novembro 06, 2021

BOAZ OU BOOZ - Rodrigo Peñaloza

 


Rodrigo é  Peñaloza Ph.D em Economia pela University of California at Los Angeles (UCLA), M.Sc. em Matemática pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e Ba. em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). É professor adjunto do Departamento de Economia da UnB, Mestre Instalado, filiado à Loja Maçônica Abrigo do Cedro n.8, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica do Distrito Federal. Fonte: Medium

Nas Lojas brasileiras muito se confunde quanto à forma correta do nome Boaz, uns dizendo Booz, outros Boaz. Neste texto, eu procuro mostrar duas coisas. Primeiro, que o correto é Boaz, o que, aliás, é trivial, pois, para tanto basta observar a pronúncia hebraica. Em segundo lugar — e principalmente — , eu procuro dar uma explicação sobre o porquê de os tradutores antigos, ao escreverem a Septuaginta e a Vulgata, optaram pela transliteração incorreta do nome.

O termo Boaz aparece 18 vezes no Livro de Ruth, 3 vezes nas Crônicas, 1 vez em 1 Reis, 1 vez em Mateus e 1 em Lucas.

Na edição maçônica norte-americana da Bíblia Sagrada (Heirloom Bible Publishers, Kansas), o termo é Boaz. Na Encyclopedia of Freemasonry, de Albert Mackey (1917), é Boaz. Em Light on Masonry, de Elder D. Bernard (1828), é Boaz. O Manual of Freemasonry, de Richard Carlile (uma exposée da Maçonaria publicada aos poucos na revista The Republican, em 1825), é Boaz. No The Complete Ritual of the Scottish Rite Profuselly Illustrated, editado por um Soberano Grande Comendador (anônimo), 33o, e complementado por J. Blanchard, no século XIX (sem data), é Boaz. Em Morals and Dogma, de Albert Pike (1871), é Boaz.

Em todas as obras antigas, enfim, o termo é Boaz. Isso não nos surpreende, se observarmos que na escrita hebraica massorética, o que temos é בֹּ֫עַז (Bṓʿaz) e que, além disso, não existem vogais repetidas no Hebraico, de modo que Booz é uma pronúncia incorreta. Nos tempos modernos, o Irmão Harry Carr, em seu artigo “Pillars and globes, columns and candlesticks”, publicado em Ars Quatuor Coronatorum, Transactions of the Quatuor Coronati Lodge №2076 London, em 2001, e apresentado antes na Vancouver Lodge of Education and Research, em 20 novembro de 1998, é Boaz. Nesse artigo, Harry Carr reproduz alguns trechos de exposées publicadas entre 1760 e 1765, nos quais o termo é Boaz.

Por que, então, alguns autores nacionais insistem que o correto é Booz ou, quando muito, que tanto pode ser Booz quanto Boaz? Há duas razões para esse erro. O primeiro deles — e mais óbvio — é o desconhecimento do Hebraico. Em geral o argumento usado é que na escrita hebraica antiga não existiam vogais até o surgimento dos sinais massoréticos (século X), o que, segundo eles, justificaria qualquer pronúncia. Porém, não atentam para o fato de o Hebraico não admitir vogais repetidas, o que prontamente elimina Booz, de modo que, neste caso, a suposta ambivalência não existe.

A segunda razão está nas traduções portuguesas da Vulgata. De fato, na Vulgata o termo é Booz. Se São Jerônimo (347–420 d.C.) traduziu o Antigo Testamento diretamente do Hebraico para o Latim, por que optou por Booz e não Boaz? Só vejo duas explicações. Primeiro, em sua época, ainda não existiam os sinais massoréticos, que indicam as vogais. Somente alguém absolutamente fluente em Hebraico poderia ler corretamente o texto hebraico. São Jerônimo, porém, era ilírio e só aprendeu Latim e Grego no início de sua vida adulta. Quando maduro, mudou-se para Jerusalém para estudar Hebraico. É bem provável que, diante de uma dúvida, consultasse a Septuaginta, a versão grega da Bíblia, que também traz Booz (Βοος, que deve ser lido como Βοός, pois não é possível, por razões morfológicas, dizer Βόος em Grego).

Nessa série encadeada de porquês, surge mais um. Por que a Septuaginta traz Booz e não Boaz? Por uma razão muito simples. Boaz é nome próprio e é oxítono. Em Grego, um nome próprio masculino pode terminar em –ας, como ὁ Ξανθίας (cuja pronúncia é ksanthías, donde veio o nosso Xântias), mas não pode jamais ser oxítona. O mesmo ocorre com os substantivos terminados em –ας, como ὁ νεανίας (o jovem), que não podem ser oxítonos. Por outro lado, substantivos terminados em –ος podem ser oxítonos, como θεόϛ (theós, pronuncie the-ós, com o th ligeiramente aspirado).

Dessa forma, os sábios que verteram a Bíblia para o Grego podem ter optado por Booz (Βοός) em vez de Boaz apenas para preservação do acento tônico na última sílaba, uma exigência natural se a intenção era não desvirtuar demais a pronúncia de um nome próprio e fazê-lo ser entendido pelo leitor ou ouvinte grego. Em outras palavras, se a intenção era fazer a história bíblica minimamente inteligível ao grego, os tradutores tinham de resolver a seguinte questão: ou preservavam a grafia BOAZ mas trocavam o acento tônico da última para a penúltima sílaba (ou seja, Bóaz) ou trocavam Boáz para Boós e preservavam a oxítona. O nome Boáz, oxítono, soaria muito estranho ao ouvido grego, mas não Boóz e tampouco Bóaz. O que é mais próximo de Boáz: Bóaz ou Boóz? Eles julgaram que era Boóz. Dessa forma, São Jerônimo, mesmo que estivesse ciente da correta pronúncia hebraica, pode ter optado por Booz por influência da Septuaginta, tendo preferido, sabiamente, manter uma coerência entre a versão latina e a versão grega já estabelecida há séculos.

Os autores maçônicos antigos devem ter sabido disso, pois todos, no mínimo, eram fluentes em Latim, com boas noções de Grego e alguns até de Hebraico, além de, sendo em sua maioria protestantes, terem em mãos a versão protestante da Bíblia, que, ao contrário da Vulgata, trazia Boaz, graças ao gênio de Lutero. Textos não-maçônicos também trazem Boaz, como Historiarum Totius Mundi Epitome, seção 16, de Cluverius Johannes, de 1667.

Conclui-se, assim, que a pronúncia correta é Boaz e que, além disso, Booz é apenas a herança de uma característica fonética do idioma Grego, que herdamos por intermédio da Vulgata. A opção pelo aparente erro fonético se deve à perspicácia dos antigos tradutores, convictos que estavam de tornar esse e outros nomes hebraicos inteligíveis aos ouvidos gregos, sem prejuízo do significado mais profundo das histórias que traduziam.



novembro 05, 2021

OS TRÊS GRAUS DO RITO SCHRÖDER - Ir:. Rui Jung Neto


Ir:. Rui Jung Neto, ex-V.M. (AltStuhlMeister) “Aprendendo, ensinarás. Ensinando, aprenderás.” Colégio de Estudos do Rito Schröder - Colegiado Diretor. Cinq. Ben. A.R.L.S. "Concordia et Humanitas" Nr. 56 – ao Or. de Porto Alegre - RS Fundada em 24/06/1958 no Rito Schröder M.R.G.L.M.E.R.G.S. 

Uma análise sintética.

Antes de tratar especificamente dos três Graus do Rito Schröder, creio ser importante estabelecer quando surgiram os três Graus simbólicos e, para isto, vou me socorrer da obra do Ir. Nicola Aslan: "O Historiador e Ex-V.M. da Loja Quatuor Coronati, Ir. Lionel Vibert, afirma: "os termos Aprendiz, Companheiro e Mestre-Maçom são escoceses e foram empregados pela primeira vez pela Maçonaria Inglesa em 1723." Sobre o mesmo assunto escreve R. Le Forrestier: A inovação mais notável (da G.L. de Londres) foi a criação dos Graus denominados Especulativos ou Simbólicos. Os talhadores de pedra só tinham uma classe, a dos Companheiros, já que os Aprendizes não faziam parte da Corporação, cujos membros só possuíam os sinais de reconhecimento mantidos, ciumenta e zelosamente, secretos. O único ato solene de recepção era, portanto, o da admissão entre os Companheiros. 

Na Freemasonry (Franco-Maçonaria) Especulativa, ao contrário, onde a antiga aprendizagem profissional não tinha mais razão de ser, os candidatos eram admitidos diretamente na associação e a primeira Cerimônia Ritualística era agora a recepção ao Grau de Aprendiz. A razão pela qual o termo de Mestre serviu, a partir de 1725, para designar não mais uma função mas uma dignidade e tornou-se a denominação de um terceiro Grau, parece ter sido o desejo de fazer uma escolha entre os membros cada vez mais numerosos da associação e de constituir um "High Order of Masonry" (uma "Alta Ordem da Maçonaria"), como o Grau de Mestre foi algumas vezes denominado." 

Atualmente existe, entre os modernos historiógrafos da Maçonaria, o consenso de que a separação das instruções em três graus não era utilizada nas Lojas operativas. Isto nos leva a concluir com segurança, que a divisão da Maçonaria Especulativa (modernamente denominada Simbólica) em três Graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, que já era utilizada pela Maçonaria Escocesa desde o Século XVII, ocorreu na Grande Loja de Londres somente entre 1717 e 1725. Desta forma, quando Schröder foi Iniciado em 1774, os três Graus já estavam consolidados e eram aceitos como universais por todos os sistemas maçônicos (Ritos). Sabemos que o Rito Schröder teve sua origem baseada principalmente no "Livro das Constituições" de 1723, da Grande Loja de Londres, e no "Antigo Ritual" descrito no livro "The Three Distinct Knocks on the Door of the Most Ancient Freemasonry - As Três Batidas Diferentes na Porta da mais Antiga Franco-Maçonaria", de 1760. 

Com base nestas duas fontes, o Ir. Friedrich Ludwig Schröder aboliu o misticismo e os "altos Graus" introduzidos na Maçonaria Alemã no decorrer do Século XVIII e utilizou-se do simbolismo simples das ferramentas da Arte da Construção como instrumento para promover a elevação moral dos seus Irmãos. Schröder, um representante do classicismo alemão, através de um estudo minucioso, procurou a essência da Maçonaria, aconselhando-se com um grande círculo de Irmãos dentre os mais renomados maçons, escritores e filósofos da sua época (Herder, Fessler, Meyer, Bode, etc).

O Ritual de Schröder está expresso em uma linguagem insuperável na qual pulsa o espírito do humanismo clássico e fica evidente a simplicidade original como característica mais importante da Maçonaria moderna, formando um conjunto harmônico constituído pelos 5 rituais originais que englobam os três Graus do Rito (Loja de Aprendiz, com a Loja de Mesa e a Loja de Funeral; Loja de Companheiro e Loja de Mestre). 

Neste trabalho, analisarei de forma sintética cada um dos Graus e procurarei destacar suas características fundamentais a luz do que acredito ter sido o pensamento original do Ir. Schröder. A meu ver, fruto da sua vasta pesquisa maçônica mas também, do período histórico excepcional vivido na Europa no final do Século XVII e no decorrer do Século XVIII, principalmente nas províncias de língua Alemã, na Inglaterra e na França. Nesta época floresceu o "Iluminismo", movimento cultural que valorizou a razão, aboliu os preconceitos de raça e religião, libertou o homem do autoritarismo e difundiu a crença no progresso fundamentado na liberdade de pensar. 

Sua força afetou todos os ramos do conhecimento e das artes, sendo considerado pelo filósofo e maçom Lessing como o primeiro movimento a defender a livre manifestação do pensamento. Acredito que Schröder, um verdadeiro mestre no domínio da linguagem e da dramatização, trabalhou em perfeita sintonia com os acontecimentos de seu tempo e o pensamento dos maiores maçons alemães, muitos dos quais eram seus amigos e com os quais contou para elaborar seus rituais, nos quais colocou o que de melhor havia em termos de Filosofia Racionalista e Humanista, defendendo sempre a igualdade entre os Irmãos e a busca da verdadeira Fraternidade. Para Schröder, a Franco-Maçonaria era e sempre foi uma Confraria que unia homens virtuosos para em conjunto estudarem os símbolos da Arte da Construção e desenvolverem a Moral, a Ética, a Caridade e o Amor Fraternal. 

Em muitas passagens o Ritual enfatiza a confiança que os Irmãos depositam uns nos outros e a harmonia que deve prevalecer na Fraternidade. O Grau de Aprendiz Maçom nos ensina que

1: "Os Maçons formam uma Fraternidade espalhada entre os povos, países e classes, cujo fim consiste no espírito do verdadeiro amor fraterno para promover a legítima humanidade, isto é, proporcionar o domínio dos puros princípios morais em todos os círculos e empregar suas atividades em boas obras. Porém em nossas reuniões usamos símbolos e alegorias para expressar os nossos ideais, e segundo a origem histórica de nossa instituição, escolhemos como símbolos principais os instrumentos de construção." O Ir. Schröder, que acreditava ser a Maçonaria "uma união de virtudes", declarou em um veemente discurso proferido em 1789 aos Irmãos de Hamburgo: "Meus Irmãos, considerem antes de tudo, as lições tiradas das vidas virtuosas dos homens sábios, de estabilidade, de prudência e de sigilo que nos foram ensinadas no Primeiro Grau. Pensem nestes preceitos e nos subseqüentes modelos! ...elas são a base material da qual a grande corrente da Fraternidade foi formada...". Expressava assim, a importância dos valores morais contidos simbolicamente nos instrumentos dos antigos pedreiros-livres e do Humanitarismo, doutrina filosófica e política que pretende eliminar as injustiças através da ação direta do homem e, por decorrência, mudar para melhor a própria sociedade que nos cerca. 

Também, sobre a importância da Moral e seu uso no simbolismo da Maçonaria, cito dois consagrados autores que definem conceitos perfeitamente adequados para a prática maçônica em geral e para a do Rito Schröder em particular: - Alec Mellor (maçom e escritor francês) nos lembra que: "A Franco-Maçonaria define-se como "um sistema particular de moral, velada pela alegoria e ilustrada pelos símbolos." - definição esta, já utilizada na Inglaterra do Século XVIII”. - José Castellani (maçom e escritor brasileiro contemporâneo) nos esclarece que: "os símbolos maçônicos representam a maneira velada através da qual a instituição dá, aos seus iniciados, as lições de moral e ética, que fazem parte de sua doutrina". 

Para Schröder o desenvolvimento da Fraternidade, dentro de princípios éticos e de elevada moral, é a verdadeira finalidade da Maçonaria e praticar a caridade é materializar o ideal maçônico de levar o amor fraterno para todos os homens, não só para os Irmãos. A Moral e a Ética são pré-requisitos indispensáveis do homem-maçom. As Lojas, por reunirem homens virtuosos, devem reforçar e elevar cada vez mais o padrão ético dos seus integrantes. Cabe também a Loja de Aprendiz, além da instrução dos significados dos símbolos, estimular o Aprendiz a pensar e a agir como maçom, levando o modo de vida da Fraternidade Maçônica para o seu dia-a-dia e não somente algo para ser utilizado nas reuniões da Loja. Este é um desafio que cada um de nós deve assumir como seu! 

Com "fervor, fidelidade e firmeza", o Aprendiz desenvolve um "comportamento exemplar, seu pensamento livre de preconceitos e sua amizade leal para com seus Irmãos, baseada em princípios morais". Por isto, trabalha-se tanto neste Grau, que serve como "alicerce" para a construção do Templo individual do homem-maçom. Esta também é a base para o desenvolvimento maçônico dos futuros Companheiros e Mestres e isto deve ser valorizado. 

Quero ainda enfatizar que, é na Loja de Aprendiz que tem início a formação dos futuros Companheiros e Mestres e, por isto, é muito oportuno realizar reuniões, debates e seminários incentivando a participação de Aprendizes e Companheiros, sendo acessíveis aos Mestres interessados, para que os Irmãos tenham condições de aumentar seus conhecimentos, abrir seus horizontes e assumir suas responsabilidades na Fraternidade. O Grau de Companheiro Maçom será abordado citando parte da análise do Ir. Hans Heinrich Solf, membro da Loja de Pesquisas “Quatuor Coronati”, n° 2076, da Grande Loja Unida da Inglaterra através do Trabalho Origem e Fontes do Ritual Schröder: “... Isto despertou o talento de Schröder como ator dramático para criar um Ritual inteiramente novo, com sua própria concepção deste Grau. 

A uma tanto laboriosa explanação do Painel da Loja que é complemente omitida, colocou em seu lugar os princípios morais explanados numa bela linguagem e toda a cerimônia tem o significado de inculcar no candidato esperança e alegria. As viagens são acompanhadas com comentários encorajadores e flores e música são importantes fatores neste Grau. ... Ele conhecia todos os Rituais importantes de seu tempo, mas o seu mais ardente desejo era voltar as fontes. Já foi mencionado que Schröder acreditava que tinha havido somente uma cerimônia de iniciação aplicada à Maçonaria Operativa mas, quando o estágio da Especulativa havia sido plenamente desenvolvido, certas velhas usanças tiveram de ser abandonadas e novos elementos ritualísticos foram portanto introduzidos. Schröder compreendeu que ele não podia voltar a roda de evolução, mas ele sentiu que os Rituais existentes para a cerimônia de elevação eram supérfluos. 

Na verdade nenhum sistema Maçônico (Rito) tem sido capaz de providenciar uma função satisfatória para este Grau e é afirmado que o melhor conteúdo alegórico é o que Schröder e seus amigos deram para ele. Com um preciso instinto do espírito do seu tempo, a aurora do Iluminismo e o surgimento do romantismo, ele recolocou as citações enfadonhas e explanações do Velho Testamento como simples ensinamentos de Ética e Moral Maçônica. Tão estritamente quanto possível, porém de nenhum modo sem criticismo, ele conservou seus textos dentro da estrutura do Ritual que ele havia escolhido e ele o adornou com comentários instrutivos e encorajadores em vez de citações Bíblicas. 

O objetivo de trabalho numa Loja maçônica era para ele o cultivo de uma Fraternal e espiritual comunidade pela prática de cerimônias ritualísticas."... No Grau de Companheiro aprendemos através da calma meditação e da diligência no trabalho a importância do autoconhecimento e da fidelidade às leis da Fraternidade; a valorizarmos alegremente a Amizade, a Beleza e a busca da Verdade, conquistando assim a confiança dos nossos Irmãos e progredindo em nossa caminhada maçônica. O Grau de Mestre Maçom é, para o Rito Schröder, o último e mais elevado Grau da Maçonaria, sendo consagrado à busca incessante da perfeição e ao cumprimento inflexível dos seus deveres, servindo de exemplo de conduta aos Companheiros, Aprendizes e profanos. 

Como modelo de perfeição, o Mestre deve conhecer o melhor possível os três Graus, os Usos e Costumes da Fraternidade, a Legislação da sua Potência e da sua Oficina, bem como as obrigações inerentes a cada cargo, sejam elas ritualísticas ou administrativas. Prepara-se assim para Instruir os Aprendizes e Companheiros e para assumir um cargo de Oficial, podendo chegar a Venerável Mestre da sua Loja por delegação de seus iguais, recebendo assim a autoridade e o poder para dirigir os trabalhos por um determinado período. 

Todo o trabalho em Loja deve procurar educar e formar o maçom, visando prepará-lo para ser Mestre. Ao Mestre do   Rito Schröder cabe também, a pesquisa e a reflexão filosófica sobre o destino final do homem e sua preparação para a morte a qual representa mais um passo na evolução natural do ser humano. Por isto, o Mestre Maçom do Rito Schröder deve encarar a morte de quatro maneiras principais: a) alegórica ou simbólica: a Lenda do 3o Grau, significando o cumprimento do dever à custa da própria vida, exemplo legado pelo Mestre Hiram Abiff; b) o eterno ciclo da natureza, onde um novo homem nasce (ou renasce) para substituir aquele que partiu ("ele vive no filho"); c) a crença na imortalidade da Alma (ou do Espírito), que parte para o Oriente Eterno e lá nos aguarda para o derradeiro reencontro; e, d) a certeza de que a morte virá e que devemos nos preparar através do cumprimento das nossas obrigações pois podemos ser levados a qualquer momento. 

O Mestre Maçom deve encarar esta situação como algo natural e normal e, não, com temor ou horror. Devemos viver com intensidade, pois nossa passagem por este plano pode ser interrompida a qualquer momento ("Não nos amedronta a Morte!".). 

Finalmente, ser Mestre significa trilhar zelosamente a senda da Sabedoria. Significa ser mestre de si mesmo, trabalhando com ininterrupta força de vontade no seu próprio aperfeiçoamento e pode ser comparado com a idade adulta do Homem, quando assumimos plenamente nossas responsabilidades perante a vida. Para que possamos refletir sobre a real importância do Grau de Mestre no Rito Schröder, incluo trecho escrito originalmente pelo Ven. Ir. Friedrich Ludwig Schröder, P.G.M.: “A Maçonaria é uma fraternidade e, como tal, adotou os instrumentos de trabalho do maçom, e por isso não pode possuir mais do que os três Graus: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Assim era ela em todos os países onde existiam Corporações. Com o grau de mestre fechava-se o círculo. Àquele que anseia alguma coisa mais além não é mestre, ou seja, não compreende que são seus deveres e suas habilidades que o tornarão um verdadeiro mestre. ... Foram os rituais falsificados em vigor, pouco satisfatórios, repletos de lacunas e defeitos (além de outras causas funestas), que deram motivos para que a Teosofia, as Ordens de Cavalaria, a Alquimia e a Magia procurassem guarida na Maçonaria. Nada pôde ser mais nefasto do que quando se passou a confundir a Maçonaria com uma Ordem. A Maçonaria é uma irmandade voltada ao trabalho, uma construção, uma obra que, com seus estatutos, provas de admissão e habilidade, procura ressaltar as virtudes do mestre. Eis o que de mais elevado pode alcançar a natureza humana.” Acredito ser evidente que existe uma identidade doutrinária comum entre os ritos maçônicos regulares, além do simbolismo das ferramentas dos antigos construtores e da admissão exclusiva através da Iniciação. 

Diferencia-se, no entanto, em muitos outros aspectos, dentre eles, sua liturgia e dramaturgia e o desenvolvimento do seu método de ensino. Em Loja, o maçom é apresentado ao simbolismo e às cerimônias ritualísticas; ouve as preleções e instruções contidas nos rituais ou nos trabalhos elaborados por seus Irmãos; apresenta suas idéias; aprende a ouvir e respeitar idéias divergentes e às minorias (a exigência da unanimidade em algumas votações da Loja é a máxima prova deste respeito). 

Se tiver empenho, estabelecerá uma ligação com a doutrina da Maçonaria, a filosofia do Rito adotado e com o pensamento da sua Loja. Aprenderá que a moral maçônica é racional, expressada pelo amor à verdade, pelo respeito à razão, à sinceridade intelectual, à soberania da consciência que se impõe contra a superstição e contra o dogmatismo. É uma moral solidária, pois pretende que o maçom, mais do que "ter bons costumes" ou “boa reputação”, seja tolerante, dedicado, disposto a servir seus irmãos e semelhantes e a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para promover o bem estar da sua família, da sua Pátria, da sua Loja, das suas relações na vida profana e, por decorrência, o Bem da Humanidade. 

Aprender, para poder praticar e ensinar, o conjunto de princípios e práticas do Rito no qual foi Iniciado ou no qual sua Loja trabalha, é dever de todo o maçom. Conhecer os demais Ritos, respeitando suas origens, princípios e práticas, demonstra seu interesse na procura do auto-aperfeiçoamento. A Maçonaria exige de cada um de nós, a busca constante do conhecimento, da perfeição e da Verdade e, freqüentar a Loja, é fundamental, mas não é o suficiente. São necessários também, o estudo constante dos rituais e muita reflexão. Para podermos formar nossas próprias convicções sobre tudo o que vemos, ouvimos, vivenciamos, estudamos e aprendemos.

POR QUE OS APRENDIZES SE SENTAM NO NORTE? - Kennyo Ismail

 


O Ir.  Kennyo Ismail, do Distrito Federal é escritor, tradutor, editor, professor universitário, acadêmico, um dos mais renomados estudiosos e intelectuais da maçonaria no Brasil. Publicado em Simbologia

Para os IIr.'. Aprendizes e Companheiros

Com exceção do Rito Brasileiro, que inverteu as posições do REAA, os Aprendizes se sentam na Coluna do Norte em todos os demais Ritos. Nos ritos de origem francesa (Escocês, Moderno e Adonhiramita), eles se sentam na última fila do Norte, enquanto que nos ritos de origem que podemos chamar de “anglo-saxônica” (Shroeder, York e rituais do Reino Unido como o de Emulação), eles se sentam na primeira fila do Norte.

Qual é o motivo para os Aprendizes se sentarem no Norte? Essa é uma pergunta muito comum em Loja e que costuma receber as mais variadas respostas, algumas totalmente sem nexo:

“Porque a pedra bruta está no lado ocidental do norte, e o Aprendiz é uma pedra bruta”.

“Porque o Aprendiz precisa ficar na Coluna da Força para ganhar força para o trabalho”.

“Porque o Aprendiz tem que ficar perto do Primeiro Vigilante, que o instrui”.

“Porque o Aprendiz tem que ficar de frente para o Segundo Vigilante, que é quem deve instruí-lo”.

Essas afirmações chamam a atenção para um outro ponto:

De onde tiraram que os Vigilantes são os responsáveis por instruir os Aprendizes e Companheiros? Existe alguma fala na Abertura e Encerramento dos trabalhos em que os Vigilantes assumem essa responsabilidade? As instruções obrigatórias desses graus, que constam nos Rituais, são feitas pelos Vigilantes?

Respostas: Não. Apenas em algumas das cerimônias inventadas de posse e nos Estatutos modernos das Obediências é que os Vigilantes “ganharam” essa responsabilidade. As instruções para Aprendizes e Companheiros não são presididas pelos Vigilantes. Elas são presididas pelo Venerável Mestre e apenas contam com a participação dos Vigilantes, assim como contam com outros Oficiais da Loja.

Você pode estar se perguntando agora: Então, por que diabos os Vigilantes são considerados responsáveis pela instrução de Aprendizes e Companheiros?

Simplesmente criou-se esse “hábito” por conta da equivocada interpretação de que os Vigilantes “governam” as colunas onde os Aprendizes e Companheiros estão sentados, então deveriam ser responsáveis por eles.

Os Vigilantes não são ritualisticamente os responsáveis pela formação dos Aprendizes e Companheiros, independente de ser o 1º Vigilante para os Aprendizes e o 2º Vigilante para os Companheiros, ou vice-versa. Na verdade, os Oficiais da Loja são responsáveis por instruir Aprendizes e Companheiros conforme as instruções do Ritual, e sob comando do Venerável Mestre. É dever ritualístico do Venerável Mestre, que é o Mestre da Loja, definir se eles estão preparados para subir mais um degrau. Isso não deveria ser responsabilidade dos Vigilantes, apesar de se terem criado esse costume e legislado em favor disso. As dúvidas que um Aprendiz ou Companheiro por ventura possam ter deveriam ser sanadas pelo seu padrinho, o Mestre Maçom responsável pelo seu ingresso na Loja. É para isso que servem padrinhos, para garantir a formação de seus afilhados!

Enfim, com base nessas observações, verifica-se que as respostas dadas sobre o Aprendiz no Norte que são relacionadas à instrução dos Vigilantes não correspondem com a verdade.

Quanto à reposta de que o Aprendiz fica na Coluna da Força para ganhar força para o trabalho, isso é uma ofensa para a inteligência de cada maçom. Substituiremos o maço e o cinzel por alteres, se assim for! O efeito será melhor para tal simbologia!

Já a afirmação de estar relacionado com a posição da pedra bruta em Loja também é ilógica. Afinal de contas, em alguns ritos a pedra bruta não fica na Coluna do Norte, enquanto que Aprendizes permanecem lá! Então, qual é o motivo?

É simples. A Loja possui 03 Luzes que a governam: Venerável Mestre, Primeiro Vigilante e Segundo Vigilante. Essas 03 Luzes ficam localizadas em 03 lados do templo: Oriente (VM), Ocidente (1º Vig) e Sul (2º Vig). Ora, o templo possui 04 lados, então um não possui Luz: o Norte! Por esse motivo, a Coluna do Norte é considerada o “lado escuro do templo”.

O Aprendiz até pouco tempo atrás era um candidato na escuridão, desejoso de receber a Luz. Seu lugar é no lado mais escuro do templo onde, simbolicamente, sua visão poderá se acostumar com a Luz que lhe é dada aos poucos. O Aprendiz está no hemisfério norte, enquanto o Sol está fazendo seu giro do Oriente para o Ocidente inclinado ao Sul, o que indica que o Aprendiz está no inverno do hemisfério norte, quando as noites são maiores que os dias, ou seja, a escuridão ainda prevalece sobre a luz do dia.

Isso está muito bem registrado nas instruções dos rituais mais antigos, mas se perdeu na evolução de muitos ritos e na constante “revisão” que quase todos sofrem constant

novembro 04, 2021

DA MAÇONARIA TEÍSTA À MAÇONARIA DEÍSTA - Rui Bandeira




Definido o que se deve entender por deísmo e por teísmo, estamos então em condições de indagar se existe uma Maçonaria teísta e uma Maçonaria deísta, quais os significados destas expressões e as diferenças entre elas.

Na época da Maçonaria Operativa, não havia discussões na Europa. Era-se cristão ou judeu e ponto final. A religião entrava na vida de cada indivíduo, não através de uma busca racional, mas como uma característica essencial. E a religião era o que os responsáveis da Igreja diziam que era.

Analisar questões teológicas era encargo de muito poucos de entre os pouquíssimos que sabiam ler e escrever. A grande massa dos Povos tinha a religião do Estado onde se encontrava ou do senhor a quem servia. Não era, sequer, uma questão de escolha. Era de sobrevivência. Literalmente falando.

Não se punha, pois, a questão de se ser deísta ou teísta. O conceito de deísmo nem sequer existia. Todos eram teístas, porque todos eram crentes. E quem não fosse, calava e fingia sê-lo, se queria continuar integrado na sociedade, vivo e de boa saúde...

Na Europa de então, opções religiosas havia duas: o cristianismo (primeiro apenas sob a batuta do papa de Roma; depois, com a Reforma, com dois grandes campos de escolha: o catolicismo ou, com diversas variantes, o que se convencionou chamar de protestantismo) e o judaísmo, aquele amplamente majoritário.

Todos os maçons eram, por definição, crentes e cristãos.

A Maçonaria Operativa, como instituição eminentemente profissional, não destoava do resto das instituições existentes e todos eram teístas. Nem se concebia que pudesse ser diferente!

O tempo e a evolução social, porém, vieram a alterar esta situação. A partir de finais do século XVI, inícios do século XVII, gradualmente as Lojas maçônicas operativas começaram a admitir elementos não integrantes da profissão de construtores em pedra.

Foram senhores que mandavam construir igrejas e contratavam e pagavam, para esse efeito, os oficiais construtores, exercendo sobre estes manifesta influência econômica, que demonstravam interesse em compartilhar dos segredos da Arte Real da construção. Foram influentes cavalheiros ou nobres que assumiam o papel de protetores das corporações de maçons, enfim, a pouco e pouco foram sendo Aceites não construtores nas Lojas. E as Lojas passaram a ser locais de congregação de maçons livres e aceites.

Maçons livres, os oficiais construtores que não dependiam de senhores, que eram livres de trabalhar e exercer o seu ofício onde quisessem e pudessem. Maçons aceitos, aqueles que, não sendo oficiais construtores, tinham sido aceites no seio das Lojas.

A Maçonaria original, operativa, era essencialmente cristã. Na Europa esse era o pensamento religioso largamente dominante. Para além deste, existia apenas o judaísmo, minoritário e simplesmente tolerado. Às vezes, pouco. Nalguns locais (na Península Ibérica, por exemplo), nada.

Todos os textos primitivos maçônicos espelham a doutrina cristã. Mesmo as Constituições de Anderson o mostram.

Na redação original dos Landmarks, os princípios informadores da Maçonaria não se fazem referência a Volume da Lei Sagrada, menciona-se, clara e diretamente, a Holly Bíblia, a Bíblia Sagrada.

Com o advento do pensamento deísta e a sua inegável influência na Maçonaria, a concepção desta como tributária da religião cristã é substituída por uma muito mais abrangente concepção como tributária da "Religião com a qual todos os homens concordam" (expressão, aliás, já constante nas Constituições de Anderson).

Este mais abrangente entendimento inelutavelmente que levou a certa descristianização da Maçonaria. Se esta era o ponto de confluência de todos os crentes de todas as religiões, a plataforma mínima de entendimento de todos, a "religião com a qual todos concordam", então não se podia impor aos não-cristãos as preces cristãs, por exemplo.

A Primeira Grande Loja de Londres, instituída em 1717, estabeleceu o princípio deísta na Maçonaria. Outros maçons, respeitadores da sua tradição, vinda da Maçonaria Operativa, discordaram dessa evolução e constituíram a Grande Loja dos Ancients (Antigos), apelidando os da Grande Loja de Londres de serem, erradamente, no seu ponto de vista, Moderns (Modernos).

Foi da tensão entre estas duas concepções da Maçonaria, uma declaradamente teísta, na esteira operativa, e outra assumidamente deísta, foi dos debates entre uma e outra, que se forjou a Maçonaria Moderna.

A Grande Loja dos Antigos, decisivamente influenciada por Lawrence Dermott, autor da compilação que constituía o conjunto de textos essenciais dos Antigos, o Ahiman Rezon, incluía nos seus rituais uma oração para ser dita pelos cristãos, onde se pedia a Deus, designadamente:

Dote-os (os novos Maçons), com a competência da sua Divina Sabedoria para que eles possam, com os Segredos da Maçonaria serem capazes de entender os Mistérios da Santidade do Cristianismo.

Os Antigos verberavam os Modernos por estes descristianizarem o ritual; os Modernos defendiam a inclusão da Maçonaria a todos os crentes, qualquer que fosse a sua religião pessoal, qualquer que fosse a sua concepção do Criador.

Com a união das duas Grandes Lojas rivais, em 1813, na Grande Loja Unida de Inglaterra, venceu a concepção deísta da Maçonaria.


Portanto, hoje pode com correção afirmar-se que a Maçonaria é deísta.


Deísta, porque, ao abrigo do princípio da assunção do Divino através da Razão, admite no seu seio todos os crentes, não apenas os que originalmente nela eram admitidos (cristãos).


Deísta, porque ponto de encontro, denominador comum de todos os crentes, respeitando a crença individual de cada um.


Neste sentido, deísta, porque não apenas cristã.


O primeiro judeu iniciado foi-o numa Loja de Londres, em 1732: Edward Rose.


Só mais tarde vieram a ser iniciados Muçulmanos e depois seguidores de outras religiões.


Maçonaria deísta é, pois, a Maçonaria hoje correntemente aplicada, que aceita no seu seio crentes de todas as religiões.


Não quer isto dizer que renegue a sua origem cristã.


Não o faz. 

Designadamente, mantém, em especial em alguns dos Altos Graus, graus especificamente cristãos.


Mas, mesmo esses, um não cristão que a eles queira aceder e não se sinta desconfortável com o ideário cristão neles expresso, pode recebê-los.


Uma última nota: quando se diz que a Maçonaria é deísta, não se pretende dizer, nem se aceita, que se destina exclusivamente a deístas.


Porque apenas se exige crença num Criador, sendo despicienda qual é E COMO A ELA SE CHEGOU.


Na Maçonaria convivem fácil e proveitosamente deístas e teístas.

Seja qual for a sua religião.


Também em Maçonaria a evolução se fez do teísmo para o deísmo, numa perspectiva de inclusão, nunca de exclusão.


Por isso, a Maçonaria Moderna é deísta, sem prejuízo de ter no seu seio - e muito confortavelmente - muitos teístas.


Porque ser, individualmente, teísta, deísta, católico, luterano, anglicano, calvinista, evangélico, judeu, muçulmano, hindu, etc., etc., etc. e ainda etc., desde que crente, é absolutamente indiferente!



A HISTÓRIA DA ROSA-CROIX - Leonardo Redaelli




Venerável Mestre e todos vocês meus Irmãos, em suas fileiras e qualidades, como vocês sabem, sou um apaixonado pela leitura e nosso F Jack, que tem uma ótima biblioteca, regularmente me empresta livros. Entre eles, ele me emprestou o livro de 1990 de Paul Arnold sobre a história da Rosa-Croix. Eu não sabia quase nada sobre eles, exceto um documentário de TV bastante hermético que me intrigou com meus preconceitos.

Decidi mergulhar nessa história e dar a vocês um quadro sobre o Rose Croix porque acho que a maioria de vocês ainda não teve a oportunidade de aprofundar o assunto. História ou lenda?

-História porque existem documentos escritos, historicamente incontestáveis ​​que descrevem a Ordem, seus objetivos, seus princípios, porque houve e ainda hoje grupos que se referem ao movimento Rosacruz, e finalmente porque indivíduos afirmavam ser Rose Croix ou ter relações com CRs.

- Lendas porque a abundante literatura que trata da Rose Croix está repleta de extrapolações precipitadas, afirmações injustificadas, referências a documentos indetectáveis ​​e até falsificações verdadeiras.

1 De volta à história:

A origem escrita desta história começa de facto com a descoberta dos 3 " Manifestos "   não assinados que surgiram em Cassel e que são a expressão de uma corrente de pensamento, a mensagem de uma sociedade que se quer construir com base: a caridade, fé e esperança que são sinônimos de amor:

-           A primeira em 1614 inclui 3 partes: "Reforma comum e geral de todo o mundo" seguida pela "Fama Fraternalis da louvável ordem da Rosa Cruz dirigida a todos os estudiosos e líderes da Europa" de 147 páginas e finalmente "uma resposta curta" de Adam Haselmayer que, por isso, foi enviado para as galés. Este último título foi precedido por uma vinheta representando a âncora de esperança abraçada pela serpente de mercúrio.

-           O seguinte “la confessio”, publicado em 1615, é um livreto de 12 páginas que se conforma ao espírito de Fama com um toque de apocalipse e antipapismo. Ele anuncia a 4ª monarquia, ou seja, o reinado do Espírito Santo.

-           Finalmente em 1617 “o casamento quimico (com um y) de Christian Rosencreutz”. Este 3º texto de 146 páginas é de natureza muito diferente. Conta a incrível jornada de 7 dias de Rosencreutz entre a corte durante o casamento do rei, sua decolagem e, finalmente, sua ressurreição.

Ao mesmo tempo, clandestinamente, pôsteres foram colados nas paredes das cidades da França, especialmente em Paris. Incluem o seguinte texto: “  Nós, deputados do colégio principal dos Irmãos da Rosa-Croix, fazemos uma estada visível e invisível nesta cidade pela graça do Altíssimo, a quem os corações dos justos se voltam. Mostramos e ensinamos sem livros ou marcas a falar todas as línguas do país onde queremos estar, a tirar os homens, os nossos semelhantes, dos erros da morte  ”.

2 Por que o nome Rose-Croix? :  

Como associar um instrumento de tortura que resume todo o drama da paixão de Cristo com a graça e o frescor da rosa? Assim se unem a cruz, sinal sagrado da morte, e a rosa, sinal da vida, do perfume que se desvanece. Assim é criado um símbolo de imortalidade: a cruz e em seu centro a rosa, gota de sangue que renasce, a cruz do corpo físico do homem e a rosa o espírito em processo de evolução para alcançar a revelação de um conhecimento de ordem superior.

3 O conteúdo da mensagem:

 O livro mais emblemático é "La Fama", que começa nestes termos "Nós, irmãos da fraternidade RC, oferecemos a nossa salvação, o nosso amor e as nossas orações a cada um que ler o nosso presente Fama de intenção cristã"

É explicado que, contra Satanás, um homem se levantou: o reverendo, devoto, espiritual e muito iluminado Irmão Rosencreutz. Filho de pais pobres, mas nobres, foi colocado aos 6 anos em um mosteiro onde aprendeu latim e magia. Aos 16 anos, ele fez uma viagem à Terra Santa. Ele entra em contato com os sábios de Damcar que lhe ensinam os segredos da natureza. Vários anos depois, ele chegou a Fez para encontrar os magos. Ele assim recebe a revelação da unidade universal que coloca o homem de volta em uníssono com Deus, o céu e a terra. A partir daí ele voltou à Europa para fundar uma empresa que teria ouro e pedras preciosas e poderia comunicar o segredo aos monarcas. Ele desembarcou na Espanha, onde foi mal compreendido. Ele retorna à Alemanha onde mora sozinho em sua casa onde constrói instrumentos musicais.

Após 5 anos, ele pede a seus devotados companheiros que escrevam tudo o que ele lhes diz. Tantos enfermos vêm imediatamente a eles que não são mais suficientes para o trabalho. Também Rosencreutz apela aos novos irmãos, celibatários e que fizeram votos de castidade acolhidos na "sociedade e na fraternidade". Esta faculdade escreve o “livro dos desejos humanos” e os F partem em missão ao redor do mundo para estudar e expandir seus conhecimentos. Rosencreutz então instituiu as regras da ordem:

-          Não exerça publicamente qualquer atividade que não seja o tratamento voluntário de doentes

-          Adapte-se em todos os lugares aos costumes e roupas do país

-          Aparece anualmente no dia C no local determinado pelo espírito santo

-          Cada irmão terá que escolher um sucessor para o dia de sua morte

-          A rosa-cruz é o sinal e símbolo da fraternidade

-          A fraternidade permanecerá na clandestinidade por cem anos.

No entanto, os FF não são imortais, mas o F NN revelou que a irmandade viria em ajuda da nação alemã. Com efeito, acabava de descobrir o acesso ao túmulo do Padre Rosencreutz, sepultado durante 120 anos e sobre o qual estava escrito "passados ​​120 anos abriria". Pelos cálculos, este ano ocorre em 1604, que adiou o nascimento do pai para 1378, falecido aos 106 anos, ou seja, em 1484.

O FF correu e entrou na tumba que tinha a forma de uma abóbada de 2,5 metros de altura e 7 lados de 5 metros cada. 4 círculos dispostos em cruz e um 5º maior decoram o teto com as inscrições "jesus é tudo para mim" "o vazio não está em lugar nenhum" o jugo da lei "" liberdade do Evangelho "" a glória de Deus é intangível ”

Nesta tumba estão muitos livros incluindo um de Paracelso e a vida de Rosencreutz, há um altar, uma laje funerária cinzelada retratando a vida do pai com no final esta fórmula, que encontraremos em Maitre Eckart e Jean Ruysbroeck "Nós nascemos em deus, morreremos em jesus, tornamo-nos vivos no espírito santo ”, que parece ser a chave do esoterismo rosa-cruz.

La Fama indica que tudo isso terá de ser mantido em segredo.   Ela convida os que acreditam nisso a entrar em contato com os outros, mas de forma secreta, daí a origem da fábula do invisível. Ela se afirma cristã, evangélica e luterana.

Este resumo do evangelho da rosa-cruz deixa o leitor com uma impressão intrigante.

4 Quem poderia ter escrito esses livros? :

Paul Arnold pensa que é o trabalho de todo um grupo liderado por Jean-Valentin Andreae. Este último, nascido em 1586, filho de um pastor em Württemberg, dedicou-se à alquimia, ocultismo e astrologia. Aos 16 anos começou a escrever livros e em 1604 "Les noces chymiques de Rosencreutz" que só seriam publicados em 1616. Foi então involuntariamente arrastado pelos seus camaradas para um movimento de devassidão que o obrigou a emigrar. Ele conhece Hess e Holzel, que o levam a leituras místicas. Aqui ele é condenado com seu amigo Besold pelo reitor de Tübingen. Em seguida, viaja pela Europa e é durante esta viagem que descobre a sua vocação "para servir a Igreja evangélica e o mundo, em vez de seguir como epicurista o seu pensamento íntimo".

Ele conheceu Haffenreffer, professor de teologia, que lhe deu uma tese em 1614 para ser nomeado diácono perto de Tübingen. Foi neste ano que surgiu a Fama.

Em 1616 aparece “o casamento químico de Rosencreutz” que Andréae atribui à sua caneta adolescente. A partir deste ano até 1619 denunciará a fraternidade RC como uma farsa e pretende lançar uma “cidade cristã” publicando “convite da fraternidade de Cristo aos candidatos ao amor sagrado”, com um objetivo próximo da Fama. Em 1619, ele publicou uma “república cristianopolita”, fundando uma sociedade de socorro local. Ele ainda publicará "o exemplo da verdadeira união cristã" em 1628. Ele morreu em 1654, esquecendo-se do CR ao publicar sua biografia. O emblema RC é inspirado no brasão de sua família.

Este último, apesar de suas negativas subsequentes, foi considerado o principal responsável pelo movimento RC.

5 Haveria uma doutrina e uma fraternidade Rose Croix antes da Fama? :

Não faltam as hipóteses mais ousadas.

Pierre Mariel invoca uma corrente de pensamento marcada durante a Antiguidade e a Idade Média por alquimistas, hermetistas, gnósticos, etc. Esta corrente foi organizada no século XVI numa escola de filosofia, "pansophie" que deriva das pesquisas de Corneluis Agrippa e Paracelsus.   Os adeptos estavam convencidos de que haviam descoberto o segredo da unidade de todos os fenômenos e todos os seres. A mesa esmeralda resumia sua doutrina que passou por um grande ascetismo. Esta disciplina nunca foi realmente codificada e é dentro dessa pansophie que o Rosacrucianismo teria surgido. Na verdade, os alquimistas, por exemplo, sempre foram silenciosos sobre sua arte e transmitiram os arcanos a seus discípulos sob o selo do sigilo.

Robert Ambelain cita um manuscrito do alemão Michel Maier que indica que seria uma comunidade de magos que criou por volta de 1570 o FF do RC, do qual nada se sabe. Ele também cita 2 grupos Rosacruzes que teriam sido fundados na Inglaterra no início do 17º ano sob a liderança de Fludd. Um que reúne o FF do RC d'Or que se tornou “Aurae Crucis”. A segunda, mais numerosa, recebeu o nome de "Rosae Crucis". Este último fundou o “Colégio invisível” que então se tornou a “Sociedade Real” reconhecida pelo Rei Carlos 2.

6 distinção entre Rosa-Croix e Rosacruzes .

Um Rosacruz é aquele que atinge o estado de perfeição espiritual e moral definitiva, freqüentemente chamado de estado de Cristo, um Rosacruz é um iniciado que busca alcançar esta iluminação.

Agora é certo que a fraternidade RC supostamente fundada pelos escritores do manifesto de 1614 era apenas um mito e nunca existiu.

7 Rose Croix e a Maçonaria  :

Certos autores tentaram estabelecer uma dupla filiação com o FM: as lojas dos arquitetos, por um lado, e os templários, por outro, fornecem uma primeira série de ancestrais às constituições de Anderson.

O RC seria o elo intermediário e seria mudando seu nome por volta de 1630 que o RC se tornaria o FM especulativo. Isso foi alcançado definitivamente pelo filósofo RC Vaughan e o antiquário Elias Ashmole por volta de 1650.

Arnold demonstra que as teses das lojas arquitetônicas e dos Templários são obsoletas.

Em relação a CR, existe o texto de Fludd de 1633, que é a pedra angular da teoria dos parentesco. Mas este apesar de seus numerosos escritos não mostra nenhuma relação com um FM.

Por outro lado, em meados do século XVII assistimos a um renascimento do Rosicrucismo com os 2 filaletes Irénée e Eugène. Foi nesta época qu'apparaitrait 1º organizador da especulativa FM, Elias Ashmole. Este publica em 1652 o “theatrum chemicum britannicum” no qual defende a RC de 1614 com muita leveza. Ele se tornou o discípulo favorito do alquimista William Barckhouse.

No entanto, encontramos em seus papéis 2 notas que são os únicos testemunhos de sua pertença a uma loja de maçons: em outubro de 1646 fui feito maçom em Warrington e em março de 1692 recebi um chamado para comparecer a uma loja; Eu era um jornaleiro sênior e fazia 35 anos desde que fui internado.

Em 1686 apareceu "The Natural History of Staffordshire", de Robert Plot. Ele fala de uma Loja FM que não funciona com um procedimento de recepção simplificado e com placas secretas.

Robert Amadou encontra o vestígio de uma primeira loja de aceitação que fez maçons em 1631 e iniciou Ashmole em 1646

Além disso, John Heydon publica a 1ª tradução francesa de La Fama em 1652 e Thomas Vaughan repõe escritos pseudoalquímicos classificados como Rosacruzes. Arnold pensa que, é apenas nessa medida que esses escritos são um possível vínculo com o FM especulativo.

Na verdade, se tentarmos capturar nos mitos, ritos, costumes e empréstimos do vocabulário maçônico de natureza RC, ficaremos rapidamente desapontados.

Na organização dada ao RC, não há o menor traço da divisão maçônica em 3 graus

Da mesma forma o RC não conhecia o mito de Hiram Abi e se falamos dele nos dias de Fama foi de Hiram rei de Tiro que falamos

Assim, não é possível obter um único empréstimo decisivo entre os dois movimentos filosóficos, exceto, no entanto, a patente de Rose Croix apareceu em 1760 e preservada no 18º grau da AASR. Existe apenas uma atmosfera vaga, um tipo de orientação da mente que poderíamos encontrar

8 Modernismo Rosacruz:

Como já mencionamos, não houve estrutura perene de RC durante os 100 anos que se seguiram a Fama, mas foi nessa época que o pastor siciliano Samuel Richter publicou em 1712 "a verdadeira e total difusão da pedra. Filósofo da fraternidade RC e da Rosa ”, novamente abreviado Rose-Croix d'Or com uma descrição das cerimônias entre FF. Sedir afirma que esta ordem não se desenvolveu até 1756.

A Rosa-Croix d'Or do Antigo Sistema foi criada dentro da Loja Maçônica dos Três Globos em Berlim em 1777. Ela acomoda os altos escalões da Maçonaria. Ela afirma possuir os segredos da transmutação dos metais e ter o poder de curar os enfermos.

Na França aparece em Toulouse um homem estranho, Martines de Pasqually, que tenta fundar um rito maçônico e cria em 1766 os cavaleiros eleitos Cohen em Bordeaux. Ele conhece Jean-Baptiste Willermoz. Também faz parte de uma loja RC e se qualifica como RC e cruzamentos reais em 1772. Em seguida, retorna à ordem de estrita observância em 1778. Criará uma classificação RC. Esses são apenas picos de fenômenos em torno dos RCs. Por outro lado, um século depois, surge de todos os lados:

Na Inglaterra, em 1860, foi fundada a “Societa Rosicruciana in Anglia” ou SRIA, cujos membros foram recrutados da FM e que mais tarde se espalhariam para os EUA, depois para as “Fratres Lucis” fundadas por Bulwer Lytton das quais o “ordo Rosis Lucis ”saiu em 1887.   Em 1912 a Sra. Annie Besant fundou uma ordem do templo de RC.

Na Alemanha, o Dr. Hartmann cria a ordem do RC esotérico.

Nos EUA, primeiro a “Fraternita Hermetica” em Chicago em 1875, então por volta de 1915 foi fundada “a Antiga e Mística Ordem RC” ou AMORC por Spencer Lewis que é hoje a sociedade Rosacruz mais importante do mundo.

Em 1909, Max Heindel fundou a Rosicrucian Fellowship School of Philosophy and Healing. Finalmente, uma "sociedade rosacruz" foi criada em 1934.

Na Holanda, a revista "lectorium rosicrucianum" publicou em 1939 uma análise esotérica de Fama.

Na França Eliphas Levi faz surgir "dogmas e rituais de alta magia". Para ele, o símbolo da cruz resume melhor o universo. Ele fundou uma sociedade RC que vai crescer novamente, mas dá origem a uma reação espiritualista de Stanislas de Guaita e Josephin Péladan seguido pelo Dr. Papus que reúne as forças espiritualistas: grupos dispersos de sociedades RC de Levi e Martinistas e Swedenborgians.

Em 1889, Stanislas de Guaita fundou a ordem cabalística do RC e a estruturou completamente. Papus fundará a revisão maçônica "iniciação" e publicará "a história da fraternidade RC".

Mas na primavera de 1890 Palédan criou a ordem "do RC, o templo e o graal". Em 1893 publicou “a constituição da rosa + cruz, do templo e do graal” orientada para a caridade. Suas excentricidades rapidamente o desacreditaram e o movimento afundou na indiferença, assim como a ordem cabalística com a morte de Guaita que, no entanto, teria estado ativo até a guerra.

Alguns historiadores afirmam que os principais pensadores do século XVII foram seguidores da fraternidade RC: Descartes que vai negar, Paracelso, Leibnitz, Roger Bacon, Comenius, Fludd e até Spinoza.

9 Os movimentos hoje:

-          AMORC, citado acima, é o mais importante. Ele afirma 250.000 membros em todo o mundo e 15.000 na França. Sua sede fica no Château d'Omonville em Neubourg. Eles têm um grupo de reflexão no castelo Rosacruz de Tanay em Trevoux. Uma estação de rádio local estava transmitindo em Paris no dia 88.2 de seu prédio ricamente reformado na 199 bis rue St Martin, que é seu centro cultural.

-          A Associação Rosacruz de Max Heindel, chamada de "comunhão rosacruz", é uma organização internacional com sede nos Estados Unidos e que celebra seu 100º aniversário.

-          A Rose Croix d'Or resultante do “lectorium rosicrucianum”, citado acima, na Holanda onde está localizada sua sede teria 15.000 membros, incluindo 700 na França. Eles não são mais considerados uma seita.

-          Cenobita Crístico da Rosa-Croix muito elitista e por correspondência. Ameaçadas de extinção

-          Golden Dawn (ordem hermética da aurora dourada) da SRIA em GB considerada desaparecida em benefício da BOTA (Builders of Adytum) com sede em Los Angeles e que tem uma delegação em Paris

10 Os movimentos rosacruzes são seitas? :

A Comissão da Assembleia Nacional regularmente redigia relatórios sobre seitas. Em 1985 ela havia encontrado apenas "a Rose-Croix d'or". Na última conhecida, apenas a "Aliança Rosacruz" aparece com menos de 50 seguidores.

CONCLUSÃO:

O que são esses "  Manifestos  " de 1614. Uma farsa? Um engano? O eco de um pensamento profundo que só se transmite a quem o entende? Na verdade, eles correspondiam a uma aspiração do momento nesta atmosfera de guerras de religião e cismas no catolicismo. Podemos considerá-los a mensagem de uma sociedade que se quer construir sobre bases harmoniosas de caridade, fé e esperança.

Uma organização, seja o que for que constitua uma forma na qual a pessoa se fecha, o RC não poderia constituir associação como a pessoa a entende no sentido profano, com essas regras; por outro lado, eles poderiam organizar ou inspirar sociedades para a realização de uma meta ou objetivo definido, mantendo sua total independência dessas organizações. Nesse sentido, podemos considerar que os Rosacruzes  são os elementos de um grupo de homens que alcançaram um grau de iniciação superior, capazes de se reconhecerem sem sinais externos de pertencimento a algum grupo que os torne invisíveis aos olhos dos profanos. .

Talvez hajam alguns entre vocês?

novembro 03, 2021

TOURO


Mithras ou Mitra, pode ser considerado, como veremos mais tarde, um dos mitos fundadores da Franco-maçonaria associado ao touro. Sua origem é indo-iraniana, em que ele é o protetor dos justos e conquistou a Assíria no século VII a.c. antes da decadência do Império. No século VI a.c. ele se tornou o deus do sol (Helios) e entrou nas províncias romanas onde os templos foram dedicados a ele do século II a.C. ao século VI d.c. 

Em prol da paz interna, o imperador Romano Constantino declarou o cristianismo como religião oficial no ano de 313 pelo edito de Milão, desferindo um golpe mortal em seu competidor mais violento, o mitraísmo, e os discípulos o toleraram, adorando os mesmos deuses sob outros nomes. Ernest Renan escreveu: "Se o crescimento do Cristianismo tivesse sido interrompido por alguma doença fatal, o mundo teria sido mitraísta." 

Mithras, filho de Deus, nasceu de uma virgem em uma caverna em 25 de dezembro, ele se torna homem para redimir nossos pecados. Ele foi batizado no sangue de um touro. Ele tinha 12 discípulos. Seu nome significa: ou amigo, ou contrato, ou redentor, ou messias, ou salvador. Ele ressuscitou de sua morte e saiu de sua tumba 3 dias após sua morte. É especialmente comemorado em um período da primavera que se tornará "as férias da Páscoa". Ele usa um boné frígio. 

No Louvre, uma escultura o representa sacrificando um touro na presença da Lua e do Sol. Um cachorro e uma cobra bebem o sangue que sai da ferida da fera e um escorpião belisca seus testículos. Mithras é considerado o espírito do bem, deus da luz e sabedoria, governante do mundo. Do corpo moribundo do touro divino surgiram todas as plantas e animais benéficos à raça humana, de sua medula espinhal germina o trigo e de seu sangue a videira. Ao reproduzir esse sacrifício, os iniciados se beneficiam da imortalidade, eles praticam esses mistérios em cavernas. O touro era abatido, cozido e comido com pão e vinho, ao mesmo tempo em que aconteciam os primeiros ritos cristãos. A carne do touro é sagrada e, nisso, é semelhante à Eucaristia. No centro da liturgia dos banquetes, Mithras persegue o touro, agarra-se a ele, faz um garrote nele, arrasta-o para a toca, onde é atingido no coração pelo ombro esquerdo. 

 O sacrifício representa a vitória da vida sobre as forças do mal. Após a imolação do touro, Mithras montou na carruagem do sol. ao mesmo tempo, quando os primeiros ritos cristãos estavam ocorrendo. A carne do touro é sagrada e, nisso, é semelhante à Eucaristia. No centro da liturgia dos banquetes, Mithras persegue o touro, agarra-se a ele, faz um garrote nele, arrasta-o para a toca, onde é atingido no coração pelo ombro esquerdo. O sacrifício representa a vitória da vida sobre as forças do mal. Após a imolação do touro, Mitras montou a carruagem do sol.

O mitraísmo era um culto secreto reservado aos homens. O candidato   foi questionado, sondado e informado sobre o mito e os rituais. Em seguida, ele foi submetido, com os olhos vendados, a testes de resistência ao fogo e ao frio e à morte simulada. Cada classificação foi equiparada a um planeta e responsabilidades. Cada série correspondia a um traje. Eles compartilharam uma refeição após o sacrifício ritual. Julho foi o mês de Mithras. Os equinócios eram feriados.

Os adeptos viviam em comunidade, atribuía-se importância à alma, da   qual o corpo era apenas o veículo. Eles não gostavam de propriedade nem de poder. Aos sete, o adepto usava o cinto da pureza, aos quinze a túnica branca e aos trinta tinha que escolher, permanecer na sociedade ou tornar-se sacerdote. No caso da segunda escolha, ele teria que enfrentar o touro, matá-lo, comer sua carne e beber seu sangue. Este rito sangrento foi posteriormente substituído por uma refeição simbólica de pães redondos representando o corpo e a terra, marcados com uma cruz de cinza que simbolizava fogo e sangue. Havia doze graus de iniciação, cada um dos quais representava um animal, o segundo era o do touro. Eles estavam abertos a todos. O neófito ou o maior iniciado tinha direito à mesma consideração. 

Às cinco horas da tarde a morte botou ovos na ferida

Demoraria, e nos afastaremos do assunto escolhido, para contar todas as lendas dos bovídeos sagrados através das histórias da humanidade. Seria o mesmo descrever todos os jogos taurinos existentes ou que já existiram, mas podemos discuti-los após esta apresentação. Vou ficar com o único que se materializa, até o presente através do sacrifício, das touradas. Se o jogo for "para falso", o rito é "para valer".

Foram os romanos que familiarizaram os povos da Península Ibérica com a imolação e a luta com o touro. Essas lutas eram travadas a pé ou a cavalo. É com poucas mudanças que esses jogos cruzarão a Idade Média e o Renascimento. E no século XIX, por convenções e protocolos, nasceu a atual tourada, que se concretizou no século XI. Os touros são lutados a cavalo pelos nobres espanhóis como uma demonstração de seu prestígio social até o século 17 com a lanzada (a lança) e o rejon (lanças curtas seguras no comprimento do braço). No século 18, chegou ao poder o bourbon Philippe V, que não experimentou nenhuma tourada. Os nobres então patrocinam jovens lordes e o touro é lutado a pé. Ao mesmo tempo, nos círculos populares, o touro também é morto em público enquanto se diverte com ele. Desviamos nossa carga por meio de um pano e muitas vezes a morte resulta em incontáveis ​​golpes de lanças e arpões. Se o animal resiste à morte, a multidão intervém e até os cães podem brincar.

Sevilha é neste século XVII o lugar determinante das touradas modernas. É de seus matadouros, local de convergência das populações rurais e urbanas, onde a multidão se acomoda nos telhados para assistir às lutas, em meio à sujeira e ao fedor, dos açougueiros contra os touros. Lá os primeiros grandes toreros são formados. Os primeiros maestros eram trabalhadores do matadouro. A prática molda as técnicas e verá a aparência da capa e da muleta. Philippe V foi então forçado a fazer concessões e em 1750 a corrida foi reconhecida. Ele deu o controle à Maestranza formada a partir das antigas linhagens de Sevilha.

O touro continuará sendo o embaixador extraordinário da morte. Essa morte é o centro do espetáculo. Os direitos são perdidos ou encontrados dependendo se o homem aceita ou não a arquitetura do templo. Estranha geometria em movimento atribuindo uma base ao touro e uma base ao homem. O homem deve pensar como um animal e o animal procurará pensar como homem. A presença da morte é acompanhada de medo, ousadia e amor. Ódio e violência estão ausentes. Podemos então entender, o poder exorcista e pacificador das touradas e, sem dúvida, um motivo para ampliá-lo.

No quinto dia do atraso, é meio-dia na praça.

Na Espanha, a única coisa que começa na hora certa são as touradas.

Como todo ritual, possui uma organização rígida, rigorosa em sua agenda, sua cenografia e seus símbolos. A ponto de repreender o próprio Deus por às vezes trazer chuva, vento ou frio. Qualquer corrida tem sua própria história, nunca é uma cópia da outra. Cada um dos participantes tem a sua particularidade do dia, sejam eles espectadores, juízes, assistentes, toureiro, cavalos ou touros. Três cores distintas, em um fundo de areia deslumbrante, focam nossos olhos: vermelho, preto e dourado. Esta paleta móvel é para o prazer do espectador, o touro não distingue cores, ele observa e reage apenas aos movimentos.

O tinto é forte, excitante, saliente. É o sinal do presente, do calor e da vida. É a cor que mais impacta em nossas funções fisiológicas: alegria, paixão, sensualidade, desejo. A cor do sangue é guerra, raiva, violência, agressão.

Preto é elegância e autoridade, tanto quanto pecado, morte, luto e abandono.

Ouro, como prata, é imortalidade, riqueza e glória. Ele captura os raios do sol   e os envia de volta ao público.

O touro pode ter três anos, é um novillo e é lutado por jovens toureiros, os novilleros. Ele tem quatro ou cinco anos e é lutado por matadores experientes. Para atingir a idade de sete anos ou mais, ele teve que lutar uma luta excepcional e ser perdoado. E no auge da gratidão ele poderá se tornar um semental, ou seja, um garanhão.

O touro que entra na arena é virgem e sabe pouco sobre o homem.   

Como o teatro é a alquimia da liga tripla do autor, do ator e do espectador, a tourada é a alquimia do touro, do toureiro e do aficionado. O teatro, como a tourada, só pode evoluir dentro de um quadro estrito, a magia depende do respeito do espaço-tempo circunscrito.

A praça é redonda, com 50 metros de diâmetro, exceto pelos anfiteatros romanos de forma elíptica. É um lugar de convergência, de comunhão, de um altar de sacrifício. Uma linha mediana instável e regular a separa pela sombra e pelo sol, linha demarcatória das classes sociais. Os locais próximos ao show e localizados na sombra são os mais caros.

Se na Espanha muito católica as touradas homenageavam santos ou monarcas, hoje são celebradas por ocasião de festas mais pagãs, a Feria, embora ainda correspondendo ao calendário dos santos cristãos.

Quanto mais um território é considerado sóbrio e sério, mais o lançamento é lançado. O caso é notório em Pamplona, ​​em Navarra. A orgia pagã está nas ruas e nas bodegas e lembra o carnaval, onde o povo podia se dar ao luxo de ser livre.

A Corrida em seu desenvolvimento também depende de um processo de intelectualização do jogo, quanto mais é codificada, mais ritualizada. De cruel e sangrento, através da estética, tornou-se uma arte inspiradora de artistas puros.

Uma tourada começa com a apresentação ordeira e musical dos participantes, com exceção dos touros e, por um bom motivo, é o paseo. A música é sempre um paso doble, música festiva de estimulante comunhão. É com alegria que vamos ao espetáculo da morte. É com alegria que saudaremos a vitória do novo homem sobre a besta primitiva. Ele é frequentemente interpretado como "Toréador", de Carmen, de Georges Bizet. São três matadores, veja dois ou mesmo um, mas sempre seis touros.  O tempo é respeitado escrupulosamente. Um minuto atrasado e é la bronca. A apresentação dos cartéis, ou seja, das equipes, é igualmente rígida. À frente estão os dois aguazils a cavalo, comissários presidenciais, vestidos de preto com uma pluma vermelha branca azulada no chapéu armado. Na segunda linha estão os matadores, à esquerda os mais velhos, à direita os segundos e no meio os mais jovens. Se este último não está com a montaria é porque se toré pela primeira vez nesta categoria. Na terceira linha, os nove peões, três pelo matador. Eles também entram em ordem de antiguidade. Em quarto lugar, os seis picadores em suas montarias caparisonadas. Na quinta fila, os areneros ou track boys. E finalmente o trem arrastre, as mulas atreladas que ficarão responsáveis ​​por evacuar as carcaças dos touros mortos, deixando um longo rastro que começa com um laço na areia ensanguentada. Chega a hora da luta, a lidia, que acontecerá nos tercios.

Primeiro tercio  : A apresentação com a capa para avaliar o comportamento do touro e a apresentação com o tão criticado lúcio. Prova de bravura, mas que também tem a função de cortar um tendão destinado a abaixar sua cabeça, a fim de permitir sua passagem sob a muleta e os braços do matador.

Segundo tercio: A instalação das banderilhas. Esta sequência da tourada pretende animar um pouco mais o animal, é mais desportiva e festiva do que as outras sequências. As banderilhas são embrulhadas em papel colorido que vai cair e manchar de sangue nas costas do touro.

Terceiro tercio: O assassinato. Um homem de 60 a 80 kg em roupas justas, de uma cor deliciosamente escolhida com fios dourados, usa meia rosa e   zapatillas. Um conjunto sexualment equívoco. Esse ser procurará sair ileso de uma provação cujo prestígio é mais forte do que oqa medo que sente. A morte mudará de lado, ela mudará da força brutal do animal para a mente do homem. Se o toureiro usar as cores brilhantes, ao final do ato de amor terá que mudar de sexo e se tornar o macho que mata. Ou talvez seja a lei dos insetos quando a fêmea devora o macho após o acasalamento? Mas então, quem dos dois é o homem nesses dois adversários que, por sua vez, feminizam e retomam sua virilidade?

Ele segura em uma das mãos um pano vermelho sangue e convida o deus negro de 400 a 600 kg a confrontá-lo até a morte, é a faena. Corpo a corpo voluptuoso que rola, roça e acaricia e que termina na maioria das vezes com o sacrifício do touro pela estocada.   A espada de 85 cm de comprimento é plantada na cruz, na altura da cernelha, entre a espinha e a omoplata direita, até o coração. Termina com a puntilla, uma grande adaga que destrói seu cerebelo e um pouco de sua medula espinhal. Assim termina o casamento fúnebre rodeado por uma aliança de casamento.

O público e o júri avaliarão os elementos do espetáculo em alguns pontos específicos: coragem humana, bravura animal, autoridade humana sobre os animais, elegância e eficiência. A maneira e a sinceridade terão, com aficionados, mais importância do que a pompa. Os espectadores vão pedir troféus ao presidente: uma orelha, duas orelhas, duas orelhas e o rabo, obrigando o toureiro à segurança do público por um colo sob mantas de flores e chapéus. Se a performance for menos convincente, mas honrosa, o artista será convidado a cumprimentar, seja na barreira, seja no terceiro da faixa, ou no meio e até dar a volta na faixa. Em casos de pior desempenho, o silêncio é a norma para a insatisfação. No caso de avaliações ruins, o bronca está na ordem do dia. E se um toureiro foi particularmente brilhante, ele deixará a arena pela grande porta sobre os ombros de admiradores. Assim, o novo homem triunfa sobre a força bruta.

Corrida não é uma distração, mas uma cerimônia, uma máquina de fazer deuses. A raça humana inventou uma tragédia e distribuído a 1 st papel. Não sairemos ilesos de um mundo que nos engana e cujas perspectivas nos levam à morte.

FINA - Adilson Zotovici




Adilson Zotovici da ARLS Chequer Nassif-169 de S. Caetano do Sul é um notável intelectual e poeta da maçonaria


Iniciada a contagem 

Logo após prima vitória 

Entre milhões a vantagem 

Regressiva trajetória 


A Luz a primeira imagem 

Duma infinita história 

Nesta terrena passagem 

Bendita e transitória


E segue assim a viagem 

Com confiança, compulsória, 

Rumo à nova estalagem

Com mudança obrigatória


No Tempo toda paisagem 

Às vezes rica ou simplória

De ventania ou aragem 

De porfia ou oscilatória 


Como numa reciclagem 

Em data a nós aleatória

Fina o tempo nesta paragem 

Segue a rota sucessória 


Na cantaria  sua mensagem 

Qual grava sua eterna memória 

Com o histórico na bagagem 

Ao Grande Arquiteto... que a Glória ! 


Adilson Zotovici

ARLS Chequer Nassif-169

novembro 02, 2021

OS MISTÉRIOS DA VIDA E DA MORTE - Vagner Veneziani Costa



O Ir. Vagner Vezeziani Costa, recentemente falecido, era escritor e foi o fundador e editor da Editora Madras.

Pode-se pegar um atalho conceitual e afirmar que morte é ausência de vida.

Mas o que é vida?

Existe vida após o nascimento?

Realmente se vive, somente pelo fato de termos nascido?

Afinal, o que é que nasce e o que é que a morte faz cessar?

Desde que o “cérebro se tornou capaz de investigar o cérebro”, uma pergunta é repetida e respondida pelo homem: existe alguma forma de consciência após a morte do corpo físico?

A neurociência não consegue, ainda, responder a essa questão.

Não há nenhuma evidência que sim, nem que não.

É comum ouvirmos a expressão “a morte é a única certeza que temos na vida”.

Ocorre que a civilização ocidental materialista se amoldou à idéia de que tudo acaba com a morte.

Dessa forma, ela é tratada por muitos como um tabu, algo que não se deve comentar ou investigar.

O maior desejo do ser humano é a imortalidade, e esse desejo está intimamente relacionado ao medo da morte.

Mas, de onde vem esse medo?

Pode ser que venha do medo que se tem do desconhecido, do instinto de auto-preservação que estimula o medo da própria extinção.

Ou será que viria de uma experiência antiga, guardada na memória, já vivida e não mais desejada?

Se desejarmos viver indefinidamente, por que insistirmos em acreditar que morrer é o fim?

Provavelmente, se o contrário estivesse acontecendo, se o homem tivesse certeza de sua imortalidade, ele procuraria a própria extinção.

Será que o inconsciente coletivo do homem já tem essa certeza da imortalidade?

Será que os atos humanos destrutivos, contra a natureza e contra si mesmos, não são formas veladas (e doentias!) de se buscar atingir esse estado?

Mesmo assim, a morte assusta, talvez pelo apego que temos às coisas materiais, as quais perderemos definitivamente quando morrermos, e pelo apego que temos à própria vida.

Talvez um apego à nossa persona, nossa “individualidade” que irá se desfazer, voltar ao “pó” (Eclesiastes 12:7).

Na realidade, o nosso medo vem de uma fonte mais profunda: *não sabemos quem realmente somos.*

Somente após a morte do corpo é que se pode experimentar a possibilidade de uma outra vida, caso ela exista.

Por outro lado, não se pode comprovar a possibilidade contrária (a inexistência de uma outra vida), afinal, não se terá consciência dela.

Para os materialistas, o dia da morte de uma pessoa deveria ser uma data inerte; afinal, tudo acaba com esse fenômeno e não há razão para homenagear quem não existe mais.

Ocorre, porém, que a maioria das pessoas homenageia a memória de seus entes queridos, até mesmo os ateus; mas, no fundo, estão apenas dando vazão à dor da própria ferida não curada, gerada pela falta que sentem dos seus entes queridos: saudades.

Quem de nós nunca sentiu saudades?

Aquele que já a vivenciou sabe o quanto ela dói, causa um estado profundo de melancolia, faz chorar, provoca um desejo imenso de querer ter de volta aquilo ou alguém que um dia nós “possuímos”; pode, enfim, levar uma pessoa à “loucura”.

E no momento em que qualquer ser humano perde um ente querido, seja ele espiritualista ou ateu, a saudade daquele que partiu mexe com os mais profundos sentimentos.

Assim sendo, pergunto a um ateu se a morte seria mesmo o fim da vida.

Por que, então, ele sente saudades de quem se foi, se a morte acaba com tudo?

Qual a razão de homenageá-los?

Já ouvi muitos espiritualistas dizerem que, apesar de acreditarem na eternidade da vida, não se conformam quando a morte chega a sua família; então sofrem e choram a perda de seu ente querido.

A dor da perda é a visita da morte à vida, e sem dor não há vida, porque nos apegamos demais a tudo o que possuímos, ou seja, pensamos que possuímos; na verdade, apenas nos foi emprestado, inclusive a carne, e, como tal, um dia teremos que devolvê-la ao Universo.

Historicamente, o culto aos antepassados é tão antigo quanto a história do Antigo Egito.

Seu povo, longe do conhecimento de sua avançada espiritualidade, restringia o seu culto à veneração de imagens dos antepassados, ou de alguma divindade menor, por meio de diversas superstições, incluindo o uso de amuletos.

Na Índia védica, os filhos do Sol buscavam a ciência pura do fogo sagrado, a adoração ao Deus Supremo e a honra aos antepassados por meio de orações.

Ao milenar povo chinês, afastado dos ensinamentos elevados acerca do Tao, restava um culto mágico aos antepassados e uma adoração aos espíritos.

Para o Xintoísmo, a alma dos que morrem permanece poluída, conservando sua personalidade de quando estava em vida, necessitando, assim, de rituais de purificação para que assuma um aspecto benevolente e pacífico.

Dessa forma, ela atingirá o grau de guardiã, ou deidade (kami), protetora da família.

Assim, enquanto religião, a divinização das energias cósmicas foi acompanhada da divinização dos espíritos dos antepassados (considerados deuses tutelares da família), dos sábios ancestrais, dos imperadores, de alguns animais e de forças elementares da natureza.

A Psicologia Transpessoal fala da existência de outros pacotes de inconsciente, além do Inconsciente Coletivo descrito por Jung.

Um deles seria o inconsciente familiar, responsável pela repetição de padrões de comportamento presentes no seio familiar.

Alguns pesquisadores defendem que essas memórias estariam impressas em nosso DNA e, dessa forma, acessíveis à nossa mente inconsciente.

Essa tese explicaria também a ocorrência de memórias novas, em transplantados, de fatos ocorridos na vida do doador do órgão.

O culto aos antepassados, de forma que se libere essas energias de sua influência sobre nós, seria uma forma de se trabalhar no inconsciente familiar.

Para os celtas, o ano era dividido em quatro períodos de três meses e, no início de cada um, havia um grande festival.

No primeiro dia do ano celta, celebrado em 1º de novembro, era comemorada a mais importante das quatro festas: o Samhain, conhecido como “Noite dos Ancestrais” ou “Festa dos Mortos”, pois os celtas acreditavam que nesse dia o véu entre os mundos estaria bem fino.

Hoje, essa festa está associada com o Hallows Day e é celebrada na noite anterior ao Halloween.

O mundo cristão assimilou essa festa pagã e passou a comemorá-la em dois de novembro (Dia de Finados).

Concluindo nosso pensamento, podemos dizer que a crença generalizada na existência da morte, como aniquilação individual, fez sumir a visão de longo prazo e afetou o planeta inteiro.

Não se prepara mais o futuro, apenas se vive em busca de prazeres e desejos pessoais do ego, teoria de vida pregada pelo capitalismo, que é uma forma geradora de desejos.

O homem está destruindo o planeta e a si mesmo.

Definitivamente, não há morte como a concebemos.

A morte existe apenas porque não se sabe o que a vida é, porque ainda estamos inconscientes da Vida, da sua ausência de morte.

Assim, os que perguntam o que acontece após a morte o fazem por não lhes ter acontecido nada durante a vida.

É necessário um nascimento espiritual para que a Vida nos permeie em sua abundância.

Quando se conhece a Vida, conhece-se a morte.

A morte é apenas uma transição de um estado de consciência para outro, e a única coisa que morre é a morte.

A morte é apenas uma PASSAGEM, e essa passagem deve ser o triunfo de uma existência, seu mais glorioso momento.

Preparar-se para morte, sem exageros, conscientes de que, assim como nascemos, todos passaremos por ela, coloca-nos em sincronicidade com as Leis do Universo.

Somente quando formos capazes de entender a chave iniciática contida nas palavras de São Francisco de Assis, quando dizia que “… *é morrendo que se nasce para a vida eterna”*, ou a declaração proferida pelo Faraó, no final da quinta etapa da iniciação egípcia, “Sebek Ur Sebek”, que afirma: “Só a Morte pode Vencer a Morte”, estaremos, de fato, preparados para ela.

E esse entendimento somente será completo até mesmo em certas iniciações, em que a “LUZ É DADA DEPOIS DA MORTE”, e “QUE SE FAÇA A LUZ…! E A LUZ FOI FEITA!”.

A Luz é a sua recompensa…

Bom dia de Finados meus irmãos e boas Reflexões sobre a *VIDA*


UM TRIANGULO DE AMOR - Roberto Ribeiro Reis


Roberto Ribeiro Reis, intelectual e poeta da ARLS Esperança e União 2358 do Oriente de Rio Casca, MG

Um triangulo de amor 

a família protege 

E o GADU é quem rege 

todo esse esplendor.


Os ângulos de igualdade 

são da justiça completa 

aquela a cuja meta 

aspira nossa irmandade 


Um pai de sabedoria 

uma mãe de beleza 

casal que, com certeza 

abunda força e alegria. 


Feliz é o filho do casal

crescido no meio maçônico 

possuiu um exemplo icônico

de que a vida é Arte Real 


Á Glória do Grande Arquiteto 

Eles tem uma luz no peito 

Um misto de justo e perfeito 

qual um triangulo de afeto.


novembro 01, 2021

A CÂMARA DE REFLEXÕES - Ir∴ Sérgio Burzichelli Jr.


Ir∴ Sérgio Burzichelli Jr. M∴M∴ ARLS Renascença Santista - 339 REAA - GLESP Santos - SP

A Câmara de Reflexões, primeiro contato real que nós, postulantes, temos com a Maçonaria. 

Para que melhor a compreendamos, se faz necessário conhecermos o significado da palavra Iniciação etimologica mente derivada do latim " Initiare - initium "' representa " início ou começo " derivada de " in tere " " ir dentro ou ingressar ". Em outras palavras, Iniciação é a porta que nos conduz a um novo estado moral ou espiritual a partir do qual se inicia ou começa uma nova maneira de ser ou de viver. 

0 símbolo fundamental da Iniciação é a Morte, como estado preliminar à nova vida. Para tal, a Maçonaria nos oferece a Câmara de Reflexões. Apartada como é do Templo, constitui a prova da Terra, a primeira das quatro que simbolizam os elementos da natureza. Com suas pretas paredes, figurando uma catacumba, cercada de símbolos e de emblemas da morte, inscrições, um galo, um testamento entre outros, revela nos que cada símbolo, cada frase tem sua própria explicação e importância isolados, mas o conjunto é que nos oferecerá a idéia e a sensação da transitoriedade e insignificância da vida. Neste local, somos levados a conceber novas ideias, introspectar, examinar e comparar tudo o que nos cerca. Isolados do mundo exterior para nos concentrarmos no estado íntimo do mundo interior, aonde devemos dirigir nossos esforços para chegar à Realidade. É o "gnothi seautón " dos iniciados gregos. É a fórmula hermética V.I.T.R.I.O.L. ; " Visita Interiora Terrae: Rectificando; Invenies Occultum Lapidem " cuja tradução literal é : " Visita o interior da Terra, retificando encontrarás a pedra oculta" . Significando que devemos ingressar dentro da realidade do próprio mundo objetivo, não contentando nos apenas com o seu estudo ou exame puramente exterior: então, rectificando constantemente nosso ponto de vista, a nossa visão, e com os esforços da nossa inteligência ( como o demonstra a cuidadosa retidão dos três passos da marcha do Apr∴), poderemos chegar ao uso do compasso junto com o esquadro, isto é, o conhecimento da Verdade livre da Ilusão. 

Meus lir∴, todos os dias, todo homem ao fechar os olhos, se acha em sua própria Câmara de Reflexões, então, aproveitemos para usufruir desta dádiva do G∴A∴D∴U∴ para concentrarmos nos no silêncio da alma, isolando todas as influências exteriores; despojemo nos dos nossos defeitos, erros, vícios e ilusões de personalidade para que possamos caminhar em direção a Luz, ir em busca da verdade e estabelecer no seu domínio o Reino da Virtude, libertemo nos cada vez mais de todas as sombras que escurecem e impedem a manifestação desta Luz Interior que deve brilhar sempre mais clara e intensamente, raiando e destruindo as trevas. Uma vez abertos nossos olhos, para esse estado superior de consciência, teremos reconhecido também essa Luz que, presente em cada um de nós, manifestar se á espontaneamente nos diversos empreendimentos de nossas vidas, nos nossos pensamentos, palavras e ações.