade, não!

Ainda nos restam as pergunta: Porque dedicar as lojas à ele?

O que ele fez em Jerusalém?

Porque voltou a sua pátria?

Ao sair de sua terra natal, o garoto levou o quinhão da fortuna de seu pai, que lhe era de direito.

Ao invés de viver uma vida sossegada, ele deslocou-se para Jerusalém, onde construiu com enorme dificuldade, um hospital para socorrer os enfermos.

Baseado nos princípios da Cavalaria, ele fundou a Ordem dos Cavaleiros Hospitalares, que tinha por principal função, defender os hospitais e prestar socorro à quem se achava enfermo.

Ele mesmo foi amigo, irmão e confidente de muitos enfermos, e deu a eles mais do que os seus recursos financeiros.

Doou a cada um deles, sua saúde e atenção.

Nunca fez distinções entre feridos de guerra e leprosos; todos que buscavam ajuda neste período de caos encontravam, sem dúvida, uma mão estendida nos Cavaleiros Hospitalares e em São João.

A Ordem dos Cavaleiros Hospitalares logo foi transformada na Ordem dos Cavaleiros de Jerusalém, que agora não só tomavam conta dos hospitais, mas corriam em socorro dos doentes e dos necessitados, onde quer que se encontrassem.

Esta Ordem sobreviveu durante anos, e ganhou mais tarde enorme respeito dos Templários. 

O seu fundador foi eleito e sagrado Grão-Mestre dos Cavaleiros de Jerusalém. 

São João retornaria a sua pátria, na Ilha de Chipre, por saber que a mesma estava à mercê de invasão dos Turcos e o seu povo necessitava de ajuda.

Para isso, ele contou com sua experiência em Jerusalém, e fundou a Ordem dos Cavaleiros de Malta, que tinha a dupla função: Proteger os hospitais, ajudar os enfermos e feridos, e lutar pela manutenção da paz e preservação da independência de sua pátria.

A Ordem prosperou na parte da Hospitalaria, mas a sua força armada não foi suficiente para deter a invasão Turca, que dominou e destruiu grande parte da Ilha.

Gostaríamos de dizer que tudo foi fácil e belo, mas esta não é a verdade.

Muito sangue foi derramado para que os Cavaleiros pudessem prosseguir em sua jornada, e mantivessem a chama acesa, no intuito de ajudar os feridos e vitimas de doenças.

Os Cavaleiros de Malta foram conhecidos por seus atos como, grandes defensores dos oprimidos e daqueles que precisavam de ajuda, assim como já eram os Cavaleiros de Jerusalém.

São João de Jerusalém foi escolhido Padroeiro da Maçonaria porque seus ideais eram idênticos aos ideais Maçônicos como a fraternidade, a liberdade e a igualdade.

“São João foi escolhido como patrono da Maçonaria exatamente porque  seus ideais combinavam com a doutrina maçônica.

É por essa razão que todas as Lojas são abertas e dedicadas em sua homenagem. 

Logo, posiciono-me no sentido de concordar com os Irmãos que se vinculam a teoria de que São João o Esmoler é o padroeiro da Maçonaria.

A partir deste momento, em que a maçonaria se colocava a campo para lutar pela liberdade da humanidade, clamava a esta grande figura, que a partir deste momento, seria conhecido por todos os maçons como: São João nosso Patrono.

Por isso todas as lojas são abertas e dedicadas a sua homenagem, e até hoje nós somos lojas de São João.

O amor dele nos contagia, e em sua homenagem é que trabalhamos para socorrer os necessitados, como ele o fez, e levar a luz do conhecimento e da verdade a toda a Humanidade.

Comemora-se no dia 23 de janeiro o dia de São João Esmoler, para nós, São João de Jerusalém, Patrono da Maçonaria


DA PACIÊNCIA - Heitor Rodrigues Freire

Heitor Rodrigues Freire,  é corretor de imóveis e advogado, Past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande. Notável intelectual contribui frequentemente com este blog.

Penso que a saúde mental, principalmente nestes momentos de estresse extremo, é um fator que deve merecer atenção especial de cada um, pois dela decorre o nosso bem estar, nossa integridade emocional e satisfação com a vida, influenciando o modo como pensamos, sentimos e agimos.

A saúde mental nos proporciona equilíbrio espiritual e contribui para o nosso desenvolvimento pessoal, além de despertar a consciência.

Dentro desse contexto, para atingirmos esse estado ideal aprendi que a paciência exerce um papel preponderante. É uma das virtudes capitais. As outras são: humildade, generosidade, castidade, temperança, caridade e diligência.

A paciência é uma virtude que consiste em suportar males, dissabores e incômodos sem revolta ou queixa, com tolerância e perseverança em realizar ou continuar um trabalho, apesar das dificuldades.

Das sete virtudes, a paciência tem um destaque especial.

Paciência é a característica de manter o controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo. Consiste basicamente na tolerância a erros ou fatos indesejados. É a capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda a ordem, de qualquer hora ou em qualquer lugar.

A paciência, é o “como”. Como agir, como ser. Buscar o equilíbrio.

O significado de paciência na Bíblia envolve os conceitos de resistência, perseverança, bondade e condescendência. 

Paciência e perseverança têm o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem. A paciência é a melhor arma para suportar tudo aquilo que não depende de você. Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência. Com esperança e paciência, qualquer caminho fica mais fácil de percorrer. A paciência é a arte de saber esperar.

Paciência decorre, em sua essência, de duas palavras: paz e ciência. 

Para que se possa exercê-la, é indispensável a paz. Sem paz, não há equilíbrio, que permite o discernimento para que se possa agir, com ciência = conhecimento, sabedoria.

Não dá para falar de paciência, sem citar Jó, personagem bíblico cujo comportamento retrata com muita fidelidade a consciência de que os infortúnios são passageiros e que, na realidade, nada possuímos, tudo recebemos de Deus e tudo volta para Ele.

A Bíblia, assim identifica Jó, 1:1: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó. Era homem íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal”. Era um homem muito rico, com saúde, família e grandes posses. E o seu livro ilustra como ele soube encarar a riqueza e a desgraça que aconteceu a seguir em sua vida, e como, por seu merecimento, conseguiu reaver tudo e permanecer fiel: “O Senhor me deu, o Senhor me tirou”.

Jó, ao tomar conhecimento de todas as desgraças, levantou-se, rasgou seu manto, raspou a cabeça, lançou-se por terra e adorou a Deus, dizendo: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu retornarei para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor.”

O livro de Jó contém o relato de um homem íntegro que permaneceu fiel mesmo em meio a duras provações. A experiência de Jó nos convida a refletir sobre perguntas difíceis a respeito das causas do sofrimento, a fragilidade da existência humana e os motivos para crer em Deus mesmo quando a vida parece injusta.

Assim, fica registrado o exemplo dele para nos orientarmos nos momentos difíceis que muitos estão vivendo.


setembro 19, 2021

ÁGAPE - Sérgio Quirino


Sérgio Quirino é notável intelectual maçônico e atual Grão Mestre da GLMMG 2021/2024


O primeiro ponto que devemos compreender é que os trabalhos maçônicos devem sempre ser coroados com a satisfação manifesta em ambas as Colunas.

Além do conteúdo didático, da objetividade e do foco das reuniões ritualísticas, há a real necessidade de se criar oportunidades de sociabilização entre os Irmãos.

O Maçom como ser social deve ter em mente que ele é frágil para viver sozinho. 

Por mais que tenha acesso às instruções, ele somente será inteiro vivenciando sua aplicação junto aos Irmãos e comprovando a transformação da teoria em prática.

O ambiente desprovido das formalidades e a possibilidade da circulação e do contato igualitário nos liberam para o compartilhamento de experiências. 

No Ágape , assumimos o mais belo dos graus da Maçonaria.

Justamente nos ágapes Maçônicos é que nos aproximamos mais, simplesmente porque há oportunidades para TOLERAR, para SERVIR, para ESCUTAR duas vezes mais do que FALAR e principalmente para COMPARTILHAR.

Se ocorre excesso da comida e da bebida, é a natureza bruta do homem, mas também é uma oportunidade de aprendizado para os que não perderam a consciência e, assim, aprendem com o “mau exemplo”.

Desses processos advém a integração do individuo com o grupo, o que chamamos de “estreitar os laços”, despertando também o espírito de fraternidade, que em nosso meio é a cooperação desprovida de interesses.

Portanto, sendo a vida um grande PRESENTE, o que foi feito é PASSADO.

Sendo o FUTURO uma consequência, nos resta então celebrar.

Não permitam que este ano termine sem se sentar ombreados aos Irmãos, sem servir, que seja um pedaço de pão, sem compartilhar um bom canhão de boa pólvora vermelha.

COMIDAS E BEBIDAS ALIMENTAM O CORPO,

ABRAÇOS E SORRISOS A ALMA.

JAMAIS DEVEMOS CONFUNDIR SERIEDADE COM SEVERIDADE.

TODOS OS LABORES MAÇÔNICOS SÃO SÉRIOS, NUNCA CARRANCUDOS.

“Pitágoras concebia a vida iniciatória como atividade social dinâmica e desprendida. 

Os discípulos dispunham de todos os seus bens em comum, buscando a formação de uma sociedade fraternal e voltada predominantemente para o bem de todos”. 

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ENTENDA: VOCÊ É O ÚNICO RESPONSÁVEL PELOS SEUS RESULTADOS - Clemilda Thomé.


Acredito que auto responsabilidade é a aptidão racional e emotiva para trazer para si toda responsabilidade pelos resultados em todas as áreas da sua vida. 

Por mais que você enxergue que está tudo fora de controle, é importante ter a consciência de que você é o único responsável pela vida que tem levado e o que tem conquistado ao longo dos anos.

É necessário fazer uma autorreflexão de qual é a postura que você tem tido com os problemas que surgem. Isso significa que a forma como tem levado a sua vida é um mérito seu, seja pelas suas ações conscientes ou inconscientes, por seu comportamento e por suas palavras. 

Isso pode parecer até um pouco duro e difícil de entender, mas tenha certeza de que quando você tomar consciência e colocar em prática, será libertador. 

Preste atenção em suas crenças, que são as principais condutoras da sua vida. Se você não estiver satisfeito com seus resultados, basta reconhecer que suas escolhas e seus caminhos não têm sido satisfatórios e então redirecioná-los de forma auto responsável, objetiva e consciente para um caminho de vitórias.

A auto responsabilidade transforma você em protagonista da sua vida, pois o empodera e capacita a mudar o que precisa para avançar na direção de ter uma vida próspera e equilibrada. 

Pensar que somos vítimas ou prisioneiros de nossos destinos e que vamos apenas reagir ao mundo e aos acontecimentos é uma escolha equivocada.

*Como se auto responsabilizar:* 

- Observe, analise e reflita antes de ficar apenas criticando; 

- Procure dar sugestões ao invés de ficar somente reclamando; 

- Busque por soluções sem procurar culpados; 

- Não ignore seus erros, aprenda com eles; 

- Julgue suas atitudes e comportamentos, mas não os dos outros. Isso não te ajuda a focar em si e muito menos correr atrás de seus sonhos.

Nossas experiências, palavras, comportamentos, pensamentos e  tudo o que comunicamos geram resultados palpáveis, sejam bons ou ruins. 

Pessoas de sucesso simplesmente assumem que estão onde deveriam estar e, com humildade e sabedoria, buscam aprender com seus erros para que da próxima vez, possam obter resultados melhores.

Não fique parado, estagnado, se movimente para buscar continuamente sua prosperidade e felicidade. 

Atualize-se sempre em relação aos estudos, ao mercado, busque ter qualidade de vida, seja com exercícios ou se alimentando de forma saudável. Esteja equilibrado, física e mentalmente. 

E lembre-se: não busque culpados pelo que ocorre em sua vida, seja cada vez mais responsável pelos seus resultados e procure sempre entregar o melhor de si para cada propósito de sua vida.

...

setembro 18, 2021

A TOLERÂNCIA MAÇÔNICA - Mauro Marques da Silva



Um dos primeiros exercícios a que deve empenhar-se o Aprendiz-Maçom, para que possa integrar-se realmente no Espírito Maçônico, é a prática da mais ampla Tolerância, o que significa dispensar a mais generosa benevolência relativamente às faltas e aos defeitos de seus irmãos, os quais deve procurar dissimular para que se propaguem os mais puros sentimentos de afeto e bondade que unem a todos os membros da família maçônica em uma sólida Fraternidade. 

Como símbolo da Tolerância, a Maçonaria adotou a Trolha, utensílio dos pedreiros que dela se utilizam para estender a primeira camada de argamassa, ou o próprio reboco na parede e cobrir assim as irregularidades, fazendo parecer o edifício como formado por um único bloco. 

Desta forma, a Trolha tornou-se um emblema de benevolência para com todos, de conciliação e de silêncio. 

A Trolha é o símbolo do amor fraternal que deve unir a todos os Maçons, único cimento que os obreiros podem empregar para a edificação do Templo. 

Passar a trolha tem o significado também de esquecer as injúrias ou as injustiças, perdoar um agravo, dissimular um ressentimento, desculpar uma falta. 

A loja é um lugar onde se devem reunir homens tolerantes, de boa vontade, que amem a justiça e a nobreza, homens possuidores de corações puros e sem manchas, desejosos de serem úteis aos outros e que tenham uma verdadeira compreensão dessa maravilhosa palavra que se chama Fraternidade.

Existirá então, nesta Loja, a Amizade, o Amor e a Tolerância, que fazem com que se passe a TroIha niveladora sobre os defeitos dos companheiros.

O SECRETÁRIO DA LOJA DE UM PONTO DE VISTA INICIÁTICO - Jorge Norberto Cornejo



“Pegue na caneta para escrever como se fosse a lança de um guerreiro” (Abraham Abulafia)

Numerosos trabalhos foram escritos, alguns de alta qualidade, enumerando os deveres e funções que correspondem ao Secretário de uma Loja. Foi analisada a relação que mantém a sua posição na mesma do ponto de vista da Cabala, das associações planetárias, etc. Aqui, no entanto, abordarei o assunto de um ponto de vista diferente.

Por outro lado, assim como foram escritas inumeráveis pranchas sobre o papel do Secretário da Loja, o mesmo pode ser dito, e ainda mais certamente, sobre o significado da palavra “Loja”. No presente trabalho estou interessado no relacionamento, base óbvia, de Loja com “Logos”. Tal relação não é necessariamente etimologicamente correta, mas é do ponto de vista do significado que Loja e Logos têm construído ao longo do tempo.

É difícil definir precisamente o que entendemos por “Logos”. O Logos, no contexto deste trabalho, é o Verbo, mas então nos deparamos com a dificuldade de dar uma definição precisa do Verbo, da Palavra, considerada esotericamente.

O Verbo, o Logos, é algo que é procurado numa Loja. É algo que, se Plenamente conhecido, daria sentido a todos os atos rituais que são praticados em Loja e, ao mesmo tempo, daria sentido completo à vida humana, e faria com que todos os atos que realizamos quotidianamente, fossem movimentos de uma dança ritual ritmicamente harmoniosa. Se o Verbo fosse plenamente conhecido e compreendido, os atos rituais praticados na Loja seriam os arquétipos dos atos rituais praticados constantemente na própria vida.

De um modo equivalente, quando o Verbo, quando a Palavra é perdida ou esquecida, os atos, sejam de um indivíduo, de uma Loja ou de qualquer instituição, perdem o sentido. A “perda da Palavra”, portanto, é algo que acontece quase que diariamente, é a morte repetida de Hiram Abiff, morto por esquecimento, ignorância ou desinteresse.

Mesmo quando não podemos definir com absoluta precisão sobre o que é o Logos, o Verbo (pois se pudéssemos fazer tal definição estaríamos na posse do Verbo, teríamos atingido completamente o conhecimento da Palavra Perdida, e ninguém pode humanamente arrogar-se a tal). A verdade é que o Verbo, o Logos, tem pelo menos uma relação com dois fatores: com a palavra (Verbo) e com o conhecimento (Logos). Ambos os fatores estão intimamente relacionados, já que a palavra é um veículo de conhecimento.

A palavra, a linguagem, pode ser oral ou escrita. Ambas as formas da palavra são desenvolvidas numa Loja. Na Loja fala-se (e o modo de tomar a palavra é ritualmente estabelecido) e também se escreve, e é aí que o Secretário entra em cena. Se vamos tratar o papel do Secretário da Loja de um ponto de vista iniciático, devemos então considerar o Secretário como aquele cujo dever é fixar a Palavra por escrito, de modo que o Secretário é o escriba da Loja.

*O Secretário*

A localização dos Oficiais dentro do Templo Maçônico varia de acordo com os diferentes Rituais e Rituais, mas é frequente que o Secretário se sente exatamente (ou quase) em frente ao Orador. Isto é, a palavra escrita (o Secretário) é mostrada como o oposto complementar da palavra falada (o Orador). Podemos pensar que o Venerável Mestre representa um estágio mais elevado tanto para a palavra escrita como para a palavra falada, um estágio que poderia ser o símbolo em si. Mestre, Secretário e Orador, deste ponto de vista, expressam o ternário, triplo carácter da Palavra, em toda a sua plenitude.

Mas aqui o que nos interessa é o Secretário. E para encontrar a sua dimensão iniciática, temos que recorrer à mitologia e, especificamente, aos mitos sobre a invenção da escrita.

Por exemplo, nos mitos sumérios, a deusa Nisaba [1] recebe do deus soberano Enki o poder sobre a escrita e a função do escriba: “A Santa Nisaba recebeu a régua de medir e manter a vara de lápis-lazúli; é ela quem proclama as grandes regras, a que estabelece os limites, a que marca os limites. É a escriba do país“.

Em relação a isto, lembre-se que em numerosos rituais o Secretário é responsável por manter a régua de 24 polegadas. O Secretário, o escriba da Loja, portanto, cumpre uma importante função para marcar os limites, os Landmarks.

Num dos mitos babilônicos, fala-se de Nabu, o filho do deus Marduk. Nabu era o deus dos escribas, sendo o seu nome o Senhor do Calamus. Uma inscrição numa estátua de Nabu diz: “Nabu, o muito alto, o sábio, o poderoso, o herói … cuja palavra é primordial, o mestre das ciências, que observa a totalidade do céu e da terra, aquele que sabe tudo, que entende tudo, que possui a pena do escriba … o Senhor dos senhores, cujo poder é sem igual, o compassivo, o misericordioso“.

Se todos os detalhes ritualísticos fossem cumpridos, o secretário sempre teria na sua escrivaninha uma pena de escrita, ou possivelmente uma caneta antiga para escrever. Com elas, simbolicamente, ele escreve na tábua (a prancha de traçar) na qual ele desenha as atas de cada reunião da Loja. Se relacionarmos isso com o relato mitológico precedente, vemos que o simples ato de escrever a Ata de uma reunião da Loja é, na verdade, um símbolo cosmológico, no qual a inscrição da Palavra Primordial é reproduzida, microcosmicamente, na prancha de traçar do Universo, isto é, o ato macrocósmico da emanação.

Na mitologia egípcia, era Thot, o escriba dos deuses, quem criava o Cosmos através do seu Verbo. Em Thot, portanto, fundiam-se os atributos tanto do Secretário quanto do Orador, a palavra escrita e a palavra falada [2].

Como Thoth é o deus do conhecimento, ele cria a escrita, com o propósito de espalhar tal conhecimento. A função do escriba, do Secretário, é então sagrada, é um “nó” na circulação universal do conhecimento, da sabedoria.

*Reflexões finais*

Há, portanto, um conjunto de símbolos que o secretário poderia ter na sua mesa e que expressam o simbolismo iniciático do seu ofício: a pena, a régua, a prancha de traçar. Um Ofício que não é totalmente “administrativo”, mas um Ofício que é, em si mesmo, um símbolo.

E, dentro do Rito Escocês, o grau de Secretário Íntimo poderia servir para destacar o simbolismo esotérico do Secretário da Loja. Este grau, sexto do referido Rito, é pouco praticado, mas na realidade apresenta um simbolismo muito interessante, especialmente no nível psicológico.

De acordo com a Lenda que é o núcleo deste grau, Johaben torna-se o Secretário Íntimo de uma nova aliança estabelecida entre os dois reis: Salomão, rei de Israel e Hiram II, rei de Tiro. A aliança original entre os dois tinha sido quebrada porque Salomão não cumprira a sua palavra, que consistia em entregar a Hiram de Tiro vinte cidades em troca dos materiais e trabalhadores que este lhe dera.

Quando a palavra não é cumprida, a aliança deixa de representar a Verdade, e então a Palavra Verdadeira é perdida. Johaben, o Secretário Íntimo, recompõe a Aliança pelo ato de ser testemunha da mesma, e supõe-se que agora a palavra prometida será cumprida. No grau, então, uma recuperação (parcial) da Palavra Perdida é alcançada.

O Secretário de uma Loja, portanto, e em analogia com o Secretário Íntimo, é a testemunha das palavras ditas em Loja, palavras que podem ser verdadeiras ou falsas, e que podem estabelecer alianças ou quebrá-las. No primeiro caso, que é obviamente o desejado e esperado, o Verbo, as palavras pronunciadas em Loja, estabelecem sobre o plano real e concreto, a fraternidade.

Em síntese, quando a Palavra pronunciada em Loja expressa a Verdade, o Secretário torna-se a testemunha da fraternidade.

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Notas:

[1] Originalmente uma deusa de grãos e juncos que servem para fazer o cálamo.

[2] Li uma vez que o Ofício de Orador foi criado pelos maçons franceses para compensar a dificuldade que os Mestres das Lojas tinham em formular discursos oralmente. Lamentavelmente, comentários como este mostram apenas como os costumes e práticas maçônicos são superficialmente analisados. O Ofício de Orador, assim como o do Secretário, é a expressão de uma necessidade arquetípica, da dialética própria do Verbo, como este se manifesta numa Loja.