novembro 04, 2021

DA MAÇONARIA TEÍSTA À MAÇONARIA DEÍSTA - Rui Bandeira




Definido o que se deve entender por deísmo e por teísmo, estamos então em condições de indagar se existe uma Maçonaria teísta e uma Maçonaria deísta, quais os significados destas expressões e as diferenças entre elas.

Na época da Maçonaria Operativa, não havia discussões na Europa. Era-se cristão ou judeu e ponto final. A religião entrava na vida de cada indivíduo, não através de uma busca racional, mas como uma característica essencial. E a religião era o que os responsáveis da Igreja diziam que era.

Analisar questões teológicas era encargo de muito poucos de entre os pouquíssimos que sabiam ler e escrever. A grande massa dos Povos tinha a religião do Estado onde se encontrava ou do senhor a quem servia. Não era, sequer, uma questão de escolha. Era de sobrevivência. Literalmente falando.

Não se punha, pois, a questão de se ser deísta ou teísta. O conceito de deísmo nem sequer existia. Todos eram teístas, porque todos eram crentes. E quem não fosse, calava e fingia sê-lo, se queria continuar integrado na sociedade, vivo e de boa saúde...

Na Europa de então, opções religiosas havia duas: o cristianismo (primeiro apenas sob a batuta do papa de Roma; depois, com a Reforma, com dois grandes campos de escolha: o catolicismo ou, com diversas variantes, o que se convencionou chamar de protestantismo) e o judaísmo, aquele amplamente majoritário.

Todos os maçons eram, por definição, crentes e cristãos.

A Maçonaria Operativa, como instituição eminentemente profissional, não destoava do resto das instituições existentes e todos eram teístas. Nem se concebia que pudesse ser diferente!

O tempo e a evolução social, porém, vieram a alterar esta situação. A partir de finais do século XVI, inícios do século XVII, gradualmente as Lojas maçônicas operativas começaram a admitir elementos não integrantes da profissão de construtores em pedra.

Foram senhores que mandavam construir igrejas e contratavam e pagavam, para esse efeito, os oficiais construtores, exercendo sobre estes manifesta influência econômica, que demonstravam interesse em compartilhar dos segredos da Arte Real da construção. Foram influentes cavalheiros ou nobres que assumiam o papel de protetores das corporações de maçons, enfim, a pouco e pouco foram sendo Aceites não construtores nas Lojas. E as Lojas passaram a ser locais de congregação de maçons livres e aceites.

Maçons livres, os oficiais construtores que não dependiam de senhores, que eram livres de trabalhar e exercer o seu ofício onde quisessem e pudessem. Maçons aceitos, aqueles que, não sendo oficiais construtores, tinham sido aceites no seio das Lojas.

A Maçonaria original, operativa, era essencialmente cristã. Na Europa esse era o pensamento religioso largamente dominante. Para além deste, existia apenas o judaísmo, minoritário e simplesmente tolerado. Às vezes, pouco. Nalguns locais (na Península Ibérica, por exemplo), nada.

Todos os textos primitivos maçônicos espelham a doutrina cristã. Mesmo as Constituições de Anderson o mostram.

Na redação original dos Landmarks, os princípios informadores da Maçonaria não se fazem referência a Volume da Lei Sagrada, menciona-se, clara e diretamente, a Holly Bíblia, a Bíblia Sagrada.

Com o advento do pensamento deísta e a sua inegável influência na Maçonaria, a concepção desta como tributária da religião cristã é substituída por uma muito mais abrangente concepção como tributária da "Religião com a qual todos os homens concordam" (expressão, aliás, já constante nas Constituições de Anderson).

Este mais abrangente entendimento inelutavelmente que levou a certa descristianização da Maçonaria. Se esta era o ponto de confluência de todos os crentes de todas as religiões, a plataforma mínima de entendimento de todos, a "religião com a qual todos concordam", então não se podia impor aos não-cristãos as preces cristãs, por exemplo.

A Primeira Grande Loja de Londres, instituída em 1717, estabeleceu o princípio deísta na Maçonaria. Outros maçons, respeitadores da sua tradição, vinda da Maçonaria Operativa, discordaram dessa evolução e constituíram a Grande Loja dos Ancients (Antigos), apelidando os da Grande Loja de Londres de serem, erradamente, no seu ponto de vista, Moderns (Modernos).

Foi da tensão entre estas duas concepções da Maçonaria, uma declaradamente teísta, na esteira operativa, e outra assumidamente deísta, foi dos debates entre uma e outra, que se forjou a Maçonaria Moderna.

A Grande Loja dos Antigos, decisivamente influenciada por Lawrence Dermott, autor da compilação que constituía o conjunto de textos essenciais dos Antigos, o Ahiman Rezon, incluía nos seus rituais uma oração para ser dita pelos cristãos, onde se pedia a Deus, designadamente:

Dote-os (os novos Maçons), com a competência da sua Divina Sabedoria para que eles possam, com os Segredos da Maçonaria serem capazes de entender os Mistérios da Santidade do Cristianismo.

Os Antigos verberavam os Modernos por estes descristianizarem o ritual; os Modernos defendiam a inclusão da Maçonaria a todos os crentes, qualquer que fosse a sua religião pessoal, qualquer que fosse a sua concepção do Criador.

Com a união das duas Grandes Lojas rivais, em 1813, na Grande Loja Unida de Inglaterra, venceu a concepção deísta da Maçonaria.


Portanto, hoje pode com correção afirmar-se que a Maçonaria é deísta.


Deísta, porque, ao abrigo do princípio da assunção do Divino através da Razão, admite no seu seio todos os crentes, não apenas os que originalmente nela eram admitidos (cristãos).


Deísta, porque ponto de encontro, denominador comum de todos os crentes, respeitando a crença individual de cada um.


Neste sentido, deísta, porque não apenas cristã.


O primeiro judeu iniciado foi-o numa Loja de Londres, em 1732: Edward Rose.


Só mais tarde vieram a ser iniciados Muçulmanos e depois seguidores de outras religiões.


Maçonaria deísta é, pois, a Maçonaria hoje correntemente aplicada, que aceita no seu seio crentes de todas as religiões.


Não quer isto dizer que renegue a sua origem cristã.


Não o faz. 

Designadamente, mantém, em especial em alguns dos Altos Graus, graus especificamente cristãos.


Mas, mesmo esses, um não cristão que a eles queira aceder e não se sinta desconfortável com o ideário cristão neles expresso, pode recebê-los.


Uma última nota: quando se diz que a Maçonaria é deísta, não se pretende dizer, nem se aceita, que se destina exclusivamente a deístas.


Porque apenas se exige crença num Criador, sendo despicienda qual é E COMO A ELA SE CHEGOU.


Na Maçonaria convivem fácil e proveitosamente deístas e teístas.

Seja qual for a sua religião.


Também em Maçonaria a evolução se fez do teísmo para o deísmo, numa perspectiva de inclusão, nunca de exclusão.


Por isso, a Maçonaria Moderna é deísta, sem prejuízo de ter no seu seio - e muito confortavelmente - muitos teístas.


Porque ser, individualmente, teísta, deísta, católico, luterano, anglicano, calvinista, evangélico, judeu, muçulmano, hindu, etc., etc., etc. e ainda etc., desde que crente, é absolutamente indiferente!



A HISTÓRIA DA ROSA-CROIX - Leonardo Redaelli




Venerável Mestre e todos vocês meus Irmãos, em suas fileiras e qualidades, como vocês sabem, sou um apaixonado pela leitura e nosso F Jack, que tem uma ótima biblioteca, regularmente me empresta livros. Entre eles, ele me emprestou o livro de 1990 de Paul Arnold sobre a história da Rosa-Croix. Eu não sabia quase nada sobre eles, exceto um documentário de TV bastante hermético que me intrigou com meus preconceitos.

Decidi mergulhar nessa história e dar a vocês um quadro sobre o Rose Croix porque acho que a maioria de vocês ainda não teve a oportunidade de aprofundar o assunto. História ou lenda?

-História porque existem documentos escritos, historicamente incontestáveis ​​que descrevem a Ordem, seus objetivos, seus princípios, porque houve e ainda hoje grupos que se referem ao movimento Rosacruz, e finalmente porque indivíduos afirmavam ser Rose Croix ou ter relações com CRs.

- Lendas porque a abundante literatura que trata da Rose Croix está repleta de extrapolações precipitadas, afirmações injustificadas, referências a documentos indetectáveis ​​e até falsificações verdadeiras.

1 De volta à história:

A origem escrita desta história começa de facto com a descoberta dos 3 " Manifestos "   não assinados que surgiram em Cassel e que são a expressão de uma corrente de pensamento, a mensagem de uma sociedade que se quer construir com base: a caridade, fé e esperança que são sinônimos de amor:

-           A primeira em 1614 inclui 3 partes: "Reforma comum e geral de todo o mundo" seguida pela "Fama Fraternalis da louvável ordem da Rosa Cruz dirigida a todos os estudiosos e líderes da Europa" de 147 páginas e finalmente "uma resposta curta" de Adam Haselmayer que, por isso, foi enviado para as galés. Este último título foi precedido por uma vinheta representando a âncora de esperança abraçada pela serpente de mercúrio.

-           O seguinte “la confessio”, publicado em 1615, é um livreto de 12 páginas que se conforma ao espírito de Fama com um toque de apocalipse e antipapismo. Ele anuncia a 4ª monarquia, ou seja, o reinado do Espírito Santo.

-           Finalmente em 1617 “o casamento quimico (com um y) de Christian Rosencreutz”. Este 3º texto de 146 páginas é de natureza muito diferente. Conta a incrível jornada de 7 dias de Rosencreutz entre a corte durante o casamento do rei, sua decolagem e, finalmente, sua ressurreição.

Ao mesmo tempo, clandestinamente, pôsteres foram colados nas paredes das cidades da França, especialmente em Paris. Incluem o seguinte texto: “  Nós, deputados do colégio principal dos Irmãos da Rosa-Croix, fazemos uma estada visível e invisível nesta cidade pela graça do Altíssimo, a quem os corações dos justos se voltam. Mostramos e ensinamos sem livros ou marcas a falar todas as línguas do país onde queremos estar, a tirar os homens, os nossos semelhantes, dos erros da morte  ”.

2 Por que o nome Rose-Croix? :  

Como associar um instrumento de tortura que resume todo o drama da paixão de Cristo com a graça e o frescor da rosa? Assim se unem a cruz, sinal sagrado da morte, e a rosa, sinal da vida, do perfume que se desvanece. Assim é criado um símbolo de imortalidade: a cruz e em seu centro a rosa, gota de sangue que renasce, a cruz do corpo físico do homem e a rosa o espírito em processo de evolução para alcançar a revelação de um conhecimento de ordem superior.

3 O conteúdo da mensagem:

 O livro mais emblemático é "La Fama", que começa nestes termos "Nós, irmãos da fraternidade RC, oferecemos a nossa salvação, o nosso amor e as nossas orações a cada um que ler o nosso presente Fama de intenção cristã"

É explicado que, contra Satanás, um homem se levantou: o reverendo, devoto, espiritual e muito iluminado Irmão Rosencreutz. Filho de pais pobres, mas nobres, foi colocado aos 6 anos em um mosteiro onde aprendeu latim e magia. Aos 16 anos, ele fez uma viagem à Terra Santa. Ele entra em contato com os sábios de Damcar que lhe ensinam os segredos da natureza. Vários anos depois, ele chegou a Fez para encontrar os magos. Ele assim recebe a revelação da unidade universal que coloca o homem de volta em uníssono com Deus, o céu e a terra. A partir daí ele voltou à Europa para fundar uma empresa que teria ouro e pedras preciosas e poderia comunicar o segredo aos monarcas. Ele desembarcou na Espanha, onde foi mal compreendido. Ele retorna à Alemanha onde mora sozinho em sua casa onde constrói instrumentos musicais.

Após 5 anos, ele pede a seus devotados companheiros que escrevam tudo o que ele lhes diz. Tantos enfermos vêm imediatamente a eles que não são mais suficientes para o trabalho. Também Rosencreutz apela aos novos irmãos, celibatários e que fizeram votos de castidade acolhidos na "sociedade e na fraternidade". Esta faculdade escreve o “livro dos desejos humanos” e os F partem em missão ao redor do mundo para estudar e expandir seus conhecimentos. Rosencreutz então instituiu as regras da ordem:

-          Não exerça publicamente qualquer atividade que não seja o tratamento voluntário de doentes

-          Adapte-se em todos os lugares aos costumes e roupas do país

-          Aparece anualmente no dia C no local determinado pelo espírito santo

-          Cada irmão terá que escolher um sucessor para o dia de sua morte

-          A rosa-cruz é o sinal e símbolo da fraternidade

-          A fraternidade permanecerá na clandestinidade por cem anos.

No entanto, os FF não são imortais, mas o F NN revelou que a irmandade viria em ajuda da nação alemã. Com efeito, acabava de descobrir o acesso ao túmulo do Padre Rosencreutz, sepultado durante 120 anos e sobre o qual estava escrito "passados ​​120 anos abriria". Pelos cálculos, este ano ocorre em 1604, que adiou o nascimento do pai para 1378, falecido aos 106 anos, ou seja, em 1484.

O FF correu e entrou na tumba que tinha a forma de uma abóbada de 2,5 metros de altura e 7 lados de 5 metros cada. 4 círculos dispostos em cruz e um 5º maior decoram o teto com as inscrições "jesus é tudo para mim" "o vazio não está em lugar nenhum" o jugo da lei "" liberdade do Evangelho "" a glória de Deus é intangível ”

Nesta tumba estão muitos livros incluindo um de Paracelso e a vida de Rosencreutz, há um altar, uma laje funerária cinzelada retratando a vida do pai com no final esta fórmula, que encontraremos em Maitre Eckart e Jean Ruysbroeck "Nós nascemos em deus, morreremos em jesus, tornamo-nos vivos no espírito santo ”, que parece ser a chave do esoterismo rosa-cruz.

La Fama indica que tudo isso terá de ser mantido em segredo.   Ela convida os que acreditam nisso a entrar em contato com os outros, mas de forma secreta, daí a origem da fábula do invisível. Ela se afirma cristã, evangélica e luterana.

Este resumo do evangelho da rosa-cruz deixa o leitor com uma impressão intrigante.

4 Quem poderia ter escrito esses livros? :

Paul Arnold pensa que é o trabalho de todo um grupo liderado por Jean-Valentin Andreae. Este último, nascido em 1586, filho de um pastor em Württemberg, dedicou-se à alquimia, ocultismo e astrologia. Aos 16 anos começou a escrever livros e em 1604 "Les noces chymiques de Rosencreutz" que só seriam publicados em 1616. Foi então involuntariamente arrastado pelos seus camaradas para um movimento de devassidão que o obrigou a emigrar. Ele conhece Hess e Holzel, que o levam a leituras místicas. Aqui ele é condenado com seu amigo Besold pelo reitor de Tübingen. Em seguida, viaja pela Europa e é durante esta viagem que descobre a sua vocação "para servir a Igreja evangélica e o mundo, em vez de seguir como epicurista o seu pensamento íntimo".

Ele conheceu Haffenreffer, professor de teologia, que lhe deu uma tese em 1614 para ser nomeado diácono perto de Tübingen. Foi neste ano que surgiu a Fama.

Em 1616 aparece “o casamento químico de Rosencreutz” que Andréae atribui à sua caneta adolescente. A partir deste ano até 1619 denunciará a fraternidade RC como uma farsa e pretende lançar uma “cidade cristã” publicando “convite da fraternidade de Cristo aos candidatos ao amor sagrado”, com um objetivo próximo da Fama. Em 1619, ele publicou uma “república cristianopolita”, fundando uma sociedade de socorro local. Ele ainda publicará "o exemplo da verdadeira união cristã" em 1628. Ele morreu em 1654, esquecendo-se do CR ao publicar sua biografia. O emblema RC é inspirado no brasão de sua família.

Este último, apesar de suas negativas subsequentes, foi considerado o principal responsável pelo movimento RC.

5 Haveria uma doutrina e uma fraternidade Rose Croix antes da Fama? :

Não faltam as hipóteses mais ousadas.

Pierre Mariel invoca uma corrente de pensamento marcada durante a Antiguidade e a Idade Média por alquimistas, hermetistas, gnósticos, etc. Esta corrente foi organizada no século XVI numa escola de filosofia, "pansophie" que deriva das pesquisas de Corneluis Agrippa e Paracelsus.   Os adeptos estavam convencidos de que haviam descoberto o segredo da unidade de todos os fenômenos e todos os seres. A mesa esmeralda resumia sua doutrina que passou por um grande ascetismo. Esta disciplina nunca foi realmente codificada e é dentro dessa pansophie que o Rosacrucianismo teria surgido. Na verdade, os alquimistas, por exemplo, sempre foram silenciosos sobre sua arte e transmitiram os arcanos a seus discípulos sob o selo do sigilo.

Robert Ambelain cita um manuscrito do alemão Michel Maier que indica que seria uma comunidade de magos que criou por volta de 1570 o FF do RC, do qual nada se sabe. Ele também cita 2 grupos Rosacruzes que teriam sido fundados na Inglaterra no início do 17º ano sob a liderança de Fludd. Um que reúne o FF do RC d'Or que se tornou “Aurae Crucis”. A segunda, mais numerosa, recebeu o nome de "Rosae Crucis". Este último fundou o “Colégio invisível” que então se tornou a “Sociedade Real” reconhecida pelo Rei Carlos 2.

6 distinção entre Rosa-Croix e Rosacruzes .

Um Rosacruz é aquele que atinge o estado de perfeição espiritual e moral definitiva, freqüentemente chamado de estado de Cristo, um Rosacruz é um iniciado que busca alcançar esta iluminação.

Agora é certo que a fraternidade RC supostamente fundada pelos escritores do manifesto de 1614 era apenas um mito e nunca existiu.

7 Rose Croix e a Maçonaria  :

Certos autores tentaram estabelecer uma dupla filiação com o FM: as lojas dos arquitetos, por um lado, e os templários, por outro, fornecem uma primeira série de ancestrais às constituições de Anderson.

O RC seria o elo intermediário e seria mudando seu nome por volta de 1630 que o RC se tornaria o FM especulativo. Isso foi alcançado definitivamente pelo filósofo RC Vaughan e o antiquário Elias Ashmole por volta de 1650.

Arnold demonstra que as teses das lojas arquitetônicas e dos Templários são obsoletas.

Em relação a CR, existe o texto de Fludd de 1633, que é a pedra angular da teoria dos parentesco. Mas este apesar de seus numerosos escritos não mostra nenhuma relação com um FM.

Por outro lado, em meados do século XVII assistimos a um renascimento do Rosicrucismo com os 2 filaletes Irénée e Eugène. Foi nesta época qu'apparaitrait 1º organizador da especulativa FM, Elias Ashmole. Este publica em 1652 o “theatrum chemicum britannicum” no qual defende a RC de 1614 com muita leveza. Ele se tornou o discípulo favorito do alquimista William Barckhouse.

No entanto, encontramos em seus papéis 2 notas que são os únicos testemunhos de sua pertença a uma loja de maçons: em outubro de 1646 fui feito maçom em Warrington e em março de 1692 recebi um chamado para comparecer a uma loja; Eu era um jornaleiro sênior e fazia 35 anos desde que fui internado.

Em 1686 apareceu "The Natural History of Staffordshire", de Robert Plot. Ele fala de uma Loja FM que não funciona com um procedimento de recepção simplificado e com placas secretas.

Robert Amadou encontra o vestígio de uma primeira loja de aceitação que fez maçons em 1631 e iniciou Ashmole em 1646

Além disso, John Heydon publica a 1ª tradução francesa de La Fama em 1652 e Thomas Vaughan repõe escritos pseudoalquímicos classificados como Rosacruzes. Arnold pensa que, é apenas nessa medida que esses escritos são um possível vínculo com o FM especulativo.

Na verdade, se tentarmos capturar nos mitos, ritos, costumes e empréstimos do vocabulário maçônico de natureza RC, ficaremos rapidamente desapontados.

Na organização dada ao RC, não há o menor traço da divisão maçônica em 3 graus

Da mesma forma o RC não conhecia o mito de Hiram Abi e se falamos dele nos dias de Fama foi de Hiram rei de Tiro que falamos

Assim, não é possível obter um único empréstimo decisivo entre os dois movimentos filosóficos, exceto, no entanto, a patente de Rose Croix apareceu em 1760 e preservada no 18º grau da AASR. Existe apenas uma atmosfera vaga, um tipo de orientação da mente que poderíamos encontrar

8 Modernismo Rosacruz:

Como já mencionamos, não houve estrutura perene de RC durante os 100 anos que se seguiram a Fama, mas foi nessa época que o pastor siciliano Samuel Richter publicou em 1712 "a verdadeira e total difusão da pedra. Filósofo da fraternidade RC e da Rosa ”, novamente abreviado Rose-Croix d'Or com uma descrição das cerimônias entre FF. Sedir afirma que esta ordem não se desenvolveu até 1756.

A Rosa-Croix d'Or do Antigo Sistema foi criada dentro da Loja Maçônica dos Três Globos em Berlim em 1777. Ela acomoda os altos escalões da Maçonaria. Ela afirma possuir os segredos da transmutação dos metais e ter o poder de curar os enfermos.

Na França aparece em Toulouse um homem estranho, Martines de Pasqually, que tenta fundar um rito maçônico e cria em 1766 os cavaleiros eleitos Cohen em Bordeaux. Ele conhece Jean-Baptiste Willermoz. Também faz parte de uma loja RC e se qualifica como RC e cruzamentos reais em 1772. Em seguida, retorna à ordem de estrita observância em 1778. Criará uma classificação RC. Esses são apenas picos de fenômenos em torno dos RCs. Por outro lado, um século depois, surge de todos os lados:

Na Inglaterra, em 1860, foi fundada a “Societa Rosicruciana in Anglia” ou SRIA, cujos membros foram recrutados da FM e que mais tarde se espalhariam para os EUA, depois para as “Fratres Lucis” fundadas por Bulwer Lytton das quais o “ordo Rosis Lucis ”saiu em 1887.   Em 1912 a Sra. Annie Besant fundou uma ordem do templo de RC.

Na Alemanha, o Dr. Hartmann cria a ordem do RC esotérico.

Nos EUA, primeiro a “Fraternita Hermetica” em Chicago em 1875, então por volta de 1915 foi fundada “a Antiga e Mística Ordem RC” ou AMORC por Spencer Lewis que é hoje a sociedade Rosacruz mais importante do mundo.

Em 1909, Max Heindel fundou a Rosicrucian Fellowship School of Philosophy and Healing. Finalmente, uma "sociedade rosacruz" foi criada em 1934.

Na Holanda, a revista "lectorium rosicrucianum" publicou em 1939 uma análise esotérica de Fama.

Na França Eliphas Levi faz surgir "dogmas e rituais de alta magia". Para ele, o símbolo da cruz resume melhor o universo. Ele fundou uma sociedade RC que vai crescer novamente, mas dá origem a uma reação espiritualista de Stanislas de Guaita e Josephin Péladan seguido pelo Dr. Papus que reúne as forças espiritualistas: grupos dispersos de sociedades RC de Levi e Martinistas e Swedenborgians.

Em 1889, Stanislas de Guaita fundou a ordem cabalística do RC e a estruturou completamente. Papus fundará a revisão maçônica "iniciação" e publicará "a história da fraternidade RC".

Mas na primavera de 1890 Palédan criou a ordem "do RC, o templo e o graal". Em 1893 publicou “a constituição da rosa + cruz, do templo e do graal” orientada para a caridade. Suas excentricidades rapidamente o desacreditaram e o movimento afundou na indiferença, assim como a ordem cabalística com a morte de Guaita que, no entanto, teria estado ativo até a guerra.

Alguns historiadores afirmam que os principais pensadores do século XVII foram seguidores da fraternidade RC: Descartes que vai negar, Paracelso, Leibnitz, Roger Bacon, Comenius, Fludd e até Spinoza.

9 Os movimentos hoje:

-          AMORC, citado acima, é o mais importante. Ele afirma 250.000 membros em todo o mundo e 15.000 na França. Sua sede fica no Château d'Omonville em Neubourg. Eles têm um grupo de reflexão no castelo Rosacruz de Tanay em Trevoux. Uma estação de rádio local estava transmitindo em Paris no dia 88.2 de seu prédio ricamente reformado na 199 bis rue St Martin, que é seu centro cultural.

-          A Associação Rosacruz de Max Heindel, chamada de "comunhão rosacruz", é uma organização internacional com sede nos Estados Unidos e que celebra seu 100º aniversário.

-          A Rose Croix d'Or resultante do “lectorium rosicrucianum”, citado acima, na Holanda onde está localizada sua sede teria 15.000 membros, incluindo 700 na França. Eles não são mais considerados uma seita.

-          Cenobita Crístico da Rosa-Croix muito elitista e por correspondência. Ameaçadas de extinção

-          Golden Dawn (ordem hermética da aurora dourada) da SRIA em GB considerada desaparecida em benefício da BOTA (Builders of Adytum) com sede em Los Angeles e que tem uma delegação em Paris

10 Os movimentos rosacruzes são seitas? :

A Comissão da Assembleia Nacional regularmente redigia relatórios sobre seitas. Em 1985 ela havia encontrado apenas "a Rose-Croix d'or". Na última conhecida, apenas a "Aliança Rosacruz" aparece com menos de 50 seguidores.

CONCLUSÃO:

O que são esses "  Manifestos  " de 1614. Uma farsa? Um engano? O eco de um pensamento profundo que só se transmite a quem o entende? Na verdade, eles correspondiam a uma aspiração do momento nesta atmosfera de guerras de religião e cismas no catolicismo. Podemos considerá-los a mensagem de uma sociedade que se quer construir sobre bases harmoniosas de caridade, fé e esperança.

Uma organização, seja o que for que constitua uma forma na qual a pessoa se fecha, o RC não poderia constituir associação como a pessoa a entende no sentido profano, com essas regras; por outro lado, eles poderiam organizar ou inspirar sociedades para a realização de uma meta ou objetivo definido, mantendo sua total independência dessas organizações. Nesse sentido, podemos considerar que os Rosacruzes  são os elementos de um grupo de homens que alcançaram um grau de iniciação superior, capazes de se reconhecerem sem sinais externos de pertencimento a algum grupo que os torne invisíveis aos olhos dos profanos. .

Talvez hajam alguns entre vocês?

novembro 03, 2021

TOURO


Mithras ou Mitra, pode ser considerado, como veremos mais tarde, um dos mitos fundadores da Franco-maçonaria associado ao touro. Sua origem é indo-iraniana, em que ele é o protetor dos justos e conquistou a Assíria no século VII a.c. antes da decadência do Império. No século VI a.c. ele se tornou o deus do sol (Helios) e entrou nas províncias romanas onde os templos foram dedicados a ele do século II a.C. ao século VI d.c. 

Em prol da paz interna, o imperador Romano Constantino declarou o cristianismo como religião oficial no ano de 313 pelo edito de Milão, desferindo um golpe mortal em seu competidor mais violento, o mitraísmo, e os discípulos o toleraram, adorando os mesmos deuses sob outros nomes. Ernest Renan escreveu: "Se o crescimento do Cristianismo tivesse sido interrompido por alguma doença fatal, o mundo teria sido mitraísta." 

Mithras, filho de Deus, nasceu de uma virgem em uma caverna em 25 de dezembro, ele se torna homem para redimir nossos pecados. Ele foi batizado no sangue de um touro. Ele tinha 12 discípulos. Seu nome significa: ou amigo, ou contrato, ou redentor, ou messias, ou salvador. Ele ressuscitou de sua morte e saiu de sua tumba 3 dias após sua morte. É especialmente comemorado em um período da primavera que se tornará "as férias da Páscoa". Ele usa um boné frígio. 

No Louvre, uma escultura o representa sacrificando um touro na presença da Lua e do Sol. Um cachorro e uma cobra bebem o sangue que sai da ferida da fera e um escorpião belisca seus testículos. Mithras é considerado o espírito do bem, deus da luz e sabedoria, governante do mundo. Do corpo moribundo do touro divino surgiram todas as plantas e animais benéficos à raça humana, de sua medula espinhal germina o trigo e de seu sangue a videira. Ao reproduzir esse sacrifício, os iniciados se beneficiam da imortalidade, eles praticam esses mistérios em cavernas. O touro era abatido, cozido e comido com pão e vinho, ao mesmo tempo em que aconteciam os primeiros ritos cristãos. A carne do touro é sagrada e, nisso, é semelhante à Eucaristia. No centro da liturgia dos banquetes, Mithras persegue o touro, agarra-se a ele, faz um garrote nele, arrasta-o para a toca, onde é atingido no coração pelo ombro esquerdo. 

 O sacrifício representa a vitória da vida sobre as forças do mal. Após a imolação do touro, Mithras montou na carruagem do sol. ao mesmo tempo, quando os primeiros ritos cristãos estavam ocorrendo. A carne do touro é sagrada e, nisso, é semelhante à Eucaristia. No centro da liturgia dos banquetes, Mithras persegue o touro, agarra-se a ele, faz um garrote nele, arrasta-o para a toca, onde é atingido no coração pelo ombro esquerdo. O sacrifício representa a vitória da vida sobre as forças do mal. Após a imolação do touro, Mitras montou a carruagem do sol.

O mitraísmo era um culto secreto reservado aos homens. O candidato   foi questionado, sondado e informado sobre o mito e os rituais. Em seguida, ele foi submetido, com os olhos vendados, a testes de resistência ao fogo e ao frio e à morte simulada. Cada classificação foi equiparada a um planeta e responsabilidades. Cada série correspondia a um traje. Eles compartilharam uma refeição após o sacrifício ritual. Julho foi o mês de Mithras. Os equinócios eram feriados.

Os adeptos viviam em comunidade, atribuía-se importância à alma, da   qual o corpo era apenas o veículo. Eles não gostavam de propriedade nem de poder. Aos sete, o adepto usava o cinto da pureza, aos quinze a túnica branca e aos trinta tinha que escolher, permanecer na sociedade ou tornar-se sacerdote. No caso da segunda escolha, ele teria que enfrentar o touro, matá-lo, comer sua carne e beber seu sangue. Este rito sangrento foi posteriormente substituído por uma refeição simbólica de pães redondos representando o corpo e a terra, marcados com uma cruz de cinza que simbolizava fogo e sangue. Havia doze graus de iniciação, cada um dos quais representava um animal, o segundo era o do touro. Eles estavam abertos a todos. O neófito ou o maior iniciado tinha direito à mesma consideração. 

Às cinco horas da tarde a morte botou ovos na ferida

Demoraria, e nos afastaremos do assunto escolhido, para contar todas as lendas dos bovídeos sagrados através das histórias da humanidade. Seria o mesmo descrever todos os jogos taurinos existentes ou que já existiram, mas podemos discuti-los após esta apresentação. Vou ficar com o único que se materializa, até o presente através do sacrifício, das touradas. Se o jogo for "para falso", o rito é "para valer".

Foram os romanos que familiarizaram os povos da Península Ibérica com a imolação e a luta com o touro. Essas lutas eram travadas a pé ou a cavalo. É com poucas mudanças que esses jogos cruzarão a Idade Média e o Renascimento. E no século XIX, por convenções e protocolos, nasceu a atual tourada, que se concretizou no século XI. Os touros são lutados a cavalo pelos nobres espanhóis como uma demonstração de seu prestígio social até o século 17 com a lanzada (a lança) e o rejon (lanças curtas seguras no comprimento do braço). No século 18, chegou ao poder o bourbon Philippe V, que não experimentou nenhuma tourada. Os nobres então patrocinam jovens lordes e o touro é lutado a pé. Ao mesmo tempo, nos círculos populares, o touro também é morto em público enquanto se diverte com ele. Desviamos nossa carga por meio de um pano e muitas vezes a morte resulta em incontáveis ​​golpes de lanças e arpões. Se o animal resiste à morte, a multidão intervém e até os cães podem brincar.

Sevilha é neste século XVII o lugar determinante das touradas modernas. É de seus matadouros, local de convergência das populações rurais e urbanas, onde a multidão se acomoda nos telhados para assistir às lutas, em meio à sujeira e ao fedor, dos açougueiros contra os touros. Lá os primeiros grandes toreros são formados. Os primeiros maestros eram trabalhadores do matadouro. A prática molda as técnicas e verá a aparência da capa e da muleta. Philippe V foi então forçado a fazer concessões e em 1750 a corrida foi reconhecida. Ele deu o controle à Maestranza formada a partir das antigas linhagens de Sevilha.

O touro continuará sendo o embaixador extraordinário da morte. Essa morte é o centro do espetáculo. Os direitos são perdidos ou encontrados dependendo se o homem aceita ou não a arquitetura do templo. Estranha geometria em movimento atribuindo uma base ao touro e uma base ao homem. O homem deve pensar como um animal e o animal procurará pensar como homem. A presença da morte é acompanhada de medo, ousadia e amor. Ódio e violência estão ausentes. Podemos então entender, o poder exorcista e pacificador das touradas e, sem dúvida, um motivo para ampliá-lo.

No quinto dia do atraso, é meio-dia na praça.

Na Espanha, a única coisa que começa na hora certa são as touradas.

Como todo ritual, possui uma organização rígida, rigorosa em sua agenda, sua cenografia e seus símbolos. A ponto de repreender o próprio Deus por às vezes trazer chuva, vento ou frio. Qualquer corrida tem sua própria história, nunca é uma cópia da outra. Cada um dos participantes tem a sua particularidade do dia, sejam eles espectadores, juízes, assistentes, toureiro, cavalos ou touros. Três cores distintas, em um fundo de areia deslumbrante, focam nossos olhos: vermelho, preto e dourado. Esta paleta móvel é para o prazer do espectador, o touro não distingue cores, ele observa e reage apenas aos movimentos.

O tinto é forte, excitante, saliente. É o sinal do presente, do calor e da vida. É a cor que mais impacta em nossas funções fisiológicas: alegria, paixão, sensualidade, desejo. A cor do sangue é guerra, raiva, violência, agressão.

Preto é elegância e autoridade, tanto quanto pecado, morte, luto e abandono.

Ouro, como prata, é imortalidade, riqueza e glória. Ele captura os raios do sol   e os envia de volta ao público.

O touro pode ter três anos, é um novillo e é lutado por jovens toureiros, os novilleros. Ele tem quatro ou cinco anos e é lutado por matadores experientes. Para atingir a idade de sete anos ou mais, ele teve que lutar uma luta excepcional e ser perdoado. E no auge da gratidão ele poderá se tornar um semental, ou seja, um garanhão.

O touro que entra na arena é virgem e sabe pouco sobre o homem.   

Como o teatro é a alquimia da liga tripla do autor, do ator e do espectador, a tourada é a alquimia do touro, do toureiro e do aficionado. O teatro, como a tourada, só pode evoluir dentro de um quadro estrito, a magia depende do respeito do espaço-tempo circunscrito.

A praça é redonda, com 50 metros de diâmetro, exceto pelos anfiteatros romanos de forma elíptica. É um lugar de convergência, de comunhão, de um altar de sacrifício. Uma linha mediana instável e regular a separa pela sombra e pelo sol, linha demarcatória das classes sociais. Os locais próximos ao show e localizados na sombra são os mais caros.

Se na Espanha muito católica as touradas homenageavam santos ou monarcas, hoje são celebradas por ocasião de festas mais pagãs, a Feria, embora ainda correspondendo ao calendário dos santos cristãos.

Quanto mais um território é considerado sóbrio e sério, mais o lançamento é lançado. O caso é notório em Pamplona, ​​em Navarra. A orgia pagã está nas ruas e nas bodegas e lembra o carnaval, onde o povo podia se dar ao luxo de ser livre.

A Corrida em seu desenvolvimento também depende de um processo de intelectualização do jogo, quanto mais é codificada, mais ritualizada. De cruel e sangrento, através da estética, tornou-se uma arte inspiradora de artistas puros.

Uma tourada começa com a apresentação ordeira e musical dos participantes, com exceção dos touros e, por um bom motivo, é o paseo. A música é sempre um paso doble, música festiva de estimulante comunhão. É com alegria que vamos ao espetáculo da morte. É com alegria que saudaremos a vitória do novo homem sobre a besta primitiva. Ele é frequentemente interpretado como "Toréador", de Carmen, de Georges Bizet. São três matadores, veja dois ou mesmo um, mas sempre seis touros.  O tempo é respeitado escrupulosamente. Um minuto atrasado e é la bronca. A apresentação dos cartéis, ou seja, das equipes, é igualmente rígida. À frente estão os dois aguazils a cavalo, comissários presidenciais, vestidos de preto com uma pluma vermelha branca azulada no chapéu armado. Na segunda linha estão os matadores, à esquerda os mais velhos, à direita os segundos e no meio os mais jovens. Se este último não está com a montaria é porque se toré pela primeira vez nesta categoria. Na terceira linha, os nove peões, três pelo matador. Eles também entram em ordem de antiguidade. Em quarto lugar, os seis picadores em suas montarias caparisonadas. Na quinta fila, os areneros ou track boys. E finalmente o trem arrastre, as mulas atreladas que ficarão responsáveis ​​por evacuar as carcaças dos touros mortos, deixando um longo rastro que começa com um laço na areia ensanguentada. Chega a hora da luta, a lidia, que acontecerá nos tercios.

Primeiro tercio  : A apresentação com a capa para avaliar o comportamento do touro e a apresentação com o tão criticado lúcio. Prova de bravura, mas que também tem a função de cortar um tendão destinado a abaixar sua cabeça, a fim de permitir sua passagem sob a muleta e os braços do matador.

Segundo tercio: A instalação das banderilhas. Esta sequência da tourada pretende animar um pouco mais o animal, é mais desportiva e festiva do que as outras sequências. As banderilhas são embrulhadas em papel colorido que vai cair e manchar de sangue nas costas do touro.

Terceiro tercio: O assassinato. Um homem de 60 a 80 kg em roupas justas, de uma cor deliciosamente escolhida com fios dourados, usa meia rosa e   zapatillas. Um conjunto sexualment equívoco. Esse ser procurará sair ileso de uma provação cujo prestígio é mais forte do que oqa medo que sente. A morte mudará de lado, ela mudará da força brutal do animal para a mente do homem. Se o toureiro usar as cores brilhantes, ao final do ato de amor terá que mudar de sexo e se tornar o macho que mata. Ou talvez seja a lei dos insetos quando a fêmea devora o macho após o acasalamento? Mas então, quem dos dois é o homem nesses dois adversários que, por sua vez, feminizam e retomam sua virilidade?

Ele segura em uma das mãos um pano vermelho sangue e convida o deus negro de 400 a 600 kg a confrontá-lo até a morte, é a faena. Corpo a corpo voluptuoso que rola, roça e acaricia e que termina na maioria das vezes com o sacrifício do touro pela estocada.   A espada de 85 cm de comprimento é plantada na cruz, na altura da cernelha, entre a espinha e a omoplata direita, até o coração. Termina com a puntilla, uma grande adaga que destrói seu cerebelo e um pouco de sua medula espinhal. Assim termina o casamento fúnebre rodeado por uma aliança de casamento.

O público e o júri avaliarão os elementos do espetáculo em alguns pontos específicos: coragem humana, bravura animal, autoridade humana sobre os animais, elegância e eficiência. A maneira e a sinceridade terão, com aficionados, mais importância do que a pompa. Os espectadores vão pedir troféus ao presidente: uma orelha, duas orelhas, duas orelhas e o rabo, obrigando o toureiro à segurança do público por um colo sob mantas de flores e chapéus. Se a performance for menos convincente, mas honrosa, o artista será convidado a cumprimentar, seja na barreira, seja no terceiro da faixa, ou no meio e até dar a volta na faixa. Em casos de pior desempenho, o silêncio é a norma para a insatisfação. No caso de avaliações ruins, o bronca está na ordem do dia. E se um toureiro foi particularmente brilhante, ele deixará a arena pela grande porta sobre os ombros de admiradores. Assim, o novo homem triunfa sobre a força bruta.

Corrida não é uma distração, mas uma cerimônia, uma máquina de fazer deuses. A raça humana inventou uma tragédia e distribuído a 1 st papel. Não sairemos ilesos de um mundo que nos engana e cujas perspectivas nos levam à morte.

FINA - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Caetano do Sul é um notável intelectual e poeta da maçonaria


Iniciada a contagem 

Logo após prima vitória 

Entre milhões a vantagem 

Regressiva trajetória 


A Luz a primeira imagem 

Duma infinita história 

Nesta terrena passagem 

Bendita e transitória


E segue assim a viagem 

Com confiança, compulsória, 

Rumo à nova estalagem

Com mudança obrigatória


No Tempo toda paisagem 

Às vezes rica ou simplória

De ventania ou aragem 

De porfia ou oscilatória 


Como numa reciclagem 

Em data a nós aleatória

Fina o tempo nesta paragem 

Segue a rota sucessória 


Na cantaria  sua mensagem 

Qual grava sua eterna memória 

Com o histórico na bagagem 

Ao Grande Arquiteto... que a Glória ! 


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif-169

novembro 02, 2021

OS MISTÉRIOS DA VIDA E DA MORTE - Vagner Veneziani Costa



O Ir. Vagner Vezeziani Costa, recentemente falecido, era escritor e foi o fundador e editor da Editora Madras.

Pode-se pegar um atalho conceitual e afirmar que morte é ausência de vida.

Mas o que é vida?

Existe vida após o nascimento?

Realmente se vive, somente pelo fato de termos nascido?

Afinal, o que é que nasce e o que é que a morte faz cessar?

Desde que o “cérebro se tornou capaz de investigar o cérebro”, uma pergunta é repetida e respondida pelo homem: existe alguma forma de consciência após a morte do corpo físico?

A neurociência não consegue, ainda, responder a essa questão.

Não há nenhuma evidência que sim, nem que não.

É comum ouvirmos a expressão “a morte é a única certeza que temos na vida”.

Ocorre que a civilização ocidental materialista se amoldou à idéia de que tudo acaba com a morte.

Dessa forma, ela é tratada por muitos como um tabu, algo que não se deve comentar ou investigar.

O maior desejo do ser humano é a imortalidade, e esse desejo está intimamente relacionado ao medo da morte.

Mas, de onde vem esse medo?

Pode ser que venha do medo que se tem do desconhecido, do instinto de auto-preservação que estimula o medo da própria extinção.

Ou será que viria de uma experiência antiga, guardada na memória, já vivida e não mais desejada?

Se desejarmos viver indefinidamente, por que insistirmos em acreditar que morrer é o fim?

Provavelmente, se o contrário estivesse acontecendo, se o homem tivesse certeza de sua imortalidade, ele procuraria a própria extinção.

Será que o inconsciente coletivo do homem já tem essa certeza da imortalidade?

Será que os atos humanos destrutivos, contra a natureza e contra si mesmos, não são formas veladas (e doentias!) de se buscar atingir esse estado?

Mesmo assim, a morte assusta, talvez pelo apego que temos às coisas materiais, as quais perderemos definitivamente quando morrermos, e pelo apego que temos à própria vida.

Talvez um apego à nossa persona, nossa “individualidade” que irá se desfazer, voltar ao “pó” (Eclesiastes 12:7).

Na realidade, o nosso medo vem de uma fonte mais profunda: *não sabemos quem realmente somos.*

Somente após a morte do corpo é que se pode experimentar a possibilidade de uma outra vida, caso ela exista.

Por outro lado, não se pode comprovar a possibilidade contrária (a inexistência de uma outra vida), afinal, não se terá consciência dela.

Para os materialistas, o dia da morte de uma pessoa deveria ser uma data inerte; afinal, tudo acaba com esse fenômeno e não há razão para homenagear quem não existe mais.

Ocorre, porém, que a maioria das pessoas homenageia a memória de seus entes queridos, até mesmo os ateus; mas, no fundo, estão apenas dando vazão à dor da própria ferida não curada, gerada pela falta que sentem dos seus entes queridos: saudades.

Quem de nós nunca sentiu saudades?

Aquele que já a vivenciou sabe o quanto ela dói, causa um estado profundo de melancolia, faz chorar, provoca um desejo imenso de querer ter de volta aquilo ou alguém que um dia nós “possuímos”; pode, enfim, levar uma pessoa à “loucura”.

E no momento em que qualquer ser humano perde um ente querido, seja ele espiritualista ou ateu, a saudade daquele que partiu mexe com os mais profundos sentimentos.

Assim sendo, pergunto a um ateu se a morte seria mesmo o fim da vida.

Por que, então, ele sente saudades de quem se foi, se a morte acaba com tudo?

Qual a razão de homenageá-los?

Já ouvi muitos espiritualistas dizerem que, apesar de acreditarem na eternidade da vida, não se conformam quando a morte chega a sua família; então sofrem e choram a perda de seu ente querido.

A dor da perda é a visita da morte à vida, e sem dor não há vida, porque nos apegamos demais a tudo o que possuímos, ou seja, pensamos que possuímos; na verdade, apenas nos foi emprestado, inclusive a carne, e, como tal, um dia teremos que devolvê-la ao Universo.

Historicamente, o culto aos antepassados é tão antigo quanto a história do Antigo Egito.

Seu povo, longe do conhecimento de sua avançada espiritualidade, restringia o seu culto à veneração de imagens dos antepassados, ou de alguma divindade menor, por meio de diversas superstições, incluindo o uso de amuletos.

Na Índia védica, os filhos do Sol buscavam a ciência pura do fogo sagrado, a adoração ao Deus Supremo e a honra aos antepassados por meio de orações.

Ao milenar povo chinês, afastado dos ensinamentos elevados acerca do Tao, restava um culto mágico aos antepassados e uma adoração aos espíritos.

Para o Xintoísmo, a alma dos que morrem permanece poluída, conservando sua personalidade de quando estava em vida, necessitando, assim, de rituais de purificação para que assuma um aspecto benevolente e pacífico.

Dessa forma, ela atingirá o grau de guardiã, ou deidade (kami), protetora da família.

Assim, enquanto religião, a divinização das energias cósmicas foi acompanhada da divinização dos espíritos dos antepassados (considerados deuses tutelares da família), dos sábios ancestrais, dos imperadores, de alguns animais e de forças elementares da natureza.

A Psicologia Transpessoal fala da existência de outros pacotes de inconsciente, além do Inconsciente Coletivo descrito por Jung.

Um deles seria o inconsciente familiar, responsável pela repetição de padrões de comportamento presentes no seio familiar.

Alguns pesquisadores defendem que essas memórias estariam impressas em nosso DNA e, dessa forma, acessíveis à nossa mente inconsciente.

Essa tese explicaria também a ocorrência de memórias novas, em transplantados, de fatos ocorridos na vida do doador do órgão.

O culto aos antepassados, de forma que se libere essas energias de sua influência sobre nós, seria uma forma de se trabalhar no inconsciente familiar.

Para os celtas, o ano era dividido em quatro períodos de três meses e, no início de cada um, havia um grande festival.

No primeiro dia do ano celta, celebrado em 1º de novembro, era comemorada a mais importante das quatro festas: o Samhain, conhecido como “Noite dos Ancestrais” ou “Festa dos Mortos”, pois os celtas acreditavam que nesse dia o véu entre os mundos estaria bem fino.

Hoje, essa festa está associada com o Hallows Day e é celebrada na noite anterior ao Halloween.

O mundo cristão assimilou essa festa pagã e passou a comemorá-la em dois de novembro (Dia de Finados).

Concluindo nosso pensamento, podemos dizer que a crença generalizada na existência da morte, como aniquilação individual, fez sumir a visão de longo prazo e afetou o planeta inteiro.

Não se prepara mais o futuro, apenas se vive em busca de prazeres e desejos pessoais do ego, teoria de vida pregada pelo capitalismo, que é uma forma geradora de desejos.

O homem está destruindo o planeta e a si mesmo.

Definitivamente, não há morte como a concebemos.

A morte existe apenas porque não se sabe o que a vida é, porque ainda estamos inconscientes da Vida, da sua ausência de morte.

Assim, os que perguntam o que acontece após a morte o fazem por não lhes ter acontecido nada durante a vida.

É necessário um nascimento espiritual para que a Vida nos permeie em sua abundância.

Quando se conhece a Vida, conhece-se a morte.

A morte é apenas uma transição de um estado de consciência para outro, e a única coisa que morre é a morte.

A morte é apenas uma PASSAGEM, e essa passagem deve ser o triunfo de uma existência, seu mais glorioso momento.

Preparar-se para morte, sem exageros, conscientes de que, assim como nascemos, todos passaremos por ela, coloca-nos em sincronicidade com as Leis do Universo.

Somente quando formos capazes de entender a chave iniciática contida nas palavras de São Francisco de Assis, quando dizia que “… *é morrendo que se nasce para a vida eterna”*, ou a declaração proferida pelo Faraó, no final da quinta etapa da iniciação egípcia, “Sebek Ur Sebek”, que afirma: “Só a Morte pode Vencer a Morte”, estaremos, de fato, preparados para ela.

E esse entendimento somente será completo até mesmo em certas iniciações, em que a “LUZ É DADA DEPOIS DA MORTE”, e “QUE SE FAÇA A LUZ…! E A LUZ FOI FEITA!”.

A Luz é a sua recompensa…

Bom dia de Finados meus irmãos e boas Reflexões sobre a *VIDA*


UM TRIANGULO DE AMOR - Roberto Ribeiro Reis


Roberto Ribeiro Reis, intelectual e poeta da ARLS Esperança e União 2358 do Oriente de Rio Casca, MG

Um triangulo de amor 

a família protege 

E o GADU é quem rege 

todo esse esplendor.


Os ângulos de igualdade 

são da justiça completa 

aquela a cuja meta 

aspira nossa irmandade 


Um pai de sabedoria 

uma mãe de beleza 

casal que, com certeza 

abunda força e alegria. 


Feliz é o filho do casal

crescido no meio maçônico 

possuiu um exemplo icônico

de que a vida é Arte Real 


Á Glória do Grande Arquiteto 

Eles tem uma luz no peito 

Um misto de justo e perfeito 

qual um triangulo de afeto.


novembro 01, 2021

A CÂMARA DE REFLEXÕES - Ir∴ Sérgio Burzichelli Jr.


Ir∴ Sérgio Burzichelli Jr. M∴M∴ ARLS Renascença Santista - 339 REAA - GLESP Santos - SP

A Câmara de Reflexões, primeiro contato real que nós, postulantes, temos com a Maçonaria. 

Para que melhor a compreendamos, se faz necessário conhecermos o significado da palavra Iniciação etimologica mente derivada do latim " Initiare - initium "' representa " início ou começo " derivada de " in tere " " ir dentro ou ingressar ". Em outras palavras, Iniciação é a porta que nos conduz a um novo estado moral ou espiritual a partir do qual se inicia ou começa uma nova maneira de ser ou de viver. 

0 símbolo fundamental da Iniciação é a Morte, como estado preliminar à nova vida. Para tal, a Maçonaria nos oferece a Câmara de Reflexões. Apartada como é do Templo, constitui a prova da Terra, a primeira das quatro que simbolizam os elementos da natureza. Com suas pretas paredes, figurando uma catacumba, cercada de símbolos e de emblemas da morte, inscrições, um galo, um testamento entre outros, revela nos que cada símbolo, cada frase tem sua própria explicação e importância isolados, mas o conjunto é que nos oferecerá a idéia e a sensação da transitoriedade e insignificância da vida. Neste local, somos levados a conceber novas ideias, introspectar, examinar e comparar tudo o que nos cerca. Isolados do mundo exterior para nos concentrarmos no estado íntimo do mundo interior, aonde devemos dirigir nossos esforços para chegar à Realidade. É o "gnothi seautón " dos iniciados gregos. É a fórmula hermética V.I.T.R.I.O.L. ; " Visita Interiora Terrae: Rectificando; Invenies Occultum Lapidem " cuja tradução literal é : " Visita o interior da Terra, retificando encontrarás a pedra oculta" . Significando que devemos ingressar dentro da realidade do próprio mundo objetivo, não contentando nos apenas com o seu estudo ou exame puramente exterior: então, rectificando constantemente nosso ponto de vista, a nossa visão, e com os esforços da nossa inteligência ( como o demonstra a cuidadosa retidão dos três passos da marcha do Apr∴), poderemos chegar ao uso do compasso junto com o esquadro, isto é, o conhecimento da Verdade livre da Ilusão. 

Meus lir∴, todos os dias, todo homem ao fechar os olhos, se acha em sua própria Câmara de Reflexões, então, aproveitemos para usufruir desta dádiva do G∴A∴D∴U∴ para concentrarmos nos no silêncio da alma, isolando todas as influências exteriores; despojemo nos dos nossos defeitos, erros, vícios e ilusões de personalidade para que possamos caminhar em direção a Luz, ir em busca da verdade e estabelecer no seu domínio o Reino da Virtude, libertemo nos cada vez mais de todas as sombras que escurecem e impedem a manifestação desta Luz Interior que deve brilhar sempre mais clara e intensamente, raiando e destruindo as trevas. Uma vez abertos nossos olhos, para esse estado superior de consciência, teremos reconhecido também essa Luz que, presente em cada um de nós, manifestar se á espontaneamente nos diversos empreendimentos de nossas vidas, nos nossos pensamentos, palavras e ações.

IRMÃOS, POR QUE ME ABANDONASTES?


(O que poderia ser um devaneio do autor, que prefere não se identificar, vem, pasmem, ocorrendo com frequência)!

O assunto que ora abordamos é mais um caso real e que, cremos, se passa no cotidiano de várias Lojas Maçônicas.

Trata-se do abandono, do desprezo e da falta de percepção sobre o próximo, quando o próximo está longe.

Em uma das nossas Lojas aconteceu um fato corriqueiro: Um dos nossos Irmãos faltou à Sessão. Passou-se o primeiro dia, o segundo e vários outros sem que nenhum Irmão houvesse feito uma ligação para saber o que acontecera. Todos estavam absorvidos por suas atividades no mundo não maçônico e a irmandade esvaiu-se pelo ralo, afinal de contas, Irmão (para muitos) só é Irmão quando presente nos dias de reunião.

Maçonaria é para voluntários, se ele não veio é porque não quis ou porque estava envolvido em sua atividade profana, diziam uns. Na próxima semana ele virá, diziam os outros mais otimistas. Outros, sequer perceberam a falta do Irmão. O fato é que o obreiro havia sido submetido a uma cirurgia. Sua família não sabia que tinha que avisar a Loja e as pessoas que o cercavam não sabiam que ele era Maçom (para alguns, isso ainda é um segredo a ser guardado a sete chaves).

Somente sua ausência avisaria que ele não poderia comparecer à Sessão, acreditou o moribundo. A ausência cumpriu seu dever. Falou, gritou, berrou, contudo não conseguiu alcançar o duro coração dos Irmãos. Ninguém lhe ouviu. Então, reinou silêncio nas Colunas e no Oriente.

A cirurgia do obreiro não foi um sucesso e ele permaneceu internado no hospital por dias. Recebeu visita de todos, menos dos Irmãos. Não sucumbindo à enfermidade, partiu para o Oriente Eterno. No enterro, todos, menos os Irmãos. Na missa de sétimo dia, todos, menos os Irmãos.

Dizem que, às vésperas da morte, sussurrou: “Irmãos, por que me abandonastes?”

Decerto, se ele fosse Obreiro de uma Loja em que todos não apenas se tratassem, mas fossem realmente Irmãos, no dia de sua ausência ou no dia seguinte, todos saberiam o motivo de sua falta e o apoiariam. Quem sabe ele estaria vivo. Tratamo-nos por “Irmãos" e várias pranchas já foram escritas justificando o termo, contudo, o que sai da boca não entra no coração.

Somos experts nos Rituais, na legislação e no conhecimento Maçônico. Falta-nos, porém, emoção, sensibilidade, solidariedade e fraternidade para com o próximo.

Há grande diferença entre tratar “por” Irmão e tratar “como” Irmão. É mais que semântica.

Precisamos amar mais, viver mais e agir mais para que, num futuro não muito distante, não venhamos ser o próximo a dizer: “IRMÃOS, POR QUE ME ABANDONASTES?”

(Autor desconhecido)

outubro 31, 2021

PEDRA BRUTA - UMA DAS JOIAS FIXAS DA LOJA - Ir.’. Pedro Juk


Em se tratando de Maçonaria a "pedra" é um dos elementos primordiais no desenvolvimento do sistema iniciático da Ordem Maçônica. Em síntese, a pedra é a principal matéria prima especulativa utilizada pela Moderna Maçonaria. Essa alegoria, tida como a "grande magia", é o principal ponto de partida da escalada iniciática (a pedra angular).

Para uma breve compreensão desse elemento simbólico básico, se faz cogente que o estudante iniciado perscrute, em fontes limpas e saudáveis, as origens da Sublime Instituição - a partir da Maçonaria de Ofício com seus aproximados 800 anos de história.

Despido de qualquer fantasia e ufanismo o estudante compreenderá assim que, principalmente sob a tutela da igreja-estado, as nossas origens advêm das corporações de ofício constituída pelos canteiros medievais que tinham por missão construir castelos, igrejas, catedrais, mosteiros, capelas, abadias, obras públicas, etc.

A partir do século XII, de modo organizado em guildas de construtores, esses operários tinham como sua matéria prima principal de trabalho a pedra calcária - bruta tal qual retirada da jazida – cuja qual era desbastada e esquadrejada para se tornar num elemento útil, isto é, cúbico e sem arestas de modo a ser assentado e aprumado sobre as bases niveladas. Conforme as etapas da obra se desenvolviam, as paredes eram "elevadas" de acordo com as exigências da Arte.

Com o advento da Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, fato que ocorreria a partir do século XVII, principalmente pela perda de prestígio das confrarias de construtores devido ao declínio do estilo gótico e o reavivamento da cultura greco-romana (Renascimento), os ofícios seriam paulatinamente substituídos por construtores sociais. 

Assim as corporações que outrora se utilizavam literalmente da pedra calcária, paulatinamente se transformariam em associações de ofício especulativo, cujas quais passariam a se dedicar à construção moral e ética visando o aprimoramento do ser humano (transformação da Maçonaria Operativa para Especulativa).

Dado a esse ideário, a pedra tosca do passado operativo agora seria simbolicamente comparada ao homem carente de instrução e aprimoramento, o que dá a ideia iniciática do aperfeiçoamento humano que ocorre dentro das atuais Lojas, dignas representantes das outrora oficinas de trabalho do ofício.

Assim, o conceito especulativo da Moderna Maçonaria é o de transformar o homem bruto e desprovido de instrução, tal qual a pedra recém retirada da jazida, numa pedra desbastada e cúbica utilizável na composição das paredes de um templo dedicado à Virtude Universal, o que em linhas gerais remonta toda a alegoria iniciática maçônica – cada ciclo de aperfeiçoamento (Aprendiz, Companheiro e Mestre) é uma etapa dessa construção simbólica.

Dados esses breves comentários, seguem alguns elementos relativos ao simbolismo dessa construção especulativa proposta pela Moderna Maçonaria:

a) *A Pedra* - De modo genérico o termo menciona qualquer pedaço de rocha. É também a porção sólida de uma substância, a lápide sepulcral, etc. Como Maçonaria designa literalmente a arte do pedreiro, indubitavelmente a pedra ocupa, como símbolo para os maçons especulativos, um lugar de destaque na sua liturgia. Assim, em Maçonaria a pedra se divide em dois elementos principais denominados por Pedra Bruta e Pedra Cúbica.

A *Pedra Bruta* é o elemento informe, bruto e tosco, tal qual o que fora retirado da jazida e no qual simbolicamente trabalha o Aprendiz Maçom desbastando e esquadrejando em alusão ao que fazem os canteiros (cortadores da pedra).

A *Pedra Cúbica*, elemento de trabalho do Companheiro Maçom é a pedra bruta, agora esquadrejada e pronta para ser usada na elevação das paredes do edifício.

Dentre outros, a pedra é também o marco angular, ou elemento fundamental que sugere a primeira pedra colocada para começar a obra. A Pedra Fundamental ou Angular, possui extremado significado simbólico na liturgia maçônica.

b) *Pedreiro* - Palavra derivada de pedra, é o indivíduo cuja profissão é a de trabalhar em obras que utilizam a pedra. É o canteiro, ou o elemento que constrói alicerce, muros, paredes, etc.

Desse modo, simbolicamente o maçom na Moderna Maçonaria é o pedreiro que se empenha na construção interior do homem, ou seja, na edificação de um templo espiritual aprimorado. Designa o Construtor Social e é comumente conhecido como pedreiro livre.

c) *Pedreiro Livre* - Tem sido a designação genérica do maçom. Essa é uma expressão usada também pelos franceses como "Franc-Maçon", como "Libero Muratore" pelos italianos, como "Freimaurer" pelos alemães, tudo em detrimento da expressão inglesa "Freemason" que, segundo muitos autores seria um termo relativo aos maçons operativos, ou de ofício, que trabalhavam na pedra de cantaria (freestone) – a pedra que era lavrada e cortada livremente, sem rachaduras.

Há ainda o aspecto histórico que relaciona o termo a uma época em que muitos homens eram servos e o ingresso na Maçonaria se dava apenas àqueles que era livres. Desse modo as palavras inglesas "free" e "mason" somente apareceriam usadas juntas no primeiro quartel do século XVIII quando das Constituições compiladas por James Anderson e publicadas em 1723 em Londres (vide in "Notes for an Entered Aprentice" – Instruções da Grande Loja Unida da Inglaterra).

Dadas essas colocações, reitero que a Pedra Bruta em Maçonaria é aquela na qual trabalham iniciaticamente os Aprendizes com a fim de transformá-la numa Pedra Cúbica para ser utilizada nas construções. Para esse trabalho de esquadrejamento o Aprendiz carece de ter em mãos dois elementos fundamentais, o Maço (vontade) e o Cinzel (inteligência) – a vontade deve ser aplicada com inteligência.

Esotericamente a Pedra Bruta é o homem ainda carente de instrução e aprimoramento; a Pedra Cúbica é o homem já aperfeiçoado e evoluído pelo conhecimento adquirido na senda iniciática. Esse caminho é indicado, no REAA, pelas doze Colunas Zodiacais que ocupam respectivamente os topos das Colunas do Norte e do Sul.

Concluindo, entendo que essa síntese pode dar o norte necessário para compreender essa etapa da Arte, a despeito de que é direito do Aprendiz solicitar auxílio aos Mestres da sua Loja, cujos quais também têm por obrigação instruí-lo nesse desiderato. 

O tema Pedra Bruta deve ser investigado a contendo pelo Aprendiz. Não é difícil encontrar material bibliográfico a respeito.
Posso de pronto indicar, dentre outros, o livro A Cartilha do Aprendiz do Irmão José Castellani, O Aprendiz Maçom do Irmão Xico Trolha, e Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom, Tomo I de minha autoria. Todos podem ser encontrados na Editora Maçônica A Trolha.

O MAÇOM VAIDOSO E ARROGANTE - Ricardo Vidal


Índice

Baixa auto-estima e complexo de inferioridade

Comportamento em Loja

Comportamento na Sociedade

Prejuízo

Baixa auto-estima e complexo de inferioridade

Nenhum ditador provocou ou provoca tanto dano à Maçonaria quanto o Maçom vaidoso, este sapador inveterado, este Cavalo de Tróia que a destrói por dentro sem o emprego de armas, grilhões, ferros, calabouços e leis de exceção. Ele é indiscutivelmente o maior inimigo da Maçonaria, o mais nefasto dos impostores, o principal destruidor de lojas. Ele é pior do que todos os falsos maçons reunidos porque se iguala a eles em tudo o que não presta e raramente em alguma virtude.

Uma característica marcante que se nota neste tipo de Maçom, logo ao primeiro contato, é a sua pose de justiceiro e a insistência com que apregoa virtudes e qualidades morais que não possui. Isto salta logo à vista de qualquer um que comece a comparar os seus atos com as palavras que saem da sua boca. O que se vê amiúde é ele demonstrar na prática a negação completa daquilo que fala, sobretudo daquilo que difunde como qualidades exemplares do Maçom aos Aprendizes e Companheiros, os quais não demora muito a decepcionar. Vaidoso ao extremo, para ele a Maçonaria não passa de uma vitrine que usa para se exibir, de um carro de luxo o qual sonha um dia pilotar. E, quando tem de facto este afã em mente, não se furta em utilizar os meios mais insidiosos para tentar alcançá-lo, a exemplo do que fazem os nossos políticos corruptos.

Narcisismo num dos extremos, e baixa auto-estima no outro, eis as duas principais características dos maçons vaidosos e arrogantes. No crisol da soberba em que vivem imersos, podemos separá-los em dois grupos distintos, porém idênticos na maioria dos pontos: os toscos ignorantes e os letrados pretensiosos.

A trajetória dos primeiros é assaz conhecida:

Por serem desprovidos do talento e dos atributos intelectuais necessários para conquistarem posição de destaque na sociedade, eles ingressam na Maçonaria em busca de títulos e galardões venais, de fácil obtenção, pensando com isto obter algum prestígio. Na vida profana, não conseguem ser nada além de meros serviçais, de mulas obedientes que cedem a todos os tipos de chantagem. Por isso, fazer parte de uma instituição de elite (isso mesmo, de elite!) como a Maçonaria produz neles a ilusão de serem importantes; ajuda a mitigar um pouco a dor crónica que os espinhos da incompetência e da mediocridade produzem nas suas personalidades enfermas.

O segundo em quase tudo se equipara ao primeiro, porém com algumas notáveis exceções:

Capacitado e instruído, em geral ele é uma pessoa bem sucedida na vida. Sofre, porém, deste grave desvio de carácter conhecido pelo nome de “Narcisismo”, que o torna ainda pior do que o seu émulo sem instrução. Ávido colecionador de medalhas, títulos altissonantes e metais reluzentes, este Maçom é uma criatura pedante e intragável, que todos querem ver distante. No fundo ele também é um ser que se sente rejeitado; a sua alma é um armário de caveiras e a sua mente um antro habitado por fantasmas imaginários. Julgando-se o centro do Universo, na Maçonaria ele obra para que todas as atenções fiquem voltadas para si, exigindo ser tratado com mais respeito do que os irmãos que atuam em áreas profissionais diferentes da dele. Pobre do irmão mais jovem e mais capacitado que cruzar o seu caminho, que ousar apontar-lhe uma falta, que se atrever a lançar-lhe no rosto uma imperfeição sua ou criticar o seu habitual pedantismo! O seu rancor acender-se-á automaticamente e o que estiver ao seu alcance para reprimi-lo e intimidá-lo ele o fará, inclusive lançando mão da famosa frase, própria do selvagem chefe de bando: “Sabe com quem está falando!!!” Deste modo ele acaba externando outra vil qualidade, que caracteriza a personalidade de todo homem arrogante: a covardia.

O número de irmãos que detesta ou despreza este tipo de Maçom é condizente com a quantidade de medalhas que ele acumula na gaveta ou usa no peito. Na vida profana, os seus amigos não são verdadeiros; são cúmplices, comparsas, associados e gente que dele se acerca na esperança de obter alguma vantagem. E nisso se insere a mulher com a qual vive fraudulentamente. Todos os que o rodeiam, inclusive ela, estão prontos a lhe meter um merecido chuto no traseiro tão logo os laços de interesse que os unem sejam desfeitos. O seu casamento é um teatro de falsidades e o seu lar um armazém de conflitos. Raramente familiares seus são vistos nas nossas festas de confraternização. Quando aparecem, em geral contrariados, não conseguem esconder as marcas indeléveis de infelicidade que ele produz nos seus rostos.

Na sua marcha incessante em busca de distinções sociais que supram a sua insaciável necessidade de auto-afirmação, é comum vermos este garimpeiro de metais de falso brilho farejando outras organizações de renome, tais como os clubes Lyons e Rotary, e gastando nessas corridas tempo e dinheiro que às vezes fazem falta no seu lar. A Maçonaria, que tem a função de melhorar o homem, a sociedade, o país, e a família, acaba assim convertendo-se numa fonte de problemas para os seus familiares; e ele, numa fonte de problemas para a Maçonaria.

Um volume inteiro seria insuficiente para catalogar os males que este inimigo da paz e da harmonia pratica, este bacilo em forma humana que destrói a nossa instituição por dentro, qual um cancro a roer-lhe as células, de modo que limitar-nos-emos a expor os mais comuns.

Comportamento em Loja

Incapaz de polir a Pedra Bruta que carrega chumbada no pescoço desde o dia em que nasceu, de aprimorar-se moral e intelectualmente, de lutar para se subtrair das trevas da ignorância e dos vícios que corrompem o carácter; de assimilar conhecimentos maçónicos úteis, sadios e enobrecedores, para na qualidade de Mestre poder transmiti-los aos Aprendizes e Companheiros, o que faz o nosso personagem? Simplesmente coloca barreiras nos seus caminhos, de modo a retardar-lhes o progresso!

Ao invés de estudar a Maçonaria, para poder contribuir na formação dos Aprendizes e Companheiros, de que modo ele procede? Veda a discussão sobre assuntos com os quais deveria estar familiarizado, fomentando apenas comentários sobre as vulgaridades supérfluas do seu quotidiano! Ao invés de encorajar o talento dos mesmos, de ressaltar as suas virtudes e estimular o seu desenvolvimento, o que faz ele? Procura conservá-los na ignorância de modo a escamotear a própria! Ao invés de defender e ressaltar a importância da liberdade de expressão e da diversidade de opiniões para a evolução da humanidade, como ele age? Censura arbitrariamente aqueles cujas ideias não estejam em harmonia ou sejam contrárias às suas! Ao invés de fomentar debates sobre temas de importância singular para o bem da Loja em particular e da Maçonaria em geral, como age ele? Tenta impedir a sua realização por carecer de atributos intelectuais que o capacitem a participar deles! E, nos que raramente promove, como se comporta? Considera somente as opiniões daqueles que dizem “sim” e “sim senhor” aos seus raramente edificantes projetos!

Tal como o Maçom supersticioso, este infeliz em cujo peito bate um coração cheio de inveja e rancor nutre ódio virulento e indissimulado pela liberdade de expressão, que constitui um dos mais sagrados esteios sobre os quais repousam as instituições democráticas do mundo civilizado, uma das bandeiras que a Maçonaria hasteou no passado sobre os cadáveres da intolerância, da escravidão e da arbitrariedade.

Dos atos indecentes mais comumente praticados por este falsário, o que mais repugna é vê-lo pregando “humildade” aos irmãos em Loja, em particular aos Aprendizes e Companheiros, coberto da cabeça aos pés de fitões, jóias e penduricalhos inúteis, qual uma árvore de natal. Outro é vê-lo arrotando, em alto e bom som, ter “duzentos e tantos anos de Maçonaria” e exibindo o correspondente em estupidez e mediocridade. O terceiro é vê-lo trajando aventais, capas, insígnias, chapéus e colares, decorados com emblemas que lembram tudo, exceto os compromissos que ele assumiu quando ingressou na nossa sublime e veneranda instituição.

Cego, ignorante e vaidoso, o nosso personagem não percebe o asco que provoca nas pessoas decentes que o rodeiam.

Como já foi dito, a Maçonaria serve apenas de vitrine para ele. Como não é possível permanecer sozinho dentro dela sem a incómoda presença de outros impostores –os quais não têm poder suficiente para enxotar–, ele luta ferozmente para afastar todo e qualquer novo intruso, imitando alguns animais inferiores aos humanos na escala zoológica, que fixam os limites dos seus territórios com os odores das suas secreções e não toleram a presença de estranhos. Qualquer irmão que comece a brilhar ao lado desta criatura rasteira é considerado por ela inimigo. A luz e o progresso do seu semelhante o incomoda, fere o seu ego vaidoso. Por este motivo tenta obstaculizar o trabalho dos que querem atuar para o bem da loja; por isso recusa-se a transmitir conhecimentos maçónicos (quando os possui) aos Aprendizes e Companheiros, sobretudo aos de nível intelectual elevado, ou ministra-os em doses pífias, para que futuramente não sejam tomados como exemplos e ofusquem ainda mais a sua mediocridade. Um Maçom exemplar, íntegro, que cumpre rigorosamente os compromissos que assumiu quando ingressou na nossa Instituição, não raro converte-se em alvo das suas setas, pois os seus olhos míopes não conseguem ver honestidade em ninguém; a sua mente estragada o interpreta como potencial “concorrente”, que nutre interesses recônditos semelhantes aos seus.

O Maçom arrogante mal conhece o significado das nossas belas e simples alegorias. Se as conhece, despreza-as. A sua mente acha-se preocupada unicamente com o sucesso das suas empreitadas, em encontrar maneiras de estar permanentemente ao lado das pessoas cujos postos ambiciona. Fama e poder são os seus dois únicos objetivos, tanto na vida maçónica, como na profana. As palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que compõem a Trilogia Maçónica, não fazem parte do seu vocabulário, e com frequência é visto pisoteando os valores que elas encerram. A história, a filosofia e os objetivos da nossa Veneranda Instituição não lhe despertam o menor interesse, pois é frio, calculista, e não tem sensibilidade nem conhecimento para compreendê-los e assimilá-los. Ele é diametralmente oposto ao que deve ser o Maçom exemplar, em todos os pormenores. É a antítese de tudo o que a Maçonaria apregoa e deseja dos seus membros: uma criatura vil e rasteira que semeia a discórdia, afugenta bons irmãos, e termina por destruir ou fragmentar a Loja (ou lojas), resultado às vezes de anos de trabalho árduo, caso ela teime em não se colocar sob a sua batuta ou se mostre contrária às suas aspirações egoístas.

A insolência deste tipo de Maçom – e também o asco que destila –, vai crescendo conforme ele vai “subindo” nos altos graus (ou graus filosóficos). Sentindo-se importante por ter sido recebido em determinado grau, com a pompa digna de um rei, ele passa a considerar-se superior aos irmãos de graus “inferiores”, em particular aos Aprendizes e Companheiros, ignorando o que reza o segundo Landmark, que estabelece a divisão da Maçonaria Simbólica em apenas três graus. Mas reservar um tempo para dedicar-se à sua Loja, um momento para confraternizar com irmãos íntegros e honestos, ler algo de útil que possa servir de instrução a si e aos demais, essas são as suas últimas preocupações. O seu tempo disponível ele o reserva inteiramente às festinhas fúteis, nas quais pode ser notado e lisonjeado, onde pode juntar-se a outros maçons falsos e vulgares, prontos para lhe enterrar um punhal nas costas na primeira oportunidade que surgir.

Perceba o leitor com que velocidade este “irmão” deveras atarefado encontra tempo quando é chamado para arengar num tablado representando a Maçonaria! Note a pontualidade com que chega na passarela onde vai desfilar e ser fotografado com os seus paramentos. Observe como ele fica cheio de si quando é agraciado com uma rodela de lata qualquer ou vê o seu lindo rosto estampado nas páginas de alguma revista maçónica! Perceba como se curva aos pés dos que tem mais prestígio e poder do que ele! Note como ele os bajula!

Este prevaricador vagabundo não trabalha e não deixa os outros trabalhar para não ter de arregaçar as mangas também. Quando se mete a ministrar instruções aos Aprendizes e Companheiros ele o faz de modo precário, sem estar familiarizado com elas. Raramente sabe responder questões que os irmãos lhe dirigem. Tergiversa sempre com a mesma resposta: É preciso pesquisar! Ele não faz nada porque não sabe fazer nada, não quer aprender nada, e no íntimo não gosta da Maçonaria e não ama os seus irmãos! As nossas “reuniões” são para ele um fardo. Nas vezes que comparece em loja, exige ser ouvido e jamais dá atenção aos que falam aos demais, obrando para que a sua palavra sempre prevaleça nas decisões a serem tomadas. Quando o seu nome não consta na Ordem do Dia – o que significa que não terá a oportunidade de exibir a sua hipocrisia ou arengar as suas imposturas –, retira-se antes da “reunião” terminar ou, quando permanece, fá-lo com o olhar fixo no relógio.

Campeão em faltas e em delitos, quando este falso Maçom comparece à Loja ele o faz para dar palpites indevidos, censurar tudo e todos, propor projetos mirabolantes e soluções inconsistentes com os problemas que surgem nas nossas relações. Jamais faz uso de críticas sadias e construtivas, aquelas que apontam erros e sugerem soluções para os mesmos.

Comportamento na Sociedade

Passemos agora à exposição do comportamento deste detestável impostor na sociedade, outra praia onde adora se exibir, embora poucos o notem.

Ele circula pelas ruas do bairro onde vive de nariz empinado, cheio de empáfia, tentando vender a todos, sobretudo aos mais humildes, a falsa imagem de alguém assaz importante. Ostentando correntes, anéis, gravatas, broches e outros adereços maçónicos – alguns com peso suficiente para curvar o tórax – tão logo se acerca de uma roda de amigos, ou melhor, de gente com paciência para aturá-lo, ele passa a ensejar conversas maçónicas desnecessárias, fazer alarde da sua condição de Maçom e de ser membro de uma poderosa “gangue”, com o único propósito de colocar-se acima deles. Quando, porém, um profano lhe dirige algumas perguntas a respeito da nossa instituição, movido por uma sadia e natural curiosidade, ele responde geralmente o que não sabe, fitando-o de cima para baixo, com desprezo, como se estivesse encastelado sobre um pedestal de ouro.

Como o caracol, este tipo de Maçom costuma deixar um rastro visível e brilhante por onde trafega, tornando muito fácil a sua identificação e do seu paradeiro, que é o que ele efetivamente deseja, embora afirme o contrário. Mas, para a sua infelicidade, pouca gente dá importância aos seus recados vaidosos. O automóvel, o lar e o local onde trabalha correspondem ao exoesqueleto deste animal, ao passo que os adereços e os objetos maçónicos que ele usa e espalha por todos os lados à gosma que libera. Impulsos provenientes das regiões recônditas do cérebro onde se alojam o seu complexo de inferioridade e a sua baixa auto-estima dizem a ele onde derramá-la.

Do mesmo modo que prostitui a nossa instituição, transformando-a em templo da vaidade, ele corrompe também a natureza de muitos objetos inanimados, desvirtuando os propósitos para os quais foram concebidos. Os vidros do automóvel não servem para proteger os passageiros do vento e da chuva, mas para ostentar adesivos maçónicos escandalosos que avisam os transeuntes e os motoristas dos carros que estão na retaguarda que “alguém muito importante” maneja o volante. As paredes da sua casa não servem como divisórias, mas de outdoors para a colagem de diplomas maçónicos que levam o seu nome. O isqueiro ele usa para tentar acender um cigarro que talvez nem fume ou sabendo que ele não funciona mais (o importante é as pessoas notarem o compasso e o esquadro colados nele!). A caneta com compasso encravado na tampa ele usa para mostrar que é Maçom àquele que está perto do papel no qual finge estar escrevendo alguma coisa. O relógio da sala não serve para mostrar a hora certa, mas para dizer aos visitantes que o seu dono é Maçom. As estantes da sala não servem para acomodar bons livros, mas para armazenar troféus, medalhas, placas comemorativas, mimos e tudo o mais que avise que há um Maçom por ali. O mesmo vale para pratos, talheres, lenços, gravatas, bonés, bolsas, bonecos, malas, bengalas e, pasmem, até revólveres e espingardas! Enfim, qualquer objeto que possa servir-lhe de propaganda ele corrompe-o.

Prejuízo

O Maçom arrogante sabe muito bem que é um desqualificado moral, que carece das virtudes necessárias para dirigir homens de carácter, mas mesmo assim quer assumir o cargo de Venerável e nele se perpetuar. Insolente, julga-se o único com aptidão para empunhar o malhete, menoscabando a capacidade dos demais irmãos. Sempre que pode procura manobrar as eleições para que os cargos em loja sejam preenchidos por integrantes da sua medíocre camarilha, que, uma vez empossada, vai aprovar os seus actos malsãos e alimentar a sua vaidade. Desta maneira ele trava as rodas da Loja, impedindo-a de progredir, de desfraldar as suas velas.

O nosso personagem costuma mais faltar do que comparecer às reuniões, como já foi dito. Quando o faz, é quase sempre para tentar colocar-se em destaque, humilhar alguém, violar regulamentos, e fazer prevalecer os seus caprichos pessoais. É claro que ele não age só, pois se assim fosse a sua eliminação seria fácil e sumária. Ele conta com o respaldo de pequenos grupelhos de gente sórdida e submissa, que aprova as suas acções, que corrompe e deixa-se corromper. Às vezes conta até com a cumplicidade dissimulada de alguns delegados, que, por motivos políticos ou de ordem pessoal, fazem vista grossa aos seus insidiosos manejos e prevaricam no que constitui uma das mais importantes missões dentro da Maçonaria.

Terminado o período da sua administração como Venerável este impostor passa a meter o nariz em assuntos que não mais lhe dizem respeito, usurpando funções de outros irmãos da loja, incluindo as do seu sucessor. Quer mandar mais do que os outros, quer ser o dono da Loja; quer admitir candidatos sem escrutínio para engrossar a sua camarilha; quer manobrar a todos e violar leis. Expõe os Aprendizes e Companheiros a constantes querelas com outros Mestres, quase sempre motivadas pela vaidade e pela sede de poder.

Especialista em apontar erros nos outros, o Maçom arrogante jamais admite um erro seu. Quando, porém, as circunstâncias tornam isto impossível, ele o faz rangendo os dentes e disparando setas em todas as direções, muitas vezes ferindo os poucos irmãos que o querem bem. Além de tudo é um indivíduo vingativo. Caso sofra uma contrariedade qualquer, ou veja descartada uma irracional conjectura sua, ele passa a fomentar intrigas e provocar cismas na loja. Aquele que for investigar as causas que levaram uma determinada oficina a abater colunas notará nos seus escombros a marca indelével da sua mão, que muitas vezes deixa impressa com orgulho!

Elemento altamente desestabilizador e perigoso, o Maçom vaidoso é o principal responsável pelo enfraquecimento das colunas de uma loja, pela fuga em massa de bons irmãos, e pela decadência da Maçonaria de uma forma geral. Quanto maior for o seu número agindo no corpo da Maçonaria, mais fraca, enferma e susceptível à contração de outros males ela se torna, mais exposta a escândalos e prejuízos ela fica. A sua eliminação é, portanto, condição sine qua nom para a conservação da saúde da nossa Sublime Instituição.