outubro 04, 2021

AS ORIGENS DA MAÇONARIA (parte 2) - Suami Paula de Azevedo


 

Suami Paula de Azevedo, M:.M:. – A:.R:.L:.S:. “Campos de Mirambava, n. 3021

Especulativos

O destaque que vemos é o apoio encontrado pelos Templários na Escócia. Contribuíram fortemente na conquista da Independência desse País, derrotando o Rei da Inglaterra em batalha, Bunnockburn (em 23/24 de Junho de 1314, dia de São João, Solstício), sob o estandarte do Príncipe Robert Bruce, da Escócia, coisa não reconhecida totalmente por alguns historiadores. Alguns registros existem, mas também restam lendas, a respeito, como é a manifestação de pessoas daquele tempo, destacando a presença nas batalhas de “guerreiros valentes e de pele muito queimada de sol e com barbas longas”, coisa muito diversa dos bem brancos escoceses, com certeza. O que poderia indicar gente que tivesse passado pelo Oriente Médio, efectivamente, dado muito próximo dos guerreiros Templários (Knight e Lomas).


Na Escócia ainda, historicamente demonstrado, teremos, resultante de tanto disso, a fundação da Ordem Real da Escócia (Ordem Real do Heredom e dos Cavaleiros da Rosa Cruz, em Kilwinning) que mais tarde se juntou a Ordem de Santo André de Chardon, fundada em 1540 por Jacques II, rei da Escócia, extinta entre 1687 e 1703. Ordens essas que atenderam todos os Templários naquele País. E, o que não se pode negar, portanto, é a proteção real aos Templários foragidos através das Guildas de Maçons e dos construtores escoceses, especialmente nas cidades de Bath, Bristol e York.

Aqui está mesmo a base da montagem da Franco-Maçonaria Escocesa, ou seja, da Maçonaria Moderna. Os reis da Escócia de então tornaram-se os Grão-Mestres da Franco-Maçonaria do País (Élize de Montagnac).

Em seguida, com tudo isto, o que vemos é fortemente as associações de pedreiros receberem mais e mais nobres, intelectuais, cientistas, militares e outros. Passa-se a estudar as maneiras mais positivas de transformarem o mundo em melhores espaços, em melhores condições de se viver. Constata-se a “redução efectiva” dos “pedreiros operativos” para a instalação de “pedreiros especulativos”, que estudam, que pesquisam. É o que veremos mais adiante.

Sabemos todos que a palavra “Pedreiro”, em português, significa “Maçom”, em francês, e “Mason”, em inglês. Assim, seguindo a postura da “Ordem dos Templários” vemos instalar-se no seguir daqueles tempos de então, século XIV, a nossa “Ordem Maçónica”.

Com toda certeza, não podemos negar, que a evolução da Ordem Maçónica, por todo o mundo foi-se fazendo com adequações e adaptações aos tempos e as gentes que a vivenciavam.

Tivemos alterações em graus, como a criação do Terceiro Grau, de Mestre Maçom, no século XVIII, no nosso Simbolismo. Até então, os Maçons Operativos tinham, reservadamente, o Grau de Aprendiz e o Grau de Companheiro, que exigia muito segredo. As funções de Supervisor, isto é, Vigilante, bem como de Presidente da Loja, ou seja, ser Mestre, eram exercidas por aqueles escolhidos entre os Companheiros. Nos séculos seguintes, conclusivamente no século XIX, tivemos a finalização dos 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito. Este Rito e outros sofrem interferências seguidas com o tempo. E aqui, justamente, serão fortemente dispostos nos Graus Superiores, Filosóficos e Administrativos, alguns modelos fundados nos Cavaleiros Templários.

Templários e Maçons

Observe-se que, ainda que muito lentamente, descobre-se dados que sustentam a “proximidade original entre a Ordem dos Templários e a Ordem Maçónica”. Em 1610 foi descoberto em Paris, por Aubert-le-Mire, cientista e historiador, decano de Anvers, um Código de Regras composto por 72 artigos, determinado por São Bernardo, definindo como os Templários se deviam portar em relação à hierarquia, à disciplina e ao cerimonial.

Três outros códigos manuscritos foram também encontrados, em 1794, na Biblioteca do Príncipe Corsini, pelo cientista dinamarquês Münster; outro na Biblioteca Real por M. Guérard, conservador e restaurador; nos Arquivos Gerais de Dijon por M. Millard de Cambure, mantenedor dos Arquivos de Borgúndia, de 1840. E, observe-se que historiadores identificaram neste terceiro Código as maneiras de iniciação dos “irmãos cavaleiros”, chamando muito a atenção o tanto de “coincidências” com os rituais maçónicos.

Apenas para chamar a atenção, estava disposto que o capelão, depois que o irmão recebia o seu manto, o seguia entoando, destacadamente o Salmo 133.

Os Templários trouxeram à Europa muitos símbolos e cultos não apenas das tradições antigas hebraicas, mas também das associações maçónicas. A reserva dessas práticas, ao serem visualizadas implicaram, também, em gravíssimas acusações.

Na Escócia, vão ocorrer, hoje sabemos, misturas em práticas Templárias com algumas tradições locais, tais como os antigos ritos celtas de Heredom. Hoje podemos identificar alguns desses pontos no que muito mais adiante se vai fazer o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Alguns estudiosos ressaltam o desenvolvimento do culto de um “gnosticismo ecléctico que admite e harmoniza os princípios de várias religiões, conciliando o politeísmo na sua essência com os mistérios mais profundos do cristianismo”.

E, veja-se, foram ligados, de um lado, a antiga concepção de Deus com, de outro lado, os conceitos de “Sabedoria, Força e Beleza”, que se estabelecem na Maçonaria. E ainda vamos identificar nos Altos Graus, uns conceitos além, como “Sabedoria, Estabilidade e Poder”, pontos provindos do Santo Graal, referindo-se a “Justiça dos Governos, Sabedoria das Leis e Pureza dos Costumes”. É nesta que se fundava a “arte de governar os povos”.

Tratando-se ainda de documentos encontrados, sabe-se que desde Napoleão Bonaparte, na invasão a Roma, em 1809, tem-se o registro de testemunho de um Templário (Jean de Châlons) que se refere a “três carroças enormes puxadas por cinquenta cavalos que tinham saído, na quinta-feira, 12 de Outubro de 1307 (véspera da prisão dos Templários), do Templo de Paris, conduzidas por Hughes de Châlons, Gérard de Villers e cinquenta outros cavaleiros, transportando “totum thesaurum Hugonis Peraldi”. Diz ainda que teriam seguido para La Rochelle onde embarcaram em 18 navios para local não informado. Observe-se que Bonaparte sempre se tentou tornar um Cavaleiro Templário e Maçom, sem nenhum sucesso.

Não pode ser esquecida a presença destacada de membros da Família nobre da Escócia, os St. Clair (Saint Clare), hoje denominados de Sinclair, que com a construção da Capela de Rosslyn, no século XV, destacam-se como figuras centrais da Maçonaria Templaria.

Aliás, este templo guarda muitos sinais e símbolos templários e maçónicos, nem todos ainda explicitados. Há pontos da Capela que as autoridades escocesas não autorizaram ainda a adentrar, quando é sabido que os St. Clair tinham ancestrais que lutaram como Templários no Oriente Médio e de lá, como da França, trouxeram para a Escócia muito material, tanto Templário como hebreu, até hoje ainda não plenamente exposto, mesmo que uns tantos sejam revelados em publicações de estudiosos dessa mesma Família.

Aliás, além disso, alguns outros sinais, como “espiga de milho”, trazidas da América (em viagem de 1398, muito antes de Colombo), com barcos templários, estão claras na decoração da Capela. O historiador Andrew Sinclair o relata (como citado por Gardner). Assim, são muitos e demasiado fortes os demonstrativos das ligações, por múltiplos referenciais, do Templarismo com a Maçonaria.

De fato, não podemos deixar também de considerar o demonstrativo histórico de um documento, ainda hoje conservado na Sala do Conselho do Mark Mason´s Hall, registrando a sequência de Gãos-Mestres Templários, após DeMolay, que teria transferido a Johannes Marcus Larmenicus a sua sucessão, desde 1313. Quando esse ficou muito idoso, redigiu uma carta de transmissão de poderes a outro Templário, Theobaldus, que os sucessores foram repassando aos demais até o último registrado ali, Bernard Raymond, em 1804. Estes sucessores templários vivenciaram muitos problemas, quebraram modelos antigos rígidos, com Cavaleiros, contestando o que o Grão-Mestre definia, como está documentado.

Porém, como definiram que DeMolay renunciou ao Grão-Mestrado? Onde e quando foi feito o documento que isso estabelecesse, se ele estava isolado, sem acesso? E quem eram esses “cavaleiros templários” desconhecidos de todos? E, que definiram na renúncia desse Larmenius (1324), que os Templários que saíram da França para a Escócia, no século XIV, não passavam de desertores, como de traidores a serem excomungados. O facto é que esses “templários”, reais ou irreais se exterminaram em 1848, como podemos ler nas suas atas e decretos. Nada os fundamentou (Montagnac).

A História da França oficial, quando se refere a fundação da Abadia de St. George, registra alguns dados que devemos considerar. Diz que o Grão-Mestre de Auverne, Pierre D’Aumont, fugiu para a Escócia em 1307, junto com dois Comandantes e cinco Marechais de Campo, desembarcando na Ilha de Mull. E ali, “disfarçados de maçons” (operativos), denominavam-se “maçons-livres”, ou “pedreiros-livres”. Esta expressão estaria ligada, a partir de 1314, a ideia de não estarem mais subordinados a nenhuma ordem militar ou religiosa. Afirma-se que eles “adaptaram os seus rituais templários para fazer uso simbólico das ferramentas do ofício de Maçom” (Montagnac).

Entenda-se também, que o Discurso de Ransay, impresso em 1738, não deve ser omitido, ou esquecido aqui, contudo, ele apenas afirma a ligação da nossa Ordem com a Cavalaria Medieval. No entanto, não sustenta essa afirmação.

Há afirmações de que é desta origem a instalação do Rito da Estrita Observância, na Alemanha e na Escandinávia (que é a denominação dada no continente europeu ao Sistema de Ramsay, desenvolvido pelo Barão de Hund). Esse Rito, mais tarde, ainda daria origem ao Rito Escocês Rectificado e às Ordens Martinistas.

Seguramente, o mesmo deve ter ocorrido noutras partes da Europa.

O que se constata são pontos não plenamente explicitados entre, por exemplo, Rosslyn, no século XV, e Londres, no século XVIII, em 1717.

Ainda, considerando os primórdios, na Escócia, não podemos negar os demonstrativos de muitos pesquisadores de que temos, destacadamente, numerosos sinais, desde o século XIV, em túmulos como em construções, com identificações não apenas de Templários, como de Maçons, além dos seus modelos de construção.

Racionalismos

Insistentemente temos demonstrativos históricos de que passavam a fazer parte das associações de pedreiros as “pessoas mais distintas da sociedade escocesa”, incluindo-se príncipes e reis. Todos especialmente a partir daquele século, mas seguindo em frente até a actualidade.

Isto faz-nos identificar esta nova faceta dos maçons, dos pedreiros, extremamente ligada àqueles antigos cavaleiros, monges-guerreiros. Sejam nos aspectos de visões religiosas, sejam nos aspectos de ritualísticas. Sinais inegáveis. E todos “vinculados a uma leitura do início do cristianismo, na sua formação hebraica”. E isto não apenas em relação a expressões linguísticas, mas também nos significados mais antigos daquela cultura nas nossas tradições.

E tais absorções foram-se seguindo não apenas nos Graus Simbólicos, mas especialmente nos Graus Filosóficos, em que são possibilitados conhecimentos muito mais amplos da formação histórica do Homem Ocidental e suas referências explícitas aos Cavaleiros Templários.

Fica patente que após os romanos terem assumido o Cristianismo, modularam a sua leitura. Diferenciaram-se das tradições hebraicas, certamente, ainda que com as três alternativas de apreensão com “Jesus: Deus-Homem-Filho-de-Deus”, ainda que fosse judeu. E algumas dessas diferenças foram-se tornando demasiado fortes, na interpretação dos Cavaleiros Templários.

Observa-se, inegavelmente, alguma ligação de “interpretação racionalista” dos Templários para os documentos dos primórdios do Cristianismo. Algo que, sem dúvida, se achega ao Gnosticismo. Não se tem condições ainda hoje de afirmar com segurança essa vinculação. Mas o tempo nos há de permitir alcançar mais dados, sejam contra ou a favor dessa postura. Não há como negar que a Maçonaria sempre se posicionou em postura bastante racionalista. Mas, ante às inúmeras intervenções nesses séculos, não apenas sobre os rituais, como sobre a simbologia, temos de aprofundar os estudos para alcançarmos mais clareza.

E deixemos aqui também mais uma dúvida. Há informações insistentes de que os Templários seguiram o “Santo Graal”, a lenda do casamento e sucessão de Jesus. Que também afirmam que Jesus não foi crucificado, sendo o seu corpo lavado após. E aí, neste último ponto, temos um contraditório. Hoje sabemos que o Santo Sudário foi mantido pelos Templários, além de já o termos reconhecido como real, sendo as marcas nele existentes iguais às descritas na Bíblia sobre os ferimentos de Jesus (Frale).

Estamos aqui referindo-nos aos Templários baseados na Escócia. Em Portugal (Cavaleiros de Cristo) e Espanha (Cavaleiros de Montesa) submetiam-se à Igreja Católica Romana.

Com certeza temos muito a descobrir, a aprender. Precisaremos de mais tempo e vontade.

A Ordem Maçónica Hoje

Somente a partir do século XVIII, em 1717, com a declaração expressa da Ordem Maçónica, que só se reconhece totalmente Especulativa, é que os seus membros puderam passar a ser apenas discretos. Ainda assim, em muitos países e épocas posteriores, nesses últimos trezentos anos, perseguições ocorreram.

Apenas nos dias de hoje, mesmo no Brasil, a Ordem Maçónica não é oficialmente insegura. Porém, as mentiras inquisitoriais persistem, contra a Maçonaria, como o foi contra os Templários. A Igreja Católica persiste mantendo sob o jugo Inquisitorial quem apoia a Maçonaria. Esta área da Igreja recebeu outro nome em 1904 e em 1965 passa a denominar-se “Congregação para a Doutrina da Fé”. Ainda que tenhamos exemplos demonstrativos de razoabilidade, até no Brasil, conforme texto de D. Eugênio de Araújo Sales (2001).

Ainda, neste momento não podemos afirmar, por falta de documentação histórica a ser exposta, que foi por decisão da Ordem dos Cavaleiros Templários que se criou a Ordem Maçónica actual em que temos seguidores por todo o mundo. Isto se faz apenas evidente se nós fundamentarmos a nossa nova origem na Escócia.

Ainda assim, fica absolutamente evidente que “somos os seus continuadores”, queiram alguns ou não.

Particularmente, não entendemos que o tanto que seguimos dos ritos templários tem apenas semelhanças copiadas, como forma de metáfora. E nem porque devamos seguir esses ritos por representarem mitos modelares “interessantes”. Parece-nos, sim, que precisamos buscar, em estudos mais aprofundados, identificarmos os modelos exemplares instruídos pelos Templários e que seguimos, ainda sem interpretá-los plenamente.

“Na Ordem Maçónica temos posturas militares, temos posturas religiosas, temos posturas de reflexão, temos posturas físicas. Todas rígidas. Todas fundadas em formas de Conhecimento na busca de interpretação, entendimento do Universo”. Rituais as exigem.

A nossa finalidade, enquanto Fraternidade, enquanto Ordem, é tornar o mundo em que vivemos mais acessível, para torná-lo mais em condições de se adequar as nossas necessidades de uma vida melhor para todos na actualidade e no futuro.

Suami Paula de Azevedo, M:.M:. – A:.R:.L:.S:. “Campos de Mirambava, n. 3021


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 https://www.freemason.pt/origens-da-ordem-maconica-reflexoes/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_campaign=publicamos-mais-um-artigo-newsletter-post-title-freemason-pt_2 Origens da Ordem Maçónica

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AS ORIGENS DA MAÇONARIA (parte 1) - Suami Paula de Azevedo


Suami Paula de Azevedo, M:.M:. – A:.R:.L:.S:. “Campos de Mirambava, n. 3021

As nossas origens

Nesses tantos anos de Ordem, não temos como não atentar para os simbolismos que praticamos, nem para a constante de expressões hebraicas. E nos interrogarmos sobre onde iniciamos? Como evoluímos? O que nos foi formando?

Não há como ignorar que temos dois aspectos na nossa Formação, aquilo que acabamos denominando de Maçonaria Operativa, que nos dá a base da nossa denominação, “Maçom”, expressão francesa que se refere ao operário “Pedreiro”. Estes profissionais, lá longe, distante no tempo, na Antiguidade, na Idade Média, estavam ligados aos “construtores de templos”, um destaque na elevação de prédios, de edificações, que se reuniam nas suas Associações, as “Guildas”. Até que passam a receber entre eles, nas suas associações, as contribuições de “não-pedreiros” profissionais, depois, na Idade Média. A partir daí a Maçonaria, associação de construtores, já passa a ser também Especulativa. Até que esse aspecto, no século XVIII, a partir de 1717, torna-se exclusivo.

Vamos refletir sobre como, e porquê, passamos de uma para outra.

E nos tornamos uma Ordem. E escrever sobre a nossa Ordem não é trabalho simples. Actuamos sobre realidades factuais, como sobre mitos e metáforas. Voamos tanto sobre rituais, com menos de cem anos, como sobre bases da mais profunda Antiguidade. Passam por nós visões simbólicas a que dificilmente alcançamos uma representação interpretativa na atualidade.

Como toda a nossa formação foi sendo acumulada pouco a pouco e, sendo extremamente reservada, com uma plenitude de segredos, as nossas condutas foram sendo praticadas, mas sem ter abertura de origens e condições. E isto, só o tempo nos vai permitindo chegar aos significados. Os nossos simbolismos erguem-se sem que saibamos completamente os seus pontos, as suas origens de formação. E estes dados não são acessíveis de modo amplo, bem ao contrário. Temos de praticar, sem questionar.

Ainda assim, temos de estudar.

Todos os princípios norteadores mantém uma constante permanente, sempre a mesma busca, por “Verdade, Justiça e União”. Princípios que chamam a nossa atenção porque reúnem ideias de uma racionalização, uma chamado ao equilíbrio e ao respeito ao outro.  Seria apenas uma coincidência, uma constância de coincidências? Claro, podemos ir percebendo isso, além de outros tantos pontos, nessas mesmas linhas, que a História nos foi trazendo no correr dos tempos. Seria então, que tudo isto, a somatória de conhecimentos, pode levar-nos a desejar, a propor condições para nos autoformarmos melhor? E assim, para formarmos uma mundo melhor? Com rectidão e lógica chegarmos ao melhor de nós? Poderíamos, podemos, iniciar pelo lógica mais simples e precisa dos antigos construtores.

Poderíamos iniciar descrevendo também interpretações dadas pelas sete Ciências, as Artes Liberais: a Trivium (Lógica, Gramática, Retórica) e o Quadrivium  (Aritmética, Música, Geometria, Astronomia),  que passaram da Antiguidade a Idade Média. Mas nelas encontraríamos pontos de leituras do Universo que hoje nos são complexos, como é o caso da Astrologia, por exemplo, sem nos referirmos à Cabala, outra poderosa fundamentação. Ainda assim, muito há nas bases do Conhecimento que nos são oferecidos dentro da nossa Ordem. Contudo, cada passo que damos na busca pela identificação das nossas origens, alguns pontos se vão reafirmando, deixando de serem apenas coincidências para se tornarem sustentações efectivas.

Operativos

As escolhas podem ser muitas para o nosso início. Contudo, indo às nossas origens formais, percebemos que o primeiro ponto a destacarmos é o mais evidente, até pela nossa denominação, pois viemos das “associações de pedreiros”, seja como for.

Lá na distância dos tempos, sabemos que eles já tinham “formas iniciáticas” de se introduzirem ao ofício, “graus de evolução e aperfeiçoamento” que também mantínham os seus próprios “segredos” assumidos pelos seus próprios membros. Conservamos essas condições de origens, concretamente.

Temos sinais destas associações de tempos muito antes de Jesus Cristo. Tradicionalmente vamos pousar sobre os alicerces da construção do Templo de Salomão, em que a base hebraica sustenta umas tantas tradições que seguiram pela história do ofício de pedreiro, fundamentalmente dos “construtores de templos”, em especial, mas eles também construíram casas, depósitos, portos e castelos.

Porém, apesar de mantermos a mesma denominação, “pedreiros”, aqueles que dão forma às pedras, que trabalham com as pedras, não seguimos o mesmo ofício materialmente. Seguimos uma forma simbólica de enfrentarmos as “pedras humanas”. Passamos do “ofício operativo para o ofício especulativo”. E estes sinais de novos enfrentamentos já passaram a ser vistos nas associações de pedreiros desde o século XIII, como comprovam alguns documentos encontrados por amplas áreas da Europa e, sem esquecermos, no Oriente Médio. Mas não podemos relegar que mantemos ainda muitos sinais Operativos nas nossas práticas, como, por exemplo, “a corda dos 81 nós”, que se repetem em muitos dos nossos símbolos. Atentemos a isto.

Com a evolução vamos constatando a redução, até o desaparecimento das associações de “ofício operativo de pedreiros”, na sua forma original. E, ao contrário, fomos constatando a evolução ampla das associações agora no “ofício de pedreiros especulativos”, aqueles que se reuniam para reflectir em como “construir um mundo melhor, em como melhorar o próprio homem, em como melhorar a si mesmo”.

Haveria uma base religiosa nessa nova postura? Observa-se que já havia uma constante com a “assunção da Religião Cristã” que vai sendo assumida pelos romanos, e repassada por toda a Europa, desde lá na sua base hebraica, de Cristo, mas sob a própria leitura dos romanos que criarão a “Igreja Romana”. E justamente, é com uma significativa evolução dessa linha, que, muitos séculos após, se iniciam as Cruzadas, que visam exatamente o domínio da origem da base cristã, em Jerusalém, no Oriente Médio.

E após a Primeira Cruzada, no século XII, temos a criação do grupo de monges guerreiros, que se instalam exatamente onde teria sido erguido o Templo de Herodes, no mesmo plano em que muito antes teria estado o Templo de Salomão. Monges guerreiros esses, que, por isso, foram sendo conhecidos exatamente por “Cavaleiros Templários”, que ali se estabelecem e evoluem na história por cerca de duzentos anos com respeito, admiração e riqueza, em locais que vão da Europa ao Oriente Médio.

Eles construíram inúmeros castelos, fortalezas e templos por todas as partes onde passaram. Sempre no seu próprio estilo de construção, o gótico, que se alongou por toda parte. Eles também pregaram a “obediência, o respeito, a pobreza e o bem”. Só o Papa lhes podia dar ordens, nem um rei tinha esse alcance. Claro, isto provocou algumas invejas reais. Os Templários criaram sistemas financeiros que darão base aos actuais sistemas bancários. E muitos nobres e mesmo reis passaram a se endividar com eles.

E em 1307 passam a ser perseguidos pelo rei da França, Felipe, o Belo, que também tinha muitas dívidas com os Templários, por alegadas falsas heresias e, inicialmente, contou com a condenação também do Papa Clemente V, muito ligado a esse Rei. Muitos dos Templários que estavam na França, são presos na sexta-feira, 13 de Outubro, tornando essa ocasião, sexta-feira 13, o grande “Dia do Azar”. Foi preso, inclusive, o Grão-Mestre da ordem, DeMolay, que em 1314, depois de sofrer tortura, é executado numa fogueira, na Ilha, pouco adiante da Catedral de Notre Dame, de Paris. Recentemente descobriu-se que esse mesmo Papa, Clemente V, ordenou uma investigação sobre as acusações aos Templários, de 17 a 20 de Agosto de 1308, portanto bem antes da execução do Grão-Mestre, que resulta no seu perdão, como registra o “Pergaminho de Chinon”, que permaneceu escondido no Arquivo do Vaticano por 700 anos (Barbara Frale).

Desde então, do século XIV, os Templários passam a ser muito perseguidos. Todos os Cavaleiros que puderam saíram da França. Muitos se instalaram por toda a Europa, especialmente na Alemanha, na Suíça, na Espanha, em Portugal, países onde assumiram outras denominações, e, em especial na Escócia, onde passam a fazer parte da nobreza e parceiros dos reis. Mas, com certeza, reconheça-se também, alguns reis ignoraram, ou fingiram desconhecer as perseguições aos Templários.

Estas perseguições obrigaram a que se tornassem secretos, ou extremamente discretos. E como eles eram “muito ligados aos seus arquitetos e pedreiros”, seus rigorosos construtores de Templos, deles tiveram a colaboração.

Especulativos

O destaque que vemos é o apoio encontrado pelos Templários na Escócia. Contribuíram fortemente na conquista da Independência desse País, derrotando o Rei da Inglaterra em batalha, Bunnockburn (em 23/24 de Junho de 1314, dia de São João, Solstício), sob o estandarte do Príncipe Robert Bruce, da Escócia, coisa não reconhecida totalmente por alguns historiadores. Alguns registros existem, mas também restam lendas, a respeito, como é a manifestação de pessoas daquele tempo, destacando a presença nas batalhas de “guerreiros valentes e de pele muito queimada de sol e com barbas longas”, coisa muito diversa dos bem brancos escoceses, com certeza. O que poderia indicar gente que tivesse passado pelo Oriente Médio, efectivamente, dado muito próximo dos guerreiros Templários (Knight e Lomas).


Na Escócia ainda, historicamente demonstrado, teremos, resultante de tanto disso, a fundação da Ordem Real da Escócia (Ordem Real do Heredom e dos Cavaleiros da Rosa Cruz, em Kilwinning) que mais tarde se juntou a Ordem de Santo André de Chardon, fundada em 1540 por Jacques II, rei da Escócia, extinta entre 1687 e 1703. Ordens essas que atenderam todos os Templários naquele País. E, o que não se pode negar, portanto, é a proteção real aos Templários foragidos através das Guildas de Maçons e dos construtores escoceses, especialmente nas cidades de Bath, Bristol e York.

Aqui está mesmo a base da montagem da Franco-Maçonaria Escocesa, ou seja, da Maçonaria Moderna. Os reis da Escócia de então tornaram-se os Grão-Mestres da Franco-Maçonaria do País (Élize de Montagnac).

Em seguida, com tudo isto, o que vemos é fortemente as associações de pedreiros receberem mais e mais nobres, intelectuais, cientistas, militares e outros. Passa-se a estudar as maneiras mais positivas de transformarem o mundo em melhores espaços, em melhores condições de se viver. Constata-se a “redução efectiva” dos “pedreiros operativos” para a instalação de “pedreiros especulativos”, que estudam, que pesquisam. É o que veremos mais adiante.

Sabemos todos que a palavra “Pedreiro”, em português, significa “Maçom”, em francês, e “Mason”, em inglês. Assim, seguindo a postura da “Ordem dos Templários” vemos instalar-se no seguir daqueles tempos de então, século XIV, a nossa “Ordem Maçónica”.

Com toda certeza, não podemos negar, que a evolução da Ordem Maçónica, por todo o mundo foi-se fazendo com adequações e adaptações aos tempos e as gentes que a vivenciavam.

Tivemos alterações em graus, como a criação do Terceiro Grau, de Mestre Maçom, no século XVIII, no nosso Simbolismo. Até então, os Maçons Operativos tinham, reservadamente, o Grau de Aprendiz e o Grau de Companheiro, que exigia muito segredo. As funções de Supervisor, isto é, Vigilante, bem como de Presidente da Loja, ou seja, ser Mestre, eram exercidas por aqueles escolhidos entre os Companheiros. Nos séculos seguintes, conclusivamente no século XIX, tivemos a finalização dos 33 Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito. Este Rito e outros sofrem interferências seguidas com o tempo. E aqui, justamente, serão fortemente dispostos nos Graus Superiores, Filosóficos e Administrativos, alguns modelos fundados nos Cavaleiros Templários.

Templários e Maçons

Observe-se que, ainda que muito lentamente, descobre-se dados que sustentam a “proximidade original entre a Ordem dos Templários e a Ordem Maçónica”. Em 1610 foi descoberto em Paris, por Aubert-le-Mire, cientista e historiador, decano de Anvers, um Código de Regras composto por 72 artigos, determinado por São Bernardo, definindo como os Templários se deviam portar em relação à hierarquia, à disciplina e ao cerimonial.

Três outros códigos manuscritos foram também encontrados, em 1794, na Biblioteca do Príncipe Corsini, pelo cientista dinamarquês Münster; outro na Biblioteca Real por M. Guérard, conservador e restaurador; nos Arquivos Gerais de Dijon por M. Millard de Cambure, mantenedor dos Arquivos de Borgúndia, de 1840. E, observe-se que historiadores identificaram neste terceiro Código as maneiras de iniciação dos “irmãos cavaleiros”, chamando muito a atenção o tanto de “coincidências” com os rituais maçónicos.

Apenas para chamar a atenção, estava disposto que o capelão, depois que o irmão recebia o seu manto, o seguia entoando, destacadamente o Salmo 133.

Os Templários trouxeram à Europa muitos símbolos e cultos não apenas das tradições antigas hebraicas, mas também das associações maçónicas. A reserva dessas práticas, ao serem visualizadas implicaram, também, em gravíssimas acusações.

Na Escócia, vão ocorrer, hoje sabemos, misturas em práticas Templárias com algumas tradições locais, tais como os antigos ritos celtas de Heredom. Hoje podemos identificar alguns desses pontos no que muito mais adiante se vai fazer o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Alguns estudiosos ressaltam o desenvolvimento do culto de um “gnosticismo ecléctico que admite e harmoniza os princípios de várias religiões, conciliando o politeísmo na sua essência com os mistérios mais profundos do cristianismo”.

E, veja-se, foram ligados, de um lado, a antiga concepção de Deus com, de outro lado, os conceitos de “Sabedoria, Força e Beleza”, que se estabelecem na Maçonaria. E ainda vamos identificar nos Altos Graus, uns conceitos além, como “Sabedoria, Estabilidade e Poder”, pontos provindos do Santo Graal, referindo-se a “Justiça dos Governos, Sabedoria das Leis e Pureza dos Costumes”. É nesta que se fundava a “arte de governar os povos”.

Tratando-se ainda de documentos encontrados, sabe-se que desde Napoleão Bonaparte, na invasão a Roma, em 1809, tem-se o registro de testemunho de um Templário (Jean de Châlons) que se refere a “três carroças enormes puxadas por cinquenta cavalos que tinham saído, na quinta-feira, 12 de Outubro de 1307 (véspera da prisão dos Templários), do Templo de Paris, conduzidas por Hughes de Châlons, Gérard de Villers e cinquenta outros cavaleiros, transportando “totum thesaurum Hugonis Peraldi”. Diz ainda que teriam seguido para La Rochelle onde embarcaram em 18 navios para local não informado. Observe-se que Bonaparte sempre se tentou tornar um Cavaleiro Templário e Maçom, sem nenhum sucesso.

Não pode ser esquecida a presença destacada de membros da Família nobre da Escócia, os St. Clair (Saint Clare), hoje denominados de Sinclair, que com a construção da Capela de Rosslyn, no século XV, destacam-se como figuras centrais da Maçonaria Templaria.

Aliás, este templo guarda muitos sinais e símbolos templários e maçónicos, nem todos ainda explicitados. Há pontos da Capela que as autoridades escocesas não autorizaram ainda a adentrar, quando é sabido que os St. Clair tinham ancestrais que lutaram como Templários no Oriente Médio e de lá, como da França, trouxeram para a Escócia muito material, tanto Templário como hebreu, até hoje ainda não plenamente exposto, mesmo que uns tantos sejam revelados em publicações de estudiosos dessa mesma Família.

Aliás, além disso, alguns outros sinais, como “espiga de milho”, trazidas da América (em viagem de 1398, muito antes de Colombo), com barcos templários, estão claras na decoração da Capela. O historiador Andrew Sinclair o relata (como citado por Gardner). Assim, são muitos e demasiado fortes os demonstrativos das ligações, por múltiplos referenciais, do Templarismo com a Maçonaria.

De fato, não podemos deixar também de considerar o demonstrativo histórico de um documento, ainda hoje conservado na Sala do Conselho do Mark Mason´s Hall, registrando a sequência de Gãos-Mestres Templários, após DeMolay, que teria transferido a Johannes Marcus Larmenicus a sua sucessão, desde 1313. Quando esse ficou muito idoso, redigiu uma carta de transmissão de poderes a outro Templário, Theobaldus, que os sucessores foram repassando aos demais até o último registrado ali, Bernard Raymond, em 1804. Estes sucessores templários vivenciaram muitos problemas, quebraram modelos antigos rígidos, com Cavaleiros, contestando o que o Grão-Mestre definia, como está documentado.

Porém, como definiram que DeMolay renunciou ao Grão-Mestrado? Onde e quando foi feito o documento que isso estabelecesse, se ele estava isolado, sem acesso? E quem eram esses “cavaleiros templários” desconhecidos de todos? E, que definiram na renúncia desse Larmenius (1324), que os Templários que saíram da França para a Escócia, no século XIV, não passavam de desertores, como de traidores a serem excomungados. O facto é que esses “templários”, reais ou irreais se exterminaram em 1848, como podemos ler nas suas atas e decretos. Nada os fundamentou (Montagnac).

A História da França oficial, quando se refere a fundação da Abadia de St. George, registra alguns dados que devemos considerar. Diz que o Grão-Mestre de Auverne, Pierre D’Aumont, fugiu para a Escócia em 1307, junto com dois Comandantes e cinco Marechais de Campo, desembarcando na Ilha de Mull. E ali, “disfarçados de maçons” (operativos), denominavam-se “maçons-livres”, ou “pedreiros-livres”. Esta expressão estaria ligada, a partir de 1314, a ideia de não estarem mais subordinados a nenhuma ordem militar ou religiosa. Afirma-se que eles “adaptaram os seus rituais templários para fazer uso simbólico das ferramentas do ofício de Maçom” (Montagnac).

Entenda-se também, que o Discurso de Ransay, impresso em 1738, não deve ser omitido, ou esquecido aqui, contudo, ele apenas afirma a ligação da nossa Ordem com a Cavalaria Medieval. No entanto, não sustenta essa afirmação.

Há afirmações de que é desta origem a instalação do Rito da Estrita Observância, na Alemanha e na Escandinávia (que é a denominação dada no continente europeu ao Sistema de Ramsay, desenvolvido pelo Barão de Hund). Esse Rito, mais tarde, ainda daria origem ao Rito Escocês Rectificado e às Ordens Martinistas.

Seguramente, o mesmo deve ter ocorrido noutras partes da Europa.

O que se constata são pontos não plenamente explicitados entre, por exemplo, Rosslyn, no século XV, e Londres, no século XVIII, em 1717.

Ainda, considerando os primórdios, na Escócia, não podemos negar os demonstrativos de muitos pesquisadores de que temos, destacadamente, numerosos sinais, desde o século XIV, em túmulos como em construções, com identificações não apenas de Templários, como de Maçons, além dos seus modelos de construção.

Racionalismos

Insistentemente temos demonstrativos históricos de que passavam a fazer parte das associações de pedreiros as “pessoas mais distintas da sociedade escocesa”, incluindo-se príncipes e reis. Todos especialmente a partir daquele século, mas seguindo em frente até a actualidade.

Isto faz-nos identificar esta nova faceta dos maçons, dos pedreiros, extremamente ligada àqueles antigos cavaleiros, monges-guerreiros. Sejam nos aspectos de visões religiosas, sejam nos aspectos de ritualísticas. Sinais inegáveis. E todos “vinculados a uma leitura do início do cristianismo, na sua formação hebraica”. E isto não apenas em relação a expressões linguísticas, mas também nos significados mais antigos daquela cultura nas nossas tradições.

E tais absorções foram-se seguindo não apenas nos Graus Simbólicos, mas especialmente nos Graus Filosóficos, em que são possibilitados conhecimentos muito mais amplos da formação histórica do Homem Ocidental e suas referências explícitas aos Cavaleiros Templários.

Fica patente que após os romanos terem assumido o Cristianismo, modularam a sua leitura. Diferenciaram-se das tradições hebraicas, certamente, ainda que com as três alternativas de apreensão com “Jesus: Deus-Homem-Filho-de-Deus”, ainda que fosse judeu. E algumas dessas diferenças foram-se tornando demasiado fortes, na interpretação dos Cavaleiros Templários.

Observa-se, inegavelmente, alguma ligação de “interpretação racionalista” dos Templários para os documentos dos primórdios do Cristianismo. Algo que, sem dúvida, se achega ao Gnosticismo. Não se tem condições ainda hoje de afirmar com segurança essa vinculação. Mas o tempo nos há de permitir alcançar mais dados, sejam contra ou a favor dessa postura. Não há como negar que a Maçonaria sempre se posicionou em postura bastante racionalista. Mas, ante às inúmeras intervenções nesses séculos, não apenas sobre os rituais, como sobre a simbologia, temos de aprofundar os estudos para alcançarmos mais clareza.

E deixemos aqui também mais uma dúvida. Há informações insistentes de que os Templários seguiram o “Santo Graal”, a lenda do casamento e sucessão de Jesus. Que também afirmam que Jesus não foi crucificado, sendo o seu corpo lavado após. E aí, neste último ponto, temos um contraditório. Hoje sabemos que o Santo Sudário foi mantido pelos Templários, além de já o termos reconhecido como real, sendo as marcas nele existentes iguais às descritas na Bíblia sobre os ferimentos de Jesus (Frale).

Estamos aqui referindo-nos aos Templários baseados na Escócia. Em Portugal (Cavaleiros de Cristo) e Espanha (Cavaleiros de Montesa) submetiam-se à Igreja Católica Romana.

Com certeza temos muito a descobrir, a aprender. Precisaremos de mais tempo e vontade.

A Ordem Maçónica Hoje

Somente a partir do século XVIII, em 1717, com a declaração expressa da Ordem Maçónica, que só se reconhece totalmente Especulativa, é que os seus membros puderam passar a ser apenas discretos. Ainda assim, em muitos países e épocas posteriores, nesses últimos trezentos anos, perseguições ocorreram.

Apenas nos dias de hoje, mesmo no Brasil, a Ordem Maçónica não é oficialmente insegura. Porém, as mentiras inquisitoriais persistem, contra a Maçonaria, como o foi contra os Templários. A Igreja Católica persiste mantendo sob o jugo Inquisitorial quem apoia a Maçonaria. Esta área da Igreja recebeu outro nome em 1904 e em 1965 passa a denominar-se “Congregação para a Doutrina da Fé”. Ainda que tenhamos exemplos demonstrativos de razoabilidade, até no Brasil, conforme texto de D. Eugênio de Araújo Sales (2001).

Ainda, neste momento não podemos afirmar, por falta de documentação histórica a ser exposta, que foi por decisão da Ordem dos Cavaleiros Templários que se criou a Ordem Maçónica actual em que temos seguidores por todo o mundo. Isto se faz apenas evidente se nós fundamentarmos a nossa nova origem na Escócia.

Ainda assim, fica absolutamente evidente que “somos os seus continuadores”, queiram alguns ou não.

Particularmente, não entendemos que o tanto que seguimos dos ritos templários tem apenas semelhanças copiadas, como forma de metáfora. E nem porque devamos seguir esses ritos por representarem mitos modelares “interessantes”. Parece-nos, sim, que precisamos buscar, em estudos mais aprofundados, identificarmos os modelos exemplares instruídos pelos Templários e que seguimos, ainda sem interpretá-los plenamente.

“Na Ordem Maçónica temos posturas militares, temos posturas religiosas, temos posturas de reflexão, temos posturas físicas. Todas rígidas. Todas fundadas em formas de Conhecimento na busca de interpretação, entendimento do Universo”. Rituais as exigem.

A nossa finalidade, enquanto Fraternidade, enquanto Ordem, é tornar o mundo em que vivemos mais acessível, para torná-lo mais em condições de se adequar as nossas necessidades de uma vida melhor para todos na actualidade e no futuro.

Suami Paula de Azevedo, M:.M:. – A:.R:.L:.S:. “Campos de Mirambava, n. 3021


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 https://www.freemason.pt/origens-da-ordem-maconica-reflexoes/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_campaign=publicamos-mais-um-artigo-newsletter-post-title-freemason-pt_2 Origens da Ordem Maçónica

Tourniac, J. Da Cavalaria ao Segredo do Templo. S. Paulo, Madras, 2011

outubro 03, 2021

MAÇONARIA PÓS PANDEMIA - Michael Winetzki



            Uma das questões recorrentes trazidas à luz em função da pandemia que o mundo está atravessando é “o que vai acontecer com a maçonaria quando a pandemia for controlada?”

            Mudanças irreversíveis estão ocorrendo em diversas áreas como no trabalho, na economia, na medicina, no mercado imobiliário e em muitas outras. Não poderia ser diferente na nossa Ordem.

            Ninguém tem a mínima ideia do fim da Covid-19. Ainda que as mais de trezentos e cinquenta milhões de vacinas sejam aplicadas em todos os brasileiros, o que certamente levará alguns anos, não se sabe se novas variantes se instalarão necessitando de novas vacinas, quando tempo vai durar a imunidade proporcionada por estas vacinas atuais, se as pessoas que se negam a tomar as vacinas serão vetores de contaminação, etc. Enquanto o mundo inteiro não for vacinado pessoas oriundas de outros países poderão continuar contaminando e talvez aconteça algo como o sarampo atualmente, que se julgava extinto e está retornando com força.

            Essas dificuldades certamente impactarão as Lojas, considerando que a maioria dos maçons brasileiros, segundo estatísticas informadas pela CMI - Confederação Maçônica Interamericana, e reforçadas pela CMSB, tem mais de 60 anos de idade, o que os coloca todos em grupo de risco. Aliás, essa realidade ocorre no mundo todo, com uma queda significativa no número de maçons no planeta com relação a quantidade de há vinte anos.

            Em função das óbvias dificuldades que os maçons encontrarão para se reunirem de forma presencial, ainda que com todos os cuidados de segurança sanitária, a maçonaria vai precisar se reinventar, e aqui e ali estão surgindo novas possibilidades, algumas possíveis soluções.

            Uma dessas novas ideias é a constituição de Lojas Maçônicas Virtuais. A Grande Loja Maçônica de Rondônia – GLOMARON - através da visão de seu atual SGM, Ir. Paulo B. Tupan e do Past GM Ir. Aldino Brasil, constituiu a primeira Loja Maçônica Virtual do país, e uma das primeiras no mundo, intitulada ARLSV Lux in Tenebris n. 47, que tem aproximadamente 600 membros, um número muito maior do que todas as Lojas do país, e uma frequência acima de 200 participantes nas sessões que realiza semanalmente, com palestras espetaculares, que trazem nova luz e extraordinários ensinamentos à maçonaria. Já houve sessão com a presença de mais de 450 participantes.

            A realização foi rapidamente seguida da instalação pela Grande Loja Maçônica do Pará – GLEPA - da segunda Loja Virtual intitulada ARLSV Luz e Conhecimento n. 103, que iniciou com mais de 200 membros e cuja adesão tem crescido de maneira acelerada. Ambas são Lojas regulares com estrutura normal e irmãos filiados nas cidades sede, Porto Velho e Belém, e membros correspondentes de todo o país e inclusive do exterior. Um acordo entre ambas permitiu que as reuniões semanais, aos sábados, sejam alternadas e todas as palestras são gravadas e disponibilizadas na internet com senhas de acesso aos seus membros.

            É claro que é bom e agradável que os irmãos vivam em união, em seus encontros presenciais e como os deliciosos ágapes ao final, só que isso será cada vez mais raro e difícil. Mau filho é diretor em uma das maiores empresas de TI do planeta, com mais de 25.000 empregados e filiais em dezenas de países. Ele comentou que a empresa precisou se reinventar para trabalho em casa – o home office -, entregou centenas de escritórios em muitos países, e a economia em aluguéis, condomínios, contas de energia, água, telefone, passagens e hospedagens de funcionários, etc, no ano passado, 2020, de março a dezembro, foi de sessenta milhões de reais, praticamente dobrando o lucro da empresa. Este ano se espera uma economia ainda maior e a empresa decidiu nunca mais montar instalações físicas. Isso lhe permitiu contratar a melhor mão de obra disponível no mundo, e hoje os funcionários no Brasil, EUA, Índia, Israel, por toda a Europa e em locais como a Coréia do Sul e Irlanda, recebam tarefas e prazos, ganhem por produtividade, e meu filho administra de Porto Alegre a instalação da Faculdade de Engenharia de Sorocaba

            No ano passado eu fiz sessenta palestras virtuais. Falei em muitas cidades brasileiras, de Laranjal, em MG, com 6.000 habitantes, até em Londres, berço da maçonaria, para minha honra e gaudio. As minhas palestras tiveram mais de dez mil assistentes e isso jamais seria possível na situação anterior à pandemia. Um dos reflexos das palestras, minhas e de outros excelentes palestrantes, foi o incremento da venda de livros. Quase todos eles têm ótimos livros publicados, as palestras são um excelente canal de vendas e de aprendizado e os irmãos participantes têm contribuído para manter acesa a chama do conhecimento.

            Neste dia 3 de outubro de 2021 completo 40 anos de Ordem. Procuro ser um maçom ativo e estudioso, mas confesso que aprendi muito mais sobre maçonaria neste último ano do que nas décadas anteriores. Participei de milhares de sessões ocas e inúteis onde o tema das sessões era a apenas a leitura das instruções dos rituais, iniciações mal ensaiadas, quando não enveredando pelas raias do absurdo como uma em que o VM deu alguns tiros para o ar próximo aos postulantes vendados, discussões sobre o cardápio da próximo evento ou a obrigação de ouvir trabalhos obviamente copiados do Google e depois elogiados de maneira hipócrita por mestres que nem haviam prestado atenção na leitura.

            Claro que houve também sessões brilhantes e produtivas, estas em muito menor número. Mais recentemente eu havia observado que muitos irmãos, inclusive VV:. MM:. ficavam com o com o celular ligado acessando WhatsApp ou outros aplicativos durante as sessões.  Nas sessões virtuais isso não acontece. As questões e comentários levantados após a palestra mostram o grande aproveitamento e aprendizado dos participantes.

            Talvez o futuro nos traga Lojas híbridas, onde em sessões presencias poderemos ter o aprendizado virtual proporcionado por esta nova realidade, através de TVs ou telões. Afinal, como diz o nosso ritual, a Maçonaria é “um sistema e uma escola, não só de moral como de filosofia social e espiritual, revelada por alegorias e ensinadas por símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres do homem-cidadão...” Assim como nos dias de hoje podemos obter um diploma universitário com aulas virtuais,  a Ordem pode nos proporcionar a prática da fraternidade, da mútua assistência, da prática das virtudes e do aprendizado com  maior distanciamento social. Vamos aguardar para ver.

TOLERÂNCIA NÃO COMBINA COM CONIVÊNCIA - Otávio M. Vieira


Ir.’. Otávio M. Vieira, M.'.M.'.

Uma das palavras mais ouvidas e lidas no mundo maçônico é a tolerância. O maçom é um Ser livre, ou seja, livre pensador, livre caminhante e de bons costumes, que significa ético, buscador de uma moral mais espiritualizada. No convívio em loja, nos deparamos com situações incongruentes com os ideais da Arte Real e, muitas vezes, nos calamos por conformismo, passividade, "politiquice", ou ainda nos escudamos na tolerância erroneamente compreendida.

Reconhecendo nossa própria mortalidade e pequenez, somos capazes de tolerar a falta de cultura do irmão por entendermos que em nosso país o acesso aos livros é privilégio de poucos, porém, não devemos nos abster de estimula-lo a leitura (dando textos, emprestando livros, orientando em pesquisa, etc.)

Devemos tolerar as faltas dos IIr.’. que comprovadamente estão impossibilitados de comparecer por motivos justos (doença e trabalho), entretanto não ser coniventes com omissões e malandragens. O maçom tem que ter palavra. No questionário de proposta, ele se comprometeu em ter pelo menos uma noite livre. Ele é um dente na engrenagem e sua falta afeta em vários prismas (formação da egrégora, composição dos cargos, comparecimento no tronco e mal exemplo). Você não acha? Então descruze os braços e tome uma atitude, pois quem cala consente.

E nos metais? Quanta inadimplência! Como iremos tolerar o Ir.'. que alega não contribuir por falta de dinheiro, crise no setor profissional, doença do sobrinho, mas quando observamos suas doações nos bares, sua vida regada num universo de soberba e hedonismo nos questionamos. O não contribuir neste caso, é trair o compromisso com a loja, é jogar na lama a palavra que deu no momento de sua iniciação.

Vamos ter mais atenção e critério ao escolher nossos "afilhados". Vejamos como procede em sua casa e no trabalho, observemos sua postura nos relacionamentos interpessoais e, conseqüentemente, sua atitude em grupo. A maçonaria é antes de tudo, uma equipe. Sondemos, investiguemos com profundidade e só depois apresentemos sua pré-proposta. Caso falhemos, não o iniciemos, caso já seja iniciado, não o elevemos, caso seja elevado, não o exaltemos e caso já seja um mestre, o cobriremos a bem da Arte Real. Lugar de Maçom é em Loja. Ao profano de avental, tchau e um abraço...

Para ser um bom V.'. M.'.  não é necessário elevar x, exaltar y, etc. não se mensura uma administração por isso, entretanto pela qualidade de maçonaria que desenvolveu.

Não deve haver dois pesos e duas medidas (pau que dá em Chico se dá, também em Francisco).

A maçonaria enquanto filosofia, ideal e propósito é a flor mais bela no jardim do G.’.A.’.D.’.U.’.. Regue-a com justa medida, amor e respeito.

Obrigado, G.'.A.'.D.'.U.'.  pelo privilégio de poder colocar três pontos no final de minha assinatura.

O TEMPO, A IDADE E A MAÇONARIA - Paulo Carlesso



Mais do que uma idade certa, há uma maturidade certa para se ser iniciado. 

Muitos nunca atingem essa maturidade: nascem, vivem e morrem sem nunca perder um segundo com as "grandes questões", tal a azáfama com que passam por esta existência.

Outros a atingem, encontram as sua próprias respostas e deixam, a partir de certo ponto, de fazer sentido procurarem outro método de aperfeiçoamento, pois já encontraram o seu próprio método, chegaram às suas próprias conclusões, traçaram o seu próprio caminho.

Cada maçom tem a sua própria história, o seu próprio ritmo, o seu próprio percurso. 

Uns chegam mais cedo, outros mais tarde. 

Uns caminham mais depressa, outros mais devagar.

Outros ainda levam mais tempo numa fase e noutra disparam a correr. 

Ou ao contrário.

Temos entre nós quem tenha sido iniciado aos vinte e poucos anos e quem o tenha sido já depois de ser avô.

Temos quem tenha sido aprendiz ou companheiro durante bastantes anos e quem ao fim de menos de dois anos já fosse mestre.

Temos quem tenha ficado pouco tempo, quem tenha ficado alguns anos e quem ainda cá esteja. 

Por tudo isto, encontra-se numa loja uma grande diversidade de idades, maturidades e sensibilidades.

A todos une, porém, a vontade de se tornarem pessoas melhores e de o fazerem juntos, e aprendendo uns com os outros.

Os aprendizes mais jovens podem aproximar-se mais facilmente de mestres mais próximos da sua idade, até estarem mais à vontade com os mais velhos.

Os aprendizes mais velhos terão porventura maior afinidade, pelo menos inicialmente, com os maçons mais maduros. 

Com o passar do tempo, à medida que aquelas caras vão adquirindo nomes, aos nomes se vão juntando feitios e os feitios, as caras e os nomes se tornam pessoas que vamos conhecendo e distinguindo das demais.

Os aprendizes vão-se apercebendo com quem podem aprender melhor o quê, e acabam por aprender com todos - com uns mais do que com outros, mas isso também faz parte...

Chegado a companheiro, o maçom conhecerá já razoavelmente a maioria dos irmãos da sua loja e estes a ele.

Terá, para além disso, passado pela experiência de ter "irmãos mais novos", iniciados depois dele.

Esses irmãos mais novos podem ser até mais velhos em idade, o que torna tudo muito mais interessante.

E quando se chega a mestre, percebe-se por fim que todos têm alguma coisa a aprender com cada um dos demais.

Os mestres mais novos encontram nos mais velhos a experiência de quem já passou por muitas situações difíceis, tomou muitas decisões - algumas mais certas que outras - e tem, enfim, a sabedoria que só a idade, a experiência e as dificuldades proporcionam.

Por seu lado, os mestres mais velhos encontram nos mais novos a possibilidade de reviver e questionar o seu próprio percurso, de tornar de novo novas as suas velhas dúvidas e questões e a possibilidade de passarem para outros aquilo que receberam dos que os antecederam.

Uns e outros partilham da alegria de estarem juntos, de serem diferentes e de terem algo a aprender uns com os outros.

Sem sangue novo, uma loja está condenada, mais ano menos ano, a abater colunas: não há quem ensinar e, à medida que os mestres forem passando ao Oriente Eterno, a loja vai ficando mais pequena, até deixar de se poder manter.

Por outro lado, sem o "sangue velho" - e muitas começaram assim - a loja pode até existir, mas é uma loja sem raízes nem memória, que só adquirirá com o decorrer dos anos.

Diz-se que em maçonaria nada se ensina e tudo se aprende. 

É, por isso, um privilégio poder aprender com quem cá está há mais tempo.



outubro 02, 2021

A ACLAMAÇÃO HUZZÉ, HUZZÉ, HUZZÉ - Valdemar Sansão


Valdemar Sansão é um dos mais notáveis e prolíficos intelectuais da maçonaria no Brasil.

Existem momentos fortemente marcantes na Iniciação e nas sessões maçônicas normais. Um deles é a aclamação: "Huzzé, Huzzé, Huzzé", firmemente pronunciada e três vezes repetida. 

Aclamação e não exclamação de alegria entre os Maçons, usual no R.E.A.A., cuja origem é considerada obscura. 

Aclamar = aplaudir, aprovar bradando, saudar, proclamar, ovacionar. 

Exclamar  =  bradar, gritar. 

Pesquisas feitas a esse respeito pelo historiador Albert Lantoine, declara em 1815: "Acrescenta-se a tríplice aclamação Huzzé que deve ser escrita Huzza, palavra inglesa que significa Viva o Rei e substitui o Vivat dos latinos".

Aclamada por três vezes, Huzza! (pronunciar huzzé). Eis a causa da diferença entre a ortografia e a pronúncia: é empregada em sinal de alegria. Citando o mesmo Albert Lantoine, a palavra Huzza (Huzzé!) é simplesmente sinônimo de Hurrah!, aclamação muito conhecida dos antigos torcedores das partidas de futebol, com o Hip! Hip! Hurra!...

Existe mesmo na língua inglesa o verbo “to huzza”, que significa aclamar. A bateria de alegria era sempre feita em honra a um acontecimento feliz para uma Loja ou para um Irmão. Era natural que os Maçons escoceses usassem esta aclamação. 

O dicionário "Michaelis" diz: huzza, interj. (de alegria) – v. gritar hurra, aclamar. Traduzindo corretamente do árabe "Huzzah" (Viva), significa Força e Vigor.

Huzzé era também o nome dado a uma espécie de Acácia consagrada ao Sol, como símbolo da imortalidade. 

"Huzzé, Huzzé, Huzzé" por constituir uma aclamação, é pronunciada com voz forte. Ela é feita apenas por duas vezes em cada reunião, por ocasião da abertura e do encerramento. Alivia tensões que eventualmente possam ter surgido entre os Irmãos.

Trazemos às Sessões as preocupações de ordem material que podem criar correntes vibratórias que põem obstáculos e restringem nossas percepções. 

Ao contrário, no decorrer dos trabalhos, o esforço constante para o bem e o belo, forma correntes que estabelecem as relações com os planos superiores. 

Nesse sentido, a aclamação na abertura do trabalho oferece passagem à energia habilitando-nos a benefícios (saúde, força e vigor) bem mais consistentes e duradouros e, ao iniciar a Sessão, tenhamos presente que, em Loja, tudo, verdadeiramente tudo, tem uma razão para sua existência. Nada, absolutamente nada, se faz no interior de um Templo por acaso.

Ao se aproximar do objeto mais sagrado, existente no Templo Maçônico – o Livro da Lei -, os maçons lembram pelo nome de Huzzé, expressando com essa aclamação alegria e contentamento, por crerem que o Grande Arquiteto do Universo se faz presente a cada sessão de nossos trabalhos.

E é a ELE que os Maçons rendem graças pelos benefícios advindos de Sua infinita bondade e de Sua presença que, iluminando e espargindo bênçãos em todos aqueles que ali vão imbuídos do Espírito Fraterno, intencionados a praticar a Tolerância, subjugar as suas Intransigências, combater a Vaidade e, crentes que assim procedendo, estarão caminhando rumo a evolução espiritual do Homem, meta do maçom.

A Maçonaria é uma Obra de Luz; a prática da saudação está arraigada nos ensinamentos maçônicos. A consideração da saudação Huzzé na abertura dos trabalhos está relacionada ao meio-dia, hora de grande esplendor de iluminação, quando o sol a pino subentende que não há sombra, tornando-se um momento de extrema igualdade – ninguém faz sombra a ninguém. 

Lembra também as benesses da Sabedoria, representada pelo nascer do sol, cujos raios vivificantes espalham luz e calor, ou seja, a Sabedoria e seus efeitos. 

Quando do encerramento dos trabalhos, a saudação está relacionada à meia-noite, nos dando o alento de que um novo dia irá raiar, pois quanto mais escura é a madrugada, mais próximo está o nascer de um novo dia. 

A aclamação ao sol no seu ocaso, lembra que a Luz da Sabedoria irradiou os trabalhos, agora prestes a terminar, em alusão ao fim da nossa vida (meia-noite) quando devemos estar certos de que nossa passagem pelo plano terreno fora pautada por atos de Sabedoria. 

No Rito Moderno a aclamação é "Igualdade, Liberdade e Fraternidade"; no Adonhiramita é "Vivat, Vivat, Vivat"; no Brasileiro "Glória, Glória, Glória!" E nos ritos de York (Emulation) e Schroeder não existe aclamação.

Huzzé! é, pois, a reiteração que os Irmãos fazem de sua fé no Grande Criador, que tudo pode e tudo governa. E só através DELE encontram o caminho para a ascensão.

A primeira reflexão, portanto, em torno da aclamação sugere que analisemos nossa vida e verifiquemos se sustentamos os propósitos de paz ou espalhamos a agitação.

O Mahatma Gandhi dizia que alguém capaz de realizar a plenitude do amor neutralizará o ódio de milhões. Certamente estamos distanciados de suas realizações. Não obstante, podemos promover a paz evitando que ressentimentos e mágoas fermentem no coração dos que conosco congregam e se transformem nesse sentimento desajustante que é o ódio.

Certa feita o Obreiro de uma Loja queixava-se do Mestre de Cerimônias ao Venerável por sempre lhe oferecer, na falta dos titulares, os cargos que, segundo ele, eram de mais difícil desempenho ou de menor evidência. O Venerável, um semeador da paz o desarmou.

- Está enganado, meu Irmão, quanto ao nosso Mestre de Cerimônias. Ele o admira muito, sabe que é eficiente e digno de confiança. Por isso o tem encaminhado para desempenho das funções e encargos onde há problemas, consciente de que sabe desempenhá-los e resolvê-los melhor que qualquer outro Obreiro do quadro da Loja.

Desnecessário dizer que com sua intervenção pacificou o Irmão que passou a ver com simpatia as iniciativas a seu respeito. Desarmou, assim, o possível desafeto passando a ideia de que o Mestre de Cerimônias não tinha a mesma opinião a seu respeito, fazendo prevalecer a sugestão de Francisco de Assis: "Onde houver ódio que eu semeie o Amor".

Existem aqueles que entendem huzzé como força poderosa, ou seja, um mantra, que deve ser com a consciência de quem a emprega direcionada no sentido do bem. Seria essa a razão e significação da palavra Huzzé como proposta na ritualística maçônica?  

Devemos acrescer, ainda, que Cristo, em várias oportunidades, saudava os Apóstolos com um "Adonai Ze" (O Senhor esteja entre vós). Essa aclamação os deixava mais alegres e confiantes, formando uma corrente de otimismo. 

Na Idade Média quando um católico se encontrava com outro, dizia: DOMINUS VOBISCUM (O Senhor esteja convosco); PAX TECUM (A paz esteja contigo). 

Até pelo exemplo citado, façamos tudo ao nosso alcance para que reine em nossa Loja uma atmosfera de carinho, afeição, tranquilidade, paz, amor e harmonia para nossa constante elevação e glória do Grande Arquiteto do Universo. 

O emprego da aclamação Huzzé na Maçonaria tem também o sentido esotérico, numa indução moral a que se busque o prazer no que se pratica, para o bem da humanidade (isto no começo) e, no final, a mesma alegria pelo bem praticado, não sem também invocar particularmente o duplo sentido do "Ele é ou ele está..." (com todos, evidentemente).

O importante é que, no momento exato, gritemos de alegria sempre que pudermos estar reunidos em Templo e rendermos graças por estarmos juntos mais uma vez!

Huzzé, Huzzé, Huzzé!

QUEM NÃO SE VIRA É JABUTI - Heitor Rodrigues Freire



Heitor Rodrigues Freire,  é corretor de imóveis e advogado, Past GM da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande. Notável intelectual contribui frequentemente com este blog.

É muito comum a prática de se transferir aos outros a responsabilidade de um ato  cometido, para evitar consequências indesejadas.

É frequente ouvirmos: “Não fui eu”. Essa expressão demonstra a tentativa de se eximir da obrigação. Penso que tudo diz respeito a todos, independentemente da responsabilidade direta com o ato em questão, porque a partir do momento em que  buscamos uma solução, desenvolvemos um processo criativo que enriquece todos os que se dispõem a resolver o problema.

Outra expressão que é comum ouvir por aí: “Sempre foi assim”. É o surrado hábito de  deixar como está para ver como é que fica. É a manifestação do mais perfeito comodismo, e é o que emperra qualquer empresa, porque provoca preguiça institucionalizada. É a negação da inteligência e da criatividade. É eximir-se da ação.

Como sabemos, o trabalho dignifica o homem. E quando executado com consciência, contribui para o aprimoramento geral.

Há um famoso texto de Helbert Hubbard, jornalista americano, que retrata com muita fidelidade esse comportamento, chamado “Mensagem a García”: quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava aos americanos era conseguir se comunicar rapidamente com o chefe dos insurretos, García, que se encontrava em alguma fortaleza no sertão cubano, mas ninguém sabia exatamente onde. Era impossível, naquela época, contactá-lo por correio ou telégrafo. No entanto, o presidente MacKinley tinha que se assegurar da colaboração de García, seu aliado, e o quanto antes. Mas como fazer?

Alguém lembrou ao Presidente: ‘Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar García, há de ser o Rowan’. Então providenciaram para que Rowan fosse trazido à presença do presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a García, e somente a ele. Pois Rowan, pegou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, depois de quatro dias de peregrinação incessante, saltou de um barco sem coberta, alta noite, no litoral de Cuba; ele se embrenhou no sertão, para depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil, quente, e entregar em mãos a carta a García. Os detalhes são coisas que não vêm ao caso narrar aqui. 

O ponto é este: O presidente MacKinley entregou a Rowan uma carta para ser entregue a García; Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou: “Quem é ele?” “Onde é que ele está?” Ele simplesmente assumiu a missão e foi em frente, na certeza de que iria cumprir o combinado.

Há um ditado popular que diz: “Quem não se vira é jabuti”. Porque ao jabuti, que não consegue se desvirar sozinho quando cai, é atribuída uma inação que não depende dele mesmo. Se ninguém ajudá-lo, o bicho corre o risco de morrer. Daí a conclusão de que como não somos jabutis, podemos nos desvirar sozinhos, porque isso só depende de nós mesmos.

No Pará, há uma variação desse ditado: “Te vira, tu não é jabuti: Resolva teus problemas, tu é capaz! Só o jabuti quando fica com o casco para baixo é que não consegue se desvirar sozinho”.

O que mais se espera de todos é exatamente uma ação consciente para resolver os próprios problemas.

Quando atingirmos esse estado ideal, sem dúvida, o mundo será outro. Não vai ter mais aqueles que dizem que já cumpriram seu trabalho, que merecem o descanso, etc.

E tudo ficará melhor. Naturalmente, com as bençãos de Deus.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

outubro 01, 2021

A ACÁCIA NA MAÇONARIA - Kennyo Ismail


Kennyo Ismail é escritor, tradutor, professor universitário, editor e um  importante intelectual maçônico do Brasil.


Não vamos entrar em discussão sobre as centenas de espécies de acácia, pois esse não é o objetivo. Tendo a acácia na maçonaria um papel simbólico, a espécie de acácia pouco nos importa. Vamos ao que interessa:

Como sabemos, os judeus sofreram forte influência dos egípcios durante o tempo em que estiveram naquele território. Assim, muitos traços culturais, sociais e religiosos do Egito Antigo foram incorporados pelos judeus. Como exemplos, podemos citar a lenda de Anúbis, filho ilegítimo jogado no rio e posteriormente encontrado por uma rainha que o cria, e a lenda da arca do dilúvio, as quais foram recontadas pelos judeus e tiveram seus protagonistas rebatizados com nomes judaicos: Moisés e Noé.

O mesmo se deveu com a acácia, árvore sagrada dos egípcios e adotada pelos judeus. A acácia era matéria-prima para a produção de artigos sagrados no Egito, adotada pela sua alta densidade e durabilidade, não sofrendo ataque de insetos. Sua goma (conhecida popularmente como “goma arábica”) era utilizada nas cerimônias sagradas de mumificação.

Parece que os judeus aprenderam essa lição, pois a acácia foi a madeira indicada para a construção de todos os importantes objetos sagrados, como no tabernáculo, nos altares, e na arca da aliança. O fato de seu uso estar mais concentrado no “Êxodo” e aos poucos ser substituído pelo cedro e cipreste, confirma essa teoria da influência egípcia.

Até aí tudo bem, mas de onde sairia a inspiração para relacionar a acácia com a lenda de Hiram Abiff

Basta recorrermos a uma das principais lendas egípcias: a lenda de Osíris.

Seth odiava Osíris, que era tido como sábio e poderoso, então resolveu matá-lo. Ele fez um belo caixão com as exatas medidas de Osíris e convidou as pessoas para um jogo: aquele que se encaixasse perfeitamente no caixão, ganharia o mesmo de presente. Logicamente, quando a vez de Osíris chegou, o caixão era perfeito, e Seth e seus cúmplices trancaram Osíris dentro do caixão e o jogaram no rio. Sua mulher, Ísis, o procurou por muitos dias. O caixão havia encalhado e sobre ele havia brotado uma… acácia. A acácia serviu de indicação para que Ísis encontrasse o corpo de Osíris. Por essa lenda, Osíris é considerado o deus da morte e da imortalidade da alma.

Um corpo sob uma acácia e os ensinamentos sobre a morte e a imortalidade da alma soam familiar?

Daí a atribuir à acácia também o significado de segurança, clareza, inocência e pureza, como alguns autores querem, é forçar demais. Deixemos para a acácia sua bela missão de simbolizar a vida após a morte, assim como herdamos dos egípcios. Isso já é o bastante para um único símbolo.

A CHATICE NOSSA DE CADA DIA - Newton Agrella


Newton Agrella é escritor, tradutor e palestrante, um dos mais renomados intelectuais da maçonaria.

Na década de 60, Guilherme Figueiredo lançou sua obra intitulada "Tratado Geral dos Chatos", uma verdadeira crítica comportamental que dava conta à respeito da maneira de agir de pessoas que não se apercebiam de quão inconvenientes eram.

Muito provavelmente o referido autor jamais poderia imaginar, o valor contemporâneo e significativo que o conteúdo e a essência de sua obra se tornariam.

Tomando-se por base que cada um de nós,  traz consigo uma certa dose de chatice - aliás ninguém está imune a isso - há contudo, milhões de pessoas que carregam na dose a insuportável capacidade de serem chatas.

Os exemplos são infinitos.  

Alguns na maneira de falar, outros no modo de interagir, há os que são metidos a engraçados, outros com a mania de interromper seus interlocutores, há os que não cansam de falar, falam pelos cotovelos e não conseguem ouvir dentre tantos tipos.

Contudo, nessa época de Internet, de mídias sociais, e de relações virtuais,

alguns tipos de chatos tornaram-se figurinhas carimbadas, e transformaram o exercício democrático da Internet e da interação on-line num verdadeiro inferno.

São mensagens, áudios, vídeos  e uma parafernália, que entopem o cérebro e a paciência de quem se arrisca a navegar pelas ondas sociais.

Internautas transformaram-se em arautos de fake news, emissores de opiniões mesmo que desconheçam um assunto.

O mais angustiante disso tudo é quando passam a se intitular  "formadores de opinião",  geralmente travestidos pela ignóbil expressão em Inglês de "digital influencers"  para dar mais status à sua irrefutável condição de "chato".

A figura do chato desconhece medidas, não se toca quando é demais e mal se apercebe de sua condição de "persona non grata"; seja em que cenário for.

O chato contemporâneo, tal qual o de antigamente, não perde a chance de se exibir.

Conjuga os verbos sempre na 1a. pessoa e jamais se esquiva de dar a sua opinião, mesmo quando não lhe é perguntado.

Como em todas as camadas da sociedade, o chato marca sua presença de maneira nada sutil.

É aquela pessoa desagradável, e que consegue impregnar um ambiente quando abre a boca.

Sem fugir da raia, a própria Maçonaria está infestada de "chatos irremediáveis" , cuja característica mais marcante é o de se julgar o senhor da razão, e o dono da verdade.

O chato consegue encontrar respostas pra tudo, não importa como. 

O chato é arroz de festa, não perde uma boquinha, é fanático, entende quase tudo pelo avesso, mas faz questão de deixar sua marca indelével, por mais insignificante e obtusa que seja.

O Tratado Geral dos Chatos merece um compêndio mais atualizado, uma vez que o exercício da chatice é algo inerente ao ser humano, cuja extensão desconhece fronteiras...